As técnicas tradicionais de microencapsulamento, como a liofilização, secagem por spray, extrusão e emulsificação, têm sido amplamente utilizadas para proteger probióticos contra estressores ambientais e gastrointestinais. Elas mantêm os microrganismos em estado de dormência, estabilizam sua viabilidade em temperatura ambiente e aumentam sua resistência às enzimas digestivas e sais biliares. No entanto, tais abordagens apresentam limitações críticas: os materiais de revestimento aplicados em células inteiras frequentemente multiplicam seu volume até cem vezes, ultrapassando a distância fisiológica de difusão de oxigênio e nutrientes. Além disso, esses revestimentos são frequentemente não responsivos aos estímulos do trato gastrointestinal, o que compromete a liberação sob demanda, reduz a adesão à mucosa intestinal e dificulta a colonização de longo prazo.
Para contornar essas limitações, avanços recentes têm focado na encapsulação de células únicas utilizando revestimentos protetores biocompatíveis, degradáveis e responsivos a estímulos. A interação entre probióticos vivos e biomateriais poliméricos é essencial para alcançar esse nível de engenharia celular. O desenvolvimento de nanorrevestimentos funcionais e tecnologias de modificação de superfície possibilita projetar cápsulas que respondem ao ambiente intestinal, promovem a adesão ao muco ou se desintegram seletivamente para liberar os microrganismos diretamente na mucosa. Entre os materiais utilizados destacam-se dextrana, quitosana, Eudragit L100–55, alginato, ciclodextrina, fibroína de seda, ácido tânico e polidopamina.
Uma dessas estratégias inovadoras é a conjugação bio-ortogonal. Essa técnica utiliza monossacarídeos não naturais — como mannosamina, galactosamina e glicosamina — modificados com grupos funcionais bio-ortogonais, como azidas, que são metabolizados pelas células e incorporados às glicoproteínas de membrana. Esses grupos químicos servem como “alças” para reações de clique, permitindo a conjugação seletiva de moléculas terapêuticas à superfície celular sem interferir nos processos biológicos naturais. Essa funcionalização aumenta a adesão dos probióticos modificados às bactérias intestinais residentes e melhora a colonização em condições fisiológicas complexas.
Um exemplo notável é a modificação da bactéria Clostridium butyricum, cujas paredes celulares foram decoradas com grupos DBCO que reagem com D-alanina modificada com azida presente nas bactérias intestinais. O resultado foi um aumento substancial na adesão intestinal e na permanência desses probióticos, além de benefícios terapêuticos evidentes em modelos de colite induzida por DSS em camundongos. A engenharia da cepa E. coli Nissle 1917 com ácido hialurônico anti-inflamatório funcionalizado com DBCO demonstrou efeito similar. O revestimento entérico adicional permitiu que o probiótico resistisse à acidez gástrica, liberando compostos imunomoduladores diretamente no intestino.
Outra frente promissora é o uso de engenharia supramolecular para recobrir células com estruturas organizadas por interações não covalentes. Essa abordagem permite a auto-organização de componentes moleculares, criando filmes protetores estáveis e funcionais sobre células probiótic
Como as Vesículas Derivadas de Membranas Bacterianas Podem Revolucionar a Terapia Contra o Câncer
As vesículas derivadas de membranas bacterianas (BMVs) estão ganhando destaque na pesquisa de terapias contra o câncer devido às suas características únicas. Estas estruturas, ricas em padrões moleculares associados a micróbios, possuem uma imunogenicidade elevada, o que as torna ferramentas poderosas na ativação do sistema imunológico. Além disso, sua capacidade de carregar medicamentos e antígenos é notável, o que abre novas perspectivas para o tratamento de tumores.
A entrega de medicamentos por meio de BMVs tem mostrado grande potencial para superar algumas das limitações dos métodos tradicionais de quimioterapia. A quimioterapia, embora seja uma das principais abordagens no tratamento do câncer, frequentemente resulta em efeitos colaterais graves devido à distribuição não direcionada dos medicamentos. Muitos fármacos, como o paclitaxel, com alta lipofilicidade, e o camptotecina, instável, enfrentam desafios na entrega eficiente aos locais tumorais. A modificação de vesículas bacterianas para criar sistemas de entrega mais seguros e eficazes é um avanço significativo. A pesquisa recente demonstrou que vesículas bacterianas modificadas geneticamente podem carregar medicamentos citotóxicos potentes, como o PNU-159682, que é até 2000 vezes mais potente que a doxorrubicina, mas com menos efeitos colaterais. Esta modificação, utilizando ligantes do receptor do fator de crescimento epidérmico (EGFR), não só melhora a entrega do medicamento, mas também melhora a capacidade de focar no tumor, minimizando os efeitos adversos.
A capacidade das BMVs de carregar medicamentos não se limita a fármacos comuns, mas também inclui moléculas pequenas que podem ser geneticamente modificadas na superfície das vesículas, aumentando ainda mais seu potencial terapêutico. Um exemplo disso é a fusão do polibiamastoparan I, um peptídeo com toxicidade seletiva para células tumorais, com OMVs, o que potencializou as respostas imunes antitumorais.
Além disso, BMVs desempenham um papel essencial no desenvolvimento de vacinas contra o câncer. Uma vacina ideal contra o câncer deve conter antígenos direcionados aos tumores, moléculas que estimulam o sistema imunológico e uma plataforma eficiente para a entrega desses antígenos. Vacinas tradicionais, como as que utilizam lipossomos ou polímeros, podem induzir toxicidade autoimune. No entanto, as BMVs têm uma vantagem única: elas interagem diretamente com o sistema imunológico inato através de seus padrões moleculares microbianos, ativando células apresentadoras de antígenos como células dendríticas e macrófagos, que processam e apresentam os antígenos ao sistema imune adaptativo.
Pesquisas mostram que as BMVs podem ser geneticamente modificadas para produzir vesículas que transportam antígenos diretamente, ou ainda para exibir proteínas exógenas na superfície das vesículas. Por exemplo, utilizando recombinação genética, os pesquisadores expressaram o antígeno E7 do HPV em OMVs derivadas de E. coli, promovendo a captura pelos DCs e o aumento da resposta imune, além de inibir significativamente o crescimento de tumores em modelos animais. A fusão de antígenos com proteínas como a hemolisina A (ClyA) permite a exibição de múltiplos antígenos tumorais ao mesmo tempo nas OMVs, potencializando ainda mais a resposta imune específica.
Outro avanço é a criação de vacinas híbridas, que combinam as membranas de células tumorais com membranas bacterianas. Este sistema híbrido usa as BMVs como adjuvantes imunológicos, ativando a imunidade inata, enquanto as membranas tumorais transmitem sinais imunológicos, tornando-se vacinas personalizadas para cada paciente. Um exemplo disso é a fusão das OMVs de E. coli com membranas de células de melanoma, criando uma vacina que melhora a apresentação do antígeno pelas células dendríticas e a resposta das células T específicas ao tumor.
As BMVs também têm se destacado no campo da modulação imunológica. As terapias de modulação imunológica, como os bloqueadores de pontos de verificação imunes e a terapia com células T CAR (Chimeric Antigen Receptor), têm mostrado grande potencial, mas os desafios são significativos, incluindo taxas de resposta baixas e a imunossupressão do microambiente tumoral (TME). As BMVs, com sua capacidade de ativar células imunes e modular respostas imunes, estão sendo exploradas como uma solução para melhorar a eficácia das terapias imunológicas. Por exemplo, ao modificar OMVs para que elas se liguem à proteína PD-L1 nas células tumorais, é possível restaurar a função das células T, superando a inibição que essas células sofrem no TME.
O potencial das BMVs se estende ainda mais quando combinadas com outras terapias. OMVs derivadas de Klebsiella pneumoniae foram usadas para entregar doxorrubicina a tumores, induzindo a morte celular imunogênica (ICD) e amplificando as respostas imunológicas. Outra abordagem envolveu o uso de OMVs revestidas com fosfato de cálcio para aumentar a permeabilidade das células tumorais e acumular na região tumoral, enquanto a liberação de fotossensibilizadores induzia a conversão fototérmica e a ativação do sistema imune.
A inovação no uso de BMVs, tanto como veículos de entrega de medicamentos quanto como adjuvantes imunológicos ou vacinas, representa uma nova era na terapia contra o câncer. O que distingue as BMVs das tecnologias tradicionais é sua capacidade de interagir diretamente com o sistema imunológico e seu potencial para superar as barreiras que limitam outras terapias, como a resistência dos tumores ao tratamento e os efeitos colaterais severos da quimioterapia convencional.
Como a Modulação da Membrana Celular Pode Impulsionar a Terapêutica de Câncer e o Transporte de Medicamentos
A modulação da membrana celular tem se mostrado um componente crucial nas estratégias terapêuticas contra o câncer, especialmente quando se trata do desenvolvimento de sistemas nanomédicos direcionados. As células tumorais liberam antígenos associados ao tumor, como o glicantígeno Thomsen–Friedenreich e a galectina-3, que desempenham papéis centrais na facilitação da agregação de células metastáticas. Esses antígenos, presentes na membrana celular, tornam as células tumorais excelentes candidatas para o desenvolvimento de sistemas de nanopartículas direcionadas, permitindo que essas partículas tenham uma maior taxa de absorção pelas células tumorais, devido a mecanismos de ligação homotípica.
Além disso, a extração de membranas de células tumorais a partir de biópsias de pacientes pode fornecer um material rico em antígenos específicos do câncer. Essa abordagem personalizada oferece uma oportunidade única para aplicações imunoterapêuticas, permitindo tratamentos mais ajustados às necessidades de cada paciente. O uso de células cancerígenas específicas do paciente nas terapias de câncer não só melhora a especificidade do tratamento, mas também permite uma abordagem mais eficaz na entrega de medicamentos, como é o caso das nanopartículas poliméricas.
Outro avanço significativo nesse campo é o uso de exossomos, vesículas extracelulares compostas por lipídios, ácidos nucleicos e proteínas provenientes da membrana celular e do citosol. Os exossomos desempenham papéis cruciais na comunicação celular, manutenção da homeostase, regulação da inflamação e promoção da reparação tecidual. Sua liberação começa com a invaginação da membrana endossômica, criando vesículas intraluminais dentro dos corpos multivesiculares, que depois se fundem com a membrana celular, liberando exossomos no ambiente extracelular. Eles possuem características biológicas que permitem transferir materiais biológicos para células vizinhas ou distantes, alterando suas funções e características.
A principal vantagem dos exossomos é a sua habilidade em evitar a detecção pelo sistema imunológico, o que os torna candidatos ideais para o transporte de medicamentos. Exossomos derivados de células-tronco mesenquimatosas (MSCs) podem ser enriquecidos com marcadores de superfície como CD9, CD63 e CD81, o que facilita sua utilização em aplicações biomédicas, incluindo a entrega de terapias direcionadas. Tais vesículas podem carregar moléculas imunossupressoras e ligantes de receptores de morte, desencadeando a apoptose nas células tumorais e evidenciando seu potencial anticâncer.
Além dos exossomos, as células bacterianas também apresentam uma modulação interessante das suas membranas, que pode ser explorada em terapias contra o câncer. As bactérias Gram-negativas, por exemplo, liberam vesículas da membrana externa (OMVs), que são formadas pelo desprendimento da camada externa da célula bacteriana. Essas OMVs têm um papel importante na comunicação celular, na troca de metabolitos e na patogenicidade, podendo ser utilizadas como opções terapêuticas seguras devido à sua natureza não replicativa, mas altamente imunogênica. As OMVs contêm proteínas estruturais, como fosfatidilglicerol e fosfatidiletanolamina, que as tornam atraentes no contexto de vacinas terapêuticas e no tratamento do câncer.
A modulação das membranas celulares também inclui a criação de sistemas de entrega de medicamentos baseados em partículas encapsuladas, como as nanopartículas revestidas com membranas biológicas. O processo de preparação dessas nanopartículas envolve três etapas principais: a extração da membrana biológica, a seleção do núcleo das nanopartículas e a montagem da membrana ao redor desse núcleo. A primeira etapa exige protocolos específicos para isolar as membranas das células, minimizando a contaminação com outros componentes celulares. Para preservar as proteínas da membrana, são utilizados tampões de extração a frio contendo inibidores de proteases e fosfatases. Além disso, a purificação das membranas pode ser realizada por centrífuga diferencial ou por gradiente de sacarose.
Esses sistemas de nanopartículas revestidas oferecem uma abordagem promissora no tratamento de câncer, pois podem ser programados para direcionar os medicamentos diretamente para as células tumorais, aumentando a eficácia terapêutica e reduzindo os efeitos colaterais em tecidos saudáveis. O uso de membranas de células tumorais ou células bacterianas na engenharia dessas nanopartículas também pode ajudar a superar a resistência ao tratamento, proporcionando uma alternativa eficaz para casos difíceis.
A combinação de todas essas abordagens aponta para uma revolução nas terapias contra o câncer e no desenvolvimento de medicamentos de precisão. No entanto, é importante que os pesquisadores continuem a explorar novas formas de melhorar a estabilidade e a eficácia desses sistemas, além de reduzir a variabilidade de lote e a imunogenicidade, de modo a otimizar as estratégias de targeting celular e minimizar efeitos adversos. A integração de diferentes tipos de células, como células-tronco e células tumorais, nas terapias de entrega de medicamentos pode abrir novas possibilidades de tratamentos mais personalizados e eficazes.
Como as Plataformas Híbridas de Membranas Celulares Estão Revolucionando o Tratamento de Doenças Inflamatórias e Infecciosas
A crescente aplicação de plataformas híbridas de membranas celulares no tratamento de diversas condições inflamatórias e infecciosas tem demonstrado um potencial significativo, oferecendo novas possibilidades terapêuticas que combinam a eficácia de tratamentos tradicionais com inovações tecnológicas. Essas plataformas, compostas por nanopartículas que integram membranas celulares de diferentes origens, são capazes de promover tratamentos mais específicos e eficazes, abordando limitações enfrentadas pelos métodos convencionais.
A colite ulcerativa (UC), uma doença inflamatória intestinal caracterizada por altas taxas de incidência e recorrência, é frequentemente acompanhada por uma produção excessiva de espécies reativas de oxigênio (ROS), ativação de macrófagos e inflamação contínua. A pesquisa de Wang e colaboradores desenvolveu uma plataforma nanotecnológica bioinspirada (AU-LIP-CM), composta por lipossomos contendo clusters de ouro (AU) e membranas de neutrófilos e glóbulos vermelhos (RBCs). Essa plataforma se destaca por sua capacidade de direcionamento para a inflamação e evasão do sistema imunológico, com o ouro liberado apresentando atividades que neutralizam as ROS, modulam o sistema imunológico e promovem a reparação da barreira intestinal. Além disso, a capacidade de fluorescência do AU permite o rastreamento em tempo real, aprimorando os efeitos terapêuticos no tratamento da UC.
No tratamento do infarto do miocárdio (IM) e do dano isquêmico-reperfusional (IR), a regeneração das células cardíacas danificadas é essencial para restaurar a função cardíaca. Para isso, Zhou e sua equipe projetaram uma plataforma híbrida de membranas composta por plaquetas e macrófagos, que inclui um peptídeo penetrante de membrana (P-Ben) e nanopartículas carregadas com siRNA contra o gene Sav1. Essa abordagem inibiu a apoptose das células cardíacas e promoveu a recuperação da função cardíaca, além de possibilitar a regeneração celular no local da lesão.
Pesquisas sobre o tratamento da arteriosclerose (AS), que envolve danos endoteliais, inflamação e depósito de lipídios nas artérias, têm explorado as interações entre macrófagos e lipoproteínas. As plataformas híbridas de membranas podem promover a restauração da função endotelial, utilizando membranas de macrófagos M2 anti-inflamatórios e peptídeos derivados de lipídios. O uso de medicamentos como a simvastatina, combinados a essas plataformas, também tem mostrado eficácia na redução do colesterol e na regressão das placas ateroscleróticas.
Em doenças cerebrais inflamatórias, como os acidentes vasculares cerebrais isquêmicos, a reparação da barreira hematoencefálica (BBB) é crucial. A fusão de membranas de células-tronco neurais com lipossomos resultou em vesículas híbridas bioresponsivas que transportam o medicamento anti-inflamatório metformina. Essas vesículas são capazes de atravessar a BBB de maneira eficiente e restaurar a integridade da barreira, reduzindo a inflamação e promovendo a recuperação neuronal. Abordagens semelhantes têm sido aplicadas ao tratamento de lesões cerebrais isquêmicas, com nanopartículas que liberam fatores de crescimento para acelerar a reparação neuronal.
No campo das infecções bacterianas, o uso de plataformas híbridas de membranas também apresenta resultados promissores. A resistência bacteriana a antibióticos tradicionais é uma preocupação crescente, e as nanopartículas biomiméticas estão se destacando como alternativas eficazes. A combinação de nanopartículas de fosforeto negro (BPQDs), que possuem propriedades fototérmicas e fotodinâmicas, com antibióticos tradicionais como a amicacina, em plataformas híbridas, demonstrou efeitos antibacterianos significativos, especialmente quando ativadas por radiação laser. Essas plataformas não apenas combatem infecções bacterianas, mas também reduzem a inflamação associada à infecção.
Outro exemplo interessante no tratamento de infecções bacterianas é o desenvolvimento de vacinas antibacterianas em nanoplataformas híbridas. A fusão de membranas de macrófagos com vesículas derivadas de Pseudomonas aeruginosa, combinada com nanopartículas de ouro como adjuvantes, gerou uma vacina nanobiomimética que demonstrou uma taxa de sobrevivência de 100% em modelos de sepse, mostrando grande potencial para o desenvolvimento de vacinas para infecções resistentes.
Essas inovações indicam um futuro promissor para o tratamento de uma série de condições inflamatórias e infecciosas, oferecendo terapias mais específicas, menos invasivas e com menos efeitos colaterais. As plataformas híbridas de membranas celulares podem não apenas melhorar a eficácia dos tratamentos, mas também proporcionar uma abordagem mais inteligente e personalizada, adequada às necessidades individuais dos pacientes.
Ao aplicar essas tecnologias, é essencial considerar a complexidade e os desafios associados à interação entre as nanopartículas e os sistemas biológicos. A escolha das membranas celulares, a otimização da liberação de medicamentos e a minimização de reações adversas são fatores cruciais para o sucesso dessas plataformas terapêuticas. Além disso, o acompanhamento contínuo dos efeitos a longo prazo dessas abordagens será fundamental para garantir sua segurança e eficácia em tratamentos clínicos.

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