O tratamento da osteoartrite em cães tem evoluído consideravelmente, com abordagens inovadoras buscando melhorar a qualidade de vida dos animais afetados. Um dos avanços mais promissores é o uso de terapias biológicas, incluindo o ácido hialurônico e as células-tronco derivadas de adipócitos, ambas com a capacidade de modular processos inflamatórios e promover a regeneração das articulações. Neste contexto, estudos recentes têm mostrado a eficácia dessas terapias em modelos caninos, oferecendo uma alternativa às abordagens tradicionais, como medicamentos anti-inflamatórios e cirurgias invasivas.

O ácido hialurônico, conhecido por suas propriedades viscoelásticas, tem sido utilizado para melhorar a mobilidade das articulações, além de atuar como lubrificante nas articulações afetadas pela osteoartrite. Ele é frequentemente administrado por meio de injeções intra-articulares, visando a restauração das propriedades viscoelásticas do líquido sinovial, proporcionando alívio da dor e melhorando a função articular. Estudos clínicos mostraram que a injeção de ácido hialurônico pode reduzir significativamente os sinais de dor e rigidez em cães com osteoartrite de quadril, além de promover a regeneração da cartilagem articular danificada.

Além disso, as células-tronco derivadas de adipócitos (células mesenquimatosas) também têm se destacado como uma opção terapêutica eficaz no tratamento da osteoartrite canina. Essas células possuem a capacidade de se diferenciar em vários tipos celulares, incluindo condrócitos e osteoblastos, contribuindo para a regeneração da cartilagem articular e a modulação das respostas inflamatórias. Em um estudo realizado em cães, a aplicação de células-tronco adiposas demonstrou uma redução significativa nos sintomas de dor e inflamação, além de melhorar a função das articulações afetadas. Esse tratamento, frequentemente realizado por injeção intra-articular, oferece uma alternativa promissora, especialmente quando os tratamentos convencionais não são eficazes.

Estudos também têm investigado a combinação de terapias, como o uso de células-tronco e ácido hialurônico, com o intuito de potencializar os efeitos regenerativos e anti-inflamatórios. A associação dessas terapias tem mostrado resultados promissores, com uma melhora significativa na mobilidade e qualidade de vida dos cães afetados por osteoartrite. Embora essas terapias estejam sendo amplamente exploradas em estudos clínicos, ainda existem muitas variáveis a serem analisadas, como o tipo de células-tronco utilizadas, a dosagem e a frequência das aplicações.

Porém, o uso dessas terapias não está isento de desafios. A aplicação de células-tronco, por exemplo, requer técnicas especializadas para a coleta e preparação das células, além de uma análise cuidadosa do perfil do paciente canino. O mesmo se aplica ao ácido hialurônico, que, embora amplamente utilizado, precisa ser administrado adequadamente para garantir sua eficácia. Em ambos os casos, a monitorização constante dos resultados e o acompanhamento pós-tratamento são essenciais para avaliar os benefícios a longo prazo e garantir a segurança do tratamento.

É importante que os profissionais veterinários estejam bem informados sobre os avanços nessas terapias para que possam oferecer aos tutores de animais com osteoartrite opções de tratamento adequadas. Além disso, o conhecimento sobre a interação dessas terapias com outras modalidades, como o uso de plasma rico em plaquetas ou o condicionamento autólogo do soro, também é fundamental para otimizar os resultados clínicos.

De maneira geral, o ácido hialurônico e as células-tronco derivadas de adipócitos apresentam-se como opções terapêuticas promissoras para o tratamento da osteoartrite em cães. Apesar de os resultados até o momento serem bastante positivos, é fundamental uma abordagem clínica personalizada, considerando o estágio da doença, o estado de saúde geral do animal e as opções terapêuticas disponíveis. O avanço das pesquisas científicas e a experiência clínica de veterinários especializados contribuirão para o aprimoramento desses tratamentos e a promoção do bem-estar animal.

Como o Exercício Pode Promover a Recuperação em Pacientes com Doenças Neurológicas: Abordagens Terapêuticas para Reabilitação

O processo de recuperação de pacientes com condições neurológicas é complexo e exige uma abordagem multidisciplinar. Entre as várias formas de tratamento, o exercício terapêutico tem se mostrado uma das estratégias mais eficazes. Ele promove a regeneração das fibras musculares, estabelece novas conexões neuromusculares e favorece a neuroplasticidade (Fu et al., 2016). Esse efeito do exercício no cérebro é amplamente documentado, já que ele melhora a função cerebral ao promover a plasticidade sináptica, aumentar a neurogênese (formação de novos neurônios) e melhorar a função cognitiva (Liang et al., 2021).

Para os pacientes veterinários com distúrbios neurológicos, muitos conceitos da fisioterapia humana podem ser adaptados para a prática clínica. Um dos princípios fundamentais adotados desde os anos 1950 em fisioterapia humana é o conceito de neurofacilitação, utilizado no tratamento de AVCs e lesões traumáticas no cérebro ou na medula espinhal. Esse método visa estimular as respostas naturais do sistema nervoso para melhorar a função motora dos pacientes com disfunções neurológicas. As diversas formas de estimulação que têm como alvo os reflexos musculares podem facilitar padrões normais de movimento e inibir aqueles patológicos. Entre as formas de estimulação estão a tátil, a vibração e a proprioceptiva, cada uma delas influenciando os reflexos musculares de maneira específica.

A estimulação de um músculo agonista, por exemplo, pode levar à inibição do músculo antagonista, um fenômeno conhecido como inibição recíproca. Isso é ilustrado pelo reflexo patelar, em que um estímulo no ligamento patelar gera sinais para a medula espinhal que estimulam a contração do quadríceps (agonista) e relaxam os isquiotibiais (antagonista), facilitando a extensão do joelho. Esse conceito é particularmente útil no tratamento de pacientes com sinais de lesão no neurônio motor superior, em que a tonificação muscular excessiva e os reflexos aumentados podem ser controlados para permitir movimentos mais coordenados.

Nos casos de pacientes com sinais de lesão no neurônio motor inferior, em que a tonificação muscular é reduzida ou ausente, o foco deve ser na estimulação dos músculos agonistas para facilitar a contração muscular. O objetivo é promover a recuperação da contração muscular normal e restaurar a funcionalidade motora. Para tanto, é essencial que os movimentos sejam iniciados de forma funcional e dirigida, respeitando o padrão de desenvolvimento ontogenético típico, como ocorre no desenvolvimento motor de bebês humanos. Movimentos como levantar a cabeça, rolar, engatinhar, ficar em pé e caminhar seguem essa sequência em todos os seres humanos e devem ser replicados em pacientes com lesões na medula espinhal, começando da posição lateral para a recumbência esternal, passando para a posição sentada, em pé e, por fim, caminhando.

O treinamento para o caminhar de animais, como cães e gatos, é igualmente crucial, mas não será eficaz se o paciente não for capaz de ficar de pé de forma independente. Em pacientes com lesões na medula espinhal, o treinamento locomotor em uma esteira de solo tem mostrado resultados promissores, especialmente quando iniciado logo após a lesão ou cirurgia. Estudos demonstram que o treinamento na esteira pode promover a regeneração neural e melhorar o controle motor e a coordenação dos membros torácicos e pélvicos, tanto em animais com lesões agudas quanto crônicas (Gouveia et al., 2022; Shibata et al., 2021). Um estudo envolvendo cães com lesões crônicas mostrou que a combinação de esteira com suporte de peso corporal e outras técnicas de reabilitação intensiva levou à recuperação da ambulação em uma grande porcentagem dos pacientes.

A neuroplasticidade, capacidade do sistema nervoso de criar novos caminhos neuronais por meio do crescimento axonal e da reorganização neural, desempenha um papel crucial nesse processo de recuperação. Contudo, esse processo tem um tempo limitado. Por isso, o início precoce dos exercícios terapêuticos, baseados em funções específicas e no padrão de desenvolvimento motor, é essencial para maximizar as chances de recuperação funcional (Brown et al., 2011).

Além das lesões neurológicas traumáticas, pacientes com câncer também podem se beneficiar de intervenções terapêuticas semelhantes. Embora a literatura veterinária sobre o exercício terapêutico em pacientes com câncer ainda seja escassa, as diretrizes baseadas em evidências para humanos, como as recomendadas pela American Society of Clinical Oncology (2022), indicam que o exercício aeróbico e de resistência pode melhorar a qualidade de vida de pacientes em tratamento contra o câncer, reduzindo fadiga, melhorando a aptidão cardiorrespiratória, força física e funcionalidade, além de reduzir sintomas como ansiedade e depressão. Para animais com câncer, a prática de exercícios deve ser iniciada de forma gradual, observando a resposta do paciente, seus sinais de fadiga e capacidade de resistência.

O envelhecimento também impõe desafios adicionais para a reabilitação de cães geriátricos. O processo de envelhecimento resulta em várias mudanças progressivas no corpo do animal, tornando a recuperação mais difícil do que em pacientes mais jovens. Além disso, o envelhecimento está associado à diminuição da massa muscular e da flexibilidade, o que pode comprometer ainda mais a capacidade de um animal geriátrico de se recuperar de uma lesão ou cirurgia. Portanto, a reabilitação para esses pacientes deve ser adaptada às suas necessidades específicas, priorizando o fortalecimento muscular e a manutenção da mobilidade.

É fundamental que a reabilitação neurológica em pacientes veterinários seja realizada com foco na individualização do tratamento, adaptando as técnicas de exercício à gravidade da condição e ao estágio de recuperação do paciente.

Como a Reabilitação e o Cuidado Pós-Operatório Influenciam na Recuperação de Lesões Musculares no Membro Pélvico Canino?

Após a aplicação do reparo para imobilizar o tálus a 160 graus de extensão, a recuperação de lesões no membro pélvico canino exige uma série de cuidados contínuos, com ênfase em terapias de reabilitação e exercícios terapêuticos progressivos. A reabilitação pós-operatória deve ser cuidadosamente planejada, levando em consideração não apenas a recuperação da função, mas também o fortalecimento gradual das estruturas envolvidas. O objetivo é promover a recuperação da mobilidade do tálus e ao mesmo tempo prevenir sobrecargas e lesões adicionais.

Nos primeiros dias pós-operatórios, os tutores devem seguir uma rotina de caminhadas curtas, com a coleira, para evitar sobrecarga e permitir a recuperação inicial. Um fixador externo é mantido na posição bloqueada por 14 dias, sendo crucial para a estabilidade da articulação. Durante as semanas subsequentes, os exercícios terapêuticos evoluem, com a remoção gradual do fixador externo, permitindo a introdução de atividades como caminhada em colinas e exercícios de equilíbrio. Aos 8 a 12 semanas, o fixador externo é removido, e um suporte ortopédico pode ser utilizado quando o animal não está confinado ou descansando.

O uso da hidroterapia também se torna uma parte importante da recuperação, já que a água ajuda a aliviar a pressão nas articulações e promove o fortalecimento muscular de maneira controlada. Além disso, a massagem e os alongamentos são encorajados, permitindo que o animal se recupere com maior conforto em casa. Aos 16 semanas, a transição para atividades sem restrição é feita de forma gradual, iniciando com caminhadas em terrenos planos e avançando para subidas em colinas leves.

Em relação às lesões musculares específicas no membro pélvico, o músculo iliopsoas, que consiste na fusão do psoas maior e do iliaco, é frequentemente afetado. A lesão desse músculo ocorre principalmente durante contrações excêntricas, ou seja, quando o músculo se contrai enquanto está sendo alongado. A área mais fraca é a junção músculo-tendão, e os danos podem ser exacerbados por treinamento inadequado, falta de aquecimento e fadiga. O excesso de uso ou movimentos repentinos de abdução ou extensão do quadril são fatores que contribuem para o aparecimento dessas lesões, frequentemente observadas em cães de performance, como os de agilidade.

Outro ponto crucial a ser observado é o tendão do pes anserinus, que se localiza na face medial do fêmur proximal. Este grupo tendinoso, composto pelos músculos sartorius, gracilis e semitendinosus, é responsável por movimentos de flexão do quadril e extensão do tornozelo. Lesões nesse tendão podem causar dor e claudicação, frequentemente confundidas com lesões do ligamento cruzado cranial (LCA) ou do ligamento colateral medial. Em casos pós-cirúrgicos, o pes anserinus pode ser uma fonte significativa de desconforto, especialmente após osteotomias tibiais, como TPLO ou TTA.

A distensão proximal do sartorius também é uma lesão comum, particularmente em cães de esporte. Esse músculo, que é responsável por movimentos complexos no quadril, frequentemente apresenta pontos gatilho, onde o acúmulo de dor muscular se torna um obstáculo à recuperação total do animal. A miofascite e os pontos gatilho são um desafio para cães que realizam atividades de alto desempenho, pois o uso excessivo e a fadiga podem gerar dor muscular e dificultar a movimentação normal.

Quanto às miopatias dos músculos gracilis, semitendinosus e semimembranosus, elas podem ocorrer de forma isolada ou em conjunto, especialmente em raças ativas, como os pastores alemães. A etiologia dessas lesões é, muitas vezes, desconhecida, mas fatores como trauma agudo, uso repetitivo, doenças autoimunes, infecções e distúrbios neurogênicos podem estar envolvidos. No entanto, as lesões musculares resultantes de trauma indireto, como isquemia, podem levar à fibrose e contratura, resultando na substituição do tecido muscular por tecido conjuntivo denso, dificultando ainda mais a recuperação.

Por fim, a recuperação dessas lesões musculares e articulares requer uma abordagem multidisciplinar, que combine o uso de dispositivos ortopédicos, terapias manuais, exercícios de fortalecimento progressivo e estratégias de hidroterapia. O acompanhamento contínuo por parte de veterinários e especialistas em reabilitação é crucial para garantir que o cão recupere a mobilidade e a função completas, permitindo o retorno seguro às suas atividades normais.

Como aumentar a força e a resistência muscular dos cães: Exercícios direcionados para melhorar o desempenho atlético

Os cães atléticos, assim como os atletas humanos, podem se beneficiar de um regime de treinamento que visa melhorar sua força, resistência e agilidade. Existem diversos exercícios eficazes para fortalecer tanto os músculos de estabilização quanto os músculos de movimento, e uma abordagem bem estruturada pode melhorar significativamente o desempenho do cão, especialmente em atividades como agilidade, caça ou corrida. A seguir, serão descritos alguns exercícios direcionados que podem ser incorporados à rotina de treinamento de qualquer cão ativo, com foco no fortalecimento muscular e na melhoria da coordenação.

O rastejar (Crawl)

O exercício de rastejar, realizado com o cão deitado no ventre, é um dos métodos mais eficientes para fortalecer os músculos do tronco e das pernas. A dificuldade pode ser aumentada ao variar a velocidade do movimento, parar e reiniciar o exercício, ou até mesmo fazer o cão rastejar para trás e realizar giros de 180° ou 360°. No início do treinamento, o cão pode ser incentivado a rastejar debaixo de cadeiras e, com o tempo, pode ser desafiado a passar por postes elevados. Esse exercício trabalha não apenas os músculos das patas dianteiras e traseiras, mas também ativa o core, ajudando a melhorar o equilíbrio e a coordenação.

A posição de agachamento (Crouch)

Semelhante ao exercício de rastejo, o agachamento envolve o cão posicionando-se em uma postura de flexão, com os ombros abaixados até a altura do ombro do cão enquanto ele permanece estático ou se move. Com as extremidades anteriores do corpo próximas ao solo e as traseiras mais altas, esse movimento ativa principalmente os músculos do core e os flexores das patas traseiras. Isso também melhora a capacidade do cão de manter o equilíbrio em terrenos irregulares.

Rolar (Roll Over)

O exercício de rolar começa com o cão deitado de costas e a recompensa sendo posicionada próximo ao ombro do animal. A medida que o cão tenta pegar a recompensa, seu corpo automaticamente se vira. Com o tempo, o cão pode ser treinado para rolar em diferentes direções, o que ajuda a fortalecer o core e os músculos laterais. Uma forma de aumentar a dificuldade é ensinar o cão a rolar sobre um obstáculo macio, como uma bóia de piscina, ou em inclinações progressivamente mais íngremes.

Crunches abdominais (Abdominal Crunches)

Exercícios de crunches laterais e ventrais são essenciais para fortalecer os músculos abdominais do cão. No exercício lateral, o cão é posicionado de lado, e o treinador segura o cotovelo do membro torácico inferior enquanto o cão é atraído a mover a cabeça em direção à região da virilha, ativando os músculos abdominais laterais. Já o crunch ventral é realizado com o cão deitado de costas, sendo incentivado a levar a cabeça em direção ao peito, utilizando os músculos abdominais ventrais para alcançar a recompensa.

A prancha (Plank)

A prancha é um exercício que visa melhorar a força do core, colocando o cão em uma posição onde as patas dianteiras estão apoiadas em um objeto estável e as patas traseiras em outro, de modo a formar uma linha reta. A dificuldade desse exercício pode ser aumentada ao aumentar a distância entre os dois objetos ou ao realizar o exercício em uma superfície instável, como uma bola de exercício. O cão pode ser desafiado a manter a posição de prancha por períodos de 30 a 45 segundos, o que exige grande esforço muscular e controle postural.

Exercícios de força para os membros torácicos

Diversos exercícios visam fortalecer os membros dianteiros do cão, como o exercício de “aceno” (Wave), onde o cão é ensinado a levantar e manter a pata dianteira elevada por até 30 segundos. Esse movimento não apenas trabalha os músculos flexores, mas também os músculos estabilizadores da pata que permanece no chão. Outro exercício eficaz é o de "high-nines", onde o cão coloca suas patas em diferentes locais ao longo do corpo do treinador, estimulando os músculos das pernas dianteiras de diferentes formas. O exercício de "carrinho de mão" (Wheelbarrow), onde as patas traseiras do cão são levantadas e o cão é guiado para caminhar com as patas dianteiras, também é muito eficaz para fortalecer os membros torácicos, especialmente quando o cão é incentivado a subir escadas ou a caminhar sobre obstáculos.

O handstand

O handstand é um dos exercícios mais desafiadores e eficazes para melhorar a força e a coordenação do cão. Inicialmente, o cão é treinado para caminhar para trás em uma rampa inclinada contra uma parede, até que eventualmente consiga ficar de pé sobre as patas dianteiras, com as patas traseiras suspensas. Esse exercício exige não apenas força, mas também grande controle do core e equilíbrio, sendo uma excelente maneira de preparar o cão para atividades como saltos ou paradas rápidas em competições de agilidade.

Além dos exercícios específicos descritos, é importante lembrar que o treinamento deve ser progressivo e adaptado às necessidades de cada cão. O descanso adequado, a alimentação balanceada e a avaliação contínua da condição física do cão são fundamentais para evitar lesões e garantir que o treinamento seja eficaz. Assim, os donos devem estar atentos ao comportamento do animal, respeitando seus limites e proporcionando recuperação quando necessário. A combinação desses exercícios com atividades lúdicas e de socialização pode contribuir para a saúde geral do cão, tornando-o mais forte, ágil e preparado para enfrentar qualquer desafio.

Como o uso de AINEs e opioides impacta o manejo da dor em cães: Riscos, benefícios e alternativas

O uso de anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) em cães é amplamente utilizado no manejo da dor, especialmente em casos de osteoartrite ou após procedimentos cirúrgicos. Contudo, o uso inadequado desses medicamentos pode resultar em efeitos adversos graves, sendo essencial um monitoramento rigoroso e uma comunicação clara entre veterinário e responsável pelo animal. A prevenção de eventos adversos relacionados aos AINEs depende, em grande parte, da equipe veterinária, que deve adotar as melhores práticas médicas e realizar uma educação eficaz dos proprietários sobre os riscos e a administração adequada dos medicamentos. Estudos indicam que 75% dos donos que reportaram efeitos adversos à FDA acreditam que não foram suficientemente informados sobre os potenciais efeitos colaterais ou não receberam as informações necessárias sobre o medicamento (Hampshire et al., 2004). A principal forma de evitar tais complicações está na abordagem proativa da equipe veterinária, que deve fornecer todas as orientações necessárias.

No contexto do uso de AINEs, a aplicação pré-operatória de medicamentos tende a ser mais eficaz do que a administração pós-operatória, tanto em estudos humanos quanto caninos. De fato, revisões sistemáticas sugerem que o uso pré-operatório de AINEs em humanos é seguro (Lee et al., 2007), e estudos com cães saudáveis também apontam segurança, mesmo em casos de hipotensão intraoperatória moderada (Bostrom et al., 2002). Em qualquer situação, é fundamental que o paciente sob anestesia geral receba suporte intravenoso adequado e monitoramento da pressão arterial, práticas que são hoje consideradas axiomas na medicina veterinária.

Entre os medicamentos mais recentes, destacam-se os novos AINEs da classe 1, como o Grapiprant (Galliprant®), que representa uma inovação significativa. Ao invés de inibir a COX2, o Grapiprant age especificamente no receptor EP4, um dos quatro receptores EP encontrados nas membranas celulares, aos quais a PGE2 se liga. Este medicamento é particularmente útil no tratamento da dor e inflamação associada à osteoartrite em cães, ao mesmo tempo em que minimiza o risco de erosões gastrointestinais, úlceras e perfurações, efeitos frequentemente associados aos AINEs tradicionais. Em estudos de segurança com cães jovens e saudáveis, mesmo doses superiores a 15 vezes a dose recomendada por períodos prolongados não causaram efeitos adversos significativos, como erosões ou toxicidade renal e hepática (Rausch-Derra et al., 2015).

Outro medicamento relevante é o Robenacoxib (Onsior®), um AINE seletivo para COX2, que tem uma meia-vida plasmática curta (<1,7 horas), mas acumula-se nos exsudatos inflamatórios por mais de 24 horas. Estudos demonstraram que este fármaco é bem tolerado por cães jovens, mesmo em doses elevadas, e sua eficácia na dor pós-operatória, especialmente relacionada à osteoartrite, é bem documentada (Silber et al., 2010). No entanto, a formulação oral foi retirada do mercado nos Estados Unidos, embora o medicamento ainda seja utilizado na União Europeia para tratamento da osteoartrite canina.

Outros fármacos, como o Enflicoxib (Daxocox®) e o Mavacoxib (Trocoxcil®), disponíveis apenas na Europa, são AINEs de longa duração, com efeitos de até uma semana e um mês, respectivamente. Embora sua eficácia e segurança sejam comparáveis aos AINEs tradicionais, o uso desses medicamentos pode ser mais complexo caso ocorram eventos adversos, devido à dificuldade em reverter seus efeitos rapidamente.

Em relação ao uso de Acetaminofeno, é importante notar que, embora este medicamento tenha propriedades analgésicas e antipiréticas, sua aplicação em cães deve ser cuidadosa. Não deve ser administrado em doses superiores a 325 mg duas vezes ao dia, e seu uso prolongado não é recomendado, dado que a segurança a longo prazo não foi estabelecida. Embora os cães não produzam o metabolito hepatotóxico responsável por danos hepáticos em humanos, como o NAPQI, eles podem gerar o metabolito para-aminofenol (PAP), que pode induzir metemoglobinemia e hemólise, especialmente em combinação com outros agentes hepatotóxicos. O uso de Acetaminofeno pode ser alternado com AINEs, mas sempre com cautela e em doses controladas.

No que diz respeito aos opioides, sua utilização para manejo da dor em cães é uma ferramenta poderosa, pois os receptores para opioides endógenos (como as endorfinas e enkefalinas) estão distribuídos por todo o corpo. No entanto, os opioides apresentam uma série de efeitos adversos que devem ser levados em consideração. A ativação dos receptores mu-opioides, por exemplo, inibe a liberação de neurotransmissores excitatórios, o que pode resultar em depressão respiratória e efeitos adversos em cães não dolorosos, como vômitos. Alternativas como buprenorfina e butorfanol têm ganhado destaque devido ao seu perfil de segurança mais favorável e à menor tendência a efeitos colaterais graves, como a depressão respiratória.

O uso de opioides em cães deve ser cuidadosamente monitorado, e os veterinários têm reavaliado o uso desses fármacos diante da crescente crise dos opioides e da escassez intermitente de opioides no mercado veterinário. Protocolos de analgesia não-opioides, como aqueles que priorizam fármacos não totalmente agonistas mu (como a buprenorfina), têm sido cada vez mais adotados para reduzir o risco de efeitos adversos.

Além disso, é fundamental que a administração de analgésicos, sejam AINEs ou opioides, seja sempre acompanhada de uma avaliação cuidadosa da saúde geral do animal, incluindo a função renal, hepática e a pressão arterial. A comunicação clara entre veterinário e proprietário sobre os potenciais riscos, sinais de efeitos adversos e a adesão rigorosa ao regime de tratamento são essenciais para o sucesso do manejo da dor e a prevenção de complicações. O monitoramento contínuo e a revisão regular do tratamento são fundamentais para garantir a segurança e o bem-estar do animal.