A estratégia das "Três Guerras" (Three Warfares), implementada pelo Partido Comunista Chinês (PCC), é um componente essencial para a promoção de seus interesses no cenário internacional e interno. Essa abordagem não se limita às frentes militares convencionais, mas se estende a uma esfera mais ampla, envolvendo a manipulação de informações, a guerra psicológica e a propaganda ativa. Sob a liderança do escritório central de propaganda externa, o Partido desenvolve diretrizes e métodos para moldar a opinião pública tanto dentro da China quanto no exterior, utilizando uma combinação de táticas que abrangem desde a produção de filmes e livros até a manipulação das mídias e das redes sociais.
O conceito de “Guerra do Povo”, desenvolvido por Mao Zedong, é um pilar fundamental da "Três Guerras". Essa abordagem remonta ao princípio de que a guerra não deve ser travada apenas pelos militares, mas também por civis que se envolvem ativamente na defesa do regime e na promoção de seus interesses. A "Guerra do Povo" propõe que a resistência e a luta podem ser alimentadas por uma mobilização de massas, utilizando civis como uma força complementar às forças armadas. As estratégias incluem a mobilização de civis para atividades de sabotagem, espionagem, propagação de desinformação e até a criação de distúrbios internos.
Dentro dessa mobilização, o papel da propaganda é de extrema importância. Cidadãos podem ser absorvidos ou integrados em esforços informacionais de forma formal ou informal. A "absorção" refere-se ao recrutamento direto de civis para trabalhar com o Exército de Libertação Popular (PLA), o Ministério de Segurança do Estado (MSS), ou outros órgãos governamentais relacionados. A "integração", por outro lado, envolve a colaboração de civis que atuam em indústrias não militares, mas que podem ser convocados em momentos de necessidade para apoiar as operações informacionais do governo. Em ambos os casos, essas operações visam principalmente manipular a percepção pública, tanto doméstica quanto internacional, para garantir que o regime chinês permaneça no controle e livre de críticas externas.
A utilização de grupos de civis voluntários, como o "Partido dos 50 Centavos", é uma tática amplamente empregada pela China. Esses indivíduos são pagos para promover a agenda do Partido em plataformas online, disseminando informações positivas sobre as políticas do governo ou desviando a atenção de questões sensíveis. Além disso, existe uma variedade de grupos não organizados que agem de maneira voluntária, distribuindo propaganda ou realizando ações de influência devido a motivações pessoais ou como forma de obter benefícios do sistema de crédito social da China.
Esses esforços de manipulação de informações não se limitam à esfera doméstica. A guerra psicológica e a manipulação da opinião pública são de grande importância para a China em seu relacionamento com países estrangeiros, como Taiwan. Taiwan, devido à sua posição geopolítica e sua relação com a China, se tornou um alvo privilegiado para essas operações de guerra informacional. A manipulação dos meios de comunicação, seja por meio de jornalistas, criadores de conteúdo ou até mesmo hackers, tem sido uma estratégia recorrente para influenciar a opinião pública local. A mídia, especialmente em Taiwan, tem sido alvo de pressão, onde conglomerados de mídia com interesses financeiros na China são acusados de transmitir propaganda favorável ao regime chinês, distorcendo as informações para criar um clima favorável à China.
A manipulação das informações também se estende a campanhas específicas. Por exemplo, durante a reforma da previdência de Tsai Ing-wen, a segurança nacional de Taiwan apontou que uma campanha de desinformação foi organizada por "elementos chineses", com o objetivo de mobilizar protestos e espalhar falsidades. Isso demonstra como a guerra informacional não se limita à manipulação direta da mídia, mas também envolve a capacidade de orquestrar movimentos e influenciar eventos sociais dentro de um país adversário.
Além das táticas de manipulação informacional, a China também está expandindo suas forças auxiliares civis, principalmente por meio do Sistema de Crédito Social. Este sistema avalia o comportamento social dos cidadãos e pode influenciar diretamente o acesso a serviços essenciais, criando assim um incentivo adicional para que os cidadãos se envolvam em atividades informacionais proativas que beneficiem o Partido. O aumento da participação de civis na guerra informacional, seja por interesse próprio ou por incentivo do governo, é uma tendência crescente e está diretamente ligada ao controle social e à manutenção da estabilidade do regime.
Compreender a complexidade da guerra informacional e o papel dos civis nesses esforços exige uma análise atenta das dinâmicas políticas e sociais da China e seus objetivos geopolíticos. O impacto dessas operações não se limita ao domínio digital ou à manipulação da opinião pública. Elas têm um papel crucial na formação de uma estratégia mais ampla de guerra híbrida, que combina tanto meios convencionais quanto não convencionais, envolvendo civis de maneira cada vez mais integrada. Esse fenômeno, longe de ser uma prática isolada, é um reflexo das ambições globais da China, cuja estratégia busca não apenas expandir sua influência, mas também consolidar o controle interno e garantir sua posição no cenário internacional.
Como Ações Hostis de Potências Estrangeiras Afetam a Segurança Nacional: O Caso da Rússia
O uso de instrumentos de influência hostil por potências estrangeiras, particularmente pela Rússia, tem se tornado uma preocupação crescente para a segurança nacional em várias partes da Europa. Tais operações têm como objetivo desestabilizar democracias, manipular a opinião pública e, eventualmente, moldar os eventos políticos e sociais de outros países, utilizando uma gama de táticas sutis e muitas vezes difíceis de identificar. A compreensão dessas táticas, e como elas afetam as sociedades-alvo, é crucial para qualquer nação que busque proteger sua soberania e a integridade de seus processos democráticos.
Entre as medidas utilizadas pelas potências estrangeiras, a Rússia se destaca pela diversificação das suas abordagens. A exploração das queixas internas da minoria russa em outros países, por exemplo, não é apenas uma forma de alimentar descontentamento, mas também um trampolim para operações de inteligência. Ao manipular essas minorias, a Rússia não só mina a lealdade desses grupos aos estados em que residem, como também os utiliza como base para ações de subversão e espionagem.
Além disso, o investimento em projetos energéticos, como o Nord Stream 2, serve a um objetivo estratégico: aumentar a dependência de outros países em relação à Rússia e, com isso, obter influência geopolítica. Embora essa estratégia tenha alguma eficácia em países da Europa Ocidental, em muitos estados do Leste Europeu, que possuem um histórico de manipulação energética por parte de Moscovo, ela se revela ineficaz, levando ao fortalecimento das medidas de defesa e resistência.
Em relação ao conjunto de ferramentas hostis de Moscovo, podem ser identificadas sete medidas específicas que a Rússia utiliza com frequência:
-
Operações de Inteligência – Incluem desde a coleta de informações sensíveis até as chamadas “medidas ativas”, que envolvem tentativas de manipulação e influência, por meio de agentes no terreno ou em atividades cibernéticas.
-
Operações de Desinformação – Utilização de campanhas de desinformação, onde fontes não são reveladas (propaganda cinza) ou se apresentam sob uma falsa fachada (propaganda negra), com o objetivo de distorcer a percepção pública.
-
Exploração de Aliados Políticos – A Rússia busca aliados políticos que compartilham de suas ideologias ou interesses, frequentemente levando esses aliados a se tornar "cavalos de Troia" de suas influências no governo.
-
Exploração de Grupos Radicais e Extremistas – Apoio e exploração de grupos extremistas, que têm potencial para desestabilizar a ordem política interna de um país. Na Europa, certos grupos paramilitares pró-russos têm sido utilizados como agentes para desestabilizar regiões, como algumas partes da Ucrânia.
-
Operações Econômicas com Objetivos Políticos – A Rússia frequentemente disfarça operações de influência por meio de empresas que, sob o pretexto de negócios legítimos, buscam influenciar setores sensíveis da economia de um país, utilizando-o como base para outras formas de coerção política.
-
Exploração de Minorias Linguísticas, Religiosas ou Étnicas – A exploração de divisões internas dentro de uma sociedade, como as tensões étnicas ou religiosas, torna-se um método eficaz para justificar ações hostis, como a intervenção militar, sob a alegação de proteger essas minorias.
-
Uso de ONGs e GONGOs (Organizações Não-Governamentais Organizadas pelo Governo) – As ONGs, muitas vezes, são utilizadas como ferramentas para influenciar os processos políticos ou sociais de outros países. As GONGOs, especificamente, são controladas diretamente pelos governos estrangeiros para esse fim.
A eficácia dessas medidas depende de um fator crucial: a capacidade do governo-alvo de reconhecer essas ações como hostis. Definir o que constitui uma ação hostil é essencial, pois proporciona a base para uma resposta adequada. Um governo que consegue identificar, com clareza, as ameaças à sua soberania e aos seus interesses nacionais pode tomar medidas preventivas e corretivas mais eficazes. O conceito de “interesses nacionais” deve ser claramente estabelecido, abrangendo a integridade territorial, a soberania, o direito à autodeterminação, a ordem constitucional democrática, entre outros aspectos vitais.
Essa definição de "hostilidade" deve ser acompanhada por uma resposta robusta, que pode incluir várias estratégias:
-
Reação Governamental – O governo precisa estar pronto para identificar a ameaça e desenvolver medidas específicas para proteger os interesses nacionais, com base nas ações hostis observadas.
-
Confronto com Desinformação – A resposta a campanhas de desinformação deve envolver o fortalecimento da sociedade civil e dos meios de comunicação, criando uma defesa orgânica contra narrativas manipulativas.
-
Exposição das Redes de Influência Hostil – Desmascarar e expor as operações hostis é uma das formas mais eficazes de combater a subversão, alertando a população sobre as ameaças reais que enfrentam.
-
Construção de Resiliência – A longo prazo, é crucial reduzir as vulnerabilidades internas que podem ser exploradas por potências estrangeiras, promovendo programas sociais e de educação, como, por exemplo, iniciativas de alfabetização midiática.
Um estudo recente das eleições de 2017 na Alemanha e na França revela que, embora a Rússia tenha buscado minar as democracias ocidentais, a resposta dos países europeus tem sido, em grande parte, insuficiente. Apenas alguns países, como os Estados Bálticos, tomaram medidas efetivas para se proteger contra esses ataques. A falta de preparo adequado nas principais democracias da Europa é uma preocupação crescente, especialmente considerando a persistência das ameaças externas.

Deutsch
Francais
Nederlands
Svenska
Norsk
Dansk
Suomi
Espanol
Italiano
Portugues
Magyar
Polski
Cestina
Русский