Em geometria diferencial, uma curva é uma imagem de uma função contínua definida em um intervalo de números reais. Porém, a análise das propriedades dessas curvas requer uma atenção especial à forma como elas são parametrizadas. Parametrizações de uma curva, ao representar a mesma trajetória no espaço, podem, em muitos casos, ser diferentes em termos de como a curva é percorrida, mas essencialmente representam a mesma curva. Este conceito se entrelaça com a ideia de comprimento de arco ou variação total, um conceito fundamental na teoria das curvas e suas aplicações. A seguir, exploramos como parametrizações e o comprimento de uma curva se relacionam, além de discutir exemplos que ilustram essas noções em contextos específicos.

Quando se lida com curvas em espaços euclidianos, como no caso de uma curva regular Γ\Gamma em R2\mathbb{R}^2 parametrizada por uma função γ:[a,b]R2\gamma : [a,b] \to \mathbb{R}^2, o comprimento da curva pode ser expresso pela integral do módulo da derivada da parametrização. O comprimento L(Γ)L(\Gamma) da curva Γ\Gamma é dado por:

L(Γ)=abγ˙(t)dtL(\Gamma) = \int_a^b |\dot{\gamma}(t)| \, dt

onde γ˙(t)\dot{\gamma}(t) é a velocidade tangencial da curva no ponto γ(t)\gamma(t), ou seja, a derivada da função de parametrização. Isso implica que o comprimento de uma curva é, na prática, a soma das distâncias infinitesimais percorridas ao longo da curva. Esse conceito não depende da escolha exata da parametrização, desde que a parametrização seja regular (ou seja, tenha uma derivada contínua não nula) e o intervalo de definição seja compactado.

Uma propriedade interessante que surge ao estudar parametrizações de curvas é que uma curva regular pode ser parametrizada de diferentes maneiras, sem alterar o seu comportamento geométrico fundamental. Por exemplo, podemos ter duas parametrizações γ\gamma e γ1\gamma_1 de uma mesma curva Γ\Gamma, com intervalos de definição diferentes, mas que levam ao mesmo conjunto de pontos no espaço. A relação entre essas parametrizações pode ser descrita como uma transformação que preserva a ordem e a orientação da curva, o que implica que a imagem de γ\gamma e γ1\gamma_1 será a mesma. O comprimento total L(Γ)L(\Gamma) permanecerá invariável sob essas reparametrizações, e isso se aplica mesmo quando a parametrização não é linear.

Um exemplo claro é dado por duas parametrizações da curva Γ\Gamma no plano R2\mathbb{R}^2, onde uma é dada por γ(t)=(t,t)\gamma(t) = (t, t) e a outra por γ~(t)=(t3,t3)\tilde{\gamma}(t) = (t^3, t^3). Ambas geram a mesma curva no plano, mas as suas derivadas, γ˙(t)\dot{\gamma}(t) e γ~˙(t)\dot{\tilde{\gamma}}(t), são diferentes. Isso faz com que a parametrização γ~\tilde{\gamma} não seja uma reparametrização regular da curva γ\gamma, embora ambas representem o mesmo conjunto de pontos no espaço.

Em casos como o anterior, o conceito de comprimento de arco de uma curva retificável é bastante útil. A curva é chamada de retificável se seu comprimento total for finito. Isso implica que a função de variação total da curva, definida como a integral de sua velocidade ao longo de um intervalo, será finita. Para uma curva Γ\Gamma, essa variação total, ou comprimento, é uma constante que não depende da parametrização, como indicado pelo Teorema de comprimento de uma curva regular parametrizada γ\gamma.

A análise de curvas em coordenadas polares ou outras coordenadas mais gerais, como a parametrização de curvas logarítmicas ou helicoidais, também pode ser feita de maneira similar, utilizando-se de integrais que consideram as variações do parâmetro. Em uma curva polar, por exemplo, a parametrização pode ser dada por γ(t)=(r(t)cos(ϕ(t)),r(t)sin(ϕ(t)))\gamma(t) = (r(t) \cos(\phi(t)), r(t) \sin(\phi(t))), onde r(t)r(t) e ϕ(t)\phi(t) variam ao longo do parâmetro tt. O comprimento dessa curva é obtido pela integral da norma de sua derivada:

L(Γ)=abr˙(t)2+r(t)2ϕ˙(t)2dtL(\Gamma) = \int_a^b \sqrt{\dot{r}(t)^2 + r(t)^2 \dot{\phi}(t)^2} \, dt