Os Estados de bem-estar social estão enfrentando um dilema profundo e complexo. Esses países, que historicamente se beneficiaram de modelos econômicos baseados em alto nível de proteção social e redistribuição de riqueza, veem suas vantagens desaparecerem diante de uma realidade global em transformação. O sistema de bem-estar social, que tem suas raízes no compromisso com a igualdade social e a proteção do trabalhador, começa a revelar uma série de fragilidades quando comparado com modelos econômicos mais flexíveis e com maior abertura ao mercado global.
Enquanto países como os Estados Unidos e o Reino Unido buscam soluções para mitigar a pressão dos custos e da globalização, outras nações, mais competitivas em termos de custo, se retiram de acordos que buscam regulamentar a proteção ambiental e direitos sociais. O impacto dessa retirada não é apenas político ou ideológico, mas possui uma consequência prática no cenário econômico global: países com elevados custos fiscais e sociais enfrentam uma enorme desvantagem competitiva, especialmente frente às nações em desenvolvimento ou com modelos de Estado mínimo.
Esses desafios não são apenas consequência de uma mudança estrutural na economia global, mas refletem um conjunto de questões internas dos próprios Estados de bem-estar social. A principal delas é a desconexão entre o alto custo de suas políticas sociais e sua capacidade de competir no mercado global. A sobrecarga tributária, destinada a financiar esses programas de bem-estar, torna os custos de produção e serviços nessas nações significativamente mais altos, o que leva à fuga de investimentos e à desindustrialização.
Por exemplo, os Estados Unidos perderam sua competitividade industrial, com a manufatura passando de 28% do PIB em 1951 para apenas 11,7% em 2016. As empresas americanas têm transferido cada vez mais sua produção para outros países, e o país agora enfrenta um cenário onde apenas 3% de seu PIB é imune à terceirização, com outros 9% ainda passíveis de serem transferidos. Esse deslocamento de indústrias, no entanto, não é exclusivo dos Estados Unidos. O Reino Unido também está experimentando estagnação econômica e tecnológica, com uma queda no número de patentes e uma subinvestimento crítico em pesquisa e desenvolvimento (P&D).
A baixa alocação de recursos para P&D nos Estados Unidos é uma das causas do seu retrocesso tecnológico. Comparando com países como Japão, Suécia e Coreia do Sul, onde o investimento em P&D é significativamente maior, os Estados Unidos gastam uma fração do que seus concorrentes diretos alocam para inovação e pesquisa. O país investe apenas 2,8% de seu orçamento federal em P&D, enquanto países como o Japão destinam 3,1% e a Suécia 4,3%. Isso reflete uma ausência de prioridade em áreas chave para o desenvolvimento tecnológico e industrial, em um momento em que a inovação deve ser o centro da competitividade.
Além disso, o alto custo da saúde nos Estados Unidos, que consome 17% do PIB, coloca o país em uma posição de desvantagem frente a nações que gastam uma fração desse valor com cuidados médicos, como as nações da OCDE. Esse descompasso gera um fardo adicional nas empresas e trabalhadores americanos, que, em vez de competir com base na inovação e eficiência, acabam enfrentando uma estrutura de custos que os torna menos competitivos.
Outro aspecto relevante é o problema educacional. Os Estados Unidos, apesar de investir pesadamente por aluno, enfrentam um desempenho medíocre em áreas como matemática, ciências e leitura quando comparados a outros países da OCDE. Essa defasagem no sistema educacional é outro fator que mina a capacidade de inovação e adaptação dos cidadãos e empresas ao novo cenário econômico.
Porém, embora os Estados de bem-estar social, como os Estados Unidos e o Reino Unido, estejam cada vez mais distantes da competitividade de baixo custo, isso não significa que estejam condenados à irrelevância na economia global. A chave para a sobrevivência e sucesso dessas economias está na adaptação para uma economia baseada no conhecimento, inovação e tecnologia avançada. Países ricos e desenvolvidos devem reconhecer que o modelo de manufatura em massa já passou e que o futuro da competitividade reside no investimento em áreas como inteligência artificial, biotecnologia, e outros setores de alto valor agregado.
No entanto, isso exige uma mudança substancial na maneira como esses países investem em seu capital humano, em suas universidades, em pesquisa e desenvolvimento, além de uma reforma estrutural em seus sistemas de saúde e educação. Em última instância, a sobrevivência dos Estados de bem-estar social na economia global dependerá de sua capacidade de se reinventar como centros de inovação e criatividade, focando em setores que exigem habilidades especializadas e que não podem ser facilmente terceirizados ou substituídos por países com modelos de baixo custo.
Por que os Estados Unidos não são mais competitivos no comércio internacional?
Os diferenciais de custos refletem apenas os custos estruturais típicos do estado de bem-estar social dos Estados Unidos. Independentemente desses fatores, os Estados Unidos apresentam custos trabalhistas mais elevados em comparação com muitos outros países, devido em parte aos seus elevados níveis educacionais e produtividade relativamente alta. Outros fatores, como a deterioração da infraestrutura americana, também contribuem para criar um problema ainda maior para as empresas dos Estados Unidos que tentam competir no mercado internacional, dominado por países que não enfrentam essas desvantagens estruturais e custos trabalhistas elevados. Embora as empresas possam repassar alguns desses custos extras para os consumidores domésticos, elas frequentemente precisam reduzir seus preços em 16% a 18% em licitações internacionais (assumindo, para simplificação, que os custos representam 80% do preço de venda e esses custos são de 20% a 23% superiores aos dos concorrentes internacionais) para serem competitivas no mercado internacional.
Por exemplo, considere um fabricante de pneus hipotético baseado nos Estados Unidos que vende pneus a US$ 100 cada no mercado interno. Supondo que a empresa seja rentável e sustentável, o preço de venda de US$ 100 já leva em conta US$ 10,30 de custos extras com saúde, que seus concorrentes internacionais não precisam arcar, e entre US$ 6 e US$ 12 com os custos administrativos necessários para gerenciar a documentação e cobrir os custos específicos com o EPA (Agência de Proteção Ambiental dos EUA), como a disposição de borracha de forma ambientalmente responsável. Entre agora e 2034, será necessário adicionar US$ 4 para cobrir o aumento nos impostos da Seguridade Social de 12,4% para 16,4% do dólar de vendas. Para vender o mesmo pneu no mercado internacional, a empresa precisaria precificar o pneu a cerca de US$ 77, em vez de US$ 100, para igualar o preço mundial. Supondo que a empresa tenha uma margem de lucro bruto de 20% no mercado dos Estados Unidos (US$ 20 por pneu), ela teria prejuízo nas vendas de exportação (a menos que tenha alguma vantagem exclusiva, como uma patente, que lhe permita cobrar cerca de 30% a mais que os concorrentes, ou seja, US$ 23 a mais do que os US$ 77).
Infelizmente, o mercado interno dos Estados Unidos para a maioria dos bens e serviços tem crescido apenas 1,9% ao ano, em média, nos últimos 15 anos (a taxa de crescimento do PIB entre 2000 e 2015). Portanto, esse fabricante de pneus se encontra entre a cruz e a espada—o mercado doméstico dos EUA está estagnado, e seus preços são altos demais para competir no mercado de exportação. Os maiores problemas que elevam os custos das empresas dos Estados Unidos em comparação com os concorrentes internacionais são os altos custos de saúde, as altas taxas de impostos corporativos e os custos excessivos de conformidade regulatória. Além disso, uma grande dívida não financiada da Seguridade Social ameaça agregar custos adicionais para as empresas americanas nos próximos anos. A incapacidade do governo polarizado dos EUA de resolver esses problemas, e a oscilação contra-produtiva entre governos liberais e conservadores que obstruem e destroem as iniciativas uns dos outros, tem prolongado a desvantagem americana no comércio internacional.
Os Estados Unidos gastam 17,1% do seu PIB com saúde, em comparação com uma média de 6,7% de todos os outros países do mundo (excluindo os EUA). Isso coloca o país com uma desvantagem de 10,4% em seus termos de comércio, em relação não apenas aos países em desenvolvimento, mas também aos seus pares, países industrializados, ricos e desenvolvidos. Os Estados Unidos gastam US$ 8.200 por pessoa por ano com saúde, enquanto a Alemanha gasta apenas US$ 4.300 por pessoa—cerca de metade disso—e o Reino Unido gasta apenas US$ 3.400 por pessoa. Mesmo os países nórdicos, conhecidos por seu modelo de estado de bem-estar social, como Suécia, Dinamarca e Noruega, gastam de US$ 3.800 a US$ 5.400 por pessoa. A média da OCDE é de US$ 3.300 por pessoa. Nenhum outro país gasta tanto quanto os Estados Unidos com saúde, e isso, por si só, torna os custos trabalhistas do país estruturalmente não competitivos. Além disso, o custo da saúde nos Estados Unidos tem aumentado muito mais rápido do que em outros países desde 1970. Em 1970, os custos com saúde nos Estados Unidos e em outros países desenvolvidos, como Áustria, Alemanha, Canadá, Suíça e Reino Unido, representavam 4,5% e 6,2% do PIB, respectivamente. Até 2015, os custos com saúde em todos os países, exceto os Estados Unidos, representavam 6,7% do PIB, enquanto nos EUA os custos dispararam para 17,1% do PIB. Entre 2000 e 2011, o custo total da saúde nos Estados Unidos dobrou, alcançando US$ 2,7 trilhões em 2011.
Um dos principais fatores que impulsionam os custos dos EUA são as despesas com cuidados no final da vida. Um terço de todas as despesas do Medicare (o plano de saúde para idosos) ocorre no último ano de vida. Para inflacionar ainda mais esses custos, um quarto de todas as mortes ocorre em hospitais, em vez de em cuidados paliativos ou em casa, indicando a medida em que a profissão médica tenta manter os pacientes vivos a todo custo. O paradoxal é que os cuidados com a vida no final do ciclo são, muitas vezes, os que oferecem a pior qualidade de vida. A ressuscitação e a vida em máquinas de respiração artificial muitas vezes prolongam o fim da vida de forma desnecessária, gerando sofrimento tanto para o paciente quanto para a família. Existem vários mecanismos legais e médicos que podem prevenir isso, como ordens de "Não Ressuscitar" (DNR), testamentos vitais e instalações de cuidados paliativos. No entanto, os médicos não são compensados pelo tempo que levam para consultar os pacientes e suas famílias sobre essas questões. Sua remuneração é baseada no número de procedimentos que realizam, o que os leva a focar em fazer procedimentos e dedicar o menor tempo possível para falar sobre o que realmente importa na vida e morte do paciente.
Além disso, a falta de um sistema eficaz de cuidados preventivos também contribui para o aumento dos custos. A obesidade, doenças cardíacas, hipertensão e outras doenças preveníveis são um grande problema nos Estados Unidos, visíveis no próprio corpo da população. Dieta inadequada, excesso de trabalho, falta de sono e o consumo alternado de substâncias como energéticos e medicamentos para dormir pioram a situação. Muitos americanos vivem em constante estresse, com pouca qualidade de vida. As causas estão longe de ser apenas nutricionais; comportamentais, sociais e culturais também desempenham um papel significativo. O modelo de organizações de manutenção de saúde (HMOs), introduzido nos anos 1970, foi uma tentativa de criar um sistema de saúde preventiva, mas não obteve o sucesso esperado. O Affordable Care Act ("Obamacare") deu passos na direção certa ao integrar cuidados preventivos, mas ainda é insuficiente.
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