O racismo estrutural, embora muitas vezes invisível para aqueles que não são diretamente afetados por ele, molda profundamente as políticas públicas, especialmente no contexto do voto e da representação política. A discriminação racial começa muitas vezes desde a infância, como mostrado em vários estudos, onde se observa que, aos sete anos de idade, crianças brancas já começam a internalizar a ideia de que pessoas negras sentem dor de maneira menos intensa que brancos. Esse preconceito é mais do que uma mera falácia social, pois se reflete diretamente no tratamento desigual em setores essenciais, como a saúde e o sistema de justiça. Profissionais da saúde, por exemplo, tendem a prescrever menores doses de medicamentos para a dor a pacientes negros, refletindo uma crença cultural profundamente enraizada de que as pessoas negras experimentam menos dor do que os brancos.
Além disso, no sistema judicial, homens negros recebem penas, em média, 20% mais longas do que homens brancos por crimes idênticos. Este viés racial também se estende ao processo eleitoral, onde políticos inescrupulosos frequentemente usam a raça como uma arma para dividir a população e justificar políticas que dificultam o acesso de grupos minoritários ao voto. A manipulação da questão racial no voto não é um fenômeno recente. Exemplos de campanhas políticas que mobilizam o voto branco em detrimento de outras etnias são evidentes, como as campanhas de "lei e ordem" de Richard Nixon ou as declarações de figuras políticas contemporâneas, como Donald Trump, cujas falas desdenhosas sobre países africanos e sobre a inteligência de pessoas negras refletem um racismo descarado.
Embora a ideia de superioridade branca seja muitas vezes inconsciente para grande parte da população branca, quando é usada de maneira estratégica para manipular votos e eleger candidatos que favoreçam certos interesses, ela torna-se uma ferramenta corrosiva para a democracia. Este fenômeno não é limitado ao campo político. Há uma relação intrínseca entre a estrutura racial da sociedade e as dinâmicas econômicas que perpetuam a desigualdade. A estrutura de poder, controlada predominantemente por elites brancas, utiliza o racismo e a desinformação para garantir que as classes mais favorecidas mantenham o controle sobre os mecanismos que determinam a distribuição de riqueza e poder.
A influência do poder econômico na política é outro fator central no enfraquecimento da democracia. A relação entre bilionários e políticas que limitam o acesso de determinadas populações ao voto não é coincidência. Na verdade, muitos dos bilionários que financiam campanhas políticas e grupos de lobby estão profundamente comprometidos em manter sistemas que favorecem os ricos, enquanto limitam o poder político de pessoas das classes mais baixas, especialmente as minorias raciais. Esse grupo de bilionários, através de suas fortunas, consegue influenciar significativamente o processo político, criando um sistema que favorece os interesses corporativos e o status quo.
O exemplo dos Koch, uma das famílias mais influentes nos Estados Unidos, exemplifica como as elites econômicas manipulam o sistema político em benefício próprio. Fred Koch, patriarca da família, foi um defensor do John Birch Society, que se opôs a qualquer tentativa de diminuir os poderes dos muito ricos ou de elevar a classe trabalhadora. Essa ideologia radical de defesa do egoísmo absoluto foi disseminada ainda mais por figuras como Ayn Rand, cujas ideias sobre a glorificação da riqueza herdada e da falta de responsabilidade social se tornaram pilares de movimentos libertários nos Estados Unidos. Esses movimentos, embora se apresentem como promotores da liberdade individual, na realidade, servem apenas para proteger os interesses dos mais ricos, garantindo que o poder político e econômico continue concentrado nas mãos de poucos.
Nos anos 1970, os filhos de Fred Koch, influenciados por essas ideias, começaram a aplicar esses princípios ao dirigir os negócios familiares e apoiar movimentos que favoreciam a desregulamentação e a redução de impostos para os mais ricos. A criação do Partido Libertário foi uma consequência direta dessa estratégia, e seu objetivo principal era garantir que as grandes corporações e os bilionários tivessem ainda mais influência sobre o governo e as políticas públicas.
Esse contexto de manipulação do voto e do poder político por elites econômicas não é limitado a um único país ou período histórico. O impacto do neoliberalismo e do libertarianismo, que promovessem uma agenda de desregulamentação e privatização, tem efeitos globais devastadores, como evidenciado pelo colapso democrático no Chile e na Rússia. No entanto, o impacto mais imediato pode ser observado na forma como a política dos Estados Unidos, por exemplo, é moldada por esses interesses econômicos, com grandes influências sobre as leis eleitorais e a redistribuição de poder.
O racismo, em sua forma mais estruturada e sistêmica, não apenas divide as pessoas em termos de oportunidades econômicas e sociais, mas também limita o acesso dessas populações a mecanismos de representação política e participação democrática. Quando a raça é usada como uma ferramenta para manipulação eleitoral, as políticas que emergem dessas divisões não são apenas injustas, mas também destroem as fundações de uma democracia saudável. Para que qualquer mudança significativa ocorra, é essencial que os cidadãos se tornem mais conscientes desses mecanismos de controle e busquem alternativas que promovam a equidade racial e econômica em todas as esferas da sociedade.
Como o Partido Republicano dos EUA usa a supressão de votos para manter o poder político
A ascensão de George W. Bush à presidência dos Estados Unidos, em 2000, não pode ser compreendida fora do contexto da supressão de votos. Seu irmão, Jeb Bush, então governador da Flórida, e a secretária de estado do mesmo estado, Katherine Harris, foram responsáveis por excluir entre 20.000 e 90.000 eleitores afro-americanos das listas de votação. Essa manobra foi suficiente para tornar a eleição disputada o bastante para que cinco juízes da Suprema Corte — todos indicados por presidentes republicanos — pudessem efetivamente entregar a presidência a Bush. Apesar de essa informação ter sido documentada em duas grandes investigações da BBC em 2001, não teve cobertura significativa na grande mídia americana.
A partir desse precedente, o Partido Republicano refinou sistematicamente seus métodos de supressão e intimidação de eleitores. Em 2016, cerca de 30 estados já operavam verdadeiras máquinas de exclusão eleitoral. Entre 2012 e 2016, Ohio removeu mais de dois milhões de eleitores dos registros, sendo que a grande maioria desses eleitores vivia em condados predominantemente afro-americanos e latinos. Em 2017, a Suprema Corte — mais uma vez dominada por juízes republicanos — validou essa prática, encorajando outros estados a adotarem a chamada técnica de voter caging: enviam cartões-postais aos eleitores registrados e, caso estes não sejam devolvidos, os nomes são eliminados das listas.
Em Wisconsin, segundo o New York Times, cerca de 17.000 eleitores foram impedidos de votar em novembro de 2016 por não possuírem os documentos exigidos por uma nova lei estadual, promovida pelo então governador Scott Walker. Segundo o jornalista Ari Berman, até 300.000 residentes do estado sequer conseguiam se registrar para votar devido às novas exigências legais. A dinâmica é clara: bilionários e grandes corporações investem centenas de milhões de dólares no Partido Republicano, que, em troca, aprova leis e cortes de impostos que beneficiam esses mesmos financiadores. Um ciclo de retroalimentação é estabelecido, onde parte ínfima dos lucros retorna ao sistema político sob a forma de financiamento de campanhas, perpetuando o controle oligárquico.
O American Legislative Exchange Council (ALEC), uma organização fortemente financiada pela rede Koch e outros bilionários, está na vanguarda dessa ofensiva. Legisladores republicanos associados ao ALEC introduziram a maioria das leis estaduais que restringem o acesso ao voto. O próprio ALEC produziu modelos legislativos destinados a institucionalizar essas práticas. É compreensível: o eleitor médio americano rejeita a ideia de que bilionários e grandes empresas determinem o rumo da política nacional. A resposta dos interesses dominantes foi excluir esses eleitores do processo democrático.
Apesar da falta de transparência nas estatísticas — secretários de estado republicanos frequentemente se recusam a divulgar os dados completos sobre os expurgos — investigações revelam números alarmantes. O jornalista Greg Palast obteve listas que revelam, por exemplo, a exclusão de mais de 90.000 eleitores em áreas majoritariamente democratas em Nevada, 769.436 no Colorado, 340.134 na Geórgia, 550.000 em Illinois e 469.000 em Indiana, além de um número não revelado em Nebraska.
Se não fossem essas purgas sistemáticas, e a exclusão de jovens, idosos e pessoas pobres por meio das leis de identificação eleitoral, é quase certo que os presidentes eleitos teriam sido Al Gore e Hillary Clinton, e a Suprema Corte teria hoje maioria democrata de pelo menos seis a três. Com a manutenção desse esquema, o Partido Republicano sustenta uma estrutura hostil à classe trabalhadora, onde os salários da metade inferior da população vêm caindo desde a eleição de Ronald Reagan, em 1980.
Essa lógica, no entanto, não é nova. John Adams, em carta a James Sullivan em 1776, advertia contra a ampliação do direito ao voto, temendo que mulheres, jovens e pobres exigissem representação política. Para Adams, tal cenário ameaçaria as distinções sociais, nivelando todas as classes. Em contrapartida, figuras como Benjamin Franklin e Thomas Paine defendiam o voto universal. Paine, em particular, denunciava os ricos como presumivelmente desonestos e via a tentativa de privar qualquer grupo do direito ao voto como equivalente à expropriação de seus bens.
O projeto político republicano, desde os anos 1970, tem como objetivo central capturar o controle do Estado e transformá-lo em uma máquina de lucro privado. Isso se dá à custa da destruição das garantias democráticas mais básicas e da erosão do princípio de soberania popular. A arquitetura institucional americana — com seu sistema de colégio eleitoral e distritos manipuláveis — foi adaptada e instrumentalizada por elites econômicas que jamais toleraram a ideia de uma verdadeira democracia participativa. Por trás das narrativas de liberdade e patriotismo, esconde-se uma guerra contínua contra o voto, travada por aqueles que sabem que uma população plenamente representada colocaria em risco seus privilégios.
Além do que já foi exposto, é fundamental compreender que a supressão de votos não é apenas uma questão técnica ou jurídica, mas um mecanismo estratégico de dominação de classe. O controle sobre quem vota é, em última instância, controle sobre quem governa — e sobre quem lucra. Enquanto o acesso ao voto for desigual, a promessa democrática permanecerá uma ilusão. O sistema foi desenhado para resistir à participação popular, e sua manutenção depende da exclusão deliberada de milhões de vozes. Sem uma reestruturação profunda das regras eleitorais, da transparência institucional e do financiamento de campanhas, os ciclos de dominação se repetirão indefinidamente, blindando os interesses econômicos contra as demandas da maioria.

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