A conexão do Mazdaísmo com os elementos puros—terra, água e, especialmente, fogo—é uma das características mais distintivas dessa antiga religião. Este vínculo profundo com a pureza dos elementos naturais reflete-se nas práticas funerárias dos seguidores de Ahura Mazda, um dos aspectos mais fascinantes dessa tradição. Ao contrário das práticas funerárias que envolvem o sepultamento do corpo, como observadas em muitas religiões antigas, os Mazdaístas optaram por uma abordagem única para lidar com os mortos. O corpo do falecido era colocado em torres chamadas dakhmas, estruturas circulares semelhantes a crateras, onde era deixado para ser devorado por abutres. Essa prática evitava que o corpo entrasse em contato com a terra, a água ou o fogo, elementos considerados sagrados e impuros quando contaminados pelos restos mortais.
As dakhmas eram dispostas com um significado ritual claro. O topo da torre era dividido em três círculos concêntricos, onde o corpo do homem, da mulher e da criança eram deixados. Cada círculo possuía um significado específico, refletindo a visão da sociedade sobre a pureza e o papel de cada indivíduo. A escolha do abutre, um animal considerado impuro por muitas culturas, como a única criatura capaz de consumir os restos humanos sem contaminar os elementos naturais, reforça o quanto a integridade do mundo material era central para os Mazdaístas.
Ao contrário dos egípcios, que viam a alma como intrinsecamente ligada ao corpo e, portanto, a preservação física era fundamental para a vida após a morte, os Mazdaístas não atribuíam qualquer valor especial ao corpo falecido. Para eles, o destino da alma estava indissociavelmente ligado à moralidade da vida do indivíduo, e não ao destino de seu corpo. O bom praticante da religião de Ahura Mazda, aquele que seguia todos os rituais e mandamentos, seria recompensado com uma vida eterna no reino celestial de Ahura Mazda, enquanto os ímpios, aqueles que não acreditavam em Ahura Mazda ou que violavam os tabus religiosos, seriam enviados para o inferno, o reino de Angra Mainyu.
Esse conceito dualista de retribuição moral reflete a natureza ética da religião Mazdaista, onde a bondade, a verdade e a sabedoria personificadas em Ahura Mazda se opunham à mentira, malícia e vícios, personificados em Angra Mainyu. Os deuses secundários, ou espíritos imortais, representavam qualidades morais específicas, como bondade, saúde, verdade e felicidade. A moralidade em Mazdaism não era complexa, mas tinha um foco claro nas ações que seguiam as normas estabelecidas, como trabalhar a terra e plantar, mantendo-se puro ritualisticamente. As maiores transgressões eram aquelas que corrompiam a pureza do corpo, como a cremação de corpos, o consumo de carne de animais mortos ou vícios sexuais considerados antinaturais.
O conceito de um julgamento final, uma característica importante da doutrina mazdaísta, fez com que o Mazdaísmo se destacasse das demais religiões da Antiguidade. A ideia de um Salvador, que destruiria Angra Mainyu e inauguraria o reino eterno de Ahura Mazda, reflete um profundo eschaton que antecipava a luta entre o bem e o mal, culminando na purificação final do mundo.
O culto a Mithra, que se separou de outras práticas zoroastristas, tem suas raízes na personificação do sol e das virtudes morais. Mithra, um deus solar e guerreiro, cuja data de nascimento coincide com o solstício de inverno, se tornou um símbolo importante de fé e lealdade. Seu culto se espalhou para além das fronteiras do Império Persa, especialmente durante o Império Romano, e teve grande influência na formação de ideologias cristãs. A figura de Mithra, que estava envolvida na luta contra o mal, compartilhou muitas semelhanças com a iconografia cristã, como a imagem do Salvador.
Mazdaism não apenas permaneceu como religião nacional do Irã até a conquista muçulmana, mas também adquiriu características cosmopolitas, principalmente devido à expansão do Império Persa. As influências de suas ideias chegaram a outras culturas e religiões, como o Judaísmo e o Cristianismo, através do sincretismo e da disseminação do culto de Mithra. A dualidade presente em sua doutrina também se refletiu em movimentos religiosos posteriores, como o Maniqueísmo e as seitas medievais cristãs, como os Paulicianos e os Bogomilos.
Por mais que o Mazdaísmo tenha sido uma religião predominantemente nacional, suas influências transcenderam as fronteiras do Irã, dando origem a comunidades e práticas que perduraram ao longo dos séculos. A disseminação do Mazdaísmo por meio da diáspora Parsee, especialmente na Índia, e a preservação de suas práticas em pequenas comunidades em áreas como o Azerbaijão e o Curdistão, são testemunhos da resistência cultural e religiosa dessa antiga tradição.
A importância de compreender o Mazdaísmo vai além de uma simples análise de práticas religiosas antigas. A filosofia e os ensinamentos de Ahura Mazda oferecem uma perspectiva única sobre a moralidade, a vida após a morte e a relação entre o ser humano e o cosmos. A visão mazdaísta sobre a importância de escolhas éticas pessoais, sobre a pureza dos elementos naturais e a conexão com o divino reflete uma abordagem profunda sobre a responsabilidade individual e coletiva diante do mundo. Além disso, o impacto do Mazdaísmo nas religiões posteriores e a continuidade de suas ideias na formação de religiões e movimentos modernos evidenciam a sua duradoura relevância histórica.
Como as Guerras e Conquistas Moldaram a Religião Judaica: Da Era dos Juízes ao Período Pós-Cativeiro
A religião judaica, assim como muitas outras, foi profundamente moldada pelos eventos históricos que marcaram o desenvolvimento da sociedade israelita. As constantes e sangrentas guerras, bem como as interações com culturas vizinhas, desempenharam papel essencial na formação das crenças, práticas e instituições religiosas do povo judeu. Durante a conquista da Palestina, o judaísmo passou por uma série de transformações, tanto sociais quanto religiosas, que refinaram sua identidade e criaram uma estrutura de culto que seria reconhecida por séculos.
Com a ocupação das terras cananeias, o povo judeu passou de um estilo de vida nômade para uma sociedade agrícola, estabelecendo-se em vilarejos e cidades. A migração e a convivência com os cananeus trouxeram inevitáveis influências culturais e religiosas. Uma dessas influências foi a adoração dos baals, deuses locais que protegiam comunidades e cidades. Essa mudança religiosa foi gradual, sendo observada especialmente durante a era dos Juízes, quando o sistema tribal e democrático militar prevalecia. Era comum que os juízes, líderes militares eleitos, conduzissem as campanhas, mas à medida que o tempo passava, a estrutura social se fragmentava, criando divisões claras entre ricos e pobres, livres e escravizados.
A monarquia, iniciada com a ascensão do rei Saul e consolidada com o reinado de Davi e Salomão, trouxe consigo a centralização do poder e também da religião. O Templo de Salomão, erguido em Jerusalém no século X a.C., simbolizava a tentativa de unificar a adoração a Yahweh em um único local sagrado. No entanto, a centralização do culto não foi totalmente bem-sucedida no início, e a multiplicidade de divindades e cultos locais continuou a influenciar as práticas religiosas. Para entender essa transição, é essencial observar que, com a fusão de culturas e crenças, o povo judeu absorveu elementos da agricultura local, adotando festividades como a Páscoa (Matzoth), a Festa das Semanas (Shabuoth) e a Festa dos Tabernáculos (Sukkoth), que tinham estreitas conexões com a agricultura.
A classe sacerdotal, herdeira dos levitas, controlava essas práticas religiosas, embora não fosse a única expressão de autoridade espiritual. Durante este período, surgiram outras figuras religiosas, como os nazaritas, pessoas que dedicavam suas vidas a Deus de maneira rigorosa. Os nazaritas seguiam regras específicas de pureza ritual, abstinham-se de bebidas alcoólicas, não tocavam corpos mortos e mantinham o cabelo longo, tudo como sinais de devoção extrema. As figuras mais notáveis dos nazaritas foram Sansão e Samuel, cujas histórias são ricas em simbolismo e lições morais.
Os profetas também começaram a emergir como uma figura central no judaísmo, especialmente a partir do século VIII a.C. Inicialmente, os profetas eram figuras místicas que praticavam formas de adivinhação e comunicação com os mortos, métodos que podem ser considerados xamânicos. No entanto, à medida que as tensões sociais e políticas aumentavam, especialmente com a divisão do reino após a morte de Salomão, os profetas começaram a desempenhar um papel de críticos sociais e políticos. Eles denunciavam a idolatria e clamavam pelo retorno à adoração exclusiva de Yahweh. A mudança no discurso profético, que passou a enfatizar o pecado moral, em vez de apenas o ritual, foi um reflexo das crescentes desigualdades e da corrupção da classe dominante.
Isaías, um dos maiores profetas, representa essa transição ao chamar o povo judeu ao arrependimento moral e à justiça social, com apelos como: “Lavem-se, purifiquem-se; afastem-se da maldade que está diante dos meus olhos; deixem de fazer o mal, aprendam a fazer o bem; busquem a justiça, livrem os oprimidos, julguem os órfãos, defendam as viúvas”. Este chamado não apenas exigia uma mudança no comportamento religioso, mas também tinha uma forte carga de crítica às injustiças sociais que prevaleciam no reino de Judá.
Além de suas críticas sociais, os profetas também desempenhavam um papel político, alertando o povo sobre as ameaças de impérios vizinhos, como a Assíria e a Babilônia. Eles não apenas profetizavam sobre as calamidades que se aproximavam, mas também ofereciam uma esperança redentora, afirmando que Yahweh, no fim, libertaria e glorificaria seu povo.
A transição para o período pós-cativeiro, ou o período do Segundo Templo, é um marco decisivo na história do judaísmo. Três eventos principais definiram essa era: a reforma religiosa do rei Josias, a destruição de Jerusalém pelos babilônios e o retorno dos judeus do exílio sob o rei persa Ciro. A reforma de Josias foi, em grande parte, uma resposta política às ameaças externas, mas também teve um impacto profundo na estrutura religiosa do judaísmo. A ênfase no monoteísmo, a centralização do culto e a canonização dos textos sagrados durante esse período estabeleceram os fundamentos do judaísmo tal como o conhecemos hoje. O livro de Deuteronômio, que serviu como base para a reforma, proibiu práticas como a usura e o culto a outros deuses, e procurou regulamentar as relações sociais de maneira a aliviar as contradições de classe.
Esses processos históricos e religiosos foram interligados, e compreender as mudanças nas práticas religiosas judaicas é entender como o povo judeu, diante de guerras, exílios e divisões internas, foi capaz de manter sua identidade e suas crenças. No entanto, o judaísmo não foi simplesmente uma religião imutável; ele se adaptou, evoluiu e se consolidou como uma força espiritual capaz de resistir ao teste do tempo.
As Origens e as Influências dos Cultos Antigos e Orientais no Cristianismo Primitivo
O cristianismo, tal como o conhecemos, é uma fusão complexa de elementos judaicos, pagãos e orientais, cujas raízes se aprofundam nas crenças totemistas e em outras religiões antigas. A formação do cristianismo enquanto religião distinta não se deu de forma isolada; ela foi influenciada por diversas culturas e crenças que coexistiam nas primeiras comunidades cristãs. A interação entre esses diversos elementos, em especial os judeus e os pagãos, gerou uma luta interna significativa que moldou a evolução da doutrina cristã.
Desde os primeiros tempos, houve uma forte resistência a elementos judaicos dentro de algumas comunidades cristãs. Embora Cristo fosse judeu, os evangelhos retratam com frequência os judeus como inimigos de Jesus, colocando a culpa de sua morte sobre eles. O episódio de Pôncio Pilatos, que aparece em todas as narrativas evangélicas, ilustra bem essa dinâmica. Embora Pilatos tenha sido historicamente um tirano cruel, os evangelhos o pintam como um juiz justo e preocupado em não condenar um homem inocente. A figura de Pilatos foi manipulada para isentar os romanos e transferir toda a culpa para os judeus, criando uma linha de separação entre o cristianismo nascente e o judaísmo tradicional.
Outro exemplo claro dessa tendência de distorção histórica está na figura de Judas Iscariotes, que se tornou o estereótipo do traidor. Os evangelistas utilizaram Judas não apenas como o apóstolo que traiu Jesus por trinta moedas de prata, mas como uma representação simbólica do povo judeu. A escolha dessa figura e seu papel nos evangelhos visavam disseminar um estigma contra os judeus, associando-os à traição e à maldade.
O cristianismo, então, foi moldado tanto por influências judaicas quanto por elementos de religiões pagãs, especialmente as do Oriente. As figuras de apóstolos como Pedro e Paulo simbolizam essas duas tendências antagônicas. Pedro, o apóstolo judeu, representava a continuidade das tradições judaicas, enquanto Paulo, o apóstolo dos gentios, introduzia aspectos pagãos, ampliando o cristianismo além dos limites de Israel.
A luta entre as facções judaico-cristãs e as pagãs dentro das primeiras comunidades cristãs foi intensa e duradoura. A separação definitiva entre judaísmo e cristianismo, com a preservação de alguns elementos da tradição judaica, foi um processo longo e complexo. O evangelho de Mateus, considerado o mais judaico entre os evangelhos, ainda reflete essa luta interna, com suas contradições evidentes. Por exemplo, enquanto Jesus inicialmente envia seus apóstolos apenas para "as ovelhas perdidas da casa de Israel" e os rejeita, mais tarde, ele os envia para "ensinar todas as nações", abrangendo assim todos os povos.
Essa mistura de crenças judaicas e pagãs, com suas lutas internas, não deve obscurecer as inovações do cristianismo. Como Engels destacou, o cristianismo representou uma nova etapa no desenvolvimento das religiões, principalmente com a introdução do conceito de pecado e salvação. A ideia central de que o pecado era a causa de todos os males humanos foi um elemento revolucionário, mas também limitante. Em vez de incentivar uma luta social contra as injustiças, o cristianismo deslocou o foco para a salvação individual por meio da redenção dos pecados. Esta doutrina de pecado também forneceu consolo religioso para as massas, oferecendo uma explicação mítica para o sofrimento humano e a promessa de um salvador.
A figura central desse processo de salvação foi a de Jesus Cristo, cuja imagem evoluiu ao longo do tempo. Embora "Jesus" e "Cristo" sejam tratados como um só nome, no evangelho eles representam conceitos diferentes. Jesus era o pregador galileu, considerado por alguns um grande mestre e por outros um impostor. "Cristo", por sua vez, era a tradução grega do termo hebraico "Messias", que significava o "ungido" ou "salvador". Nos evangelhos, Jesus nunca se proclamou explicitamente como o Messias, e apenas Pedro reconheceu essa identidade, mas foi advertido a manter segredo. Essa ambiguidade foi uma tentativa dos evangelistas de convencer os leitores de que Jesus, o pregador, era, na verdade, o Messias esperado.
A transformação do cristianismo em uma religião universal, que inclui tanto as raízes judaicas quanto as influências pagãs, envolveu um processo de adaptação e síntese. No entanto, é crucial entender que o cristianismo não foi simplesmente uma cópia das crenças judaicas ou pagãs, mas sim a criação de algo novo e distinto, com sua própria visão do pecado, da salvação e da natureza do divino. O conceito de um salvador humano, que através do sofrimento e da morte redime os pecados da humanidade, foi uma das inovações centrais da nova religião.
Em todo esse processo, as narrativas evangélicas desempenharam um papel crucial em moldar a percepção pública de Jesus e de seu significado. O foco nos ensinamentos sobre o pecado e a salvação, juntamente com a figura de um Messias sofredor, se tornaram elementos centrais para a construção da identidade cristã, marcando uma ruptura significativa com as religiões anteriores, mas também mantendo elementos delas.
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