Em junho de 2021, um medicamento inovador foi aprovado para pacientes com Doença de Alzheimer (DA), o aducanumabe, um anticorpo monoclonal IgG1 que se direciona especificamente para as placas extracelulares de Aβ no cérebro, ajudando na sua eliminação. A administração do medicamento é feita por infusão intravenosa, levando cerca de uma hora e sendo aplicada a cada quatro semanas. Este avanço representa uma esperança para a luta contra a doença, oferecendo uma abordagem distinta ao atacar as proteínas que formam as placas associadas ao declínio cognitivo.

Além do aducanumabe, outros tratamentos tradicionais têm sido usados para tratar a Doença de Alzheimer, com destaque para os inibidores da colinesterase (ChEIs). A acetilcolina (ACh), um neurotransmissor essencial para a função cerebral, está em níveis reduzidos em pacientes com DA, o que contribui para a deterioração cognitiva. O acetilcolinesterase (AChE) é, portanto, um alvo importante na tentativa de mitigar os sintomas da doença, pois as deficiências colinérgicas são uma das primeiras características observadas na progressão da DA. O sucesso de inibidores da AChE no tratamento de doenças como a miastenia gravis demonstrou seu potencial terapêutico, o que levou ao desenvolvimento de medicamentos como tacrina, donepezil, rivastigmina e galantamina, que são utilizados para gerenciar os sintomas da DA.

Por outro lado, a pesquisa sobre a galantamina, um alcaloide presente em espécies de Galanthus, revelou seu potencial para o tratamento de miopatias e neuropatias periféricas. Embora tenha sido usada predominantemente em países como Itália, Bulgária, Alemanha e França durante as décadas de 1960 e 1980, seu uso para tratar DA só foi aprovado em 2000, após anos de estudos que evidenciaram seus benefícios no combate aos sintomas da doença.

Outro fator relevante no tratamento da DA é o papel do glutamato, o principal neurotransmissor excitatório no cérebro. Quando ativado excessivamente, principalmente por meio dos receptores NMDA em neurônios pós-sinápticos, o glutamato pode causar danos neuronais e acelerar a neurodegeneração. No entanto, o bloqueio total dos receptores NMDA provoca efeitos colaterais graves. A solução veio com o desenvolvimento do memantina, um antagonista não competitivo do receptor NMDA, que permite a atividade benéfica desse receptor enquanto protege contra os efeitos nocivos da superativação. A memantina foi aprovada em 2003 para o tratamento de DA moderada a grave e demonstrou melhorias na função cognitiva, especialmente quando combinada com os inibidores da colinesterase.

Entretanto, o tratamento farmacológico atual da DA ainda se concentra, em grande parte, na mitigação dos sintomas, sem oferecer uma solução definitiva para a patologia subjacente da doença. Isso leva a um aumento da pesquisa sobre a repurposição de medicamentos, com o objetivo de explorar substâncias previamente aprovadas para outras condições. Por exemplo, a pesquisa tem investigado se antimicrobianos, como rifampicina e aciclovir, poderiam ser usados para tratar DA, dado o possível papel de infecções virais, como o herpes, na formação das placas de Aβ no cérebro. Estudos também sugerem que a diabetes tipo 2 está associada ao desenvolvimento de DA, e, como resultado, medicamentos antidiabéticos, incluindo análogos de GLP-1, têm sido explorados como opções terapêuticas promissoras, dado seu potencial para reduzir a fosforilação da proteína tau e as placas de Aβ.

A repurposição de medicamentos anticâncer, antiepilépticos, antidepressivos, antiasmáticos, entre outros, também tem mostrado resultados positivos no tratamento de DA. Por exemplo, a bexaroteno, inicialmente usado no tratamento de linfomas, demonstrou eficácia em reverter a neurodegeneração e melhorar a função cognitiva em modelos animais de DA. Da mesma forma, medicamentos como a valproato, que é utilizado no tratamento de epilepsia, tem sido considerados como neuroprotetores devido à sua capacidade de reduzir a formação de placas de Aβ e melhorar as deficiências cognitivas.

Além disso, a doença de Parkinson (DP), uma condição neurodegenerativa caracterizada pela perda de neurônios dopaminérgicos, apresenta sintomas motores como tremores, rigidez e dificuldades de movimento. A DP, no entanto, também pode ser associada a uma série de sintomas não motores, como disfunção autonômica, problemas sensoriais e distúrbios comportamentais. A principal estratégia no tratamento da DP envolve o aumento dos níveis de dopamina, mas, assim como na DA, o tratamento não aborda completamente a progressão da doença. Em termos de repurposição de medicamentos, as abordagens que envolvem drogas já aprovadas para outras condições também têm mostrado resultados promissores no alívio dos sintomas motores e não motores da DP.

Finalmente, é essencial que a abordagem terapêutica para doenças neurodegenerativas seja cada vez mais integrada e multidisciplinar, envolvendo não apenas a busca por novos medicamentos, mas também a compreensão dos mecanismos subjacentes que conduzem essas condições. O foco no tratamento dos sintomas é crucial para melhorar a qualidade de vida dos pacientes, mas a pesquisa contínua sobre terapias que possam alterar a progressão das doenças neurodegenerativas oferece esperança de avanços significativos no futuro.

Como os Medicamentos Reposicionados Podem Ajudar no Tratamento de Doenças Neurodegenerativas?

A busca por novas terapias para doenças neurodegenerativas continua sendo um desafio significativo para a medicina moderna. No entanto, a estratégia de reposicionamento de medicamentos tem surgido como uma abordagem promissora. Essa técnica envolve a descoberta de novos usos para medicamentos existentes, muitas vezes usados para tratar condições completamente diferentes. O reposicionamento de medicamentos oferece uma maneira mais rápida e econômica de trazer tratamentos potenciais para doenças complexas como Alzheimer, esclerose lateral amiotrófica (ELA), Parkinson, Huntington e outras condições neurodegenerativas.

O reposicionamento de medicamentos tem se mostrado eficaz, especialmente quando as pesquisas tradicionais de novos compostos falham em atingir resultados satisfatórios em tempo hábil. Isso ocorre porque os medicamentos já aprovados têm perfis de segurança bem estabelecidos, o que reduz significativamente os riscos associados a novos tratamentos. Além disso, eles podem ser testados mais rapidamente, o que acelera o processo de desenvolvimento de tratamentos potenciais.

Diversos estudos têm demonstrado que medicamentos originalmente desenvolvidos para doenças cardiovasculares, como a Losartana, podem ter efeitos benéficos em doenças neurodegenerativas. No caso da esclerose múltipla, por exemplo, a Losartana tem mostrado propriedades neuroprotetoras ao modular o sistema renina-angiotensina no cérebro. Outro exemplo de reposicionamento bem-sucedido envolve o uso de medicamentos anticâncer como a cloroquina, que tem sido estudada para a neuroproteção em modelos experimentais de Alzheimer.

Pesquisas indicam que fármacos que afetam as vias celulares relacionadas à neuroinflamação e ao estresse oxidativo podem ter impacto positivo no tratamento de doenças neurodegenerativas. Medicamentos como a ciclosporina e o tamoxifeno, originalmente usados para doenças autoimunes e câncer, respectivamente, têm mostrado potencial terapêutico em doenças como a esclerose lateral amiotrófica (ELA) e a doença de Alzheimer.

Uma área particularmente interessante no reposicionamento de medicamentos é o uso de Inteligência Artificial (IA) e aprendizado de máquina para prever interações medicamentosas e identificar novos candidatos para tratamentos. Ferramentas como o IBM Watson têm sido empregadas para analisar grandes volumes de dados biológicos e genômicos, acelerando o processo de identificação de medicamentos que podem ser eficazes para doenças como a ELA e a doença de Parkinson.

Entre os medicamentos mais promissores, destaca-se a memantina, um antagonista do NMDA que, embora originalmente utilizado no tratamento de Alzheimer, tem demonstrado efeitos positivos em doenças como Huntington, retardando a progressão da doença. A administração de medicamentos que afetam a função mitocondrial, como o trimetazidina, também está sendo investigada, pois essas drogas podem ajudar a proteger as células nervosas contra danos causados pelo estresse oxidativo, um fator crucial em muitas doenças neurodegenerativas.

O impacto do reposicionamento de medicamentos também se reflete em abordagens inovadoras que combinam tratamentos farmacológicos com outras formas de terapia, como a estimulação cerebral profunda (DBS) ou a terapia genética. Estas abordagens têm o potencial de alterar o curso de doenças devastadoras e melhorar significativamente a qualidade de vida dos pacientes.

Entretanto, apesar das promessas, o reposicionamento de medicamentos enfrenta desafios consideráveis. A regulação de novos usos para medicamentos é um processo complexo, que exige uma avaliação rigorosa das evidências científicas e clínicas. Além disso, muitos medicamentos reposicionados podem não ser adequados para todos os pacientes devido às diferenças individuais em genética e metabolismo.

Por fim, ao considerar o reposicionamento de medicamentos, é crucial não apenas examinar os efeitos terapêuticos diretos, mas também entender como essas terapias podem ser otimizadas para diferentes subgrupos de pacientes. A personalização dos tratamentos, com base no perfil genético e nas características individuais de cada paciente, será fundamental para garantir o sucesso dessa estratégia no futuro.

Polyfarmacologia: A Promiscuidade dos Medicamentos e a Sua Aplicação no Tratamento de Doenças Complexas

A abordagem de "um único medicamento para várias doenças" tem se tornado cada vez mais relevante no campo da medicina, particularmente no tratamento de doenças complexas como o câncer e as doenças neurodegenerativas. O conceito de polifarmacologia, que envolve o uso de um único medicamento para interagir com múltiplos alvos biológicos, é um reflexo da tentativa de maximizar a eficácia terapêutica enquanto se minimiza os efeitos colaterais adversos. Embora os efeitos colaterais não sejam desejáveis, sua existência tem levado pesquisadores a explorar alvos adicionais, o que se mostra vantajoso para patologias que envolvem várias etapas ou cascatas de sinalização, como as mencionadas anteriormente.

A pesquisa sobre polifarmacologia tem se mostrado particularmente útil no combate à resistência a medicamentos. Como destacado por Chaudhari et al. (2017), as moléculas de drogas podem se ligar a diversas proteínas quinases, incluindo mutantes que surgem no contexto da resistência ao tratamento, sendo isso especialmente relevante no tratamento de cânceres. A partir de estudos genômicos, observou-se que muitos sistemas biológicos são insensíveis a um único agente, e mais de 40% dos alvos moleculares são compartilhados entre diferentes doenças, o que permite uma abordagem mais ampla e eficaz.

No entanto, os benefícios da polifarmacologia não se limitam à resistência a medicamentos. O uso de uma única droga para atacar múltiplos alvos pode ser superior às terapias combinadas, pois a farmacocinética de um único medicamento é mais previsível, e o risco de toxicidade e efeitos adversos é menor. A simplificação do regime terapêutico não apenas melhora a adesão do paciente ao tratamento, como também pode reduzir a complexidade dos efeitos colaterais, algo crucial para o sucesso em tratamentos a longo prazo, como ocorre no tratamento de doenças crônicas.

As metodologias para a identificação e desenvolvimento de medicamentos polifarmacológicos são diversas, e incluem abordagens baseadas em ligantes, estruturas, redes e bioinformática. As metodologias baseadas em ligantes, por exemplo, partem do princípio de que ligantes com estruturas semelhantes tendem a se ligar aos mesmos alvos. Já as metodologias estruturais buscam bibliotecas de moléculas que possam se ligar a uma gama específica de alvos. Os métodos baseados em rede utilizam grandes bancos de dados genômicos, proteômicos e metabolômicos para mapear interações proteína-proteína ou proteína-ligante. A bioinformática, por sua vez, explora dados de expressão gênica para identificar novos alvos terapêuticos.

A polifarmacologia também tem se mostrado útil em situações de resistência a antibióticos, um problema crescente na medicina moderna. Medicamentos originalmente desenvolvidos para outras condições, como doenças virais, têm sido reutilizados em casos de resistência a antibióticos. No entanto, como apontado por Talat et al. (2022), a reutilização de antibióticos, especialmente em doses elevadas e por períodos prolongados, aumenta a probabilidade de desenvolvimento de resistência. Isso é particularmente preocupante quando antibióticos de última linha são utilizados, como é o caso do uso de deoxiciclina, que pode levar à resistência cruzada com o colistina, outro antibiótico de reserva.

A questão da "promiscuidade" dos medicamentos, em que uma substância ativa pode se ligar a múltiplos alvos, também é relevante para a polifarmacologia. Estudos têm mostrado que características como o peso molecular, a hidrofobicidade e a flexibilidade conformacional de um medicamento não são os principais determinantes de sua promiscuidade. O que realmente importa é a similaridade nos locais de ligação dos alvos. Alguns medicamentos, como a acarbose, o metotrexato e a niacinamida, têm a capacidade de se ligar a mais de 15 alvos diferentes, o que demonstra a complexidade e a capacidade dos medicamentos de se adaptar a diferentes sistemas biológicos.

Uma área crescente dentro da pesquisa farmacológica envolve o uso de estruturas privilegiadas, ou scaffolds, no design de novos medicamentos. Esses scaffolds podem ser derivados de produtos naturais e têm mostrado ser particularmente eficazes na polifarmacologia. Ao identificar moléculas que podem interagir com diversos alvos, os pesquisadores estão não apenas ampliando o espectro de eficácia dos medicamentos, mas também minimizando os efeitos adversos, uma vez que esses alvos tendem a estar relacionados com diversas vias biológicas e doenças. O uso de estruturas privilegiadas está sendo cada vez mais explorado, como no caso da pesquisa sobre a interação entre o pirin e a proteína quinase B-Raf, em que uma única molécula foi capaz de se ligar a ambos, apesar de serem proteínas de famílias distintas.

Além disso, a descoberta de novos medicamentos polifarmacológicos se beneficia do uso de sondas bioquímicas, como os PROTACs (Proteolysis Targeting Chimeras), que são moléculas bifuncionais capazes de degradar proteínas nocivas dentro das células. Esse tipo de abordagem oferece novas possibilidades de tratamento, especialmente no combate a doenças como o câncer, onde a degradação de proteínas específicas pode interromper a progressão da doença.

Dessa forma, o futuro da medicina terapêutica parece cada vez mais voltado para a polifarmacologia, onde a capacidade de um único medicamento atacar múltiplos alvos não é apenas uma vantagem, mas uma necessidade diante da complexidade das doenças modernas. O desenvolvimento de novas terapias baseadas nessa abordagem exige, no entanto, uma compreensão aprofundada das interações moleculares e das redes biológicas envolvidas, o que está sendo facilitado pelo avanço da genômica, proteômica e bioinformática. Em última análise, a busca por medicamentos mais eficazes e menos tóxicos depende da capacidade de explorar e compreender essas complexas interações biológicas.

Repurposing de Medicamentos no Tratamento de Doenças Parasitárias: Novos Caminhos Terapêuticos e Avanços Científicos

A busca por novas opções terapêuticas contra parasitas tem sido um desafio constante no campo da medicina, principalmente em relação às doenças tropicais negligenciadas, como a esquistossomose, teníase e filariose. Embora o desenvolvimento de novos fármacos seja um processo complexo e demorado, uma abordagem emergente tem ganhado atenção: o repurposing de medicamentos. Essa estratégia consiste em explorar o potencial terapêutico de substâncias já aprovadas para outras indicações, aproveitando suas propriedades para tratar novas doenças, especialmente parasitárias.

Pesquisas recentes têm demonstrado o potencial de medicamentos inicialmente desenvolvidos para outras condições, como o praziquantel e a miltefosina, para o tratamento eficaz de doenças parasitárias como a esquistossomose. Um estudo de 2020, realizado por Eissa et al., investigou a combinação de praziquantel com miltefosina em uma fórmula de dose fixa oral, com resultados promissores no controle experimental da esquistossomose mansoni. O estudo evidenciou a viabilidade dessa combinação no combate ao parasita, destacando a importância de repensar o uso de medicamentos existentes como alternativa para doenças parasitárias crônicas e resistentes.

Além disso, a progesterona tem sido observada como um agente com capacidade de induzir a evaginação do escólex do Taenia solium, outro parasita de grande impacto para a saúde pública. Este fenômeno, que pode ter implicações evolutivas para a relação hospedeiro-parasita, abre uma nova via de pesquisa para o tratamento de infecções por teníase. Outro exemplo relevante é o uso do tamoxifeno, um medicamento utilizado principalmente no tratamento de câncer, que tem mostrado eficácia na proteção contra a taeníase induzida por Taenia solium em hamsters, conforme estudo de 2013 de Escobedo et al.

A investigação de novos compostos também se expandiu para incluir o estudo de antibióticos no tratamento de filariose. O uso de antibióticos, tanto isoladamente quanto em combinações terapêuticas, tem demonstrado reduzir a carga parasitária e melhorar os resultados clínicos em infecções por filárias. A resistência aos tratamentos convencionais tem impulsionado esses estudos, pois novas terapias podem oferecer opções viáveis frente à resistência crescente dos parasitas.

Outra vertente promissora no repurposing de medicamentos envolve a exploração de compostos de ouro, como o auranofin, tradicionalmente usado no tratamento de doenças reumáticas, que tem mostrado atividade contra parasitas tanto humanos quanto de gado. O estudo de Feng et al. (2020) ilustrou como esses compostos podem ser eficazes contra protozoários e helmintos, ampliando o espectro de ação de fármacos já existentes.

O uso de inibidores de desacetilase de histonas (HDAC) para o tratamento da esquistossomose também tem sido explorado com bons resultados, conforme estudo de Ghazy et al. (2022). Essas substâncias agem modificando a estrutura da cromatina, impedindo a expressão de genes essenciais para a sobrevivência do parasita, e assim podem servir como base para o desenvolvimento de novas terapias para doenças parasitárias resistentes.

A revolução digital também tem contribuído para acelerar esse processo, com ferramentas de modelagem computacional e triagem virtual de fármacos. O uso de plataformas como o DrugRep, que realiza triagem virtual para repurposing de medicamentos, tem se mostrado eficaz na identificação de compostos promissores para o tratamento de doenças parasitárias, como evidenciado por Gan et al. (2023).

Além disso, a aplicação de modelos experimentais em organismos como o Caenorhabditis elegans tem sido cada vez mais utilizada para testar a eficácia de novos tratamentos. Esses modelos oferecem uma maneira rápida e econômica de avaliar o efeito de substâncias em helmintos, contribuindo para a identificação de novos agentes terapêuticos.

A evolução na busca por alternativas terapêuticas não se limita apenas aos tratamentos em si, mas também ao estudo das interações entre hospedeiro e parasita. Entender essas relações é fundamental para o desenvolvimento de terapias que não só erradiquem os parasitas, mas também minimizem os danos ao hospedeiro. Estudos genômicos, como o realizado por Goel et al. (2019), têm revelado detalhes sobre as enzimas responsáveis pela síntese de tRNA em helmintos, abrindo caminho para novos alvos terapêuticos.

É crucial que as pesquisas sobre repurposing de medicamentos continuem a ser exploradas, uma vez que elas oferecem uma alternativa valiosa diante dos desafios de resistência aos tratamentos atuais e da emergência de novas cepas parasitárias. A combinação de tratamentos, seja por via de combinações de fármacos ou pela adaptação de medicamentos existentes, pode ser a chave para controlar eficazmente essas doenças tropicais.

O conceito de repurposing de medicamentos é uma abordagem estratégica que tem o potencial de transformar a maneira como tratamos as doenças parasitárias. Contudo, deve-se considerar que a eficácia de um medicamento em uma doença parasitária pode ser influenciada por diversos fatores, como a farmacocinética do fármaco no organismo, a interação com outros medicamentos e as particularidades de cada parasita. Assim, a investigação contínua e o uso de modelos experimentais são fundamentais para garantir que os tratamentos propostos sejam seguros e eficazes.

Repurposeamento de Fármacos: Abordagens para o Tratamento de Doenças Neurodegenerativas

A busca incessante por novos medicamentos em diversas áreas terapêuticas continua, mas recentemente o foco tem se voltado para uma estratégia inovadora que tem ganhado crescente atenção: o repurposeamento de fármacos (também conhecido como repositionamento de drogas). Esta abordagem oferece inúmeras vantagens sobre o método tradicional de descoberta de medicamentos e abriu novas oportunidades nos campos da química medicinal e farmacologia.

O conceito de repurposeamento de fármacos consiste em utilizar medicamentos já existentes para tratar doenças diferentes daquelas para as quais foram originalmente desenvolvidos. Exemplos notáveis dessa prática incluem o uso de aspirina, talidomida, sildenafil e dimetil fumarato, que foram reposicionados para tratar uma variedade de condições médicas. O processo de repurposeamento pode ser classificado em três categorias principais: centrado no fármaco, centrado na doença e centrado no alvo. Essas abordagens utilizam fontes de informações como dados ômicos, literatura científica e bancos de dados de compostos de fármacos para identificar novas indicações terapêuticas.

Uma das maiores vantagens do repurposeamento de fármacos é o fato de reduzir significativamente o tempo e o custo de desenvolvimento de novos tratamentos. Enquanto o desenvolvimento de um novo fármaco pode levar de 10 a 15 anos e custar cerca de 2,6 bilhões de dólares, o repurposeamento de medicamentos pode oferecer uma alternativa mais rápida e econômica. Essa estratégia também tem o potencial de curar doenças atualmente incuráveis, economizando tempo e recursos preciosos.

No contexto das doenças neurodegenerativas (DN), como Alzheimer e Parkinson, o repurposeamento de fármacos tem se mostrado especialmente promissor. As doenças neurodegenerativas, que afetam o sistema nervoso periférico (SNP), têm se tornado um grande foco de pesquisa. Com o aumento da população global e o envelhecimento da sociedade, essas doenças estão se tornando mais prevalentes. Embora alguns medicamentos estejam disponíveis para tratar essas condições, a maioria apenas retarda a progressão da doença, sem curá-las efetivamente.

Com a crescente demanda por tratamentos eficazes para as DN, a indústria farmacêutica tem recorrido cada vez mais ao repurposeamento de fármacos. A identificação de novos alvos terapêuticos e a aplicação de medicamentos existentes a novas patologias representam uma maneira promissora de encontrar soluções mais rápidas e eficazes para esses distúrbios debilitantes.

Existem diversas estratégias que podem ser empregadas no processo de repurposeamento de fármacos. De acordo com estudos recentes, o aumento da expectativa de vida está diretamente relacionado ao aumento da prevalência das doenças neurodegenerativas, uma vez que o envelhecimento é um dos principais fatores de risco para essas doenças. Por exemplo, a doença de Alzheimer, que afeta entre um terço e metade das pessoas com mais de 85 anos, está projetada para afetar 135 milhões de pessoas até 2050. Sem tratamentos eficazes para retardar a progressão dessas doenças, as DN terão um impacto devastador tanto para os indivíduos afetados quanto para a sociedade como um todo.

A descoberta de novos fármacos, desde a seleção e validação de alvos até a utilização de medicamentos autorizados, é um processo desafiador e demorado. O repurposeamento de fármacos surge como uma solução que pode mitigar vários problemas associados ao desenvolvimento de novos fármacos. Ao reduzir as taxas de falha nas fases clínicas, acelerar o processo de descoberta e oferecer soluções mais acessíveis e eficazes, o repurposeamento se mostra uma alternativa viável e de baixo risco. No entanto, o principal desafio nesse processo é identificar novas associações entre medicamentos e doenças, o que pode ser realizado por meio de duas abordagens principais: o modelo centrado no alvo (on-target) e o modelo centrado no fármaco (off-target).

Na abordagem centrada no alvo, o mecanismo farmacológico de um fármaco conhecido é relacionado a uma nova aplicação terapêutica, mantendo o alvo biológico do medicamento original. Essa estratégia combina técnicas híbridas, metodologias computacionais e experimentos biológicos. Já no modelo centrado no fármaco, o mecanismo farmacológico de um fármaco é redirecionado para novos alvos terapêuticos, ampliando seu espectro de ação para outras doenças.

O repurposeamento de fármacos é um campo promissor que pode oferecer respostas mais rápidas e eficazes para doenças complexas e incuráveis, como as doenças neurodegenerativas. Contudo, embora essa abordagem traga inúmeras vantagens, também existem desafios significativos a serem superados, como a identificação precisa de novos alvos terapêuticos e a necessidade de uma avaliação rigorosa da eficácia e segurança dos fármacos reposicionados. Esse processo deve ser conduzido com cautela, levando em consideração tanto os aspectos científicos quanto os regulatórios e comerciais.

É importante compreender que o repurposeamento de fármacos não é uma solução mágica que resolverá todos os problemas de saúde relacionados às doenças neurodegenerativas. Embora tenha potencial para acelerar a disponibilidade de tratamentos, a eficácia desses medicamentos em novas condições ainda precisa ser cuidadosamente avaliada. A complexidade biológica e a individualidade das doenças requerem que cada novo uso de um fármaco seja meticulosamente testado em ensaios clínicos, com acompanhamento contínuo dos efeitos a longo prazo.

Além disso, é fundamental que as estratégias de repurposeamento considerem a evolução das doenças e os avanços tecnológicos nas áreas de genômica e biotecnologia. O desenvolvimento de novas ferramentas analíticas, como a bioinformática e a inteligência artificial, pode acelerar a identificação de novos alvos terapêuticos e melhorar a precisão dos estudos de reposicionamento de fármacos.