A granulomatose eosinofílica com poliangiite (EGPA), antes conhecida como síndrome de Churg-Strauss, é uma vasculite necrosante sistêmica rara, que acomete vasos de médio calibre e é caracterizada por asma, eosinofilia e granulomas extravasculares eosinofílicos. A doença é particularmente desafiadora devido à sua apresentação clínica variada e à associação frequente com manifestações pulmonares e sistêmicas, o que requer uma abordagem multidisciplinar desde o início do diagnóstico.

O diagnóstico da EGPA pode ser complexo, pois os sintomas evoluem por fases superpostas: inicialmente um período prodrômico de anos com sintomas nasais e pulmonares progressivos; depois uma fase com eosinofilia periférica elevada, frequentemente associada a infiltrados eosinofílicos em múltiplos órgãos; e, finalmente, o aparecimento da vasculite sistêmica propriamente dita. A asma de início tardio é uma característica marcante, podendo anteceder o diagnóstico por uma média de 12 anos. Os sintomas nasais incluem obstrução, rinorreia, anosmia, espirros e epistaxes, refletindo a extensa inflamação sinusal frequentemente visualizada em tomografias como opacificação pan-sinusal com formação de pólipos e mucoceles.

O exame histológico fundamental evidencia granulomas eosinofílicos extravasculares e vasculite necrosante, embora biópsias nasais sejam pouco sensíveis e geralmente requerem amostras de pele, nervo, músculo ou pulmão para confirmação. Os critérios de classificação do Colégio Americano de Reumatologia atribuem pesos a manifestações como asma, pólipos nasais, mononeurite multiplex e eosinofilia sanguínea, auxiliando na confirmação do diagnóstico.

A gestão da EGPA é complexa e depende da gravidade e da extensão do envolvimento orgânico. Corticosteroides permanecem como a base do tratamento, frequentemente combinados com agentes imunossupressores como ciclofosfamida para indução de remissão em casos graves ou ameaçadores de vida. Rituximabe surge como uma alternativa eficaz para pacientes com resposta inadequada ou contraindicações à ciclofosfamida, com estudos clínicos mostrando taxas de remissão superiores a 80%. Medicamentos biológicos, especialmente mepolizumabe, um anticorpo monoclonal anti-IL-5, demonstraram reduzir significativamente a contagem de eosinófilos e favorecer a manutenção da remissão.

Os sintomas otorrinolaringológicos, muitas vezes proeminentes, podem necessitar de terapias locais para controle da inflamação e remoção cirúrgica de pólipos ou mucoceles, facilitando a penetração de corticosteroides tópicos. A importância de um tratamento especializado em centros de vasculite se traduz em melhores prognósticos, refletindo o desafio do manejo multidisciplinar entre reumatologistas, pneumologistas e otorrinolaringologistas.

Além do controle da doença ativa, o acompanhamento rigoroso é crucial, pois a taxa de recaída permanece elevada, chegando a 50% dos pacientes em remissão. A sobrevida a longo prazo melhorou significativamente com a introdução do tratamento imunossupressor, contudo, a mortalidade ainda está relacionada principalmente ao acometimento cardíaco, presente em até 49% dos casos, e responsável pela maioria das mortes. A avaliação e monitoramento cardíaco contínuos são, portanto, imprescindíveis para reduzir o risco fatal.

Além do manejo medicamentoso e cirúrgico, é importante que o leitor compreenda a complexidade imunopatológica da EGPA, que envolve não apenas inflamação eosinofílica mas também mecanismos autoimunes mediados por ANCA, especialmente contra MPO, presente em uma parcela significativa dos pacientes. O reconhecimento precoce dos sinais e sintomas, o diagnóstico preciso e o tratamento direcionado são essenciais para minimizar danos permanentes e melhorar a qualidade de vida.

A integração de biomarcadores emergentes e terapias específicas, como inibidores do receptor C5 (avacopan), está trazendo novas perspectivas para a personalização do tratamento, especialmente para a indução e manutenção da remissão, com menor dependência dos corticosteroides e seus efeitos adversos. O estudo contínuo da EGPA e sua inter-relação com outras vasculites ANCA-associadas reforça a necessidade de abordagens terapêuticas inovadoras e adaptadas às diferentes fases da doença.

Quais são as principais causas de vertigem e tontura em crianças e como devem ser manejadas?

A vertigem em crianças é um sintoma frequentemente subestimado e, em muitos casos, interpretado de forma imprecisa. Ao contrário dos adultos, onde certas patologias vestibulares são bem caracterizadas, em crianças as apresentações são diversas, sutis e frequentemente confundidas com outras condições clínicas ou comportamentais.

As causas mais comuns de vertigem e tontura em crianças incluem vertigem migranosa e equivalentes de enxaqueca, episódios vasovagais, otite média com efusão, distúrbios visuais e causas psicogênicas. Dentre essas, a vertigem migranosa merece atenção especial: embora comum, ela se manifesta de maneira distinta em relação aos adultos, frequentemente sem dor de cabeça evidente. Episódios de vertigem episódica, acompanhados de alterações visuais ou auditivas, podem ser o único sinal clínico de enxaqueca em crianças.

A sensação d

Como Diagnosticar e Tratar a Atrasia de Coanas e Outras Anomalias Nasais Congênitas

Atrasia de coanas é uma condição rara, mas grave, que pode afetar a respiração de recém-nascidos e bebês. Ela se caracteriza pela obstrução das vias nasais, impedindo a passagem de ar para os pulmões, o que pode resultar em hipoxia e dificuldades respiratórias. A forma clássica de apresentação da atrasia de coanas é a hipoxia cíclica: o bebê chora, respirando pela boca, o que alivia temporariamente a falta de oxigênio, mas logo fecha a boca, lutando para respirar novamente. Esse ciclo de hipoxia pode causar falha no crescimento e afetar o desenvolvimento cerebral. Muitas crianças com atrasia unilateral (e, ocasionalmente, bilateral) conseguem sobreviver ao período neonatal sem intervenção, mas podem desenvolver sintomas como secreção nasal unilateral ou dificuldade respiratória na infância.

É fundamental realizar um exame clínico detalhado para diferenciar a atrasia de coanas de outras possíveis causas de obstrução nasal em recém-nascidos. Massa nasal, como meningoencefalocele e gliomas, podem ser confundidas com atrasia, mas apresentam características distintas. As meningoencefalocele envolvem herniações de tecido cerebral e meninges pela base anterior do crânio, enquanto os gliomas são massas isoladas de tecido cerebral desconectadas do cérebro. Ambas as condições podem ser diagnosticadas por exames de imagem, como tomografia computadorizada (TC), que é a melhor maneira de visualizar a extensão do problema.

Outras condições, como hemangiomas (nevos de morango), também podem causar obstrução nasal. Embora esses tumores benignos cresçam e desapareçam espontaneamente durante os primeiros anos de vida, eles podem causar dificuldades respiratórias e alimentares, exigindo, em alguns casos, tratamento. Medicamentos como corticosteroides e propranolol, bem como intervenções cirúrgicas, têm um papel no tratamento desses casos, dependendo da localização e do tamanho da lesão.

A avaliação física é crucial para determinar a urgência do caso, especialmente em situações de dificuldades respiratórias evidentes, como estertores ou recessão intercostal. O exame físico deve ser seguido por uma série de investigações, incluindo a realização de exames de imagem. O exame com endoscópio flexível é útil para observar as vias aéreas superiores e descartar a presença de atrasia de coanas ou outras obstruções nasais. Para neonatos, o uso de um gag oral ou endoscopia transoral pode proporcionar uma visão mais clara da área a ser tratada.

Além disso, todas as crianças com atrasia de coanas devem passar por uma triagem completa, conhecida como exame CHARGE, que inclui avaliação cardíaca urgente antes da cirurgia de correção. A avaliação do sistema endócrino também é recomendada, pois a atrasia de coanas pode estar associada a anomalias pituitárias ou outros distúrbios endócrinos.

A escolha do tratamento depende da gravidade da obstrução e da saúde geral da criança. Em alguns casos, uma intervenção cirúrgica para perfurar o componente membranoso da placa atresica pode ser necessária. A abordagem endoscópica, amplamente adotada atualmente, oferece melhores resultados, com menor risco de complicações e menos trauma para o palato e a base do crânio. A cirurgia deve ser realizada em centros especializados, com uma equipe multidisciplinar, incluindo neonatologistas, geneticistas, cardiologistas e outros especialistas, pois crianças muito pequenas e com condições sindrômicas apresentam maiores desafios e piores resultados pós-operatórios.

Nos casos mais complexos, como os envolvendo hipoplasia maxilar ou síndromes craniossinósticas (como Crouzon, Apert, Pfeiffer e Saethre-Chotzen), a análise cuidadosa do padrão de malformações craniofaciais é essencial para determinar o melhor plano de ação. Em qualquer situação, é vital garantir que os exames de imagem forneçam informações claras sobre a quantidade de osso a ser removido, minimizando o risco de danos às estruturas adjacentes, como o palato e a base do crânio.

Em suma, o tratamento da atrasia de coanas e outras malformações nasais congênitas exige uma abordagem cuidadosa e colaborativa, com diagnóstico preciso e planejamento cirúrgico meticuloso. A detecção precoce e a intervenção adequada podem prevenir complicações graves e melhorar significativamente os resultados para os pacientes.

Como o Monitoramento da Saturação de Oxigênio Impacta as Condições Otológicas e Neurológicas

O monitoramento da saturação de oxigênio (SpO₂) tem se mostrado uma ferramenta fundamental em diversos campos da medicina, incluindo a otologia e a neurologia. Este exame, que é amplamente utilizado para monitorar a função respiratória e a oxigenação sanguínea, desempenha um papel crucial no acompanhamento de pacientes com diversas condições, desde distúrbios auditivos até complicações neurológicas graves.

Entre as condições otológicas em que a saturação de oxigênio pode ser decisiva, destaca-se o tratamento e a prevenção de complicações associadas à otite média crônica e outras doenças inflamatórias do ouvido. A otite média, particularmente a forma supurativa crônica, frequentemente leva à formação de efusões que podem obstruir o canal auditivo, dificultando a ventilação do ouvido médio. Isso pode, por sua vez, aumentar o risco de infecções e afetar a audição. O monitoramento constante da saturação de oxigênio nesses pacientes é essencial, pois mudanças nos níveis de oxigênio podem ser um indicativo de complicações respiratórias ou infecções mais graves.

Além disso, o impacto da saturação de oxigênio no tratamento de doenças otológicas não se limita apenas ao controle das infecções. Em casos de cirurgias otológicas, como a mastoidectomia ou a remoção de tumores no ouvido médio, o controle da SpO₂ ajuda a garantir que o paciente mantenha uma boa oxigenação durante o procedimento, o que pode reduzir significativamente o risco de complicações pós-operatórias. A saturação de oxigênio também é um indicador importante na avaliação de traumas no ouvido interno, como na labirintite ou nas fraturas ósseas temporais. Nestes casos, um monitoramento rigoroso permite identificar qualquer alteração nos níveis de oxigênio, sinalizando possíveis déficits auditivos ou neurológicos.

A relação entre a saturação de oxigênio e as condições neurológicas também é estreita. Pacientes com lesões intracranianas, como traumatismos cranianos, ou aqueles com encefalites e meningites, frequentemente apresentam distúrbios na oxigenação do cérebro. A saturação de oxigênio pode ser uma das primeiras medições a indicar complicações, como hipoxia cerebral, que pode resultar em danos neurológicos irreversíveis. Em traumas cranianos, a monitorização contínua é vital, pois a alteração na oxigenação pode agravar o quadro clínico, dificultando a recuperação do paciente.

Em crianças, essa prática de monitoramento é ainda mais crucial, especialmente em casos de meningite otogênica, uma complicação rara, mas grave, das infecções do ouvido. O uso da oximetria noturna pode ajudar a detectar eventuais variações nos níveis de oxigênio enquanto a criança está em repouso, permitindo intervenções rápidas antes que ocorram danos permanentes ao sistema nervoso central.

Em doenças neurológicas, como a síndrome de Pendred, um tipo de deficiência auditiva associada a problemas de tiroides, o controle da saturação de oxigênio também é relevante. Neste caso, o comprometimento da função respiratória pode ser um fator agravante, e a avaliação da SpO₂ oferece uma visão adicional sobre o estado clínico geral do paciente.

Além das condições mencionadas, a saturação de oxigênio tem um papel importante em doenças como a apneia obstrutiva do sono, que pode afetar tanto a saúde otológica quanto a respiratória. O monitoramento adequado dos níveis de oxigênio durante o sono ajuda a detectar episódios de apneia, onde a obstrução das vias aéreas superiores leva a uma queda nos níveis de oxigênio, podendo desencadear ou agravar problemas auditivos e cardiovasculares.

Em resumo, o monitoramento da saturação de oxigênio é uma ferramenta essencial para profissionais da saúde que lidam com condições otológicas e neurológicas. Sua capacidade de fornecer dados rápidos e precisos sobre a oxigenação do paciente faz dela uma tecnologia indispensável tanto para diagnósticos quanto para o acompanhamento de tratamentos e intervenções cirúrgicas. Não é apenas uma questão de monitorar os níveis de oxigênio, mas de entender como essas medições afetam, em um nível mais profundo, o funcionamento de sistemas tão interconectados como os auditivo e o neurológico.

É importante que os profissionais da saúde estejam cientes de que a SpO₂ não deve ser vista isoladamente. A interpretação dos dados de saturação de oxigênio deve sempre ser contextualizada com outros sinais clínicos e sintomas do paciente. O tratamento de qualquer doença, seja ela otológica ou neurológica, deve envolver uma abordagem multidisciplinar, levando em conta não apenas as variações nos níveis de oxigênio, mas também os efeitos que essas variações podem ter em longo prazo sobre a saúde geral do paciente.