A migração, ao longo das décadas, tem sido impulsionada por uma combinação de fatores econômicos e políticos, refletindo a complexa inter-relação entre a oferta e a demanda de mão de obra nos países envolvidos. Quando os imigrantes, sejam temporários ou permanentes, são privados de benefícios econômicos que poderiam ser obtidos em seus países de origem ou se as condições de trabalho se deterioram, o incentivo para a migração se intensifica. Um modelo interessante de política migratória seria o estabelecimento de programas de trabalhadores temporários que canalizassem a imigração não autorizada para fluxos legais, ao mesmo tempo em que gerassem ganhos econômicos tanto para os trabalhadores quanto para os países receptores.
Programas de visto baseados no emprego oferecem uma via formal e regulada para a migração de trabalhadores, com o potencial de não apenas controlar a imigração não autorizada, mas também de maximizar os benefícios econômicos derivados dessa mobilidade. Tais programas funcionam melhor quando adotam características do processo migratório não autorizado que resultam em benefícios econômicos claros, como a flexibilidade para ajustar-se às condições econômicas variáveis tanto nos Estados Unidos quanto nos países de origem, como o México. Para que o programa seja eficaz, seria essencial permitir que os empregadores escolhessem os trabalhadores com base nas necessidades do mercado de trabalho e, ao mesmo tempo, garantir que os trabalhadores possam transitar facilmente entre empregos.
A principal atração da imigração não autorizada para muitos empregadores é a agilidade com que os trabalhadores podem ser contratados, o que poderia ser replicado em um programa de visto para trabalhadores temporários. Para garantir que esse programa seja uma alternativa viável à contratação de trabalhadores não autorizados, seria necessário incorporar mecanismos de fiscalização no local de trabalho, como o E-Verify, uma ferramenta digital que permite que os empregadores verifiquem a elegibilidade dos documentos apresentados pelos trabalhadores. Isso, combinado com a implementação de políticas claras de fiscalização, poderia tornar o programa mais atraente tanto para empregadores quanto para trabalhadores, criando uma solução de mercado mais sustentável.
Antes de expandir esses programas de visto para trabalhadores estrangeiros, seria prudente criar meios para regularizar a situação dos imigrantes não autorizados que já se encontram no país. A concessão de um status legal para esses trabalhadores não só aumentaria suas oportunidades de emprego, mas também ajudaria na integração de grupos vulneráveis, como mulheres imigrantes. Este aspecto é crucial, uma vez que a falta de documentação e a invisibilidade social deixam esses trabalhadores sujeitos a abusos e a exploração no mercado de trabalho.
Analisando experiências passadas, como o Programa Bracero (que trouxe mais de 200 mil trabalhadores agrícolas mexicanos para os Estados Unidos entre 1942 e 1964), podemos aprender lições valiosas sobre como estruturar um programa de trabalhadores temporários. Embora os programas de trabalhadores temporários possam ajudar a suprir as necessidades do mercado de trabalho, eles também podem criar vulnerabilidades. Trabalhadores temporários frequentemente ficam presos a um único empregador, o que aumenta o risco de exploração e abuso. Portanto, é fundamental que os trabalhadores tenham a liberdade de mudar de empregador dentro do programa, sem enfrentar dificuldades administrativas que limitem sua mobilidade.
Além disso, as empresas não devem encontrar benefícios financeiros ao contratar trabalhadores estrangeiros em detrimento de trabalhadores americanos. Isso significa que os empregadores devem pagar salários compatíveis com o mercado de trabalho, além de impostos sobre a folha de pagamento e taxas de visto, como forma de garantir a equidade no processo. Outra questão crucial seria a cobertura de saúde dos trabalhadores, que deve ser obrigatória, assim como para os trabalhadores nativos, para assegurar condições justas de trabalho.
Ao considerar a implementação de programas de trabalhadores temporários, um modelo binacional com o México seria uma primeira etapa lógica. No entanto, dada a crescente instabilidade na América Central e o aumento das taxas de natalidade na região, é previsível que esses países também venham a constituir uma fonte significativa de migrantes não autorizados para os Estados Unidos. Por isso, expandir esse programa para outros países de alta migração seria uma estratégia essencial para a sustentabilidade do sistema.
É importante reconhecer que, embora a imigração mexicana para os Estados Unidos tenha diminuído nos últimos anos, o fenômeno não é necessariamente passageiro. Diversos fatores estruturais, como o crescimento das exportações do México e a desaceleração do crescimento populacional, indicam que a dinâmica migratória pode estar mudando permanentemente. No entanto, isso não resolve o problema fundamental da disparidade salarial entre os Estados Unidos e países como o México, o que ainda é um dos principais motores da migração. Enquanto a convergência salarial entre os países não ocorrer de maneira significativa, a necessidade de migrantes para ocupar postos de trabalho de baixa qualificação nos Estados Unidos continuará.
A diminuição da imigração não autorizada sem causar disrupções significativas na economia dos Estados Unidos exigirá a expansão de programas de visto existentes ou a criação de novos. Tais programas não apenas beneficiariam os imigrantes, que deixariam de arriscar suas vidas na travessia ilegal, mas também os consumidores e produtores americanos, que teriam acesso a uma força de trabalho mais estável e qualificada. Para os trabalhadores americanos, a presença de trabalhadores estrangeiros legalizados garantiria uma concorrência mais equilibrada no mercado de trabalho.
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O que realmente mudou com o NAFTA para o México e o que o novo acordo pode trazer?
A renegociação do Acordo de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA) em 2017-2018, sob a administração do presidente dos Estados Unidos Donald Trump, trouxe novamente à tona o debate sobre a relação comercial entre México, Estados Unidos e Canadá. O NAFTA, que entrou em vigor em 1994, foi promovido como um pacto que aproximaria as economias de países com níveis de desenvolvimento tão distintos. No entanto, a realidade que se seguiu foi marcada por avanços, mas também por frustrações econômicas que persistem até hoje. Em termos gerais, o NAFTA ajudou a remodelar a estrutura industrial de cada país, mas não conseguiu reduzir a desigualdade entre eles, nem alcançou a convergência salarial que era esperada.
O México, inicialmente considerado um país em desenvolvimento, esperava se beneficiar da redução das tarifas comerciais e da criação de um espaço mais competitivo para seus produtos. A expectativa era de que, ao reduzir as barreiras comerciais com seus vizinhos mais ricos, a economia mexicana pudesse se integrar mais fortemente aos Estados Unidos e ao Canadá. No entanto, o impacto do NAFTA sobre o México foi misto: por um lado, houve um aumento substancial no comércio intrarregional. Entre 1993 e 2016, as exportações mexicanas para os Estados Unidos cresceram sete vezes em valor, enquanto as importações mexicanas aumentaram quatro vezes. A transformação do México, de um país exportador principalmente de petróleo e commodities para um dos maiores exportadores de manufaturados do mundo, foi acelerada com a liberalização do comércio sob o NAFTA.
Por outro lado, as promessas de uma convergência econômica entre o México e seus vizinhos do norte, especialmente nos salários e na produtividade, não se materializaram. De acordo com dados econômicos, o PIB per capita do México divergiu do dos Estados Unidos, e a produtividade do trabalho, especialmente fora dos setores industriais voltados para exportação, permaneceu estagnada ou até mesmo diminuiu em setores como os serviços e o mercado informal. A assimetria nas condições de trabalho é evidente, com uma parte significativa da força de trabalho mexicana ocupada em empregos informais, sem as proteções ou os benefícios sociais garantidos a trabalhadores de grandes empresas.
Embora o aumento do investimento direto estrangeiro tenha sido um dos pontos positivos do acordo, a economia mexicana não experimentou o crescimento robusto esperado. O crescimento do PIB per capita do México foi de apenas 1,2% ao ano entre 1994 e 2017, o que foi muito abaixo do crescimento de países asiáticos em desenvolvimento ou mesmo do crescimento do PIB dos Estados Unidos. O conceito de “convergência salarial” também não ocorreu: as diferenças salariais entre os trabalhadores mexicanos e seus colegas norte-americanos não diminuíram ao longo dos anos. Pelo contrário, como mostra um gráfico da compensação horária real dos trabalhadores mexicanos, a renda real por hora de trabalho não se aproximou da dos trabalhadores dos Estados Unidos, refletindo uma grande disparidade que persiste até hoje.
Em 2020, com a entrada em vigor do Acordo Estados Unidos-México-Canadá (USMCA), surgiram novas expectativas, mas o impacto desse novo acordo comercial ainda está por se mostrar plenamente. O USMCA promete mudanças em áreas como as regras de comércio digital, a proteção de propriedade intelectual e os direitos trabalhistas. No entanto, muitos analistas apontam que, apesar de algumas melhorias pontuais, o USMCA não aborda de forma efetiva os maiores problemas econômicos da região, como a disparidade de salários e a desigualdade econômica entre os três países. Além disso, a crise econômica gerada pela pandemia de Covid-19 introduziu um grau de incerteza que pode retardar qualquer avanço positivo que o USMCA traga em termos de crescimento econômico sustentável.
Embora o acordo tenha como objetivo facilitar o comércio na região, sua real eficácia no aumento do emprego e no crescimento econômico dependerá da implementação de outras políticas-chave, como políticas industriais, de inovação e de trabalho. Os formuladores de políticas e a sociedade civil precisam ser cautelosos para que a renegociação do NAFTA não se torne apenas uma distração das reformas econômicas necessárias para melhorar as condições de vida dos trabalhadores, especialmente no México, onde a luta contra a desigualdade continua sendo um desafio central.
A renegociação do NAFTA, transformada em USMCA, é um passo importante, mas não pode ser vista como a única solução para os problemas estruturais da economia mexicana. A chave para o futuro econômico do México reside em uma agenda de desenvolvimento que vá além dos acordos comerciais e busque políticas que promovam a inclusão social, aumentem os salários reais e promovam uma maior equidade entre os países da América do Norte. As reformas necessárias não se limitam à revisão de acordos comerciais, mas sim à implementação de políticas internas que garantam melhores condições de trabalho e desenvolvimento para os cidadãos mexicanos.
Como os Acordos Comerciais e a Migração Influenciam a Economia Global e Local: Uma Análise Crítica
Os blocos comerciais são definidos como grupos de países que, após a formação de acordos, apresentam uma maior proporção de comércio dentro do próprio bloco do que com países externos. Um exemplo disso são as negociações realizadas no contexto do Acordo de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA), que promoveram uma significativa integração econômica entre os Estados Unidos, o México e o Canadá. Com a formação de tais blocos, observa-se uma alteração substancial nas dinâmicas comerciais e no impacto sobre as economias dos países membros, particularmente no que diz respeito ao setor agrícola e à migração de trabalho.
Um dos efeitos mais notáveis desse tipo de integração é o crescimento da produção e do comércio de produtos agrícolas. Tomemos como exemplo o caso do México, onde houve um aumento expressivo na produção de frutas como abacates, tomates e cítricos, que passaram a ser direcionados em grande parte para o mercado dos Estados Unidos. Entre 1999 e 2016, a taxa de exportação desses produtos foi ampliada, destacando a dependência crescente do comércio bilateral. Essa transformação é em parte explicada pela eliminação de tarifas e pela liberalização dos mercados, que permitiram o acesso mais direto aos consumidores americanos. Contudo, por trás dessa expansão comercial, existem fatores mais complexos que merecem uma análise mais detalhada.
Em paralelo ao crescimento no comércio, um outro fenômeno tem sido a expansão do setor informal nas cidades, que se torna uma área de contenção para a transição laboral de trabalhadores excedentes provenientes de áreas rurais. Este processo não apenas retarda a migração em busca de melhores condições de vida, como também perpetua a existência de um excedente de força de trabalho que acaba se deslocando para os Estados Unidos em busca de melhores oportunidades. É importante notar que a migração de trabalhadores imigrantes muitas vezes não é um ato de competição direta com os trabalhadores nativos, mas sim uma complementaridade entre as duas forças laborais. Ao contrário do que muitos estudos afirmam, imigrantes e nativos frequentemente preenchem lacunas diferentes no mercado de trabalho, principalmente em setores como a agricultura e a construção civil.
Apesar das evidências de benefícios para a economia dos países anfitriões, há uma falta de programas de investimentos comunitários que poderiam endereçar as causas profundas da migração. No México, por exemplo, os programas de transferência de dinheiro condicionada, como o Oportunidades (agora Prospera), se expandiram amplamente, mas frequentemente negligenciaram o foco no investimento em comunidades locais. Sem um enfoque real em melhorar as condições de vida nas regiões de origem dos migrantes, as políticas de ajuda acabam se tornando paliativas e não resolvem as causas estruturais da migração, como a falta de acesso a empregos de qualidade e a desigualdade de renda.
Do lado dos Estados Unidos, os debates sobre os efeitos da imigração sobre o mercado de trabalho não são novos. A imigração de baixa qualificação, especialmente a vinda de trabalhadores do México, tem sido um tema recorrente nas discussões políticas. Entretanto, muitas vezes as análises se concentram nos custos dessa imigração, sem considerar os benefícios, como o aumento da produtividade em setores chave da economia americana. Estudos revelam que, ao contrário do que muitos afirmam, trabalhadores imigrantes e nativos não competem diretamente, mas ocupam posições complementares dentro das cadeias de produção, muitas vezes em diferentes etapas do processo de fabricação.
Além disso, deve-se observar que os efeitos dos acordos comerciais nem sempre são uniformes. No caso do NAFTA, embora tenha ocorrido uma integração significativa no comércio, muitos setores da economia mexicana, especialmente a agricultura, sofreram enormes pressões. A liberalização do comércio não foi acompanhada por políticas adequadas de adaptação, e muitas áreas, antes voltadas para a produção de alimentos destinados ao mercado interno, foram transformadas para atender à demanda externa, gerando uma dependência maior das exportações para os Estados Unidos. Esse fenômeno também trouxe consequências para as comunidades rurais, que não viram melhorias significativas em sua qualidade de vida, apesar da expansão do comércio.
A questão da migração também deve ser analisada sob a ótica dos efeitos diretos sobre a economia de ambos os lados da fronteira. No caso dos Estados Unidos, a imigração representa uma parte importante da força de trabalho em setores fundamentais, como a construção civil, serviços domésticos e agricultura. Ao mesmo tempo, a migração tem sido um fator de crescimento para as economias locais nos estados que recebem grandes fluxos de imigrantes, já que estes contribuem diretamente para a expansão de mercados locais de consumo e para a criação de novos negócios.
É imprescindível que o debate sobre acordos comerciais e migração não seja simplificado, pois as interações entre os fluxos de comércio, investimentos e mão de obra são complexas e multifacetadas. A análise deve considerar não apenas os benefícios imediatos, mas também os impactos de longo prazo nas estruturas econômicas e sociais, tanto nos países de origem quanto nos países de destino dos migrantes. A experiência do NAFTA, por exemplo, mostra que, embora os acordos comerciais possam gerar benefícios significativos, eles também podem exacerbar desigualdades internas e criar dependências que, em última instância, pressionam as políticas migratórias.
O que se percebe com o tempo é que a integração econômica não é uma panaceia para os problemas estruturais da migração e da desigualdade. Portanto, é crucial que os acordos comerciais sejam complementados com políticas de desenvolvimento econômico regional e com investimentos voltados para a melhoria das condições de vida nas áreas mais afetadas pela migração. A adoção de uma abordagem mais holística e integrada entre comércio, migração e desenvolvimento local pode ser uma estratégia mais eficaz para criar soluções sustentáveis que atendam tanto aos interesses econômicos quanto sociais.

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