A ascensão da alt-right nas últimas décadas é marcada pela utilização de plataformas digitais para espalhar ideologias extremistas, frequentemente mascaradas sob o véu de uma busca por "verdade objetiva" e liberdade de expressão. Segundo Anglin (2016), os indivíduos que aderem a essa ideologia não se veem como puramente motivados por preconceitos, mas sim como participantes de um movimento em busca de uma realidade mais "verdadeira", muitas vezes reinterpretada sob uma ótica distorcida de ciência e história. Este movimento, embora tenha se popularizado na internet, remonta a tradições mais antigas de nacionalismo branco e racismo.
Em um paralelo com a propaganda nazi, Anglin e outros membros da alt-right utilizam os mesmos métodos para atrair atenção e manipular o público. Hitler, em sua obra "Mein Kampf" (1925-6), descreveu a propaganda como um instrumento essencial para a manipulação das massas, uma ferramenta que busca não educar, mas criar uma convicção generalizada sobre certos temas, apelando mais para os sentimentos do que para a razão. A alt-right adota essa estratégia ao criar slogans e memes que são repetidos incansavelmente até que se tornem verdades aceitas por seus seguidores. Essa técnica, hoje, é amplificada pela internet, onde informações e desinformações circulam de maneira instantânea e viral.
O discurso da alt-right é marcado por uma rejeição explícita das normas modernas, particularmente as relacionadas ao feminismo, à igualdade de gênero e ao multiculturalismo. Anglin e seus seguidores se opõem a qualquer movimento que defenda os direitos das mulheres e das minorias, propondo um retorno a um passado idealizado onde as mulheres são vistas como responsáveis apenas pela criação dos filhos e pela manutenção da casa. Além disso, o movimento se opõe abertamente aos direitos dos LGBT+ e à ideia de um estado plural e multicultural, advogando pela criação de um "estado étnico branco" e pela implementação de políticas que suprimam as liberdades individuais em nome da "moralidade".
Os memes, como o famoso "Pepe" o sapo, se tornaram um símbolo de resistência à cultura dominante e de propagação das ideologias extremistas. Esses memes não são apenas formas de humor ou ironia; são, na verdade, ferramentas poderosas de propaganda, permitindo que a alt-right bypassasse os estereótipos tradicionais de seus movimentos. Ao utilizar símbolos e imagens aparentemente inofensivas, o movimento consegue infiltrar suas ideias em um público mais amplo, muitas vezes sem que este perceba sua verdadeira intenção.
A retórica da alt-right se baseia em um conceito de "luta" contra o que eles percebem como um sistema corrupto e dominado por uma "elite judaica". De acordo com Anglin, essa "luta" se estende globalmente, com o movimento vendo os judeus como o principal inimigo da civilização ocidental. Além disso, a alt-right também se opõe ao que considera a "degeneração" da sociedade moderna, criticando o consumismo, a criminalidade, o uso de drogas e a pornografia. Para eles, a única solução seria uma intervenção autoritária que restabelecesse a ordem e os valores tradicionais.
É importante observar que a alt-right, apesar de seu discurso fragmentado e sem uma liderança central, apresenta um núcleo ideológico comum, que inclui o racismo científico, o antissemitismo e a xenofobia. Esse núcleo é alimentado por uma narrativa que insiste que o mundo está sendo "invadido" por outras culturas e que as identidades ocidentais estão sendo diluídas por uma suposta agenda globalista.
Além disso, a alt-right frequentemente recorre a figuras públicas e eventos simbólicos para fortalecer sua presença e validar suas ideias. O caso de Charlottesville, onde manifestantes da alt-right se enfrentaram com antirracistas, é um exemplo claro de como o movimento utiliza a violência simbólica e física para reforçar suas crenças e sua visibilidade pública.
Esse fenômeno é particularmente alarmante porque, ao contrário das formas anteriores de extremismo, a alt-right se infiltra nas esferas cotidianas e nas culturas populares, utilizando ferramentas como memes, vídeos e postagens em redes sociais para alcançar uma audiência global. A violência, portanto, não se limita apenas ao confronto físico, mas também à manipulação mental e emocional dos indivíduos, conduzindo-os a uma visão de mundo polarizada e radical.
Por fim, é necessário compreender que a alt-right não é um fenômeno isolado, mas uma convergência de várias forças sociais e políticas que se unem em torno de um ressentimento contra as mudanças sociais, culturais e econômicas ocorridas nas últimas décadas. A ascensão da alt-right é, portanto, uma resposta ao que esses grupos veem como uma perda de poder e influência nas estruturas tradicionais da sociedade. Essa percepção de declínio, alimentada por uma mistura de nostalgia e medo do desconhecido, cria um terreno fértil para a propagação de ideologias que buscam reverter as conquistas sociais dos últimos anos e restaurar uma hierarquia racial e social rigidamente definida.
O que é o "Marxismo Cultural" e por que ele é central para a ideologia da alt-right?
O conceito de "Marxismo Cultural" é um dos termos mais utilizados no vocabulário da alt-right, sendo frequentemente invocado para desqualificar uma série de movimentos sociais e culturais que a direita alternativa considera prejudiciais ao seu projeto de sociedade. Como aponta Jason Wilson (2015), "Marxismo Cultural" é uma expressão flexível que pode ser adaptada para encaixar as obsessões de diversos atores da direita, funcionando como um rótulo para tudo o que eles desaprovam, desde políticas de identidade até as questões sociais mais amplas. O termo carrega uma carga de significado específica dentro da alt-right: "politicamente correto", que nada mais é do que o respeito pela identidade e dignidade das outras pessoas, é visto como um produto do "Marxismo Cultural" e, como tal, odiado por esses grupos.
Dentro da narrativa da alt-right, o "Marxismo Cultural" é descrito como um plano mestre para a destruição da civilização ocidental, uma teoria que, segundo eles, teria sido encabeçada por acadêmicos da Escola de Frankfurt que fugiram do regime nazista na década de 1930 e se estabeleceram em Nova York. Este enredo é profundamente antissemito, vinculando a ideia de "Marxismo Cultural" a uma conspiração judaica para dominar o mundo. A construção de uma narrativa antissemita que associa os judeus a uma suposta manipulação do curso histórico global é um dos pilares dessa ideologia.
O conceito de "Marxismo Cultural" também aparece frequentemente em discursos de extrema-direita, como o manifesto de Anders Behring Breivik, o extremista norueguês responsável pela morte de 77 pessoas em 2011. Antes de cometer os atentados, Breivik divulgou um texto em que expressava sua indignação com o que ele chamava de "ascensão do Marxismo Cultural/multiculturalismo no Ocidente". Para a alt-right, o "Marxismo Cultural" é acusado de ser responsável por movimentos como os Estudos Queer, a globalização, a arte moderna que desafia os valores tradicionais, as demandas feministas por uma vida além da maternidade, os Estudos Afro-americanos, e até a ideologia pós-estruturalista que, aos seus olhos, ameaça os pilares da civilização ocidental, como o nacionalismo e o cristianismo.
Esse discurso de ódio tem sido amplamente disseminado por plataformas como The_Donald, que servem como espaços de reunião para descontentes de diversas origens, como gamers, sexistas, teóricos da conspiração e racistas. A interação entre esses grupos, que antes estavam fragmentados e distantes, foi unificada com a ascensão de Donald Trump, que deu uma nova dimensão à política de direita. Nesse contexto, a "pedagogia pública" promovida por esses espaços de discussão serve para reforçar uma identidade comum entre esses grupos, baseada no ódio ao liberalismo, ao feminismo e a qualquer forma de multiculturalismo.
Dentro dessa linguagem, um termo se destaca por sua popularização: "cuck". Inicialmente uma gíria para descrever homens submisso às suas parceiras em relações extraconjugais, a palavra foi apropriada pela alt-right como um insulto direcionado a homens considerados fracos e incapazes de defender os "valores tradicionais" de sua cultura. Esse termo se espalhou em várias formas, como "cuckservativo", para descrever conservadores vistos como brandos ou condescendentes com a invasão cultural islâmica, ou "libcuck", um termo de desdém direcionado aos liberais. Sua utilização se tornou um marco para a identificação dentro da alt-right, funcionando como uma chave para o grupo, onde a misoginia, o racismo e a intolerância se encontram em seu núcleo.
O site The_Donald é apenas uma das muitas plataformas que representam a ascensão dessa "pedagogia pública" de ódio, com um discurso que não só critica os valores liberais, mas também propaga um forte racismo, antissemitismo, islamofobia e supremacia branca. O mais alarmante é que essas ideias não são mais confinadas a círculos fechados da internet, mas se espalham para uma audiência maior, incluindo jovens que se encontram imersos nesse ambiente digital, transformando-se em novos adeptos de uma ideologia extremista.
O Instituto de Política Nacional (NPI), fundado por Richard Spencer, complementa esse discurso ao apresentar uma visão acadêmica e estratégica para o futuro de um movimento fascista. O NPI, ao contrário do The_Donald, visa um público mais intelectual e acadêmico, propondo uma visão de um futuro neo-fascista onde o nacionalismo branco e o anti-liberalismo são elevados a valores supremos. Seu discurso se opõe tanto ao conservadorismo tradicional quanto ao liberalismo, argumentando que ambos são falhos e incapazes de preservar os "verdadeiros valores" da civilização ocidental. O NPI propõe um "renascimento" das ideias nacionalistas em um contexto que desafia as noções de justiça social e igualdade, algo que eles consideram como o principal motor da decadência cultural e política.
Esse processo de criação de uma "pedagogia pública" da alt-right é um fenômeno crescente e perigoso, que utiliza a linguagem, a identidade coletiva e a construção de inimigos como ferramentas poderosas para fomentar um ambiente de radicalização. O papel de figuras como Donald Trump, que serve como um ícone para esses grupos, é central nesse processo de mobilização ideológica, mostrando como um discurso político populista pode alimentar e fortalecer essas tendências extremistas.
A radicalização dos indivíduos que passam a adotar essas ideias pode ser vista como um fenômeno social em ascensão, com plataformas como The_Donald e NPI atuando como pontos de convergência para um grupo que compartilha uma visão de mundo distorcida e voltada para o desmonte das instituições democráticas e a reestruturação da sociedade segundo seus próprios valores autoritários e nacionalistas.
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