A prática do Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS) tem sido central em debates globais sobre a situação de Israel e Palestina, especialmente no contexto da descolonização. No entanto, uma análise crítica dessa prática revela um caminho para entender como o BDS pode se relacionar com movimentos mais amplos de descolonização, especialmente no contexto dos povos indígenas. Embora muitos vejam o conflito israelense-palestino como um terreno de discussões acaloradas e divisivas, é possível tecer uma abordagem que envolva povos nativos de forma mais acessível e respeitosa, sem exigir sua adesão direta ao movimento. O foco deve ser em articular possibilidades, ao invés de impor participação ou demandas.

A descolonização não é um processo simples de substituição de um poder colonial por outro. Ao contrário, é um esforço complexo e multifacetado que visa desordenar as ocupações coloniais nos âmbitos mental, físico, espiritual, emocional, imaginativo, econômico, sexual e intelectual. O BDS não permanecerá um movimento de descolonização genuíno a menos que continue a enfrentar as questões mais amplas, nas quais a limpeza étnica israelense está implicada. A relação entre o BDS e o nacionalismo indígena se torna evidente quando o movimento transcende as fronteiras da Palestina e se conecta com uma visão global de descolonização, envolvendo outras lutas contra a ocupação colonial e a opressão de povos nativos.

A prática do BDS, ao ser colocada dentro do vocabulário mais amplo da descolonização global, passa a ser uma ferramenta importante na luta dos povos indígenas. A articulação desse movimento precisa compreender e respeitar as especificidades das lutas locais, evitando a imposição de uma agenda externa que não leve em consideração as realidades culturais e históricas dos povos envolvidos. Isso implica na necessidade de uma escuta atenta e de um esforço por parte dos praticantes do BDS para envolver os povos indígenas em uma conversa que não apenas os considere, mas que também atenda aos seus próprios termos e objetivos de luta.

O conceito de parentesco, que se entrelaça com a ideia de solidariedade, pode ser um ponto de partida poderoso para essas interações. A disposição de falar e ouvir é fundamental para construir uma relação de confiança, onde o BDS, em vez de ser visto como uma imposição, pode ser entendido como uma ferramenta compartilhada para descolonizar os territórios afetados por várias formas de ocupação e subordinação. A perspectiva de uma filiação sustentável, que respeite os desejos e as condições dos povos nativos, surge quando esses movimentos de resistência se conectam com os processos locais de luta pela autodeterminação.

A análise do que constitui a limpeza étnica, especialmente através de figuras históricas como Andrew Jackson e Ze'ev Jabotinsky, revela como as ideologias de colonização e a justificação para a violência formam uma base comum para ações coloniais, não apenas no caso da Palestina, mas também em relação ao tratamento das populações nativas nos Estados Unidos e em outros territórios colonizados. Ambos os líderes, de contextos diferentes, compartilham uma visão de "modernidade" que exige a remoção das populações nativas como parte do processo de criação de um Estado moderno. Essa lógica é fundamentalmente violenta e justifica a destruição de culturas e comunidades nativas para garantir a consolidação de um novo tipo de ordem política e social.

As ideologias que sustentam essas ações de limpeza étnica não são limitadas a um único período histórico, mas se perpetuam, com suas variações, ao longo do tempo. A influência do contexto judeu-cristão e a noção de "terra prometida" são frequentemente citadas como justificativas para a expansão colonial, seja nos Estados Unidos, seja em Israel. Esse pano de fundo religioso-político não deve ser visto apenas como uma peculiaridade do passado, mas como um marco das contínuas lutas por poder, soberania e a legitimação da violência no nome da modernidade.

Ao comparar as práticas de Jackson e Jabotinsky, podemos perceber que a lógica de colonização compartilha uma visão comum: a destruição da presença indígena é uma condição necessária para o progresso e a "civilização". A remoção das populações nativas não é apenas uma questão de espaço ou de recursos, mas uma ação para moldar um futuro que não seja contaminado pelas "imagens" e pelas "memórias" do passado indígena. A violência, nesse sentido, não é vista como uma anomalia, mas como uma ferramenta necessária para a realização de uma visão mais ampla de modernidade e de ordem política.

Essa análise é crucial para entender a base filosófica e política das práticas coloniais, pois revela que as ideias de limpeza étnica, apesar de suas diferenças contextuais, têm raízes profundas na lógica do colonialismo. A descolonização, portanto, deve não apenas denunciar a violência direta, mas também desafiar as ideologias que a sustentam, questionando as premissas de modernidade que continuam a ser passadas como verdades incontestáveis. É necessário, assim, um trabalho contínuo de desconstrução dessas ideologias, que permita aos povos nativos reimaginar seu futuro e reconstruir suas histórias sem a imposição de narrativas externas.

Como a Palestina e a História do Colonizador Se Entrelaçam: A Poética de Resistência e Ambiguidade

A condição de um "underdog" geopolítico traz consigo uma forma peculiar de inocência, um afastamento dos requisitos implacáveis do poder. Os sobreviventes do Holocausto da última guerra podem se tornar, na próxima guerra, os que buscam Lebensraum, como se viu no Líbano ou na Cisjordânia: os palestinos, hoje, ocupam a posição de prisioneiros em campos de concentração. Não há uma maneira de escapar dessa dinâmica sem, ao mesmo tempo, encontrar-se no topo e sufocar os outros? A inclusão da Palestina nesse contexto oferece uma estrutura excelente para a questão central do poema de Revard. Edward Said, ao se referir aos palestinos como "as vítimas dos vítimas", extraiu uma vasta quantidade de material filosófico dessa trágica formulação. Mahmoud Mamdani, em When Victims Become Killers, levanta questões similares. Revard explora essas complexidades de maneira similar.

A relevância de Palestine como um marco na reflexão sobre temas como a colonização e os conflitos territoriais é notável. O fato de a história da Palestina ser um ponto central da obra de Revard sugere uma sobreposição com a experiência dos povos nativos. Quase todas as sociedades colonizadoras afirmam, ou de fato são, fugindo de alguma forma de perseguição, o que reforça a observação de Revard de que, para se erguer, é muitas vezes necessário empurrar os outros para baixo. O termo mais comum no léxico imperialista contemporâneo é "terrorista", o grupo demográfico que Revard se propõe a abordar. No entanto, a terminologia do "terrorismo", como Revard a usa, transcende a simples dicotomia de quem é o "outro". Ele questiona se o terrorismo é, de fato, uma condição necessária para o "encontrarmos no topo". No uso popular, o terrorismo é associado à violência destrutiva que visa derrubar as conquistas da democracia moderna; no uso de Revard, no entanto, o terrorismo está indissociavelmente ligado à criação da própria democracia moderna. Ele sugere que o progresso, tal como o entendemos, é operado sob os princípios do terrorismo, e que, muitas vezes, o "terrorista" não é aquele que é rotulado como tal, mas sim quem utiliza o terror para combater os supostos terroristas.

No entanto, é importante notar que a crítica de Revard não se destina a atacar aqueles que, como os palestinos, são frequentemente rotulados como terroristas, mas sim aqueles que empregam a violência como um meio de alcançar fins imperialistas. A ambiguidade na aplicação do termo "terrorismo" em sua obra não apenas confunde, mas também exige que o leitor se posicione dentro de um quadro que, de início, parece pertencer a uma "outra" realidade. O sionismo, por exemplo, não escapa à reclassificação de Revard. Em vez de situar a Palestina como um símbolo global de luta por justiça, como o fazem outros poetas, Revard a evoca como um exemplo de histórias redundantes, questionando as implicações existenciais desses episódios geopolíticos.

No caso de Lee Maracle, sua poética também é marcada pela solidariedade com a luta palestina, uma orientação que se reflete em vários de seus poemas, como em "Song to a Palestinian Child". Ao focar nesta obra, é possível perceber uma utilização habilidosa da ambiguidade simbólica e terminológica. O poema, embora curto, oferece uma rica interpretação. Maracle narra a história de uma criança palestina que, diante dos bombardeios, ergue um ramo de oliveira e um punho de resistência, simbolizando a dignidade inabalável da juventude sob ocupação. A conexão entre a criança palestina e a própria experiência da autora — enquanto nativa e mulher colonizada — é evidente, mas é também permeada por uma ambiguidade que permite múltiplas interpretações. A menina, cuja localização geográfica não é explicitamente nomeada, pode ser uma palestina, mas também pode representar a própria autora ou qualquer outra figura de colonizado, transcendendo as fronteiras geográficas para se tornar um símbolo global de resistência.

A ambiguidade de Maracle, ao não identificar a criança com uma geografia específica, permite uma leitura mais universal da Palestina, deslocando-a de um espaço restrito para uma figura que resiste de maneira similar em qualquer parte do mundo colonizado. O uso de uma "voz" e de um "olhar" em relação à criança, como Maracle descreve, sugere uma proximidade que vai além das distâncias físicas. A visão da criança se torna uma metáfora para a conexão entre os seres humanos que, apesar de estarem separados por geografias, compartilham uma resistência comum.

Maracle, portanto, não apenas dedica sua poesia à luta palestina, mas utiliza a figura do "menino palestino" para questionar as fronteiras do pertencimento e da identidade, sugerindo que a luta pela liberdade e dignidade é universal, embora enraizada em contextos específicos. O movimento entre o auditivo e o visual no poema sublinha essa dinâmica de proximidade e distância, um movimento que reflete a ideia de que a resistência e a luta não se limitam ao espaço físico, mas se expandem através das consciências.

Além disso, o poema de Maracle serve como uma poderosa metáfora da luta contra o colonialismo, e sua utilização de uma criança como símbolo de resistência sugere que a luta pela Palestina, embora localizada, é representativa das lutas dos povos nativos e colonizados ao redor do mundo. A história dos palestinos e dos povos indígenas compartilha uma tragédia comum, mas também uma força comum de resistência.

Como a Imagem e a Poética do Nacionalismo Palestino se Manifestam na Poesia Indígena

Na poesia contemporânea, o simbolismo do nacionalismo palestino se manifesta de maneiras profundas e com um forte apelo visual, transcendendo palavras e adentrando a esfera dos símbolos táteis. A fusão entre os significados dos objetos e a política da resistência ocupa um papel fundamental nesse contexto. Maracle, ao escrever “Song to a Palestinian Child”, oferece uma visão singular sobre o vínculo entre o sofrimento indígena e palestino, criando uma atmosfera em que palavras e imagens são simultaneamente expressões de resistência e de pertencimento. A fusão entre a ramificação da oliveira e o punho erguido, na primeira metade do poema, e entre a mesma ramificação e a arma, na segunda parte, remete diretamente ao famoso discurso de Yasser Arafat à Assembleia Geral da ONU, em 1974. Aquele ato simbólico em que Arafat proclamava: “Hoje venho trazendo no braço esquerdo o ramo de oliveira e no direito a arma do combatente pela liberdade. Não deixem o ramo de oliveira cair da minha mão. Reitero: não deixem o ramo de oliveira cair da minha mão”.

Ao longo da obra, Maracle também recorre a imagens como “raízes profundas” e “sol de cobre”. As raízes podem se referir às oliveiras que remontam aos tempos bíblicos, mas também simbolizam a profundidade cultural dos povos indígenas. A imagem do sol de cobre, por sua vez, sugere um vasto leque de possibilidades simbólicas: desde a pele dourada pelo sol até os implementos de uma cultura ancestral, passando pela ideia de um sol que sustenta a vida nas horas do crepúsculo ou do amanhecer. A poesia de Maracle, em seus versos densos, transmite mais do que uma simples observação do cotidiano; ela incorpora um cenário emocional e político intenso. Sua escolha de palavras, como "cobre", "oliva" e "verde", aludem à paisagem palestina, mas também à incorporação dessa paisagem na consciência do indígena norte-americano.

A relação entre o narrador e a criança palestina é central para o poema. O grito de "vitória" que ecoa entre eles não é apenas um chamado político, mas um encontro espiritual, uma resistência que é também uma celebração. Maracle, ao escolher não definir explicitamente a nacionalidade do narrador, abre espaço para que essa voz se funde com a do leitor, permitindo uma identificação mais profunda com o sofrimento e as aspirações compartilhadas entre indígenas e palestinos.

É importante notar que a poesia de Maracle não deve ser lida isoladamente. Ela faz parte de uma coletânea de poemas, o que permite uma gama de interpretações. O fato de a obra ser organizada dessa maneira enriquece seu significado e amplia o contexto. Ao longo de Bent Box, Maracle recorre a uma narração em primeira pessoa, o que possibilita a leitura de uma voz autobiográfica em “Song to a Palestinian Child”. Ela não apenas se coloca ao lado dos palestinos, mas os integra na sua própria luta, com uma clareza de propósitos que a torna uma das vozes mais potentes ao evocar a Palestina e os palestinos no contexto das lutas indígenas. A identidade, aqui, não é apenas geográfica, mas política e histórica, firmemente ancorada em uma luta comum.

A poesia de Edgar Gabriel Silex, por sua vez, embora geograficamente mais distante, também dialoga com as temáticas de resistência e colonização, principalmente no poema Chief Nanay Appears in the Holy Land. O protagonista, um palestino sem pernas e com uma mão, que passa os últimos meses fugindo de soldados, personifica a resistência física e simbólica. O fato de Silex não nomear os soldados como israelenses pode parecer uma omissão, mas é uma escolha consciente, que busca enfatizar a universalidade da violência colonial. Os soldados não são definidos por sua etnia ou nacionalidade, mas por sua condição de colonizadores, e o palestino, mesmo mutilado, permanece firme no território, um símbolo de resistência indomável. A casa, que é destruída pelos soldados, não é apenas o local de moradia, mas um símbolo da terra ancestral, da qual o palestino não pode ser deslocado, mesmo quando fisicamente comprometido.

Este poema de Silex se distingue pela tensão entre a fuga e a permanência. O palestino, embora incapaz de se mover, permanece ligado ao seu território, um território definido por sua conexão profunda com o lugar. A colonização, ao destruir fisicamente o corpo, também tenta apagar a relação do sujeito com a terra, mas essa tentativa fracassa. O protagonista, como Nanay, resiste até o último momento. A física do corpo quebrado se transforma em uma metáfora para a imutabilidade da identidade e da terra que o sustenta.

A construção do tempo também é fundamental na obra de Silex. A ideia de que o palestino está “fugindo” durante meses, mas permanece em um estado de paralisia física, aponta para uma complexa relação entre ação e inação. A fuga, neste caso, não é um movimento físico, mas simbólico, refletindo a natureza contínua e imutável da ocupação e da resistência.

Ao conectar essas duas obras, o que se destaca é a maneira como ambas as poéticas exploram a resistência indígena e palestina, em um contexto de violência colonial, mas também de perseverança e identidade. As imagens que surgem em ambas as obras não são apenas visuais, mas profundamente ligadas ao conceito de luta e de continuidade histórica, uma resistência que transcende o corpo e o tempo.

Por que os Estudos Indígenas Americanos Devem Ser Importantes na Solidariedade com a Palestina

O movimento de solidariedade com a Palestina, em seus vários aspectos, tem se expandido e fortalecido ao longo do tempo, especialmente dentro de ambientes acadêmicos e de ativismo. No entanto, uma questão importante que surge neste contexto é como esse movimento se relaciona com os estudos indígenas americanos, particularmente em relação ao processo de descolonização e às questões de identidade, território e soberania. A intersecção entre essas duas lutas é não apenas relevante, mas essencial, para uma compreensão mais profunda dos fenômenos que estão em jogo tanto em Palestina quanto nas terras colonizadas pelos Estados Unidos e Canadá.

A precariedade da Palestina, com suas múltiplas camadas de violência, deslocamento e negação de direitos, torna o estudo da solidariedade com esse território ainda mais fascinante e desafiador. A forma como a Palestina é percebida e tratada nas instituições acadêmicas, frequentemente filtrada através de lentes neoliberais, contribui para um ambiente de constante tensão e resistência, especialmente ao ser ligada aos Estudos Indígenas Americanos. Tal conexão amplifica a ansiedade daqueles que buscam manter um certo respeito institucional, visto que isso desestabiliza as narrativas dominantes e mexe com o conforto das estruturas estabelecidas.

De fato, a inter-relação entre os estudos indígenas e a solidariedade com a Palestina é visível em diversos níveis, e uma análise mais profunda revela cinco pontos-chave que ilustram a importância dessa conexão. O primeiro ponto está na reciprocidade: o estudo da Palestina já se tornou uma parte essencial dos Estudos Indígenas Americanos. Esse intercâmbio exige uma análise cuidadosa das cartografias do trânsito, ou seja, das movimentações geopolíticas e das conexões transnacionais que os dois temas compartilham. O segundo ponto se relaciona com o fato de que muitas ações de solidariedade com a Palestina ocorrem em terras colonizadas pelos Estados Unidos e Canadá. Assim como a diáspora judaica nos Estados Unidos tem influência sobre a política israelense, a mobilização em solo americano impacta diretamente o nacionalismo palestino. Reconhecer e examinar essas interações é uma necessidade ética, além de uma obrigação acadêmica.

O terceiro ponto envolve a violência praticada por Israel, que não se limita aos palestinos, mas também afeta outras populações. O caráter colonial de Israel, suas práticas violentas e de assentamento, reverberam em comunidades indígenas ao redor do mundo, especialmente nas Américas. A experiência de descolonização não deve se restringir a uma leitura hierárquica e simplificada, mas, ao contrário, deve ser desafiada, considerando a complexidade de um etnonacionalismo dialógico. O quarto ponto destaca a riqueza teórica dos Estudos Indígenas Americanos, que oferecem valiosos insights sobre questões que também afetam a solidariedade com a Palestina, como colonização, assentamento estrangeiro, autodeterminação, soberania, dispossessão legal, recuperação cultural, identidade, cidadania e representação.

Por fim, o quinto ponto trata da necessidade de uma análise comparativa entre as questões de descolonização palestinas e indígenas. Não se trata de buscar analogias perfeitas, mas sim de identificar interações materiais que se correlacionam fortemente. Por muito tempo, a Palestina serviu como um campo de estudo das relações especiais entre os Estados Unidos e Israel, e atualmente, essas correlações são abundantes, especialmente em questões de descolonização que envolvem tanto os povos nativos quanto os palestinos.

Este entendimento inter/nacional é essencial para articular a luta por justiça e emancipação. Em muitos movimentos de libertação nacional, mesmo os mais enraizados, é impossível ignorar os problemas globais. A Palestina, como espaço e política, pode estar em declínio, mas continua a prosperar como uma ideia, como um ideal de resistência. Esta dualidade, entre o esfacelamento físico e a continuidade da ideia, espelha a problemática mais ampla de um mundo onde forças de mercado violentas restringem o acesso a riquezas, mobilidade, recursos e cidadania. A importância do enfoque inter/nacional, mais do que acadêmico ou imaginativo, reside no seu potencial prático, pois só conseguimos preservar os futuros que conseguimos manter vivos.

Neste sentido, o papel da Palestina no projeto de descolonização global é imensurável. A maneira como a Palestina se relaciona com os Estudos Indígenas será fundamental para determinar seu desenvolvimento e sua eficácia como um avatar inter/nacional de luta pela liberdade, não apenas pela preservação de uma história trágica. A experiência de deslocamento e resistência que caracteriza tanto os povos indígenas das Américas quanto os palestinos, portanto, tem o poder de iluminar novos caminhos de resistência e solidariedade, fortalecendo a ideia de que a construção de um mundo alternativo à opressão e ao colonialismo é possível, embora desafiadora.

O que torna esses movimentos ainda mais relevantes é a mobilização de comunidades indígenas que têm visitado a Palestina, e as impressões que esses encontros causam. Muitos indígenas relatam um impacto profundo ao se depararem com a crueldade explícita da ocupação israelense. As semelhanças entre os modos de colonização na Palestina e nas Américas são evidentes, mas o caráter espacial e as estruturas de segurança da ocupação israelense oferecem uma leitura única e impactante da geografia da opressão. Para muitos desses visitantes, a experiência de viver a cultura palestina, sendo bem recebidos como convidados, é um choque emocional, principalmente ao perceberem a severidade da opressão visível a cada passo.

Em última análise, essa solidariedade e troca de experiências não apenas iluminam as realidades da ocupação israelense, mas também oferecem uma chance de entender melhor as dinâmicas de opressão e resistência dentro de uma perspectiva mais ampla de descolonização global.