Em células eletroquímicas, o estudo das impedâncias oferece uma visão crucial sobre os processos de transporte de íons, resistências internas e a interação entre os diferentes componentes da célula. No caso específico de células de estado sólido, como aquelas com eletrodos de referência Li7Ti5O12|Li4Ti5O12, a medição de impedância fornece dados consistentes sobre o comportamento do sistema, incluindo as reações na interface entre os eletrólitos sólidos. Quando os eletrodos de trabalho e contraeletrodo estão em uma configuração que permite a medição de impedância, é essencial garantir que as impedâncias combinadas e da célula coincidam para obter resultados confiáveis.

Em experimentos que envolvem LiCoO2 e Li-In, duas semicircunferências são observadas nas curvas de Nyquist, com a magnitudes das impedâncias da célula sendo significativamente maiores do que as de LiCoO2, por exemplo. A análise por circuitos equivalentes revela que a resistência da célula, especialmente quando se usa um eletrodo contraeletrodo de In-Li, pode ser mais de duas vezes maior do que em outras configurações. Esse aumento nas medições pode ocorrer devido à interação do contraeletrodo, o que implica que as medições de impedância podem ser superestimadas se o efeito do contraeletrodo não for adequadamente considerado.

Outros estudos, como os de Dugas et al., mostram como o uso de um eletrodo de referência In-Li, em combinação com eletrólitos sólidos como Li2S-P2S5-LiI e Li6PS5Cl, também permite realizar medições de impedância de forma confiável, obtendo espectros AC consistentes. Este tipo de medição é essencial para entender as propriedades de transporte de íons de lítio dentro de sistemas de eletrólitos sólidos, uma vez que o comportamento do íon de lítio nas interfaces entre diferentes eletrólitos pode ser crucial para o desempenho de baterias de lítio, por exemplo.

No desenvolvimento de células eletroquímicas de quatro eletrodos, foi possível melhorar ainda mais a precisão das medições. A célula de quatro eletrodos permite estudar o transporte de íons de lítio nas interfaces de dois eletrólitos sólidos. O uso de uma referência Li7Ti5O12|Li4Ti5O12 em um formato de malha, em conjunto com eletrodos contraeletrodo In-Li, garante medições com alta estabilidade e reprodutibilidade. A configuração de quatro eletrodos resolve problemas típicos de distorção da interface e permite medições mais precisas, particularmente em sistemas onde os eletrólitos não são tão estáveis com outros tipos de referência.

Em uma célula de quatro eletrodos, um dos principais objetivos é examinar a resistência de transporte de íons nas interfaces de eletrólitos sólidos. A experimentação revelou que, em interfaces entre, por exemplo, Li7P3S11|Li6PS5Cl, a resistência de transporte de íons se apresenta como uma semicircunferência em baixa frequência nas curvas de Nyquist. Esta resistência está diretamente relacionada à energia de ativação necessária para o transporte de íons, o que, por sua vez, está associado à condutividade dos eletrólitos. Além disso, a combinação de diferentes materiais de referência e eletrodos oferece uma nova oportunidade para analisar o comportamento de íons nas interfaces.

A configuração de quatro eletrodos também mostrou um potencial significativo para avançar as medições nas interfaces sólido|sólido. Esse sistema não apenas melhora as medições de impedância, mas também permite investigar de maneira mais detalhada o transporte de íons entre diferentes fases do eletrólito. O método tem se mostrado particularmente útil para entender o comportamento do íon de lítio em interfaces de eletrólitos sólidos com diferentes condutividades, o que pode ser aplicado em sistemas de baterias e outras tecnologias de armazenamento de energia.

Além disso, é importante notar que, ao estudar o transporte de íons de lítio em sistemas de eletrólitos sólidos, as medições de impedância são fundamentais para identificar as resistências que limitam o desempenho da célula. A utilização de uma célula de quatro eletrodos, por exemplo, oferece uma solução para um problema comum nas medições de impedância em sistemas de estado sólido: a interferência das superfícies de contato e os artefatos provenientes da geometria do dispositivo. Isso é essencial para garantir que as medições sejam representativas da realidade dos processos eletroquímicos.

Como a Holografia Eletrônica Operando Pode Revelar o Potencial Elétrico em Baterias de Estado Sólido

Durante o ciclo de carga e descarga das baterias, ocorrem mudanças significativas no potencial elétrico ao redor das interfaces dos eletrodos e do eletrólito. Essas variações não apenas são cruciais para a compreensão do comportamento eletroquímico, mas também oferecem insights profundos sobre os mecanismos de transferência de íons e elétrons, essenciais para melhorar o desempenho das baterias. O uso de técnicas de holografia eletrônica operando (EH) tem se mostrado eficaz na visualização e quantificação dessas mudanças em escalas nanométricas.

Ao realizar medições de EH em uma célula de bateria, é possível observar como o potencial elétrico se distribui e varia com o tempo, especialmente durante o ciclo de carga e descarga. Quando uma tensão é aplicada ao sistema, o potencial detectado pela holografia eletrônica aumenta, refletindo uma elevação no potencial eletrostático, no potencial elétrico externo e no potencial elétrico interno, enquanto o potencial de superfície permanece invariável. Isso ocorre porque as reações eletroquímicas, como as reações de inserção e extração de íons e elétrons, alteram o nível de Fermi, resultando em uma distribuição de potencial que não é diretamente equivalente à variação do potencial eletroquímico.

No contexto de baterias de estado sólido, essas mudanças no potencial são críticas para entender a dinâmica do fluxo de íons, especialmente os íons de lítio, que são os principais responsáveis pela armazenagem e liberação de energia. A medição do potencial elétrico através da holografia eletrônica operando, com a subtração dos valores de fase nos estados inicial e com tensão aplicada, permite uma análise precisa e quantitativa da distribuição de potencial formada ao longo do ciclo da bateria.

Ao realizar experimentos com amostras de TEM (microscopia eletrônica de transmissão) carregadas com um escudo nanoescala, a distribuição de potencial foi registrada durante o ciclo de voltagem aplicada. Através dessa técnica, observou-se como o gradiente de potencial negativo aumenta à medida que a bateria se carrega, com um perfil de potencial uniformemente inclinado na região do eletrólito dopado com Gálio (Ge-doped LATSPO). Essa distribuição de potencial foi ainda mais evidenciada pela formação de uma camada dupla elétrica nas interfaces, o que gerou um desnível acentuado no potencial ao longo da interface do cátodo.

Quando o processo de descarga se inicia, o potencial na região do Ge-doped LATSPO diminui gradualmente, com a expansão dessa região de menor potencial. Em particular, essa diminuição foi observada em uma área local de aproximadamente 300 nm ao redor da interface, indicando uma concentração de íons de lítio acumulados devido à resistência interfacial elevada. Essa acumulação pode ser estimada em torno de 20% de aumento na concentração de lítio, uma alteração sutil que, de outra forma, seria difícil de ser detectada utilizando técnicas como a espectroscopia de perda de energia de elétrons (EELS).

Esses resultados evidenciam a eficácia da holografia eletrônica operando como uma técnica essencial para observar com precisão a evolução do potencial elétrico e a dinâmica dos íons dentro das baterias de estado sólido. A vantagem desta abordagem é sua capacidade de monitorar o comportamento do sistema em tempo real, fornecendo uma visão mais clara sobre o desempenho das interfaces e permitindo o desenvolvimento de materiais com melhor desempenho.

Além disso, a técnica de holografia eletrônica operando não só revela as variações de potencial, mas também fornece informações sobre a resistência interfacial e os mecanismos de perda de energia, como a perda resistiva (IR). A medição precisa do potencial elétrico ao longo do ciclo de carga e descarga pode informar o design de novos materiais e melhorar a eficiência das baterias, proporcionando um controle mais rigoroso sobre as reações eletroquímicas que ocorrem nas interfaces.

No entanto, é importante observar que a holografia eletrônica operando é uma técnica que exige amostras extremamente finas, com espessuras da ordem de 100 nm, o que pode representar um desafio no preparo das amostras e na análise de sistemas em larga escala. Mesmo assim, os resultados obtidos por meio dessa técnica têm implicações diretas no desenvolvimento de baterias mais eficientes e duráveis, particularmente no que diz respeito à otimização das interfaces e à minimização da resistência interna.

Ao considerar a aplicabilidade dessa técnica, é fundamental entender que a precisão na medição do potencial elétrico em escalas tão pequenas não só é uma ferramenta poderosa para a pesquisa fundamental, mas também um guia importante para o design de baterias de próxima geração. Essa abordagem promete transformar a forma como abordamos a evolução e o aprimoramento das baterias de lítio, sendo um passo crucial em direção a tecnologias de armazenamento de energia mais eficientes e sustentáveis.

Como as Reações de Litiação e Delitíação Podem Ser Analisadas com XPS Durante o Ciclo de Carga/Descarga

As reações de litiação e delitíação em células de lítio são fundamentais para o entendimento e a melhoria de baterias de íons de lítio. Para examinar esses processos com maior precisão, as medições de espectroscopia de fotoelétrons excitados por raios-X (XPS) têm sido uma ferramenta indispensável. A realização simultânea de ciclos de carga/descarga e medições XPS permite obter uma visão detalhada das mudanças na estrutura do material e da composição química ao longo de cada ciclo eletroquímico. A XPS oferece informações crucial sobre a evolução das espécies químicas na superfície do eletrodo, principalmente os compostos formados durante as reações de litiação e delitíação, como Li-silício, Li-silicato e óxidos de lítio.

Durante o ciclo de litiação de uma célula Li/LLZT/Si/Cu, por exemplo, observa-se uma mudança nas características do perfil de potencial galvânico, que indica a inserção de íons de lítio no material de silício. As densidades de capacidade durante a litiação e a delitíação mostram que a primeira litiação (de A para B) apresenta uma capacidade de 3330 mAh g⁻¹, enquanto a delitíação subsequente (de B para C) resulta em uma capacidade de 3137 mAh g⁻¹. A capacidade irreversível estimada é de aproximadamente 193 mAh g⁻¹, o que sugere a formação de compostos altamente resistentes, como Li2O e Li2CO3, devido a reações laterais durante o processo de litiação.

As medições XPS, realizadas nos estados A (prístino), B (após a primeira litiação) e C (após a delitíação), mostram como os picos nos espectros das regiões Li 1s, Si 2p e O 1s evoluem durante o ciclo. No estado prístino, o pico de Li 1s é inexistente, enquanto no Si 2p observam-se os picos de Si metálico e subóxido, indicando que a superfície do silício está coberta por um subóxido nativo. Após a primeira litiação, surgem picos amplos em Li 1s, atribuídos a compostos como Li2O, Li2CO3, Li-silicato e Li-silício (LixSi). Além disso, os picos de Si 2p se deslocam para energias mais baixas, evidenciando a formação de Li-silício. O que é interessante observar é que o lítio não se insere apenas no silício, mas também no subóxido, formando Li-silicato.

O processo de delitíação, por sua vez, apresenta um comportamento inverso. O pico de Li-silício na região Li 1s desaparece, mas os picos associados a espécies mais resistentes, como Li2O e Li2CO3, permanecem. Esse fenômeno é um indicativo de que a delitíação favorece a remoção do lítio do Li-silício, enquanto as espécies como Li-silicato permanecem inalteradas. A determinação da espessura dos diferentes compostos formados durante esses processos revela que o subóxido de silício tem uma espessura de 0,5 nm, o Li-silicato atinge 0,9 nm e o Li2O tem uma espessura de 2,5 nm. Esses valores são cruciais para entender a contribuição de cada espécie para a capacidade irreversível observada.

Em um cenário mais dinâmico, as medições XPS podem ser feitas ao longo do ciclo de litiação e delitíação, monitorando as mudanças nas regiões Li 1s, Si 2p, O 1s e C 1s. Durante o processo de litiação, as mudanças no pico de Li 1s refletem a formação gradual de Li-silício e a inserção de lítio, enquanto os picos de Si 2p diminuem à medida que o lítio se insere no material. Esses dados ajudam a rastrear a evolução do conteúdo de lítio no Si-silício e os efeitos do lítio residual, como Li2O e Li2CO3, que surgem devido a reações com os gases residuais na câmara de vácuo. A inserção de lítio nas formas mais resistentes ocorre de maneira mais gradual e não se correlaciona diretamente com a mudança nos picos de Si 2p ou Li 1s.

Durante o processo de delitíação, as mudanças nas posições dos picos são mais complexas, principalmente quando se utiliza um intervalo de potencial de corte mais amplo (0,01–1,2 V). O deslocamento abrupto dos picos na região Li 1s e Si 2p ocorre quando a capacidade diminui de 3400 mAh g⁻¹ para 1800 mAh g⁻¹, sugerindo uma transição de fase do Li15Si4 cristalino para o Li-silício amorfo, o que é evidenciado por um pico de dQ/dV. Este comportamento confirma a complexidade das reações de litiação e delitíação e a necessidade de uma análise detalhada para compreender as mudanças nos materiais durante os ciclos.

Além das medições XPS, é importante considerar os aspectos térmicos e mecânicos que podem influenciar o comportamento dos eletrodos de silício durante os ciclos de litiação e delitíação. A expansão e contração do material, devido à inserção e remoção de íons de lítio, podem resultar em fraturas microscópicas que afetam a integridade do eletrodo e, consequentemente, a performance da célula. Tais fatores podem contribuir para a diminuição da capacidade reversível e para o aumento da capacidade irreversível observada nas medições.