A formação da interface entre o cátodo e o eletrólito sólido é um dos maiores desafios no desenvolvimento de baterias de estado sólido. O processo de sinterização a alta temperatura, necessário para a formação de uma junção cátodo-eletrólito suave, frequentemente leva à ocorrência de reações laterais que resultam em propriedades eletroquímicas deficientes na interface. No entanto, uma análise teórica sugeriu que os cátodos de óxido em camadas, como LiCoO2 (LCO), com interfaces LLZO (Li6.4La3Zr1.4Ta0.6O12), são significativamente mais estáveis do que outros cátodos de metais de transição, como LiMn2O4 e LiNi0.3Mn0.3Co0.3O2. Embora a formação de produtos de reação não fosse esperada, estudos teóricos indicam que a fase garnet poderia ser estável em relação ao LCO. A inconsistência surge quando se considera o ambiente e a temperatura de sinterização, aspectos que não foram contemplados nos cálculos iniciais.

Pesquisas anteriores destacaram que a decomposição do LLZTO, em um processo de difusão de metais de transição a altas temperaturas, é uma das causas da formação de camadas não condutoras. A diminuição da temperatura de sinterização surge, portanto, como a abordagem mais direta para suprimir essas reações laterais. Diversas estratégias de sinterização foram testadas com o intuito de melhorar as propriedades eletroquímicas, mas foi observado que a degradação das propriedades ocorre até mesmo a temperaturas inferiores a 350 °C, o que está abaixo da temperatura necessária para a formação de uma camada de reação detectável.

Além disso, outras causas são atribuídas à degradação das propriedades eletroquímicas além da difusão dos metais de transição. Acredita-se que o gatilho para a formação de camadas altamente resistivas na interface cátodo-eletrólito seja a interdifusão dos íons de lítio, e não a dos íons metálicos de transição. Experimentos recentes têm mostrado que o processo de degradação química do LLZTO-LCO durante tratamentos térmicos resulta na extração de lítio na interface, sendo esse o primeiro passo para a formação de camadas altamente resistivas. Ao comparar os efeitos de diferentes teores de lítio no LCO com o LLZTO, ficou evidente que a diferença no potencial químico do lítio (ΔµLi) tem grande influência nesse processo.

A análise das reações entre o LLZTO e os óxidos de cobalto de lítio mostrou que a decomposição do LLZTO começa a uma temperatura muito inferior ao que se esperava, bem antes de ocorrerem as difusões dos metais de transição. O estudo revelou que a extração de lítio inicia a separação de fases do LLZTO, e com a formação de compostos com baixo teor de lítio, como La2Zr2O7 e LaCoO3, ocorre acima de 600 °C. O processo segue com a formação de outros compostos como La2Co2O5, acompanhados pela redução de cobalto e liberação de oxigênio.

Os padrões de difração de raios-X (XRD) de alta temperatura demonstraram a evolução da interface entre LLZTO e LCO até 900 °C. O comportamento das intensidades dos picos mostrou que, até 200 °C, não houve grandes mudanças estruturais no LLZTO e no LCO. No entanto, acima dessa temperatura, o LLZTO começou a decompor-se, perdendo a estrutura cristalina e mostrando-se suscetível à formação de vacâncias de oxigênio. Essas alterações indicam que o processo de migração do lítio é crucial para o início da formação da camada resistiva.

Em uma análise mais detalhada, observou-se que o LLZTO e o LCO com diferentes teores de lítio reagem de maneiras distintas. A migração de lítio do LLZTO para o LCO foi observada até 180 °C, com a formação de uma camada empobrecida em lítio no LLZTO. A decomposição do LLZTO foi clara após 200 °C, mas sem a interdifusão significativa dos metais de transição, que só ocorre a temperaturas superiores a 500 °C. Esses resultados fornecem um novo entendimento sobre a formação de camadas altamente resistivas, sugerindo que a migração do lítio é o gatilho inicial para essas reações interfaciais.

Esses achados fornecem estratégias importantes para o design de materiais na interface sólido-sólido, particularmente no que se refere à prevenção da extração de lítio dos eletrólitos sólidos durante a formação da interface cátodo-eletrólito. Além disso, a compreensão precisa das condições térmicas e das interações entre os materiais é essencial para evitar a degradação das propriedades eletroquímicas em baterias de estado sólido.

Ao projetar sistemas de cátodos e eletrólitos sólidos, é crucial considerar não apenas a sinterização e as reações a altas temperaturas, mas também a maneira como os íons de lítio interagem nas interfaces. A prevenção da formação de camadas resistivas deve ser uma prioridade no desenvolvimento de novos materiais e processos de fabricação para baterias de alta performance e longa durabilidade.

Como a Anisotropia da Condutividade Iônica Afeta os Eletrolitos Sólidos de Lítio

A condutividade iônica de materiais sólidos tem sido amplamente estudada, especialmente em sistemas utilizados em baterias de estado sólido, como os eletrolitos à base de lítio. A condutividade iônica de cristais sólidos é frequentemente influenciada pela direção de condução, uma vez que a estrutura cristalina pode apresentar características anisotrópicas, ou seja, a condutividade varia de acordo com a direção em que a medição é realizada. Em um estudo recente, foram analisadas as propriedades de condutividade iônica em várias direções de um cristal único de LixLa(1−x)/3NbO3 (LLNbO), com diferentes concentrações de lítio (x = 0,08).

Os resultados demonstraram de forma clara que a condutividade iônica é fortemente dependente da direção no cristal. Quando a condutividade foi medida nas direções [100], [110], [111], [112] e [001], foi observado que a maior condutividade ocorria nas direções [100] e [010], com valores de 3,6 × 10−4 S/cm e 3,4 × 10−4 S/cm, respectivamente. No entanto, a condutividade na direção [111] foi significativamente menor, cerca de 2,0 × 10−4 S/cm, e na direção [112], o valor caiu ainda mais, atingindo 1,5 × 10−4 S/cm. A direção [001], por sua vez, apresentou um valor de condutividade quase inalterado, o que sugere que as propriedades da estrutura cristalina ao longo dessa direção são menos influenciadas pelos mecanismos de condução iônica.

Esses resultados indicam que a condutividade iônica diminui à medida que a direção medida se aproxima de um aumento no componente da direção [001]. Isso é ainda mais evidente quando se observa que o ângulo inclinado em relação ao plano (001) resulta em uma diminuição significativa da condutividade. A interpretação desses dados sugere que, à medida que a composição de [001] aumenta, as propriedades de condução do material diminuem consideravelmente. Esses achados corroboram a hipótese inicial de que a estrutura cristalina do LLNbO, com suas propriedades anisotrópicas, afeta de maneira crucial a condutividade iônica.

Em termos de aplicação prática, essas descobertas têm implicações importantes para o design de materiais para baterias de estado sólido, uma vez que a condutividade iônica direcional pode influenciar o desempenho e a eficiência desses dispositivos. A presença de anisotropia nas propriedades de condutividade também é relevante para a compreensão de como a orientação e o crescimento dos cristais afetam a performance das baterias, especialmente quando se considera o uso de cristais de grande escala, como os produzidos pelo método de solidificação direcional.

Além disso, o estudo oferece um entendimento mais aprofundado sobre a relação entre a estrutura cristalina e a condução iônica, fornecendo uma base para a produção de materiais com propriedades de condução otimizadas. A análise das direções preferenciais de condução e a compreensão de como os componentes da estrutura afetam a mobilidade dos íons podem guiar futuras pesquisas no desenvolvimento de novos eletrolitos sólidos com maior eficiência.

É importante destacar que a anisotropia da condutividade iônica em eletrolitos sólidos pode ter um impacto considerável não apenas na eficiência das baterias de estado sólido, mas também no design de dispositivos eletrônicos avançados que exigem alta condutividade e estabilidade térmica. A compreensão dessas variações em diferentes direções permite uma melhor engenharia de materiais para alcançar o equilíbrio entre condutividade e estabilidade mecânica, um desafio fundamental no desenvolvimento de tecnologias de armazenamento de energia de próxima geração.