O aumento da prevalência da insuficiência cardíaca entre os adultos mais velhos, especialmente aqueles com mais de 70 anos, tem impulsionado o uso de dispositivos de assistência ventricular esquerda (LVADs) como uma terapia de destino para pacientes não candidatos a transplante cardíaco. À medida que a população envelhece, o número de pacientes com insuficiência cardíaca avançada (AHF) e a necessidade de suporte circulatório mecânico (MCS) também cresce. No entanto, fatores como a nutrição, a fraqueza e a idade são determinantes cruciais para os resultados clínicos desses pacientes, influenciando a resposta ao tratamento e o prognóstico a longo prazo.

A nutrição é um dos componentes mais críticos a serem considerados no manejo dos pacientes com insuficiência cardíaca avançada. A desnutrição é uma condição comum entre esses pacientes e está frequentemente associada a desfechos clínicos desfavoráveis, como maior mortalidade e complicações pós-operatórias. Estudos demonstraram que a malnutrição, manifestada frequentemente por hipoproteinemia, sarcopenia e cachexia, pode agravar ainda mais a função cardíaca já comprometida. A hipoproteinemia, em particular, é um marcador de gravidade da insuficiência cardíaca e está ligada a um aumento do risco de morte, sendo um preditor independente da mortalidade tanto em períodos de um ano quanto de cinco anos.

Entender a relação entre a nutrição e a insuficiência cardíaca é fundamental. A desnutrição pode resultar em anorexia, malabsorção e perda de massa muscular, o que compromete a reserva funcional do paciente e piora sua capacidade de tolerar tratamentos agressivos, como a implantação de dispositivos LVAD. De fato, a desnutrição antes da implantação de um LVAD pode ser um preditor importante de complicações pós-operatórias, e poucos estudos usaram ferramentas específicas para avaliar a nutrição nesses pacientes antes da cirurgia. O uso de ferramentas como o Índice de Risco Nutricional (NRI) pode ajudar na avaliação do risco nutricional antes da intervenção cirúrgica, oferecendo uma medida crucial para antecipar problemas potenciais.

A fraqueza, ou fragilidade, também desempenha um papel importante no prognóstico de pacientes com insuficiência cardíaca avançada. A fragilidade é definida como uma condição de deterioração global do status funcional, com perda de reserva fisiológica e aumento da vulnerabilidade a estressores externos. Em pacientes idosos, a fragilidade é frequentemente associada ao envelhecimento, mas também pode ser exacerbada pela presença de comorbidades como a insuficiência cardíaca. A sarcopenia, um tipo de atrofia muscular senil, é um fenômeno comum entre os idosos e está diretamente ligada à fraqueza. Estima-se que 5% a 13% dos indivíduos entre 60 e 70 anos desenvolvem sarcopenia, e esse número aumenta substancialmente em pacientes mais velhos. A perda muscular progressiva observada na sarcopenia é particularmente preocupante em pacientes com insuficiência cardíaca, pois pode levar a uma queda significativa na capacidade funcional, interferindo na recuperação pós-implante de LVAD.

Além disso, a fraqueza pode afetar a tolerância ao tratamento e a recuperação de intervenções cirúrgicas. A avaliação da fraqueza é essencial, sendo que o uso de escalas como o fenótipo de Fried e o Índice de Fragilidade de Rockwood pode ajudar na determinação do risco pré-operatório e na previsão de desfechos pós-operatórios em pacientes submetidos a implantes de dispositivos de assistência ventricular. Estudos têm demonstrado que pacientes com menos fragilidade apresentam melhores resultados após o implante de LVAD, mesmo em faixas etárias mais avançadas.

A interação entre nutrição, fragilidade e idade é um dos maiores desafios no tratamento de pacientes com insuficiência cardíaca avançada. Pacientes idosos com insuficiência cardíaca e dispositivos LVAD frequentemente apresentam uma combinação de sarcopenia, desnutrição e fraqueza, fatores que interagem de maneiras complexas e comprometem a recuperação e a eficácia do tratamento. Em alguns casos, a implantação de um LVAD pode melhorar a perfusão sanguínea e, consequentemente, a nutrição do paciente, proporcionando algum alívio à sarcopenia e à desnutrição, o que reforça a importância de um monitoramento nutricional contínuo e personalizado após a implantação do dispositivo.

Com o envelhecimento da população e o aumento do número de pacientes com insuficiência cardíaca avançada, a compreensão dos impactos da nutrição e da fraqueza no prognóstico desses pacientes é fundamental para otimizar o tratamento e melhorar os resultados a longo prazo. Além disso, estratégias para gerenciar a nutrição e a fraqueza, como programas de reabilitação muscular e intervenções dietéticas, devem ser incorporadas ao manejo clínico, não apenas como medidas paliativas, mas como abordagens essenciais para o sucesso do tratamento com LVAD.

Como Monitorar Pacientes em Terapia ECMO: Estratégias e Complicações

A terapia com ECMO (Oxigenação por Membrana Extracorpórea) é uma intervenção crucial em pacientes com falência cardíaca ou respiratória grave. O acompanhamento contínuo de vários parâmetros fisiológicos é essencial para garantir a eficácia do tratamento e prevenir complicações. O uso de uma linha arterial, monitoramento ecocardiográfico, controle de volume intravascular e vigilância de complicações vasculares são componentes fundamentais dessa monitorização.

O primeiro passo no manejo de pacientes em ECMO é garantir o posicionamento correto da linha arterial, que deve ser inserida na artéria radial direita. Essa linha fornece dados essenciais sobre a perfusão e oxigenação, permitindo detectar alterações que possam sugerir hipóxia diferencial. Além disso, a linha arterial é utilizada para calcular a fração de ejeção (EF), o grau de regurgitação mitral e a estimativa do volume sistólico intrínseco por meio da avaliação do índice de tempo de velocidade (VTI) nos trajetos de saída dos ventrículos esquerdo e direito.

Um aspecto muitas vezes subestimado na monitorização do ECMO é o cálculo do débito cardíaco. O método de termodiluição ou o cálculo de Fick frequentemente subestima o débito, uma vez que a maior parte do sangue que chega ao átrio direito é capturada pela cânula de drenagem venosa, deixando para trás apenas o sangue desoxigenado do seio coronário. A monitorização contínua de oxigenação no pulmão e a medição do débito cardíaco são, portanto, métodos auxiliares, mas não substituem a avaliação detalhada do status de volume e a dinâmica do ECMO.

A gestão do volume intravascular é crucial, já que tanto a hipovolemia quanto a hipervolemia podem gerar complicações sérias. A hipovolemia pode causar a sucção das cânulas de ECMO contra a parede do vaso, resultando em eventos de baixo fluxo ("chugging"), que por sua vez podem aumentar o risco de formação de coágulos e fibrina no circuito. Já a hipervolemia pode levar ao edema periférico excessivo e ao aumento das pressões intracardíacas, o que dificulta a recuperação miocárdica ao reduzir a pressão de perfusão coronária.

A ecocardiografia transtorácica (TTE) é um instrumento essencial na monitorização da posição das cânulas e na avaliação da função cardíaca nativa. Com isso, é possível detectar precocemente sinais de recuperação miocárdica e a necessidade de desmame do ECMO. A posição da cânula venosa deve ser cuidadosamente monitorada, posicionando-se na junção da veia cava inferior com o átrio direito para evitar danos estruturais ao vaso e risco de trombose ou tamponamento cardíaco. A distensão do ventrículo esquerdo (VE) pode ocorrer quando há uma falha na contratilidade do coração nativo e em cenários de alto fluxo de ECMO, o que leva ao aumento da pós-carga e ao agravamento da regurgitação mitral.

Outro problema importante que pode surgir é o fenômeno conhecido como síndrome de Harlequin, ou síndrome do “norte-sul”, que ocorre no contexto de falência respiratória. Essa complicação resulta da mistura de sangue desoxigenado e oxigenado, o que leva à perfusão inadequada do cérebro e dos membros superiores, causando hipoxemia tecidual.

A monitorização de complicações vasculares é igualmente importante, já que o uso de cânulas grandes pode causar isquemia de membros, com até 10% dos pacientes em ECMO necessitando de fasciotomia. Além disso, o risco de hemorragia, trombose e sepse é elevado em pacientes com ECMO, sendo necessário um controle rigoroso dos parâmetros anticoagulantes e a observação constante dos sinais de hemólise, que pode ser indicada por urina escura.

Por fim, o monitoramento da integridade do circuito é essencial para evitar falhas no sistema. A bomba centrífuga, que pode entregar até 4,0 L/min de fluxo, deve ser cuidadosamente observada, e quaisquer sinais de defeito no sistema, como obstrução nas cânulas ou formação de coágulos, devem ser corrigidos prontamente.

Além das complicações mencionadas, é vital que o clínico esteja atento a alterações nos parâmetros de perfusão e oxigenação, utilizando para isso as medições apropriadas, como a gasometria arterial e a monitorização hemodinâmica. Em conjunto com o controle da terapêutica anticoagulante, a detecção precoce de complicações pode melhorar significativamente os desfechos clínicos dos pacientes em ECMO.

Como o Síndrome Cardiorrenal Afeta a Função Renal em Pacientes com Insuficiência Cardíaca Avançada

A insuficiência cardíaca avançada é uma condição complexa, frequentemente associada a disfunção renal, que representa um desafio significativo para o tratamento de pacientes. A coexistência de insuficiência renal crônica (IRC) e insuficiência cardíaca é comum, afetando mais de 40% dos pacientes com insuficiência cardíaca (Heidenreich et al., 2022). Além disso, flutuações agudas na função renal são frequentemente observadas durante o curso da insuficiência cardíaca, particularmente em situações de descompensação aguda e hospitalização.

A síndrome cardiorrenal é definida como um distúrbio no qual a função renal é gravemente comprometida devido a disfunções circulatórias e do sistema cardíaco, resultando em um ciclo vicioso onde o tratamento para aliviar os sintomas congestivos da insuficiência cardíaca pode ser limitado pela deterioração da função renal. Em pacientes hospitalizados com insuficiência cardíaca, cerca de 64% apresentam uma taxa de filtração glomerular estimada (TFG) inferior a 60 ml/min/1,73m², um indicador claro de risco aumentado para falência renal (Patel et al., 2021).

A progressão da doença renal crônica (DRC) em pacientes com insuficiência cardíaca é acelerada. Em um estudo realizado por George et al., foi observado que 22% dos pacientes com insuficiência cardíaca apresentaram uma diminuição rápida da TFG (> 5 ml/min/1,73m² por ano), em comparação com apenas 8,5% entre os pacientes sem insuficiência cardíaca (George et al., 2017). Isso demonstra que a insuficiência cardíaca não só contribui para a progressão da DRC, mas também pode ser um fator de risco para uma deterioração mais rápida da função renal.

A insuficiência renal aguda (IRA) e a doença renal crônica pré-existente são fatores de risco bem estabelecidos para desfechos adversos após a implantação de dispositivos de suporte circulatório mecânico (DSCM). Tais dispositivos, como os auxiliares de ventrículo esquerdo (VAD), são frequentemente implantados em pacientes com insuficiência cardíaca avançada, mas sua eficácia pode ser comprometida pela presença de disfunção renal. Nesse contexto, identificar pacientes de alto risco para insuficiência renal antes da implantação de dispositivos de suporte circulatório mecânico é essencial para melhorar os desfechos e minimizar complicações.

A classificação da síndrome cardiorrenal, proposta por um grupo de trabalho do National Heart, Lung, and Blood Institute, é uma ferramenta útil para entender a complexidade desse distúrbio. Ela divide a síndrome em cinco classes, dependendo da cronicidade da disfunção renal e do evento inicial que a desencadeia. Essa classificação ajuda a orientar os clínicos na gestão dos pacientes e a planejar intervenções específicas para tratar tanto a insuficiência cardíaca quanto a insuficiência renal, sempre reconhecendo que essas duas condições estão intimamente relacionadas.

Além disso, para entender a síndrome cardiorrenal e sua avaliação clínica, é crucial compreender as definições comumente usadas para descrever a disfunção renal. A Doença Renal Crônica (DRC) é definida pela Kidney Disease Outcomes Quality Initiative (K/DOQI) como uma taxa de filtração glomerular estimada (TFGe) inferior a 60 ml/min/1,73m² durante um período de 3 meses ou mais, ou pela presença de marcadores de dano renal, como albuminúria (albumina/creatinina > 30 mg/g em duas de três amostras de urina). A TFG pode ser estimada por equações como CKD-EPI, MDRD ou Cockcroft-Gault, cada uma com sua própria precisão e valor prognóstico em indivíduos com insuficiência cardíaca.

É importante notar que, embora essas equações sejam amplamente utilizadas para estimar a função renal, elas podem não ser totalmente precisas em pacientes com insuficiência cardíaca, uma vez que a precisão desses cálculos pode ser alterada por vários fatores, como desidratação ou terapia diurética. Portanto, deve-se ter cautela ao interpretar os resultados e considerar sempre o quadro clínico do paciente.

O impacto da disfunção renal na implantação de dispositivos de suporte circulatório mecânico, como os auxiliares de ventrículo esquerdo ou o coração artificial total, é uma questão crítica. Os pacientes com insuficiência renal enfrentam um risco aumentado de complicações após a implantação desses dispositivos, incluindo disfunção renal pós-operatória, necessidade de diálise e pior prognóstico geral. O gerenciamento de pacientes com insuficiência cardíaca avançada e disfunção renal exige um equilíbrio delicado entre otimizar a função cardíaca e renal, minimizando os efeitos adversos de cada condição.

Além disso, durante o período perioperatório, a proteção renal deve ser uma prioridade, especialmente em pacientes com risco elevado de insuficiência renal aguda. Medidas como a otimização da perfusão renal, o uso adequado de diuréticos e o monitoramento contínuo da função renal são fundamentais para prevenir complicações. A implementação de estratégias de proteção renal, como a manutenção de uma pressão arterial adequada e a prevenção de desequilíbrios eletrolíticos, pode melhorar os resultados após a implantação de dispositivos de assistência circulatória.