Electrets são materiais que fornecem um campo elétrico estático de longa duração devido a cargas superficiais estáveis, como cargas injetadas, dipolos e cargas espaciais. Embora não sejam tão conhecidos quanto os ímãs, esses materiais possuem uma história relativamente longa. Já no século XVIII, foi descoberto que materiais dielétricos como cera, resina de pinheiro e enxofre podiam se polarizar quando solidificados de um estado fundido sob certas condições. Esse fenômeno foi documentado pela primeira vez na década de 1730. Em 1892, o eletricista e físico britânico Oliver Heaviside nomeou esses materiais polarizados como “electrets”. Posteriormente, nos anos 1920, os electrets foram produzidos artificialmente, pela primeira vez, como um “material” pelo professor Mototarou Eguchi, da Academia Naval do Japão.
Hoje, os electrets estão amplamente presentes em dispositivos do cotidiano, como microfones de condensador de electret (ECMs), os quais são usados em aparelhos como telefones celulares e gravadores IC. Esses dispositivos têm desempenhado um papel fundamental nas últimas décadas e demonstram o impacto contínuo e crescente dos electrets na tecnologia moderna.
Nos últimos anos, o conceito da "Internet de Tudo" (IoE) emergiu, visando estabelecer conexões entre pessoas, dados, processos e objetos. Dentro desse contexto, a necessidade de nós sensores sem fio, que funcionam como terminais de sensores em tempo real, tem se tornado cada vez mais evidente. Devido à sua natureza wireless, esses dispositivos exigem uma fonte de energia autossuficiente. É aqui que entra a tecnologia de "energy harvesting" ou coleta de energia, que permite a conversão de microenergia não utilizada do ambiente em eletricidade, variando de microwatts a milliwatts. O consumo típico de energia dos nós sensores utilizados na IoE é estimado em algumas centenas de microwatts a dezenas de milliwatts, tornando a coleta de energia uma solução ideal para alimentar esses dispositivos.
Entre as diversas fontes de energia não aproveitadas no ambiente, como luz, calor, fluido e ondas de rádio, a vibração se destaca como uma fonte de energia particularmente vantajosa. Dispositivos de coleta de energia por vibração (VEHs, na sigla em inglês) são dispositivos que aproveitam a energia vibracional para gerar eletricidade. Esses dispositivos podem ser classificados em quatro tipos principais, com base no seu princípio de geração de energia e configuração: indução eletromagnética, magnetostricção reversa, piezoelétrica e eletrostática. Dentre esses, a tecnologia eletrostática, que utiliza um electret, é a que mais se destaca pela sua compacidade e potencial para uma alta densidade de potência.
A principal vantagem dos VEHs eletrostáticos reside em uma configuração simples que gera corrente alternada (AC) através de indução eletrostática repetida. Essa indução é acionada pelas mudanças na posição relativa entre o electret e o eletrodo, causadas pela vibração. Apesar de seu grande potencial, os VEHs eletrostáticos ainda estão em estágios iniciais de desenvolvimento. Para que sua aplicabilidade seja ampliada, é necessário o desenvolvimento de electrets de alto desempenho, pois a produção desses materiais é essencial para melhorar a saída de potência desses dispositivos. O cálculo da potência máxima (Pmax) nos VEHs eletrostáticos depende de uma série de fatores, conforme descrito em um modelo teórico que considera a carga superficial do electret, a constante dielétrica do material, a espessura do electret, entre outros parâmetros.
Em relação ao desenvolvimento de electrets, o foco principal tem sido materiais poliméricos, com os electrets à base de fluropolímeros sendo os mais utilizados em aplicações práticas, como ECMs e filtros de ar. No entanto, para aplicações que exigem maior carga superficial (Q), durabilidade e resistência ao calor, os electrets à base de compostos inorgânicos, como cerâmicas, podem ser mais adequados. Embora a pesquisa em electrets cerâmicos não seja amplamente explorada, esses materiais oferecem um grande potencial para mostrar um desempenho excepcional, especialmente se forem baseados em "cerâmicas condutoras iônicas".
As cerâmicas condutoras iônicas são materiais caracterizados por sua capacidade de conduzir íons, tornando-os adequados para uso como componentes de eletrólitos sólidos ou ativos de eletrodos. Tradicionalmente, os electrets são compostos por materiais dielétricos que não exibem fluxo contínuo de carga elétrica quando expostos a um campo elétrico contínuo (DC). No entanto, cerâmicas condutoras iônicas podem ser consideradas "materiais dielétricos superiores", nos quais os dipolos podem ser criados através da migração iônica de longo alcance, se a reação de transferência de carga no eletrodo for bloqueada por barreiras específicas, como as fronteiras dos grãos.
A estratégia para o desenvolvimento de electrets de alto desempenho a partir de cerâmicas condutoras iônicas é baseada na criação de uma polarização iônica estável dentro da cerâmica, induzindo uma separação interna de cargas pela migração de íons e seu aprisionamento nas “barreiras de migração”. Para isso, as cerâmicas condutoras iônicas são colocadas entre os eletrodos e aquecidas a uma temperatura em que a condução iônica seja ativada, e um campo elétrico contínuo (DC) é aplicado. Durante o resfriamento das cerâmicas, sem remover o campo elétrico, os íons movidos perdem a energia de ativação necessária para retornar às suas posições originais, o que resulta no congelamento dos dipolos e na formação de electrets.
A chave para o sucesso desse processo é escolher materiais que apresentem boa condutividade iônica durante o tratamento de polarização (ou "poling") a altas temperaturas, mas que mostrem uma migração mínima dos íons quando resfriados a temperaturas de operação, garantindo que os dipolos permaneçam estáveis.
Com o avanço dessas pesquisas, os electrets cerâmicos poderão proporcionar não só maior eficiência em dispositivos de coleta de energia por vibração, mas também em uma vasta gama de aplicações tecnológicas, especialmente no contexto crescente da Internet de Tudo, onde a necessidade de sistemas autossustentáveis e wireless só tende a aumentar.
Como Melhorar a Performance de Baterias de Estado Sólido: Análise de Interfaces e Reações Colaterais
O desenvolvimento de baterias de estado sólido (SSBs) é uma área de pesquisa intensiva que busca superar as limitações das baterias líquidas tradicionais, como a segurança, eficiência e estabilidade. Uma das partes mais críticas na fabricação de SSBs é a interface entre os materiais, especialmente entre os eletrodos e os eletrólitos sólidos. Estudos recentes, como os realizados por Iriyama, têm se concentrado na compreensão dos fenômenos que ocorrem nessas interfaces, além de estratégias para otimizar a condução de íons e reduzir as reações colaterais prejudiciais.
Quando se analisa as interfaces de baterias SSB, um dos principais desafios é controlar as reações que ocorrem entre o óxido de cobalto de lítio (LCO) e o eletrólito sólido à base de fosfato de lítio (LATP). A resistência interfacial entre o LCO e o LATP depende fortemente das condições de deposição, especialmente da temperatura do substrato durante a deposição. Essas reações colaterais, frequentemente relacionadas à diferença de potencial químico de lítio entre os materiais, são responsáveis pelo aumento da resistência na interface, comprometendo a performance da célula.
Quando o LCO e o LATP entram em contato, a diferença na energia química de lítio entre os dois materiais pode desencadear a formação de fases secundárias, como o Co₃O₄, além de gerar oxigênio (O₂). Este fenômeno é explicado pela reação de extração de lítio do LCO, que forma uma camada empobrecida em lítio ao redor da interface. A decomposição do LCO pode ocorrer a temperaturas relativamente baixas, liberando oxigênio e contribuindo para o aumento da resistência interfacial. Esse aumento de resistência não é desejável, pois limita a eficiência das baterias, afetando diretamente a capacidade de carga e descarga.
Porém, estratégias têm sido propostas para mitigar essas reações indesejáveis. Uma delas é a escolha de eletrólitos sólidos com maior potencial químico de lítio do que o LCO, o que pode prevenir a extração de lítio e, consequentemente, as reações colaterais. A combinação do LCO com eletrólitos como o Li₃.5Ge₀.5V₀.5O₄ (LGVO), que possui uma maior concentração de lítio, tem mostrado resultados promissores. Nesse caso, mesmo após tratamentos térmicos a altas temperaturas (até 700 °C), não há a formação de Co₃O₄ ou O₂, resultando em uma interface de baixa resistência.
Além disso, outra abordagem importante é o uso de processos de deposição a baixas temperaturas, como a deposição por aerossol (AD), que pode formar filmes cristalinos de LCO sem a necessidade de um processo de sinterização posterior. Esse método ajuda a evitar a formação de fases indesejadas e mantém a integridade da interface entre os materiais. O uso de métodos de baixa temperatura não só reduz os efeitos de decomposição térmica, mas também pode ser crucial para melhorar a eficiência e a estabilidade das baterias.
A interatividade entre os materiais na interface não se limita à formação de reações indesejáveis, mas também influencia diretamente a condutividade elétrica do sistema. A condutividade do LCO, por exemplo, aumenta significativamente quando o lítio é extraído do material, o que pode ser vantajoso em algumas configurações de bateria. No entanto, para evitar perdas de energia e garantir uma operação eficiente, a resistência da interface deve ser controlada rigorosamente.
Além das estratégias mencionadas, a precisão na fabricação das camadas de LCO e LATP é essencial. O controle da espessura dos filmes, como no caso das baterias modelo FMO/LATP/LCO, é um fator crítico para determinar a capacidade de carga e descarga. Camadas mais espessas de LCO podem aumentar a capacidade da célula, mas devem ser equilibradas com a espessura do FMO para não limitar a performance da bateria.
Outro aspecto importante a ser considerado é a interação entre as diferentes camadas de materiais. Como ilustrado pelos modelos de SSBs, a configuração da célula pode ser adaptada de acordo com o tipo de análise ou estudo que se deseja realizar. Em alguns casos, a remoção do coletor de corrente de platina (Pt) pode ser benéfica para focar nas reações específicas do LCO, facilitando a análise dos fenômenos que ocorrem durante a carga e descarga.
Os modelos de baterias de estado sólido, como os modelos tipo C e Li-dopados, também são úteis para entender como as concentrações de lítio nas camadas de revestimento podem afetar o desempenho. Esses modelos permitem investigar o comportamento do lítio sob diferentes condições de voltagem e sua distribuição nas camadas de revestimento dos eletrólitos sólidos à base de sulfeto. A introdução de lítio dopado no FMO pode ajudar a estabilizar a voltagem e a melhorar a performance da bateria.
Portanto, é essencial compreender que a resistência interfacial e as reações secundárias não são os únicos fatores a serem controlados no design de baterias de estado sólido. A interação entre os materiais e a forma como as camadas de eletrólitos e eletrodos são projetadas influenciam profundamente a eficiência e a durabilidade das baterias. Manter um equilíbrio entre a reação eletroquímica, a condutividade e a estabilidade térmica pode resultar em avanços significativos na próxima geração de baterias de estado sólido.
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