A informação, enquanto um conceito crucial na filosofia e nas ciências, apresenta diversas abordagens teóricas e metáforas, que buscam explicar sua função e impacto sobre o mundo físico e semântico. Uma dessas abordagens trata a informação como algo intrinsecamente ligado à natureza física, onde sua manifestação não pode ser dissociada de processos materiais. Em particular, a teoria da informação semântica e a discussão sobre o estatuto metafísico da informação, colocam em destaque um problema central: Como pode um fenômeno não-físico, como a informação, ter efeitos físicos tangíveis?
A primeira parte dessa questão é entendida sob a ótica do chamado "princípio de Landauer", que afirma que a mínima quantidade de informação requer uma quantidade mínima de energia para ser processada, expressa na fórmula kT ln2. Esse princípio destaca a interdependência entre informação e energia, algo que foi debatido por Norbert Wiener, que, em sua obra The Human Use of Human Beings: Cybernetics and Society (1961), afirma que "informação é informação, não matéria nem energia". Wiener reconhece que qualquer mecanismo físico que processe informação deve consumir energia, seja em um computador ou no cérebro humano, mas ao mesmo tempo, a energia consumida não corresponde ao efeito imediato da informação processada. Esse pensamento de Wiener, embora desconfortável para alguns, lança luz sobre o paradoxo central de como algo imaterial pode exercer influência no mundo físico.
A discussão sobre a informação física também é essencial quando se analisa as abordagens naturalistas da semântica. Filósofos como Paul Grice, Fred Dretske e Ruth Millikan exploram a noção de que a informação, em seus aspectos naturais, deve estar ligada a regularidades ou correlações observáveis no mundo físico. Millikan, em particular, desenvolve uma teoria refinada sobre os infosigns, uma forma de representação semântica que depende de correlações naturais entre sinais e o mundo material. Para ela, um infosign é uma relação não acidental entre um sinal e o evento representado, um par de objetos que compartilham uma correlação estrutural que permite que a forma de um represente a forma do outro. Um exemplo clássico de Millikan ilustra isso: a nuvem escura, enquanto um infosign de chuva, não é um símbolo arbitrário, mas sim parte de um conjunto de relações naturais em que a presença da nuvem sugere, com alta probabilidade, a iminência da chuva.
Porém, surge uma questão metafísica fundamental: como entender a relação entre essa "forma" ou "padrão" abstrato e os eventos físicos concretos que ela representa? Como conciliar a abstração da forma com a materialidade do mundo físico? A resposta a essa dúvida permanece um dos desafios centrais nas discussões contemporâneas sobre a filosofia da informação. Pode-se pensar que a forma, tal como abordada nas teorias semânticas, seja uma propriedade física do mundo, parte de uma regularidade observada na natureza, o que daria margem à ideia de um fisicalismo redutivo. Nesse caso, a informação seria apenas a organização ou estrutura dos eventos físicos, algo que não transcende o próprio domínio material.
No entanto, outras teorias adotam uma visão mais radical, chamada de "fundamentalismo", onde a informação é vista como uma propriedade fundamental do universo, tal como matéria ou energia. John Archibald Wheeler, por exemplo, argumentou que "o universo é feito de informação", sugerindo que a informação é a base ontológica sobre a qual tudo mais é construído, inclusive a matéria e a energia. Esse ponto de vista, por mais fascinante que seja, enfrenta críticas por sua incapacidade de explicar como a informação, enquanto propriedade fundamental, interage com os fenômenos físicos concretos.
O problema, nesse caso, não é apenas epistemológico (sobre como entendemos ou explicamos a informação), mas também ontológico, pois trata de definir qual é o status da informação no mundo físico. As discussões sobre o estatuto metafísico da informação indicam que, mesmo em teorias como o fisicalismo redutivo, ainda não conseguimos explicar de forma satisfatória como as formas ou padrões informacionais se conectam à realidade material de maneira clara e sem contradições. O risco é que, ao tratar a informação como algo abstrato, mas sem fornecer uma explicação robusta sobre sua origem ou seus efeitos no mundo físico, se caia em um reducionismo excessivo que não leva em consideração as complexidades da semântica e da intencionalidade.
Além disso, é importante perceber que o conceito de "informação" no campo da semântica não se restringe ao que se entende como um dado ou sinal transmitido de um ponto a outro. A verdadeira complexidade surge quando consideramos que a informação, no sentido filosófico e semântico, está vinculada a um processo de representação e interpretação. O que importa não é apenas o dado em si, mas como ele é interpretado dentro de um contexto, como ele adquire significado para o sujeito ou o sistema que o recebe. Nesse sentido, o estudo da informação transcende as limitações da computação ou da física e exige uma análise profunda de como ela se relaciona com a cognição, a percepção e, finalmente, com a própria constituição do sentido.
A Relação entre a Entropia Termodinâmica e a Entropia Informacional: Como a Físico-Química Fundamenta a Representação
A entropia termodinâmica, que mede o grau de desordem em um sistema, é um conceito fundamental na física. Segundo a Segunda Lei da Termodinâmica, qualquer sistema tende a atingir um estado de equilíbrio, no qual sua entropia é maximizada. Isso significa que os elementos do sistema se tornam cada vez mais desconectados entre si, até atingirem uma distribuição uniforme e caótica. Essa crescente desordem é associada ao aumento da liberdade dos componentes do sistema, que podem assumir qualquer estado possível. No entanto, a probabilidade de o sistema estar em qualquer estado específico é extremamente baixa, devido à uniformidade das distribuições e à ausência de correlações entre os elementos.
Entretanto, quando a tendência natural do sistema é interrompida ou revertida — ou seja, quando os elementos do sistema começam a se correlacionar localmente — isso indica a presença de uma influência externa. Esse fenômeno de distúrbio do sistema, que impede o aumento natural da entropia, altera a distribuição probabilística dos estados possíveis. Essa mudança pode ser vista como uma forma de "informação", pois a interação do sistema com o mundo externo pode ser entendida como uma troca comunicativa. A alteração da distribuição probabilística é, portanto, uma forma de informação incremental, que depende das características físicas do sistema que serve como meio de comunicação.
O conceito de entropia informacional é relevante nesse contexto. Enquanto a entropia termodinâmica tende a aumentar naturalmente, a entropia informacional não tem uma tendência intrínseca de aumento. Contudo, a capacidade de um sistema de transmitir informação está intimamente ligada à sua estrutura física e à forma como os estados possíveis são mapeados para a realidade física do sistema. Isso implica que, ao considerar um sistema como um canal de informação, ele estará sujeito às leis da termodinâmica. À medida que a entropia termodinâmica aumenta, a capacidade informacional do sistema tende a ser corrompida, pois a sinalização se torna menos confiável e mais dispersa.
A relação entre as entropias termodinâmica e informacional pode ser explicada da seguinte forma: uma redução em qualquer uma delas não ocorre de maneira espontânea. Quando isso acontece, é um indicativo de que uma influência externa está atuando sobre o sistema. Isso é especialmente evidente quando se observa a dinâmica de sistemas físicos complexos, como detectores de metais. Um detector de metais opera em um estado de alta restrição, com baixa entropia. No entanto, quando o campo magnético do detector é alterado por um objeto condutor, o sistema perde essa baixa entropia, aumentando sua desordem. Esse distúrbio é uma forma de intervenção externa que altera a distribuição probabilística do sistema, criando novos canais e estados possíveis. Assim, o detector começa a transmitir mais informação, pois a alteração do campo magnético revela algo sobre o objeto que interfere no sistema.
Esse exemplo ilustra como a interação física com o mundo externo não só altera a entropia do sistema, mas também a capacidade deste sistema de carregar e transmitir informações. A informação, portanto, não é determinada pelas propriedades intrínsecas do sinal, mas pela relação física do sistema com seu ambiente. Cada sinal é um indicativo de que algo fora do sistema está impondo um novo padrão de ordem, uma nova estrutura, e, portanto, uma nova representação da realidade.
Além disso, é importante compreender que a informação que um sistema carrega não é apenas um reflexo da ordem interna desse sistema, mas um reflexo das influências externas que estão constantemente atuando sobre ele. Esses fatores externos, ao interferirem no sistema, impõem uma estrutura informacional que permite que o sistema represente aspectos do mundo além de si mesmo. A interação entre o sistema e o ambiente, portanto, fundamenta a própria representação, fornecendo a base física para a construção de significados e referências no mundo.
Assim, a entropia termodinâmica não é apenas um conceito físico relacionado à desordem, mas também uma base fundamental para a compreensão da transmissão e da representação de informações. A relação entre a termodinâmica e a informação, por meio da influência externa que altera o equilíbrio do sistema, permite entender como a representação da realidade é física e não meramente abstrata.
Como os Símbolos Adquirem Seu Poder Representacional? A Relação Entre Sentido e Referência
A questão central que se coloca aqui é como um símbolo adquire a capacidade de referir-se a um referente específico, dado que o poder representacional de um símbolo está distribuído por todo o sistema simbólico e não possui uma correlação direta com o seu referente. Para entender essa dinâmica, é necessário distinguir entre os diferentes tipos de correlações indexicais que sustentam a referência simbólica.
Quando falamos sobre uma descrição geral, como "Um cachorro tem quatro patas e late", estamos lidando com uma abstração que generaliza propriedades de cães sem exigir que se lembre dos atributos específicos de cada cão individualmente. Isso permite que compreendamos a distinção fregeana entre sentido e referência, iluminando como descrições indefinidas, gerais e abstratas desafiam as teorias tradicionais sobre a referência e o significado. A forma como as relações simbólicas são articuladas, e a maneira como a semiótica lida com a continuidade e a descontinuidade entre os sinais animais e a linguagem, mostra as dependências assimétricas entre ícones, índices e símbolos.
A questão seguinte é: como um símbolo determina seu referente específico, dado que seu poder representacional está distribuído por todo o sistema simbólico e carece de uma correlação direta com o seu referente? A resposta a essa questão está no conceito de regrounding simbólico, ou o reagrupamento do símbolo por meio de novas correlações indexicais. Para que um símbolo adquira sua capacidade de referir-se a um objeto concreto, é necessário que haja uma segunda correlação indexical que indique os objetos da referência. Por exemplo, quando alguém diz: "Aquele cachorro tem quatro patas", em um contexto específico com um cachorro determinado, a frase adquire poder representacional ao referir-se ao estado daquele cachorro. O símbolo "aquele" precisa, portanto, de uma maneira de indicar o cachorro diretamente, como por meio de um gesto de apontar ou uma perspectiva específica, fixando o referente de "aquele". Com essa correlação indexical, a frase ganha seu poder representacional.
Portanto, podemos afirmar que existem pelo menos dois tipos de correlações indexicais que sustentam a referência simbólica. Em um contexto específico, um legisign (um tipo de signo simbólico) aponta para outros legisigns e, ao mesmo tempo, para o objeto de referência. Esse processo se dá por meio da interdependência desses dois tipos de correlações indexicais, cujas relações transitivas entre os índices permitem que a representação simbólica adquira seu poder. A transitividade da relação indexical significa que um indicador de um indicador de um objeto pode também ser interpretado como um indicador do objeto em si.
Por exemplo, o sinal "veículo" de um sinsign (signo sensível) pode ser um evento natural que está espacial ou causalmente contíguo com o objeto representado. Os eventos antes e depois do veículo do signo também podem ser interpretados como indicadores do objeto. Da mesma forma, para os símbolos, o veículo do signo é um legisign. Quando um legisign é interpretado como indicador, seu poder representacional também é transitivo, sendo realizado pela sua posição dentro de um sistema simbólico e pelas relações espaciais que ele mantém com outros legisigns.
Isso fica claro ao observarmos como as palavras, como artigos, substantivos, pronomes, verbos, adjetivos e advérbios, dependem dessas relações espaciais. O exemplo "O cachorro tem manchas. Ele gosta de caçar gatos. Um gato vem da Ásia. Ele é um gato-leopardo", ilustra como o primeiro "ele" se refere ao cachorro e o segundo "ele" se refere ao gato, dependendo da proximidade espacial das palavras no enunciado. As relações adjacentes entre palavras em uma sentença formam uma combinação onde cada palavra indica as outras, e até mesmo preposições e conjunções desempenham funções indexicais, funcionando como setas direcionais que indicam palavras contíguas a elas.
Assim, na língua, podemos entender o sistema linguístico como um sistema de coordenadas vetoriais multidimensionais, onde as relações indexicais possuem regularidade sistemática, semelhante às funções matemáticas. As palavras funcionam como variáveis, e o valor de uma variável pode ser fixado em um espaço de referência potencial. Dentro desse sistema, a língua possui uma autonomia de significado, independente da realidade, mas para que uma sentença represente algo no mundo, ela deve se correlacionar com a realidade. E é aí que entra a segunda correlação indexical, que se realiza por meio de palavras como nomes próprios, artigos e pronomes.
Os referentes de nomes próprios são fixos devido à sua cadeia causal-histórica. Como argumenta Kripke, isso oferece um ponto de ancoragem onde uma sentença com um nome próprio representa um objeto no mundo. Por exemplo, na sentença "George Washington foi o 1º presidente dos Estados Unidos", "George Washington" é um nome próprio que se refere à pessoa George Washington. O referente do nome próprio é determinado pela sua cadeia causal-histórica, que talvez tenha começado quando os pais de George Washington o nomearam. Esse tipo de cadeia causal é fundamental para a fixação do significado dos nomes próprios, estabelecendo um ponto de referência no mundo real.
Em resumo, a linguagem e seus símbolos não são apenas veículos passivos de representação, mas dependem de um complexo jogo de relações indexicais que permitem a atribuição de significado e referência a elementos no mundo. O simbolismo se constrói por camadas, onde cada signo não apenas remete a outros signos, mas também pode ser contextualizado dentro de um sistema de signos mais amplo, permitindo que as relações entre palavras e objetos sejam compreendidas, não como representações estáticas, mas como elementos interdependentes dentro de uma rede dinâmica de significados.
Como a Teoria da Informação Fundamenta o Aprendizado em Modelos Generativos
Como diagnosticar a infecção pelo vírus do Nilo Ocidental em apresentações clínicas complexas?
Como a Stapedotomia Impacta o Tratamento da Otosclerose e Seus Desafios Cirúrgicos e Pós-Operatórios
Como Transformar o Feijão em Sua Comida Favorita: Receitas Para Desfrutar e Potencializar a Sua Saúde

Deutsch
Francais
Nederlands
Svenska
Norsk
Dansk
Suomi
Espanol
Italiano
Portugues
Magyar
Polski
Cestina
Русский