Alterações sociais profundas não acontecem apenas com mudanças de opinião. A transformação de uma sociedade exige uma reformulação nas leis, nas noções públicas sobre o que é aceitável e, especialmente, nas consequências econômicas dos comportamentos que se deseja alterar. A mudança de atitudes ocorre quando há uma transformação sistêmica, quando uma nação ou sistema decide redirecionar suas normas e práticas em uma direção mais progressista. Assim, o esforço para alterar atitudes deve ser acompanhado de esforços legislativos e econômicos, criando um espaço onde os indivíduos possam, pela primeira vez, repensar suas opiniões e, muitas vezes, mudar de ideia.

Isso nos leva à estrutura mental descrita pela psicóloga Carol Tavris, que usa a imagem de uma pirâmide para ilustrar o processo de mudança de opinião. No topo da pirâmide estão aqueles que não têm uma opinião formada sobre um assunto e podem ser persuadidos. A maior parte das pessoas, no entanto, já tem crenças firmes, e essas crenças se consolidam à medida que descem pela pirâmide. Para persuadir as pessoas, a chave pode estar em envolver mais ativamente aqueles que já acreditam em temas como a justiça social e a proteção ambiental, motivando-os a se engajar mais nas questões governamentais e sociais. O papel dos ativistas e dos líderes da mudança é crucial, mas o foco deve ser em fornecer não apenas a informação, mas também as soluções. Mensagens alarmantes, como “se você fumar, vai morrer” ou “se você não agir contra as mudanças climáticas, o mundo vai acabar”, podem levar à paralisia, pois não oferecem alternativas claras. O verdadeiro efeito surge quando, junto com o medo, se apresenta uma maneira de reverter a situação, como a opção de usar preservativos para evitar doenças sexualmente transmissíveis.

O maior desafio enfrentado por aqueles que tentam mudar comportamentos em relação ao meio ambiente é o sentimento de impotência diante da magnitude do problema. Em um mundo onde ações individuais, como trocar um carro por um modelo mais eficiente em termos de combustível, parecem irrelevantes frente à escala de questões globais, a sensação de ser uma gota d'água no oceano é comum. No entanto, a chave para superar essa barreira está em mostrar resultados tangíveis: se as pessoas puderem ver concretamente os benefícios de suas ações, como a economia de água ou energia, elas terão mais confiança em suas práticas e, consequentemente, mais motivação para continuar.

A esperança, assim, torna-se a maior força motivadora. Quando as pessoas veem mudanças reais, elas são mais propensas a acreditar que é possível fazer mais. No entanto, a mudança também exige uma abordagem multifacetada. Ativistas mais extremos podem ser necessários para pressionar grandes corporações e governantes a adotar medidas regulatórias. Algumas dessas corporações, como a Shell ou grandes empresas farmacêuticas, não agirão por vontade própria ou por persuasão educada, mas sim quando forem forçadas por regulamentações, protestos e uma opinião pública mais ciente. Nesse contexto, a atuação de ativistas extremos é necessária para confrontar os maiores poluidores, enquanto os persuasores desempenham o papel de educar o público e pressionar os tomadores de decisão.

Contudo, a eficácia de qualquer movimento depende da capacidade dos ativistas e defensores de uma causa de se autoavaliarem. Todos devemos estar preparados para revisar nossas crenças, métodos e objetivos, questionando se nossas ações estão realmente sendo eficazes. A autossuficiência moral, a crença de que estamos sempre certos, é uma grande barreira à mudança. A psicologia social sugere que devemos abraçar a dissonância cognitiva, reconhecendo que nossas crenças podem estar erradas, mesmo depois de anos de convicções. A resistência ao erro é uma falha humana comum, mas é também um obstáculo no caminho para mudar a sociedade.

Um exemplo notável da luta contra a dissonância cognitiva é o caso da terapia de reposição hormonal (TRH). Carol Tavris, anteriormente uma crítica feroz da TRH por achar que era uma invenção da indústria farmacêutica para vender mais medicamentos, teve que reconsiderar sua posição após uma análise científica detalhada. Esse tipo de desconforto ao mudar de opinião é uma experiência comum quando somos confrontados com evidências que desafiam nossas crenças. Mas a chave para a evolução pessoal e social é a disposição de abandonar visões preconcebidas quando se apresenta um novo entendimento, sem se apegar a um senso de autojustificação.

Outro fenômeno psicológico crucial é o "realismo ingênuo", a tendência de acreditar que nossa própria visão do mundo é a única racional. Isso se manifesta em questões polarizadoras, como o conflito entre palestinos e israelenses ou o debate sobre as mudanças climáticas, onde ambos os lados acreditam que sua perspectiva é a única legítima. O realismo ingênuo impede a comunicação eficaz e a solução de problemas. Quando as pessoas recusam qualquer proposta, não por sua natureza, mas pelo rótulo ou origem, a polarização se torna mais profunda e difícil de superar. Para quebrar esse ciclo, é essencial ouvir as perspectivas opostas de maneira aberta, entender as fontes do medo ou da resistência, e tentar realmente compreender os argumentos do outro lado.

Em relação às mudanças climáticas, por exemplo, é necessário escutar os negacionistas com empatia para poder responder de maneira eficaz. Quando eles se sentem compreendidos, há uma chance maior de que suas opiniões se tornem mais flexíveis. O mais importante, porém, é evitar transformar o debate em uma luta de moralidades opostas, pois isso só intensifica as divisões.

A transformação social e ambiental começa com uma mudança nas leis e na percepção pública, mas deve ser acompanhada de ações tangíveis e positivas. O medo e a culpa são motivadores fracos e fugazes. O verdadeiro motor da mudança é a esperança — a visão de um futuro melhor possível. Assim, é fundamental que todos, ativistas ou cidadãos comuns, se empenhem não apenas em apontar os erros, mas em oferecer soluções práticas, acessíveis e mensuráveis para a transformação necessária.

Como as Corporações se Tornaram Instituições Psicopáticas: Reflexões sobre a Falta de Responsabilidade Social

A corporativa moderna pode ser vista como uma invenção legalmente construída que, embora inicialmente tenha surgido como uma ferramenta eficaz para mobilizar grandes somas de capital, agora se apresenta como uma instituição psicopática, imune a restrições morais ou éticas. Nos anos 1990, Michael Bakan passou a observar o crescimento do poder das corporações, impulsionado pela globalização, desregulação e privatização. Governos começaram a abdicar do controle regulatório, oferecendo às corporações uma liberdade sem precedentes para operar sem as limitações legais que antes as restringiam. Com isso, as corporações emergiram como instituições autônomas, voltadas apenas para o serviço de seus próprios interesses e os dos seus acionistas.

Bakan não se dedica a analisar os indivíduos que dirigem ou trabalham nas corporações, mas critica a natureza institucional dessas entidades. Ele argumenta que as corporações, tal como foram criadas legalmente, possuem características que, se observadas em um ser humano, seriam rapidamente diagnosticadas como psicopáticas. Esse ponto de vista, embora inicialmente extremo, ganha credibilidade quando se considera as características clássicas de um psicopata: falta de preocupação com os sentimentos alheios, incapacidade de manter relações duradouras, desconsideração pela segurança dos outros, desonestidade e uma ausência de culpa, entre outras.

Ao aplicar essas características ao comportamento das grandes corporações, é possível perceber como tais instituições operam de forma imoral e sem remorso. O mercado financeiro, a indústria do tabaco, as empresas de petróleo e gás, todas têm um histórico de manipulação de fatos, desinformação e desrespeito pelas normas sociais, sem qualquer sentimento de culpa por isso. O conceito de responsabilidade social corporativa é frequentemente um oxímoro, uma contradição em termos, já que as corporações são legalmente obrigadas a buscar o máximo de lucro possível, sem considerar o impacto social ou ambiental de suas ações.

No entanto, a verdadeira natureza das corporações vai além de qualquer teoria conspiratória ou vilanização de seus líderes. A estrutura corporativa moderna, com seus mecanismos de ações, opções de estoque e outras exigências, demanda que as empresas façam tudo para maximizar os lucros, mesmo que isso implique em ações prejudiciais para a sociedade. Algumas das melhores intenções de funcionários, que genuinamente se preocupam com o bem-estar social e ambiental, são sufocadas pelas exigências do sistema corporativo. Isso significa que, no final, a responsabilidade social só pode ser vista como uma estratégia para melhorar a imagem da empresa e não como um compromisso real com o bem-estar da sociedade ou do meio ambiente.

Historicamente, as corporações foram concebidas no final do século XIX como poderosas ferramentas para atrair grandes quantias de capital e financiar grandes projetos. No entanto, ao longo do tempo, a partir da década de 1930, um robusto sistema regulatório foi se formando para garantir que essas corporações não causassem mais mal do que bem. Nas décadas seguintes, porém, o ambiente regulatório foi sendo progressivamente desmantelado, culminando em um momento em que se passou a confiar na própria capacidade das corporações de se auto-regularem. Bakan observa que essa mudança de paradigma, que ocorre desde os anos 1980, se revelou desastrosa. Ao permitir que as corporações "façam o que quiserem", sem a devida supervisão governamental, o mercado não garantiu um comportamento ético ou responsável.

Em um contexto como esse, a responsabilidade social das corporações se torna apenas uma fachada. As corporações são legalmente responsáveis por maximizar os lucros para seus acionistas, e qualquer ação em prol do bem-estar social é apenas estratégica. Não há espaço para ações que possam prejudicar os lucros, e qualquer tentativa de comportamento ético ou sustentável dentro de uma corporação é, muitas vezes, sacrificada em nome da maximização dos rendimentos financeiros.

Além disso, a manipulação da ciência e da opinião pública por parte das corporações se tornou uma prática comum. Empresas farmacêuticas, por exemplo, têm interesse direto em controlar a percepção pública sobre a ciência, especialmente se isso servir aos seus interesses financeiros. Isso inclui desde a modificação de dados até a criação de campanhas de marketing enganosas que promovem uma imagem positiva da corporação, mesmo quando os seus impactos reais são negativos para a sociedade.

O caso do projeto da Enbridge Northern Gateway Pipeline ilustra bem essa dinâmica. A empresa apagou de um mapa 1.000 km² de ilhas do Douglas Channel para que sua proposta de rota de oleodutos parecesse menos perigosa e menos prejudicial ao meio ambiente. Esse tipo de manipulação de informações é apenas uma das várias maneiras pelas quais as corporações tentam esconder sua verdadeira natureza e criar uma fachada de responsabilidade social.

Portanto, o que devemos entender é que a verdadeira responsabilidade social corporativa não deve ser deixada à escolha das próprias corporações. Sua natureza institucional exige que sejam impostas restrições externas para garantir que elas operem de maneira ética e responsável. Enquanto o sistema atual continuar a favorecer o lucro em detrimento do bem-estar social e ambiental, as corporações continuarão a agir dentro de seus próprios interesses, frequentemente à custa de todos os outros.