A resposta para entender a ascensão de Donald Trump no cenário político dos Estados Unidos está em uma figura controversa da história americana: Roy Cohn, um dos operativos republicanos mais temidos e desprezados. Cohn se tornou famoso por sua atuação ao lado de Joseph McCarthy durante o período da caça às bruxas nos anos 50, e por sua habilidade em manipular a opinião pública e os meios de comunicação. Antes de se tornar mentor de Trump, Cohn já era conhecido por seu cinismo imbatível e por sua capacidade de subjugar a verdade em prol do poder. A verdade, para Cohn, não passava de uma ferramenta que poderia ser moldada e utilizada conforme a conveniência.
Foi em 1973 que Trump e Cohn se encontraram, quando a organização Trump foi acusada de discriminação racial ao negar aluguel de imóveis a negros em Nova York. Através da intervenção de Cohn, que havia se especializado em manipulação midiática e processos judiciais, Trump contra-atacou o governo dos Estados Unidos com um processo de US$ 100 milhões. Embora o processo tenha sido descartado, Trump ficou fascinado pela audácia e pela falta de escrúpulos de Cohn. Ali, Trump recebeu uma lição sobre o uso da mídia como arma, sobre como atacar, mentir e processar sem nunca recuar. Cohn ensinou Trump a ver a mídia não como um veículo de informação, mas como um meio para destruir reputações, ameaçar inimigos e moldar a narrativa a seu favor.
Em 1976, o jornal The New York Times publicou um perfil de Trump que o descrevia como um jovem empresário carismático, bem-sucedido, com uma fortuna estimada em mais de US$ 200 milhões. A matéria fez pouca menção ao processo de discriminação, uma omissão que reflete claramente a influência de Cohn sobre a imprensa e como ele manipulava jornalistas e colunistas para construir a imagem que queria que o público tivesse de seu protegido. Cohn não hesitava em usar seu poder para destruir reputações e silenciar adversários, ameaçando-os com processos judiciais e acordos de confidencialidade, ferramentas que mais tarde Trump também utilizaria em sua trajetória.
A relação entre Trump e Cohn transcendeu o profissional. Embora as razões exatas para essa amizade intensa e próxima nunca tenham sido totalmente compreendidas, o fato é que Trump se apegou a Cohn de maneira quase simbiótica. Cohn, com seu estilo implacável e sua visão maquiavélica do mundo, foi o guia de Trump, ampliando suas perspectivas políticas e empresariais. Cohn não era apenas o mentor de Trump, mas uma figura central que o introduziu ao mundo sombrio da política suja e das relações perigosas, incluindo figuras do crime organizado e operadores políticos de direita.
Nos anos 80, Cohn trouxe para a órbita de Trump figuras como Roger Stone e Paul Manafort, que se tornaram partes cruciais da campanha presidencial de Trump em 2016. Durante esse período, o império de Trump também começou a atrair a atenção de figuras do crime russo. Em 1984, a compra de apartamentos no Trump Tower por um membro da máfia russa, David Bogatin, e suas implicações no processo de lavagem de dinheiro, destacam um lado mais sombrio da história de Trump que frequentemente foi ignorado pela mídia. A omissão de tais aspectos na cobertura de Trump foi uma constante, e é difícil não perceber a falta de profundidade na investigação da verdadeira natureza dos seus negócios e conexões.
A figura de Cohn, portanto, foi determinante não só na formação do caráter político e empresarial de Trump, mas também na forma como ele gerenciou sua imagem pública. Enquanto a mídia exaltava a figura de Trump como um magnata carismático, por trás dos holofotes se escondiam práticas questionáveis, alianças com criminosos e uma falta absoluta de escrúpulos. A partir de Cohn, Trump aprendeu a usar a mídia para encobrir a verdade e moldar sua narrativa da maneira mais vantajosa para ele.
Além disso, é fundamental compreender que a ascensão de Trump não pode ser dissociada das práticas de manipulação midiática e da criação de uma narrativa própria, sem qualquer comprometimento com a realidade dos fatos. O uso da mídia para desinformar e enganar é uma estratégia que, embora não seja exclusiva de Trump, foi elevada a novos patamares sob sua liderança.
A relação entre Trump e Cohn também expõe a maneira como o poder pode ser utilizado para distorcer a verdade, manipular a opinião pública e proteger os interesses daqueles que sabem como jogar o jogo da política suja. Essa aliança de interesses é um exemplo claro de como a política e o poder podem ser profundamente corrompidos quando os princípios éticos são deixados de lado em nome da vitória e do controle.
O que mudou para sempre no jornalismo e na consciência pública após o 11 de Setembro?
Durante meses, escrever obituários se tornou rotina — uma tarefa que ninguém queria, mas que muitos assumiram como forma de homenagear os mortos e enfrentar o trauma. A sensação era de que qualquer marco da vida precisava ser alcançado rapidamente, antes que também nos fosse arrancado. O noivado, o casamento, a tentativa de normalidade — tudo ganhou uma urgência silenciosa, como se o tempo estivesse prestes a se esgotar.
No coração do colapso, o jornalismo também mudou — não apenas no conteúdo, mas na forma de operar. Quando os aviões atingiram as torres, ainda se discutia se o site do Daily News deveria ser atualizado ou se seria suficiente seguir a edição impressa. Mas já era tarde: a internet começava a ultrapassar o impresso, não apenas em velocidade, mas como plataforma narrativa dominante. A partir daquele momento, o ciclo de notícias 24/7 deixou de ser exceção. Tudo passou a ser urgente, cada minuto uma emergência. O tempo congelado na tela da TV foi substituído por um fluxo contínuo de ansiedade.
Essa nova lógica de cobertura ininterrupta acabou moldando uma nova psique coletiva. O alerta constante, alimentado pelo sistema de cores do medo — que mudava sem explicação —, criava a sensação de que algo terrível sempre estava prestes a acontecer, mesmo quando não havia nada. Bastava um pouco de Sweet’N Low derramado para evacuar um prédio. A mídia nova-iorquina, antes conhecida por seu cinismo duro, tornou-se inquieta, hipervigilante. Saltávamos para cobrir qualquer “urgente”, qualquer ruído súbito, qualquer declaração oficial — mesmo as mais absurdas.
Com isso, o papel do jornalismo como instância crítica foi sufocado pela necessidade de encontrar sentido onde havia apenas caos. A narrativa passou a ser moldada com personagens fáceis: heróis e vilões. Rudy Giuliani, anteriormente um político decadente afundado em escândalos, foi remodelado pela mídia como o “Prefeito da América”. A mesma imprensa que o desprezava passou a reverenciá-lo, ignorando falhas gravíssimas, como sua omissão em reforçar a segurança do World Trade Center após o atentado de 1993. A dor coletiva exigia conforto, e a narrativa precisava ser simples para funcionar como bálsamo.
A obediência inicial da mídia foi forjada no luto. Não se tratava apenas de manipulação, mas de esgotamento emocional. O ideal do jornalismo como o quarto poder — destinado a “afligir os confortáveis e confortar os aflitos” — foi invertido. Os nova-iorquinos eram os aflitos, e o consolo veio na forma de histórias lineares, dicotômicas, redentoras. Salvar os caídos, jurar vingança, aceitar um sistema de crenças onde “ou está conosco ou contra nós” parecia, por um instante, razoável.
A guerra no Afeganistão começou como uma decisão inevitável. A autora, como muitos, achou que era o caminho certo — sem saber que esse conflito arrastaria o país por quase vinte anos. Quando seu filho de oito anos perguntou se os Estados Unidos estariam sempre em guerra, ela hesitou. Já não era mais possível distinguir as guerras declaradas das não-declaradas, as internas das digitais, as externas das guerras travadas em silêncio dentro das instituições.
As fronteiras entre protetor e agressor foram se dissolvendo. O presidente passou a chamar jornalistas de “inimigos do povo”. Amigos que serviram nas Forças Armadas voltavam destruídos, obrigados a lutar as mesmas guerras, repetidamente, como se o tempo não avançasse. O menino sugeriu que esses veteranos recebessem uma recompensa — talvez nunca mais precisassem trabalhar. A mãe, sem conseguir responder, o abraçou para esconder as lágrimas.
Por volta de 2019, o 11 de Setembro havia se tornado um símbolo banal, usado em memes e slogans políticos. A tragédia passou a ser explorada como ferramenta de ataque. A congressista Ilhan Omar recebeu ameaças de morte após um vídeo manipulado por Trump sugerir falsamente que ela havia defendido os atentados. A instrumentalização da dor tornou-se prática comum.
Mas a indiferença de Trump à dor alheia não começou ali. No próprio dia dos atentados, ele comentou que agora seu prédio era o mais alto de Manhattan, demonstrando uma apatia típica, fria, predatória. Durante a crise das hipotecas e a recessão, seu foco não foi nas famílias arruinadas, mas nas oportunidades de lucro. “Sempre ganhei mais dinheiro em mercados ruins do que em bons”, disse com entusiasmo.
Essa mentalidade foi além da economia. Sua obsessão com armas nucleares e sua frieza ao considerar a morte de civis são marcas de uma visão de mundo onde o sofrimento alheio é uma variável de lucro. Em 2018, ao saber que a CIA havia adiado um ataque para evitar mortes civis, Trump perguntou: “Por que esperaram?”.
Mesmo como comandante em chefe, sua apatia era evidente. Soldados mortos, civis, famílias — eram descartáveis em sua lógica de poder. Em 2000, ele chegou a prever, de forma vaga, um ataque
Como a economia moderna redefiniu o fracasso e institucionalizou a corrupção
A nova economia produziu uma geografia econômica desigual, uma paisagem onde as melhores oportunidades estavam concentradas em cidades cada vez mais inacessíveis. Locais como São Francisco ou Nova Iorque ofereciam empregos qualificados, mas a disparada do custo de vida impunha um limite intransponível para quem vinha de realidades mais modestas, como St. Louis. O dinheiro que parecia suficiente em uma cidade do interior desaparecia na primeira semana em centros urbanos de prestígio. Restavam, então, as cidades “acessíveis”, onde, paradoxalmente, quase não havia empregos em tempo integral — um beco sem saída disfarçado de escolha.
Nos noticiários, a recuperação econômica americana era retratada como um sucesso: o desemprego nacional rondava os 5% durante o segundo mandato de Obama. Mas essa estatística escondia a realidade de milhões de trabalhadores subempregados, mal remunerados e invisíveis aos olhos das políticas públicas. Ser reduzido a um número era, para muitos, preferível à inexistência — ao menos forçaria alguém a reconhecer a precariedade que se tornou regra. Trabalhar bem, oferecer algo de valor, não parecia importar. O mundo só parecia interessado em saber o que podia tomar de você.
Em cidades como St. Louis, a falência é um processo lento. Isso, paradoxalmente, é parte do seu charme. Já nas cidades ricas, a derrocada é rápida e implacável. A ascensão de setores como tecnologia e finanças acelerou a expulsão de profissionais das suas próprias vizinhanças. As rendas não acompanhavam os custos. Muitos abandonaram carreiras para as quais haviam se preparado durante anos, em busca de profissões “estáveis”, como o setor de saúde — onde a demanda, alimentada por uma população cronicamente doente e exausta, parecia eterna.
A perda vai além dos salários: há um conhecimento inteiro que se perdeu, engavetado em vidas que não puderam se desenvolver. Pessoas talentosas expulsas de seus campos por preços inalcançáveis ou pela corrosão das oportunidades. Uma geração inteira à deriva, navegando a maré da história com um único objetivo: não se afogar.
A biografia de muitos se tornou uma sequência de reações a catástrofes. Uma amiga, após investir milhares de dólares em busca de uma vaga acadêmica, aceitou a única proposta disponível — em Porto Rico. Depois do furacão Maria, fugiu para a Flórida com a família, apenas para descobrir que sua nova cidade estava temporariamente ocupada por neonazistas. Ela é judia. Hoje, pede que alguém escreva um “guia do fim dos tempos para pais modernos”. Todos têm um “eu” secreto, anterior à queda, um que ainda ousava sonhar com algo além de sobreviver. Há casamentos que nunca aconteceram, filhos que nunca nasceram, oportunidades que nunca foram sequer cogitadas. O preço literal de querer mais é alto, mas o custo psíquico é ainda maior.
No pós-emprego, aprendemos a reduzir expectativas. A esperança se tornou um luxo que muitos não podiam mais bancar. Mas a raiva — essa permanece. Enquanto a oportunidade desaparecia para o cidadão comum, o oportunismo florescia entre os ricos e ineptos. A administração Trump não apenas refletiu essa inversão de valores, mas a institucionalizou. Não se tratava de um governo ineficaz, mas de um projeto bem-sucedido de espoliação. A palavra certa não é “kakistocracia” — governo dos piores —, mas “cleptocracia”: o governo dos que roubam o país em benefício próprio.
Nomeações não eram feitas para governar, mas para desmontar. Cada nomeado era um sabotador em potencial, designado a destruir o departamento que deveria liderar. A lealdade cega era a única competência exigida. Os ciclos de contratações e demissões em massa criavam uma ilusão de dinamismo e debate, distraindo a imprensa das fissuras sistêmicas que corroíam a estrutura do Estado. Como nos reality shows que o presidente uma vez estrelou, o elenco era rotativo, as intrigas cortina de fumaça. Mas havia método no caos: o elo era o nepotismo.
A Secretária de Educação, Betsy DeVos, adversária declarada do ensino público, é irmã de Erik Prince, um mercenário e operador de bastidores. A Secretária de Transporte, Elaine Chao, é esposa de Mitch McConnell, arquiteto do golpe legislativo que reconfigurou o poder no Partido Republicano. Em 2019, o procurador-geral William Barr foi sucedido no governo por sua filha e genro, ambos nomeados para cargos estratégicos. O círculo se fechava com laços de sangue.
Quanto mais tempo um autocrata permanece no poder, menor se torna seu círculo e mais central se torna o parentesco. A família oferece controle absoluto. Quem ousa romper com a linha oficial arrisca não apenas seu cargo, mas o futuro de seus entes queridos. Esse padrão é recorrente e
Como as redes sociais transformaram protestos, manipulação política e a percepção pública na década de 2010
A primeira metade da década de 2010 foi marcada por uma efervescência global de protestos que ganhou uma dimensão inédita graças à internet e às redes sociais. Desde as revoltas no Oriente Médio até os movimentos nos Estados Unidos, como o Occupy Wall Street, a mobilização em prol de justiça social e econômica tomou novas formas, contando com o apoio e a observação de uma comunidade internacional conectada em tempo real. Acreditava-se que o simples aumento da conscientização, proporcionado pelo compartilhamento imediato de imagens e relatos, traria empatia e mobilização em massa. Em lugares como a Síria, ativistas documentavam diariamente a brutalidade do regime de Assad, na esperança de que a exposição das atrocidades provocasse uma intervenção e cessasse a violência. Contudo, apesar da vasta documentação, o conflito se prolongou, deixando claro que o testemunho não garantia justiça, mas expunha a passividade e a conivência da comunidade internacional diante do sofrimento.
Nesse contexto, emergiu um paradoxo inquietante: o avanço da tecnologia e da comunicação não impediu o ressurgimento de tendências autoritárias e fascistas no cenário global. A instrumentalização das redes sociais por regimes autoritários e agências de inteligência corporativas, como Cambridge Analytica, inaugurou uma nova era de manipulação política baseada no monitoramento comportamental e na segmentação de grupos sociais para fins eleitorais e propagandísticos. O ambiente digital, antes visto como um espaço para ampliar vozes e causas legítimas, transformou-se em terreno fértil para a propagação do cinismo, do ódio e da desinformação. A brutalidade, que antes causava indignação unânime, passou a ser banalizada, sendo, em certos casos, celebrada ou reduzida a mera curiosidade mórbida.
O ano de 2014 sintetiza muitas dessas contradições. A exaustão diante de crises simultâneas — da guerra na Síria à ascensão do Estado Islâmico, passando por epidemias, invasões territoriais e massacres — encontra paralelo no crescimento do assédio e da toxicidade online. Movimentos misóginos, como o Gamergate, e a intensificação do ativismo neofascista ampliaram a hostilidade nas redes, especialmente contra mulheres negras e ativistas não brancas. A incapacidade das plataformas digitais de conter esses ataques resultou não só em danos pessoais, mas em uma ameaça real à segurança nacional e à integridade dos processos democráticos, evidenciada pelo papel crucial que contas troll russas tiveram na desinformação e na interferência nas eleições americanas de 2016.
A experiência de Ferguson em 2014 é emblemática dessa era. O protesto contra a violência policial não foi apenas um evento isolado, mas um ponto de inflexão que expôs as feridas raciais e econômicas profundas nos Estados Unidos, particularmente em regiões como St. Louis. Para muitos, Ferguson era apenas um nome em manchetes; para os moradores locais, era uma comunidade viva, imersa em lutas cotidianas por direitos civis e justiça social. A atenção global concentrada no caso de Michael Brown e na resistência comunitária revelou como a indignação pode ser capturada, exibida e, em seguida, rapidamente esquecida, deixando para trás a dor e o abandono das causas que alimentaram as manifestações.
Ferguson mostrou que o ato de notar uma injustiça não equivale a compreendê-la ou a agir para superá-la. A história dessa cidade revelou a distância entre visibilidade e transformação real, evidenciando como narrativas midiáticas podem reduzir complexidades sociais a símbolos de efemeridade. Além disso, a resposta da polícia e a criminalização dos protestos demonstraram a persistência de um sistema que prioriza o controle e a repressão em detrimento do diálogo e da reparação.
É fundamental reconhecer que a evolução da comunicação digital trouxe avanços inegáveis para a mobilização social, mas também abriu espaço para novos mecanismos de dominação, vigilância e manipulação. A transparência proporcionada pela tecnologia pode ser simultaneamente uma arma contra a injustiça e um instrumento para perpetuar desigualdades. O ativismo contemporâneo exige, portanto, não apenas consciência crítica das ferramentas digitais, mas também uma compreensão profunda das dinâmicas políticas, sociais e raciais que atravessam os protestos e as resistências.
Além do que está evidenciado, é importante perceber que as redes sociais, apesar de sua potencialidade para unir, também reproduzem e amplificam divisões sociais, muitas vezes exacerbando preconceitos estruturais e facilitando a fragmentação das comunidades. A neutralidade aparente das plataformas esconde um ecossistema algorítmico que prioriza o engajamento acima da verdade, o conflito acima do consenso, o sensacionalismo acima da reflexão. Essa arquitetura de interação digital transforma a empatia em espetáculo e dificulta a construção de solidariedade duradoura.
Por fim, entender as tensões e contradições da mobilização social na era digital implica aceitar que os processos de mudança são complexos e multifacetados, sujeitos a retrocessos e manipulações, mas também capazes de gerar novas formas de resistência e consciência coletiva. A vigilância crítica sobre as ferramentas e as narrativas, assim como o reconhecimento das vozes marginalizadas e das especificidades locais, são essenciais para que os movimentos sociais não se percam na dispersão ou na instrumentalização política. A história recente demonstra que a luta por justiça não é apenas uma questão de visibilidade, mas de transformar a percepção em ação concreta e duradoura.
Como as Teorias da Conspiração e a Manipulação da Mídia Moldam a Política Americana
Em um mundo saturado de informações, a linha entre o que é real e o que é fabricado se torna cada vez mais tênue. A ascensão de figuras políticas como Donald Trump e a crescente polarização nos Estados Unidos serviram como terreno fértil para a proliferação de teorias da conspiração, manipulação midiática e propaganda. A distorção da verdade, através de narrativas distorcidas e seletivas, tornou-se uma ferramenta de controle, permitindo que interesses poderosos desinformassem a população e desestabilizassem o tecido democrático.
A situação política norte-americana, marcada pela ascensão de Trump e suas conexões com figuras e eventos que desafiaram a integridade do processo eleitoral e institucional, exemplifica como a manipulação da narrativa pode ter efeitos devastadores. A propagação de teorias conspiratórias, alimentada por grupos que buscam descreditar opositores ou desviar a atenção dos escândalos, é uma característica de regimes autoritários, mas também tem se infiltrado na política de democracias consolidadas. A questão do "Big Lie" (A Grande Mentira), que se refere à alegação infundada de que a eleição de 2020 foi fraudada, é um exemplo clássico de como uma mentira repetida incansavelmente pode ganhar força e até ser legitimada em certos círculos.
A utilização de plataformas digitais e a construção de narrativas conspiratórias através de meios como o Breitbart, a QAnon e outros sites de extrema direita não é apenas uma reação a um clima de desconfiança, mas uma estratégia deliberada para minar a fé nas instituições democráticas. Essas narrativas se tornam uma forma de resistência simbólica, onde a verdade objetiva cede lugar a um "real" alternativo, desenhado para reforçar visões ideológicas ou interesses de poder.
O papel de figuras como Steve Bannon, ex-assessor de Trump, que utilizam a desinformação como uma ferramenta para consolidar poder, é emblemático desse processo. Bannon e seus aliados não apenas alimentam desinformação, mas também criam uma atmosfera de medo e desconfiança, onde os inimigos políticos se tornam alvo de ataques e deslegitimação pública. A ideia de um inimigo invisível, manipulando as decisões políticas por trás das cortinas, é uma constante nas teorias da conspiração alimentadas por essas figuras.
A manipulação não se limita apenas à criação de mentiras e distorções. A retórica de "fake news", quando aplicada por aqueles em posições de poder, torna-se uma ferramenta para desacreditar os jornalistas e meios de comunicação que tentam expor a verdade. Essa tática tem sido amplamente utilizada para descreditar investigações independentes e para atacar a integridade da mídia tradicional, criando um espaço onde a desinformação é tratada como "alternativa à verdade". O caso de Michael Flynn, por exemplo, ilustra como os crimes podem ser minimizados ou ignorados quando protegidos por uma narrativa conveniente.
Além disso, a polarização social e o medo crescente de uma possível tirania ou governo autoritário criam um terreno fértil para o crescimento do extremismo. A cultura do "cancelamento" e a incessante busca por um inimigo comum apenas intensificam a divisão entre os cidadãos. Em um contexto de incerteza econômica e política, essa divisão se torna mais do que uma disputa ideológica; ela se torna uma batalha existencial, onde as pessoas não apenas discordam, mas sentem que sua sobrevivência e valores estão em jogo.
A capacidade de um governo ou de uma liderança carismática de controlar a narrativa e manipular as percepções públicas é uma das características mais perigosas de qualquer regime autoritário. O fenômeno de redes autoritárias, onde as informações e as opiniões são filtradas, distorcidas e moldadas por interesses específicos, é um reflexo de uma sociedade que perdeu a capacidade de distinguir o que é verdadeiro e o que é manipulado. O uso de mídia digital, que permite a disseminação de informações em massa e quase em tempo real, tem amplificado esse processo, criando um ciclo de retroalimentação que reforça a polarização e a desinformação.
Além disso, é importante notar que as teorias da conspiração e a manipulação midiática não se limitam ao espectro político de direita. Movimentos de esquerda também podem ser suscetíveis à disseminação de narrativas distorcidas, como vimos em episódios envolvendo figuras como Hillary Clinton e a tentativa de rotulá-la como parte de uma conspiração global. No entanto, o impacto dessas estratégias é amplificado quando adotadas por figuras políticas no poder, como foi o caso de Trump e seus aliados.
Por fim, o que torna o fenômeno das teorias da conspiração e da manipulação midiática ainda mais alarmante é o modo como ele interfere diretamente nas funções democráticas fundamentais. Quando a verdade se torna relativa e a política se torna um jogo de manipulação e controle, o próprio sistema de justiça, que deveria ser um bastião da verdade e da equidade, pode ser corrompido. A eficácia do sistema judicial em casos como os de Paul Manafort, Rick Gates e Michael Cohen, entre outros, foi enfraquecida por esses processos de manipulação, onde as leis podem ser ajustadas conforme a narrativa desejada pelos poderosos.
A sociedade precisa entender que, além das teorias da conspiração, é a construção de uma nova "verdade" que serve para moldar a opinião pública e consolidar poderes, criando um ciclo vicioso de desinformação que é difícil de romper. A educação midiática, a verificação de fatos e a busca pela verdade objetiva devem ser prioridades para todos que desejam combater essas ameaças à democracia.
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