O drift, essa prática de se deslocar sem pressa, sem um destino claro, pode ser entendido como uma metáfora de um tipo profundo de interação com o mundo e com aqueles que nos cercam. Se fosse um homem em Illyria esperando por mim, tudo seria mais simples. Mas, como as coisas se deram, percebi que minhas armas não passavam de adornos. E se fosse um homem, eu não me preocuparia em usá-las. No entanto, Green Green não era um homem; ele não era nem mesmo um Pei’an, uma condição que em si já é aterradora. Ele era algo além de qualquer um dos dois. Ele carregava um Nome, embora de forma indevida, e portadores de Nomes têm a capacidade de influenciar os seres vivos e até os elementos ao seu redor quando se elevam e se fundem à sombra que reside por trás do Nome. Não pretendo entrar em discussões teológicas, embora tenha ouvido explicações com tom científico sobre o que envolve tudo isso, caso você aceite a esquizofrenia voluntária junto com um complexo de deus e faculdades extrasensoriais. Se tomarmos tudo isso separadamente e levarmos em conta os anos de treinamento de um worldscaper, o número de candidatos que completam esse treinamento e o quanto isso é raro, talvez eu tenha alguma vantagem sobre Green Green. Ele escolheu o meu mundo para o encontro, e isso me dava algum tipo de vantagem, embora eu não soubesse por quanto tempo ele teria experimentado com ele, e o que ele tinha alterado.
Ele escolheu a isca perfeita, mas quão perfeita seria a armadilha? Quão grande seria sua vantagem? No entanto, uma coisa era certa: ele não podia ter certeza de nada, nem contra outro portador de Nome. E eu também não poderia. Você já presenciou a luta entre bettas, os peixes de briga siameses? Não é como uma briga de galos, de cães ou uma luta entre uma cobra e um mangusto, ou qualquer outra coisa que você já tenha visto. Coloque dois machos no mesmo aquário. Eles se movem rapidamente, desdobrando suas barbatanas brilhantes, como sombras vermelhas, azuis e verdes, expandindo suas membranas branquiais. Isso dá a ilusão de que eles se transformam em algo maior do que eram. Depois, se aproximam lentamente, permanecem lado a lado por talvez um quarto de minuto, flutuando. E então, de repente, o movimento rápido, tão rápido que o olho mal consegue seguir o que está acontecendo. Depois, novamente, uma pausa tranquila, como se estivessem flutuando. E então, mais uma explosão de movimento. Esse padrão continua, com as barbatanas coloridas criando um efeito visual. Após algum tempo, uma névoa avermelhada os cerca. Mais uma explosão de movimento, e então eles desaceleram. As mandíbulas se trancam. Um talvez se afaste, e o outro simplesmente flutua.
Assim eu vi o que estava por vir. Passei pela lua, e o grande volume escuro do mundo surgiu diante de mim, obscurecendo as estrelas. À medida que me aproximava, a minha descida desacelerou. Dispositivos sob o cockpit foram ativados, e quando finalmente entrei na atmosfera superior, eu já estava flutuando lentamente. A impressão da luz da lua sobre cem lagos era como moedas no fundo de um poço escuro. Fiquei atento à luz artificial, mas não detectei nenhuma. Flopsus apareceu no horizonte, adicionando sua luz à de sua irmã. Após cerca de meia hora, pude distinguir melhor as características mais proeminentes do continente. Combinei isso com minha memória e sensação, e comecei a controlar o trenó. Como uma folha caindo em um dia calmo, movendo-se suavemente para os lados, eu me dirigia para o solo. O lago chamado Acheron, com sua Ilha dos Mortos, estava a uns seiscentos quilômetros a noroeste. Bem abaixo de mim, nuvens começaram a aparecer. Continuei flutuando e elas se dissiparam. Perdi muito pouca altitude na próxima meia hora, e ganhei talvez quarenta milhas em direção ao meu destino. Perguntei-me quais dispositivos de detecção poderiam estar funcionando abaixo de mim. O vento em grandes altitudes me pegou, e eu lutei contra ele por um tempo. No entanto, tive que descer vários milhares de pés para escapar do pior. Nas próximas horas, fui indo, de forma constante, para o norte e para o oeste. A uma altura de cinquenta mil pés, eu ainda estava a mais de quatrocentas milhas do meu objetivo. Perguntei-me mais uma vez o que poderia estar sendo detectado abaixo de mim. No entanto, dentro da próxima hora, desci vinte mil pés e avancei cerca de setenta milhas. As coisas estavam indo bem. Finalmente, um falso amanhecer apareceu no leste, e eu desci uma milha para ficar abaixo dele. Minha velocidade aumentou conforme eu descia. Era como mergulhar em um oceano, da luz para a escuridão. Mas a luz me seguiu. Depois de um tempo, consegui continuar meu caminho. Passei por uma camada de nuvens, estimei minha posição e continuei a descer. Quantas milhas até Acheron? Talvez duzentas. A luz me alcançou, passou por mim e foi embora. Desci para quinze mil pés e avancei mais quarenta milhas. Desativei algumas placas adicionais. Estava agora a três mil pés quando o verdadeiro amanhecer começou a acontecer. Continuei por mais dez minutos, descendo, encontrei um local claro e aterrissei. O sol surgiu no leste, e eu estava a cerca de cem milhas de Acheron, mais ou menos dez. Abri a bolha, puxei o cordão de destruição, saltei para o chão e corri. Um minuto depois, o trenó se desfez e começou a fumegar. Diminuí a marcha, tomei minhas coordenadas e fui em direção ao lugar onde as árvores começavam.
Nos primeiros cinco minutos, Illyria voltou a mim, como se eu nunca tivesse partido. Filtrada pela névoa da floresta, a luz do sol chegou em tons de rosa e âmbar; gotas de orvalho brilhavam nas folhas e nas gramíneas; o ar estava fresco, com cheiro de terra úmida e vegetação em decomposição, um aroma doce. Um pequeno pássaro amarelo voou ao redor da minha cabeça, pousou no meu ombro, permaneceu ali por uma dúzia de passos, e se foi. Parei para cortar um bastão de caminhada, e o cheiro da madeira branca me levou de volta a Ohio e ao riacho onde eu cortava salgueiros para fazer apitos, deixando as varas de molho durante a noite, batendo na casca com o cabo da faca para soltá-la, perto do local onde morangos cresciam. Encontrei algumas frutas silvestres, grandes e roxas, as esmaguei entre os dedos e saboreei o suco, que era ácido. Um lagarto com crista, vermelho como um tomate, mexeu-se preguiçosamente sobre uma rocha e veio sentar-se sobre a ponta da minha bota enquanto eu fazia isso. Toquei sua coroa, depois o empurrei para longe e segui em frente. Quando olhei para trás, seus olhos sal e pimenta encontraram os meus. Caminhei sob árvores de quarenta a cinquenta pés, e a umidade ocasionalmente caía sobre mim. Os pássaros começaram a despertar, e os insetos também. Um grande apito verde começou sua canção de desfloração de dez minutos em um galho acima de mim. Em algum lugar à minha esquerda, um amigo ou parente se juntou a ele. Seis flores de cobra-de-capela roxas explodiram do chão e emitiram assobios enquanto balançavam sobre seus caules, suas pétalas tremulando como bandeiras, liberando seus pesados perfumes com a eficiência de uma bomba. Mas eu não me assustei, pois era como se eu nunca tivesse partido.
E assim, eu segui em frente, e o mundo continuava à minha volta, como uma memória viva e imutável.
O Preço da Vingança: A Lógica do Comércio e da Mente Humana
A lógica que rege os conflitos entre os homens é complexa, quase sempre influenciada por um sistema de valores que pode ser distorcido, e por interesses que transcendem a simples confrontação física. A relação entre o desejo de vingança e o comércio de ideias e ações é uma das mais antigas, mas também das mais relevantes no comportamento humano. A essência dessa troca parece ter sido, desde tempos imemoriais, ancorada em um conceito que nos é familiar: tudo tem um preço.
O indivíduo que, aparentemente, se apresenta como uma ameaça imbatível, pode, em determinadas circunstâncias, ser subornado. A oferta de um pagamento substancial pode não apenas desviar o curso de uma batalha, mas também alterar o rumo de uma guerra interna que se trava dentro da mente humana. Não obstante, o preço de uma vingança, ou de uma intenção de morte, muitas vezes não é fixo, e os cálculos podem mudar à medida que o jogo se desenrola.
Durante um período de reflexão, me deparei com uma questão intrigante sobre a natureza da vingança: e se fosse possível comprar a paz com um preço suficientemente alto? A ideia de usar o dinheiro para apaziguar um inimigo é uma proposta interessante, mas, como se observa, ela depende profundamente do caráter do indivíduo e das motivações que o impulsionam. Shandon, por exemplo, era movido por um desejo de vingança alimentado pela dor de suas perdas, mas também por uma obsessão por riqueza. A sua natureza mercantil, que o levava a buscar sempre mais, poderia, teoricamente, ser corrompida por uma oferta financeira capaz de sanar suas angústias e restaurar seu senso de valor. Porém, um detalhe crucial emerge nesse cenário: ele já havia demonstrado um comportamento autodestrutivo, gastando grandes quantidades de dinheiro sem qualquer preocupação com o futuro. Portanto, a proposta de pagar sua "paibadra" (a causa de sua ação) poderia ser uma faca de dois gumes, se fosse aceita.
Seria possível subornar alguém que já se vê em um jogo de alto risco, onde cada moeda jogada representa não só uma transação, mas uma jogada de poder? A resposta parece ser, paradoxalmente, tanto sim quanto não. O dinheiro, sendo um bem tangível, não pode preencher os vazios emocionais ou espirituais de um homem já consumido pela obsessão. Isso, talvez, seja um reflexo da natureza humana que transcende todas as questões materiais. Aqueles que têm o desejo de vingança movido por um sentimento profundo de traição ou perda, como no caso de Shandon, podem até mesmo rejeitar ofertas substanciais. Nesse caso, o dinheiro não só perderia seu valor, mas se tornaria um símbolo da fraqueza ou da humilhação.
Contudo, ao analisar o que acontece dentro da mente de uma pessoa como Shandon, percebemos que o dinheiro pode não ser simplesmente o que ele parece ser à primeira vista. O mercador de vinganças, ao contrário de um simples "assassino de aluguel", possui algo que o distingue: ele opera dentro de um sistema de valores que pode, paradoxalmente, ser lido como uma tentativa de restabelecer seu próprio valor diante dos outros. Ou seja, ao invés de buscar apenas a destruição do inimigo, ele busca a reafirmação de seu próprio poder. Ele não deseja ser visto apenas como um "vendedor de alma", mas como alguém capaz de controlar as forças que agem sobre ele.
Não há, portanto, uma fórmula clara para resolver conflitos dessa natureza. E mesmo uma oferta substancial de riqueza pode ser insuficiente para acalmar uma alma atormentada por sentimentos tão profundos quanto a raiva e o desprezo. Por outro lado, a ilusão de que todo ser humano pode ser comprado ou que o valor da vingança pode ser facilmente calculado através de moedas é um erro comum que os próprios humanos cometem, mais vezes do que gostariam de admitir.
O ato de "comprar" a paz ou a rendição de um inimigo, como discutido, exige mais do que uma simples troca monetária. Há algo mais profundo e mais instintivo operando por trás das ações de ambos os lados em um confronto. Embora o dinheiro possa dar um alívio momentâneo ou criar uma ilusão de controle, ele nunca poderá suprimir os instintos primitivos que governam as reações de quem é movido por algo maior que o desejo de lucro: o desejo de vingança.
O importante, portanto, não é apenas o que é oferecido como preço de um ato, mas o que a alma de quem o recebe carrega consigo. A verdadeira motivação de Shandon nunca foi o dinheiro em si, mas o desejo de restaurar sua dignidade, de corrigir o que ele percebia como uma injustiça. Essa é uma linha tênue entre a vingança pessoal e o comércio de ideias e ações, onde o valor de um ato não está apenas no que é dado, mas no que é esperado em troca.
A Travessia das Águas Sombrias: O Encontro com o Abismo Interior
A ilha se erguia como uma montanha de carvão contra a noite sem estrelas e sem luar. O som do remo cortando a água quebrava o silêncio pesado, como uma presença que se fazia sentir em cada movimento. Quando perdemos o fundo e começamos a remar, o ritmo era quase imperceptível, mas, de alguma forma, havia uma intensidade na maneira como Green Green, com seu amor profundo pela água, se movia, refletindo uma conexão quase instintiva com aquele ambiente líquido e escuro.
Enquanto avançávamos nas águas, um sentimento estranho dominava, mais profundo do que a simples travessia física do mar. Havia algo no lugar que me incomodava, algo que tocava uma corda interior, uma lembrança distante, mas constante, de algo que eu tinha criado e que agora me parecia amaldiçoado. A imagem do Vale das Sombras, o vislumbre do passar sereno e silencioso, desapareceu diante de algo mais brutal, mais concreto. Esse local era um bloco de açougue, e não uma terra de passagens suaves. Ele simbolizava o fim, o rompimento com todas as ilusões e ideais, bons ou maus. Era o local onde as esperanças se perdem, onde os valores se esfacelam contra as rochas de uma realidade implacável. Não se erguem novamente, não importam quantas vezes se tente.
Ao tocar o ombro de Green Green, uma troca silenciosa de olhares ocorreu. Ele questionou: "Por que você fez isso, se odeia tanto o que criou?" Minha resposta foi simples, quase impessoal: "Pagaram-me bem." A verdade, no entanto, estava além dessa resposta pragmática. O que havia me levado até ali não era apenas o dinheiro, mas uma busca — uma busca pela compreensão, pela confrontação com o que estava oculto dentro de mim.
À medida que nos aproximávamos da ilha, a escuridão tornava-se mais espessa e, por um momento, meu corpo se tornava apenas um mecanismo, uma máquina obedecendo à ordem da necessidade, enquanto as memórias e pensamentos se esvaíam. A ilha se desdobrava diante de mim com uma clareza cortante. Como se o passado estivesse projetado ali, nas falhas da rocha e na textura das paredes escuras, tocáveis. Chegamos ao topo da pequena fenda que tinha ocultado o “caminho” para a subida, uma estreita fenda na rocha que nos levaria mais perto do nosso destino.
A subida era árdua, e, no entanto, era necessária. Não se tratava apenas de alcançar o topo, mas de atravessar um limiar — o ponto de não retorno. Mesmo quando Green Green se queixava, se esforçava, seguimos em frente, enfrentando as dificuldades com uma determinação silenciosa. Quando finalmente chegamos ao topo, o ar frio cortava nossas faces, mas ali, na vastidão da noite, algo mais nos aguardava.
Encontramos Courtcour, um homem de grande porte, quase alheio ao mundo ao seu redor, provavelmente mergulhado em algum tipo de narcótico. Ele era um enigma, e suas palavras, embora vagas, carregavam consigo uma verdade dura. Ele não apenas me disse que minha morte estava próxima, mas também que o destino de Green Green estava selado. O que parecia uma previsão era, na verdade, uma meditação sobre os inevitáveis ciclos de morte e destruição, que acompanham aqueles que se entregam ao jogo das grandes ambições. A ideia de que a morte poderia vir por meio de um “instrumento contundente” foi apenas mais uma expressão das probabilidades que dançam no ar entre os mundos.
Neste encontro, no entanto, não foi apenas a morte que se mostrou, mas também o questionamento da confiança. A traição, a dúvida, a desconstrução da ideia de lealdade, como se toda relação estivesse condenada a quebrar sob o peso da verdadeira natureza das coisas. Green Green, em sua calma distante, desconfiava de Courtcour, mas a necessidade de seguir em frente era maior do que qualquer outra coisa. O jogo de verdades e mentiras, de previsões e contra-ataques, se desdobrava como uma dança perigosa, em que cada movimento poderia ser fatal.
O momento em que Green Green pegou minha arma e disparou contra Courtcour, como uma resposta à manipulação que ele tentava impor, foi apenas mais uma das reviravoltas que este mundo de incertezas impunha. A morte, o destino e a traição se entrelaçavam em uma narrativa onde cada ato tinha uma consequência irreversível.
O clima de morte e antecipação pairava no ar, uma sensação palpável que nos envolvia enquanto seguimos, passando por uma fissura nas rochas, cercados por uma névoa que parecia não ter fim. E ali, diante de nós, uma outra figura se apresentou, uma presença de uma mulher misteriosa, Lady Karle. Suas palavras, carregadas de um tom fatalista, cortaram o silêncio: "Vindo para morrer." Talvez, naquele momento, a morte não fosse mais uma tragédia, mas uma inevitabilidade.
Atravessar as águas sombrias não era apenas uma jornada física, mas uma travessia através de um abismo interno. Cada movimento, cada pensamento, parecia nos empurrar mais fundo no confronto com aquilo que não podíamos evitar. O que está além daquilo que somos, o que está além de nossas escolhas, parece emergir de forma cruel quando somos forçados a confrontar o vazio que se encontra dentro de nós.
Entender a complexidade do destino e do confronto interior é essencial para quem se propõe a compreender o que está em jogo aqui. Não se trata apenas de questões externas, mas do embate constante entre os valores e as ilusões que sustentam nossa percepção do mundo. A verdadeira batalha, como sempre, acontece dentro de nós.
O Retorno ao Abismo: A Jornada para Casa
Virei então e encarei o que deveria ser o leste, e comecei a longa caminhada de volta. Voltar... O som dos gongos de latão e as rãs saltitantes. Estava preso a um teto áspero. Não. Eu estava deitado ali, de costas sobre o nada, tentando sustentar o mundo com os meus ombros. Ele era pesado e as pedras espetavam, cortavam. Abaixo de mim, a Baía se estendia, com seus condums, madeira flutuante, cordas de algas, botes vazios, garrafas e a espuma do mar. Eu podia ouvir seu distante estalo, e ele estourava tão alto que batia em meu rosto. Ali estava a vida, respingando, cheirando, fria. Eu tinha me jogado por suas águas selvagens e agora, ao olhar para ela, sentia-me caindo novamente, caindo de volta para suas águas rasas. Talvez eu tenha ouvido o grito de um pássaro. Caminhei até o Vale e agora voltava. Com sorte, conseguiria escapar mais uma vez dos dedos gelados da mão que se desintegrava. Eu caía, e o mundo girava em torno de mim, resolvendo-se no que ele tinha sido quando o deixei. O céu estava sombrio como uma lousa e riscado de fuligem. Ele exalava umidade. As pedras me furavam as costas. Acheron estava cheio de covinhas e rugas. Não havia calor no ar. Sentei-me, sacudindo a cabeça para clarear a mente, tremendo, e olhei para o corpo do homem verde que estava ao meu lado. Pronunciei as últimas palavras, completando o rito, e minha voz tremeu ao dizê-las. Rolei o corpo de Green para uma posição mais confortável e cobri-o com minha capa fina. Peguei as fitas e seus cilindros biológicos, que ele estava escondendo sob o corpo. Ele tinha razão. Estavam arruinados. Coloquei-os na mochila. Pelo menos, a Inteligência da Terra ficaria satisfeita com esse estado das coisas.
Em seguida, rastejei até o power-pull e esperei lá, levantando um campo de forças para atrair o T, observando o céu. Vi ela caminhando, se afastando, os quadris bem moldados, cobertos de branco e balançando levemente, suas sandálias estalando no pátio. Eu queria ir atrás dela, explicar meu papel no que aconteceu. Mas sabia que não adiantaria, então, por que perder a compostura? Quando um conto de fadas explode e a poeira dos sonhos se dissipa e você se encontra ali, sabendo que a última linha nunca será escrita, por que se permitir exercícios de futilidade? Havia gigantes e anões, sapos e cogumelos, cavernas cheias de joias e não um, mas dez magos... Sentia a Model T antes mesmo de vê-la, quando ela se conectou com o power-pull. Dez magos, magos financeiros, os barões mercantes de Algol... Todos eles seus tios. Eu achava que a aliança resistiria, selada como estava com um beijo. Não tinha planejado uma traição, mas quando ela veio do outro lado, algo precisava ser feito. Não foi só culpa minha. Um grande consórcio estava envolvido. Eu não poderia ter impedido, mesmo que quisesse. Agora, sentia o T se aproximando. Eu esfreguei minha perna acima da fratura, machuquei-a, e parei. Acordo de negócios transformado em conto de fadas, depois em vingança... Era tarde demais para voltar atrás na segunda fase desse ciclo, e eu tinha acabado de vencer a última. Eu deveria me sentir grande. O T surgiu, desceu rapidamente e pairou como um mundo sobre minha cabeça enquanto eu o manipulava através do power-pull. Fui um covarde, um deus e um filho da puta em minha vida, entre outras coisas. Isso é o que acontece quando você vive por muito tempo. Você passa por fases. Agora, eu estava apenas cansado e perturbado, com uma única coisa na cabeça. Trouxe o T para pousar em um espaço plano, abri a escotilha e comecei a rastejar para dentro. Não importava agora, não realmente, todas essas coisas que eu pensava quando o fogo estava alto. De qualquer forma, não importava. Cheguei à nave, entrei, mexi nos controles e a trouxe para uma vida mais sensível. Minha perna doía como o inferno.
Flutuamos. Então, eu respondi a nós, peguei o equipamento necessário, rastejei para fora novamente. Perdoe-me pelas minhas transgressões, querida. Posicionei-me cuidadosamente, mirei, e dissolvi uma grande rocha. "Frank? É você?" "Não, somos nós mesmos, galinhas." Lady Karle correu para fora, suja, com os olhos arregalados. "Você voltou para mim!" "Eu nunca saí." "Você está machucado." "Eu te avisei." "Você disse que ia embora, me deixar." "Você tem que aprender a saber quando estou falando sério." Ela me beijou então e me ajudou a me levantar com minha única perna boa, colocando meu braço sobre seus ombros. "Meio que jogando amarelinha", disse eu, enquanto caminhávamos em direção ao T. "O que é isso?" "Um jogo antigo. Quando eu puder andar de novo, talvez eu te ensine." "E agora?" "Casa livre, onde você pode ficar ou ir como quiser." "Eu deveria saber que você não me deixaria, mas quando você disse aquelas coisas... Senhor! Que dia miserável! O que aconteceu?" "A Ilha dos Mortos está afundando lentamente em Acheron. Está chovendo sobre ela." Olhei para o sangue nas mãos dela, a sujeira, depois seu cabelo bagunçado. "Eu não quis dizer tudo o que disse, sabe?" "Eu sei." Olhei ao redor. Algum dia, eu resolveria tudo isso, sabia. "Senhor! Que dia miserável!" disse ela. "Lá em cima, o sol está brilhando. Acho que conseguimos, se você ajudar." "Se apoie em mim." E eu me apoiei.

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