A terapia física veterinária, quando realizada com base em modelos de avaliação padronizados e estruturados, pode facilitar uma comunicação eficaz entre profissionais da área, permitindo um processo de reabilitação mais organizado e eficiente para animais de estimação. A utilização de uma linguagem e um framework unificados para classificar a origem da claudicação, por exemplo, pode contribuir para o desenvolvimento de protocolos baseados em evidências, essenciais para intervenções reabilitadoras ou cirúrgicas. Esses protocolos devem ser específicos não apenas para a cronicidade da claudicação, mas também para os tecidos e sistemas envolvidos, além de considerarem o prognóstico dos resultados funcionais. A classificação da origem da claudicação pode ser dividida, por exemplo, em: (1) claudicação de membro pélvico, origem de entorse ligamentar (grau III); (2) claudicação de membro pélvico, origem de fratura óssea; (3) claudicação de membro pélvico, origem de distensão muscular; (4) claudicação de membro pélvico, origem de lesão cartilaginosa, e assim por diante.

A adaptação do Modelo ICF (Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde) para os animais destaca a importância de fatores pessoais e ambientais como facilitadores ou barreiras para o funcionamento normal do animal, além de influenciar diretamente sua recuperação. A relação do cão com a sociedade — seja como animal de estimação, cão de assistência, cão de resgate ou cão policial — influencia o processo de cura, assim como aspectos relacionados à sua idade, hábitos, personalidade e experiências, tanto do animal quanto do proprietário ou tratador. As condições do ambiente físico, social e atitudinal onde o animal vive também devem ser levadas em consideração, pois têm um impacto direto na reabilitação. Além disso, é fundamental que o modelo adaptado ao ICF inclua o suporte disponível, as relações e as atitudes do entorno, os serviços e políticas que afetam o animal e o seu cuidador.

O processo de terapia física orientado por hipóteses, essencial no tratamento de animais, visa a prevenção ou redução dos impactos das limitações funcionais, proporcionando melhorias mensuráveis nas habilidades e atividades do paciente. Ao restaurar, promover e otimizar o controle ou qualidade de movimento, a terapia física ajuda a minimizar as limitações da atividade, as restrições participativas e as deficiências em atividades do dia a dia (ADLs), trabalho, lazer ou atividades atléticas. Ao aplicar intervenções terapêuticas que atendem a esses objetivos, o impacto da deficiência pode ser prevenido ou retardado, melhorando o estado de saúde e a qualidade de vida (QoL) do animal, minimizando as consequências da doença.

A aplicação de algoritmos bem estabelecidos para a análise de dados coletados durante exames clínicos orienta os terapeutas veterinários na tomada de decisões durante todo o processo de reabilitação. O uso de modelos padronizados, como o Algoritmo Orientado a Hipóteses para Clínicos II (HOAC-II) e o Rehab-CYCLE, é vital para a prática de terapia física. Esses modelos ajudam a facilitar a comunicação e a coordenação entre profissionais multidisciplinares, garantindo que o proprietário ou tratador também esteja ativamente envolvido no processo de decisão e gestão do paciente. A entrevista subjetiva com o proprietário é focada tanto no paciente quanto nas necessidades do responsável, integrando informações sobre a história clínica, exames diagnósticos, testes e fatores pessoais e ambientais que influenciam diretamente a reabilitação.

O exame objetivo, realizado por meio da observação e medição de dados, permite a definição das limitações funcionais do paciente. Tais limitações podem ser resultado de problemas posturais ou de movimento e devem ser avaliadas de acordo com a fisiopatologia, sendo essa avaliação distinta da diagnosticação patológica. O diagnóstico funcional é baseado nas disfunções físicas identificadas, e é possível rastrear o progresso funcional por meio de dados objetivos e válidos. Técnicas como o uso de goniômetro, medidas circunferenciais, testes manuais específicos e questionários padronizados ajudam a estabelecer o diagnóstico e a orientar o desenvolvimento de estratégias de tratamento.

Além disso, a análise da mobilidade articular, flexibilidade, amplitude de movimento (tanto ativa quanto passiva), e o desenvolvimento muscular são fundamentais para entender as limitações funcionais do animal. A identificação de pontos gatilho, espasmos musculares e sinais de inflamação aguda ou crônica também são essenciais para um diagnóstico mais preciso e para o planejamento de intervenções terapêuticas.

Ao compilar essas informações, o terapeuta físico veterinário pode formular uma hipótese testável, relacionando as deficiências identificadas com as limitações funcionais do animal, conforme relatado pelo proprietário ou tratador. A partir desse diagnóstico, o objetivo é discernir fatores modificáveis e limitantes que contribuem para os problemas funcionais do paciente. Essas informações podem ser fundamentais na identificação de padrões de movimento compensatórios que o animal possa adotar durante suas atividades diárias, o que pode, por sua vez, levar a novas lesões ou agravamento das condições existentes.

A terapia física veterinária deve ser projetada com base em um Plano de Cuidados (POC) específico, que inclui estratégias de manejo da dor, controle da inflamação, restauração da mobilidade e aumento da tolerância ao peso e à atividade. Para alcançar os objetivos do proprietário ou tratador, táticas específicas são implementadas, levando em consideração o estágio de cicatrização dos tecidos e as condições particulares do paciente, seu proprietário e o ambiente.

Intervenções terapêuticas podem incluir a educação do proprietário, terapias manuais, prescrição de dispositivos auxiliares (como órteses ou próteses), treinamento de marcha ou funções, exercícios terapêuticos, e até modalidades térmicas ou eletroterapêuticas, sempre de acordo com as necessidades individuais do paciente. O tratamento deve ser focado em melhorar a função e qualidade de vida do animal, com metas que busquem a reversão dos problemas identificados, promovendo sua recuperação de forma eficaz.

Como as Forças Afetam a Coluna Canina e a Relação com a Degeneração Espinhal

A coluna vertebral do cão, composta por vértebras que variam em sua conformação, desempenha um papel fundamental em proporcionar suporte e mobilidade. No entanto, suas funções não se limitam apenas a ser uma estrutura de sustentação, mas também a servir como um ponto de articulação e mobilidade, essencial para os movimentos dinâmicos e comportamentais do animal. Compreender as forças envolvidas e os mecanismos que afetam a estrutura espinhal é crucial para entender as condições clínicas associadas a distúrbios da coluna em cães, especialmente em atletas caninos e em cães sujeitos a atividades repetitivas.

A coluna cervical do cão apresenta uma variabilidade impressionante em sua estrutura, como observado no diâmetro da canal vertebral cervical, mais amplo em cães de pequeno porte, com lâminas mais finas, em comparação com cães maiores. Esse fato é relevante para o entendimento de como o corpo de um cão se adapta ao movimento e ao impacto, principalmente nas articulações entre as vértebras. As superfícies articulares das vértebras formam junções que permitem movimentos limitados, mas essenciais, para a flexibilidade da coluna. No entanto, as vértebras sacrais são fundidas, o que reduz sua mobilidade.

A transição entre as diferentes regiões da coluna vertebral — como na junção cervicotorácica, toracolombar e lumbossacral — é onde as forças de movimento se concentram. A mobilidade aumentada nessas áreas faz com que se tornem locais de maior desgaste, devido ao impacto constante e ao estresse mecânico gerado durante a locomoção e outros movimentos. Essas junções são altamente suscetíveis a processos degenerativos, como osteoartrite ou até doenças mais graves, como a mielopatia.

Uma das características importantes da coluna vertebral canina é o papel das ligamentos interespinhosos, que estabilizam os processos espinhosos das vértebras. No entanto, é a interação entre as forças dinâmicas e estáticas da coluna que determina o risco de lesões. O estudo das forças que atuam nas articulações vertebrais revelou que movimentos como subir e descer escadas, ou mesmo o simples movimento de sentar e levantar, geram forças significativas sobre as facetas articulares. Essas forças podem resultar em danos nas estruturas articulares, especialmente quando realizadas repetidamente sem recuperação adequada.

Os discos intervertebrais desempenham um papel crucial na absorção de forças entre as vértebras. Com uma parte central composta por uma substância gelatinosa, o núcleo pulposo, que se adapta a movimentos dorsoventrais e laterais, o disco ajuda a distribuir as forças geradas ao longo da coluna. No entanto, à medida que o disco se degenera, sua capacidade de absorver essas forças diminui, o que pode levar à compressão das estruturas ao redor, aumentando o risco de danos nos ossos e nas articulações.

A degeneração dos discos intervertebrais é frequentemente diagnosticada por radiografia convencional ou técnicas de imagem avançadas. Contudo, muitos cães apresentam alterações degenerativas sem déficits neurológicos evidentes. Isso sugere que a biomecânica da coluna pode estar comprometida, mesmo quando não há sinais clínicos evidentes. A degeneração espinhal pode levar à diminuição da capacidade funcional e a dores nas articulações, principalmente em cães de grande porte ou em animais com alta demanda de movimentos repetitivos.

Em cães atletas, por exemplo, o treinamento e a competição podem forçar os tecidos musculares e ósseos além de seus limites naturais. Isso pode causar danos cumulativos, como microfraturas, que ao longo do tempo comprometem a resistência óssea e sua capacidade de absorver tensões adicionais. Microfraturas nos ossos são uma ocorrência comum em cães atletas, especialmente quando os períodos de recuperação entre os exercícios são insuficientes. Esse tipo de dano pode levar à diminuição da rigidez óssea e ao aumento da probabilidade de fraturas patológicas.

A prevenção e o tratamento eficaz de tais lesões exigem uma abordagem cuidadosa, focada no fortalecimento dos componentes ósseos e tecidos moles, como a musculatura central. A construção de ossos fortes é essencial para lidar com os estresses impostos durante atividades intensas, mas a proteção contra esses estresses também depende da força dos tecidos moles. Além disso, o tempo adequado de recuperação entre atividades intensas é crucial para prevenir a acumulação de microfraturas e permitir que os ossos e articulações se recuperem adequadamente.

A compreensão de como as forças atuam sobre a coluna canina e como a degeneração espinhal se desenvolve pode fornecer insights valiosos sobre o manejo de cães com doenças espinhais, como a mielopatia. Em particular, é importante que os profissionais da saúde animal considerem as implicações da degeneração intervertebral e as mudanças biomecânicas que podem ocorrer ao longo do tempo, mesmo sem déficits neurológicos evidentes.