O objetivo deste estudo é preencher a lacuna existente na utilização clínica do Sinal Seismocardiográfico (SCG), ampliando sua utilidade ao identificar locais ideais para a medição do SCG e características adicionais que podem ser exploradas. Para tanto, são analisadas duas abordagens distintas: a utilização de K-medoid clustering, combinada com duas métricas de distância, a distância Euclidiana e a Distância Temporal Dinâmica (DTW). A escolha de cada técnica depende das variações de ritmo cardíaco e da necessidade de eficiência computacional, dado que o DTW envolve o estiramento das formas de onda e é preferido quando há alta variação na frequência cardíaca. Por outro lado, a distância Euclidiana é mais eficiente do ponto de vista computacional, sendo amplamente adotada em situações onde o custo de processamento deve ser minimizado.

O estudo também investiga o impacto da condição inicial no processo de clustering. No método K-medoid, a atribuição inicial dos batimentos de SCG aos clusters pode ser feita de maneira aleatória ou com base em fundamentos fisiológicos. Para isso, dois tipos de condições iniciais foram analisados: uma baseada na direção do fluxo de ar pulmonar (FL) e a outra no volume pulmonar (LV). Assim, o estudo propõe uma comparação entre quatro modalidades de análise: DTW-LV, DTW-FL, Ecorr-LV e Ecorr-FL. Essas modalidades são avaliadas em termos de precisão do clustering, consistência espacial, padrões de frequência cardíaca, variabilidade dos clusters e eficiência computacional.

Na execução deste estudo, foi adotada uma metodologia experimental rigorosa, que envolveu a coleta simultânea de dados de SCG, eletrocardiografia (ECG) e espirometria em 15 homens saudáveis, utilizando 36 pontos de medição na superfície torácica. A disposição dos acelerômetros foi meticulosamente planejada, cobrindo locais comuns para aquisição de SCG, como o esterno médio, processo xifóide e borda esternal inferior. Além disso, foram levadas em consideração as áreas clássicas de auscultação cardíaca (aórtica, pulmonar, tricúspide e mitral), assim como o ponto de Erb.

O processo de aquisição dos sinais teve uma taxa de amostragem de 10 kHz, garantindo uma alta resolução temporal. Posteriormente, os sinais foram reduzidos para 1 kHz durante a análise de clustering, com o objetivo de reduzir os custos computacionais.

A pré-processamento dos dados envolveu várias etapas, como a filtragem dos sinais de SCG, ECG e fluxo respiratório. Esses sinais foram passados por filtros passa-faixa para eliminar ruídos e distúrbios causados pela respiração e movimento do sujeito, com as bandas de passagem ajustadas para 1–150 Hz (SCG), 0,5–55 Hz (ECG) e 0,1–8 Hz (fluxo respiratório). A filtragem foi realizada de forma a garantir a ausência de distorções de fase, crucial para a precisão na análise posterior.

Outro aspecto importante no pré-processamento foi o cálculo do volume pulmonar, que foi obtido pela integração do sinal de fluxo respiratório filtrado e a remoção do volume pulmonar médio. Fases de volume pulmonar alto (HLV) e baixo (LLV) foram definidas como valores acima ou abaixo da média, respectivamente, e usadas para segmentar os dados de SCG com base nas fases do ciclo respiratório.

O processo de segmentação foi realizado com a detecção dos picos R do ECG, utilizando o algoritmo de Pan-Tompkins, para definir a duração dos batimentos de SCG. Cada batimento de SCG foi segmentado entre 0,1 segundos antes do pico R e 0,1 segundos antes do pico R subsequente, o que permitiu rastrear com precisão os batimentos em relação ao ciclo respiratório. Essa segmentação foi fundamental para analisar o comportamento temporal dos batimentos em diferentes fases respiratórias, como o HLV/INS e o LLV/EXP.

No que diz respeito ao clustering, foram exploradas diversas abordagens, como os métodos particionais K-means e K-medoid, que dividem os dados em clusters baseados na distância dos batimentos em relação a um representante do cluster. O método K-means utiliza a média de todos os batimentos dentro do cluster como seu representante, mas exige que os batimentos tenham o mesmo comprimento, o que pode aumentar o custo computacional. O método K-medoid, utilizado neste estudo, escolhe o batimento mais próximo de todos os outros como representante do cluster, sendo menos custoso em termos computacionais e mais eficaz para dados com diferentes comprimentos de batimentos.

Além dos métodos particionais, também foram discutidas técnicas de clustering hierárquico, que agregam ou dividem os clusters em uma abordagem sequencial, mas que possuem limitações como a irreversibilidade das ações de fusão ou divisão e a sensibilidade a outliers. Como a análise do presente estudo se concentrou em entender a estrutura dos clusters, as abordagens baseadas em modelos foram descartadas.

Neste contexto, a avaliação de diferentes técnicas de alinhamento e condições iniciais no clustering SCG, bem como a análise detalhada de sua eficácia computacional, se mostra crucial para aprimorar a aplicação clínica do SCG, especialmente em diagnósticos cardíacos e respiratórios. A escolha do método de clustering adequado, combinada com a precisão na segmentação e filtragem dos sinais, pode levar a avanços significativos na monitorização da saúde cardiovascular e respiratória de pacientes.

Como a Variabilidade Intra-Cluster Reduzida Pode Influenciar a Precisão da Clustering no Sinal Seismocardiográfico

A redução da variabilidade intra-cluster após a aplicação de técnicas de clustering no sinal seismocardiográfico (SCG) tem se mostrado um aspecto crucial na obtenção de resultados precisos e consistentes. A análise dos dados mostrou que a redução da variabilidade intra-cluster variou entre 10% e 15% para a maioria dos sujeitos estudados. Em um caso específico, o sujeito 2 apresentou uma redução superior a 25%. Isso sugere que a aplicação de técnicas adequadas de clustering pode não apenas melhorar a consistência dos dados, mas também fornecer insights valiosos sobre os padrões fisiológicos de cada indivíduo.

Entre as condições iniciais usadas, a condição FL (baseada no volume pulmonar) se destacou por gerar a maior redução na variabilidade intra-cluster em 12 dos 15 sujeitos analisados. No entanto, a comparação entre as modalidades de clustering revelou que o DTW (Dynamic Time Warping) produziu uma redução significativamente maior na variabilidade intra-cluster em quatro sujeitos específicos, enquanto o método Ecorr se mostrou superior em outros quatro. Esses resultados indicam que, enquanto o Ecorr é eficiente, o DTW pode, em determinadas condições, oferecer melhores resultados, especialmente quando aplicado a dados com alta relação sinal-ruído.

A eficiência computacional também desempenha um papel significativo na escolha da técnica de clustering. O método Ecorr se mostrou mais eficiente, sendo três vezes mais rápido que o DTW. Esse aspecto é particularmente relevante quando se lida com grandes volumes de dados, o que torna o Ecorr uma escolha atraente para processamento em larga escala. A redução do custo computacional pode facilitar a implementação em estudos mais abrangentes ou em tempo real, onde a velocidade de processamento é essencial.

O estudo revelou que, ao analisar os dados de SCG de 15 sujeitos saudáveis do sexo masculino, o método Ecorr, em média, apresentou uma precisão de clustering superior em mais sujeitos do que o DTW. No entanto, a precisão local variou conforme a localização do sensor. O DTW teve um desempenho superior em áreas com maior relação sinal-ruído, enquanto o Ecorr demonstrou maior consistência espacial na distribuição dos clusters em 10 sujeitos.

Embora o Ecorr tenha mostrado vantagens em termos de eficiência computacional e consistência espacial, o DTW ainda é relevante para situações em que a precisão em locais específicos é crucial. Uma análise mais detalhada sobre a importância do ângulo de decisão para diferentes locais de ausculatação cardíaca, como o ponto de Erb ou o processo xifoide, revela que a técnica DTW tem um desempenho significativamente melhor nesses casos, especialmente quando a condição inicial FL é aplicada. Isso reforça a necessidade de considerar a localização e as características do sinal ao escolher a melhor técnica de clustering.

Outro ponto importante é que a precisão do clustering, em termos de redução da variabilidade intra-cluster, se manteve comparável entre o DTW e o Ecorr. A redução variou de 10% a 15% na maioria dos sujeitos, mas, em um sujeito específico, a redução ultrapassou os 25%. Este achado sugere que o clustering pode ser mais eficaz em alguns indivíduos do que em outros, dependendo das características individuais do sinal SCG. Para pesquisadores e profissionais que buscam otimizar suas técnicas de análise, isso implica que uma abordagem personalizada, considerando tanto a técnica de clustering quanto as características do sujeito, pode ser mais eficaz do que uma abordagem universal.

Além disso, o estudo abordou a distribuição espacial do SCG, que revelou ser mais consistente quando a condição inicial FL foi aplicada. Isso se deve à menor tendência de cair em mínimos locais durante o processo de convergência do clustering. A maior consistência da distribuição espacial sob a condição FL sugere que a escolha do método inicial é determinante para a eficácia do clustering, superando a influência do método de distância escolhido.

É essencial entender que, para a maioria dos casos, o método Euclidiano com a condição inicial baseada no fluxo respiratório (FL) é o mais eficaz devido à sua capacidade de proporcionar o melhor desempenho de clustering na maioria das situações, ao mesmo tempo que apresenta uma maior eficiência computacional. Isso o torna ideal para aplicações em que o volume de dados é considerável e a rapidez no processamento é necessária.

O estudo sugere, ainda, que o Ecorr e o DTW devem ser usados em paralelo para obter os melhores resultados em populações semelhantes à estudada. A escolha do método mais preciso pode então ser feita com base em uma análise posterior, o que maximiza os benefícios de cada técnica conforme as características dos dados.

Por fim, ao considerar o impacto de fatores como a redução da variabilidade intra-cluster e a precisão do clustering nas condições experimentais, é importante destacar a necessidade de realizar uma análise mais aprofundada sobre a influência do comportamento respiratório e a modulação da frequência cardíaca. A interdependência entre a respiração e a frequência cardíaca pode ser mais complexa do que inicialmente suposto, com implicações diretas na qualidade e na precisão dos dados SCG.

Métodos Não Invasivos para Monitoramento da Pressão Intracraniana: Potencial e Limitações

As medições de emissões otoacústicas de produto de distorção (DPOAE) foram registradas em cada nível de pressão intracraniana (ICP) em 13 frequências, com níveis de pressão sonora de 75 dB (L1 = L2). As magnitudes e os ângulos de DPOAE foram calculados em cinco frequências mais baixas, onde mudanças significativas de DPOAE foram observadas com ICP. As magnitudes de DPOAE dentro de 6 dB do nível de ruído foram eliminadas da análise. Alterações significativas nas magnitudes e nos ângulos de DPOAE foram observadas quando o ICP estava 12 mmHg acima da linha de base (Fig. 19). Esse método apresenta a limitação de identificar elevações de ICP, mas não determinar a extensão da elevação. Outro desafio é que mudanças maiores nas DPOAEs ocorrem em frequências mais baixas, onde as DPOAEs são menos robustas, tornando-as muitas vezes indistinguíveis do nível de ruído. Além disso, as medições de linha de base são necessárias, pois a variabilidade interindividual das medições de DPOAE pode ser alta.

Embora as técnicas não invasivas para monitoramento de ICP não forneçam valores absolutos de ICP, a detecção de mudanças relativas é provável de ser alcançada. O método de monitoramento de ICP usando o sistema auditivo oferece uma forma promissora de monitorar níveis elevados de ICP de maneira não invasiva, sem a necessidade de procedimentos cirúrgicos complexos e caros. Esses métodos podem reduzir a mortalidade, os riscos de infecção e hemorragias, além de melhorar a qualidade de vida dos pacientes. Entretanto, as limitações dessas abordagens estão intimamente relacionadas ao funcionamento adequado do sistema auditivo e a outras condições fisiológicas, como a patência do aqueduto coclear, que conecta o líquido cerebroespinhal (LCR) ao fluido do ouvido interno. Estudos demonstraram que a patência do aqueduto coclear pode diminuir com o envelhecimento biológico, o que pode impactar a transmissão de pulsos de LCR para o ouvido interno.

Além disso, a integridade da cadeia ossicular do ouvido médio é fundamental para transmitir as pulsações do LCR à membrana timpânica, um fator crítico para a precisão dessas medições. Outras questões como contaminação por ruído, variabilidade interindividual e mudanças temporárias no limiar auditivo devido à estimulação frequente também precisam ser resolvidas. Embora esses métodos não invasivos não possam substituir completamente os procedimentos invasivos padrão, eles oferecem uma alternativa valiosa para o monitoramento de ICP, especialmente para pacientes em risco de elevação de ICP, como aqueles com shunts intraventriculares, lesões cerebrais ou envolvidos em esportes de contato.

A técnica de pulsação espontânea da membrana timpânica, que pode ser realizada com um sensor colocado no canal auditivo, é um exemplo de como esses métodos podem ser úteis, uma vez que não dependem de operadores e permitem que alterações no ICP sejam obtidas de forma rápida e precisa. Isso poderia ser particularmente vantajoso no acompanhamento de pacientes com hidrocefalia, uma condição crônica que resulta da produção anormal de LCR. Embora os tratamentos mais comuns para hidrocefalia, como a shuntoplastia e a ventriculostomia endoscópica, possam ser eficazes, suas taxas de falha são altas. Em um estudo realizado com 5416 bebês, as taxas de falha em um ano foram de 64% após a ventriculostomia e 40% após a shuntoplastia. O reconhecimento precoce da falha desses tratamentos pode ser complicado, pois os sintomas podem ser sutis e se sobrepor a outras condições, como gastroenterite. A capacidade de realizar medições periódicas em casa, quando os sintomas se manifestam, seria um grande avanço. Os pacientes poderiam monitorar sua condição de forma não invasiva e, se necessário, buscar assistência médica rápida, evitando complicações graves.

Portanto, a aplicação de métodos não invasivos para o monitoramento de ICP oferece uma alternativa viável e promissora, principalmente para pessoas com risco elevado de aumento de ICP. Mesmo sem substituir os métodos invasivos padrão, esses métodos podem ser utilizados de forma complementar, principalmente em ambientes hospitalares, departamentos de emergência e consultas ambulatoriais. A praticidade, portabilidade e facilidade de interpretação desses métodos indicam um grande potencial para a medicina moderna, especialmente para aqueles em risco de complicações neurológicas devido à elevação de ICP.