A análise do fluxo migratório mexicano para os Estados Unidos é complexa e envolve diversos fatores interligados, como as políticas de fiscalização, os efeitos econômicos de ambas as nações e, mais recentemente, os impactos psicológicos causados pelas políticas de deportação. Um ponto crucial, frequentemente debatido, é a relação entre o aumento das ações de fiscalização e o declínio do fluxo de migrantes, especialmente após a Grande Recessão, quando as políticas de aplicação se intensificaram significativamente.
A relação entre a aplicação da lei e o fluxo migratório não é simples de decifrar. Embora se tenha assistido a um aumento considerável na fiscalização e nas apreensões ao longo dos anos, a maior parte do declínio no fluxo de migrantes mexicanos foi registrada após 2014, muito tempo depois de o reforço das políticas de fiscalização ter sido implementado. Isso levanta uma pergunta fundamental: até que ponto as políticas de fiscalização são responsáveis por essa diminuição ou se ela é, em grande parte, atribuível a fatores externos, como a recessão econômica global, que impactou diretamente as condições de trabalho nos Estados Unidos e no México?
Dados do Border Survey of Mexican Migration (EMIF) de 2004 a 2017 revelam uma mudança importante no perfil dos migrantes repatriados dos Estados Unidos. Antes da recessão de 2008, a maioria dos mexicanos deportados havia vivido menos de um ano nos Estados Unidos. No entanto, com o passar dos anos, especialmente após 2011, o número de deportados que tinham permanecido por mais de um ano no país aumentou significativamente, refletindo as mudanças nas abordagens de fiscalização, tanto nas fronteiras quanto no interior dos Estados Unidos.
Por exemplo, até 2008, apenas 12% dos deportados tinham permanecido nos Estados Unidos por mais de um ano. Esse número subiu para quase 50% até 2011. Isso sugere que as novas políticas não estavam apenas focadas em impedir a entrada de migrantes, mas também em remover aqueles que já estavam estabelecidos nos Estados Unidos, especialmente os migrantes de longa data, que, por sua vez, eram mais propensos a ter laços familiares e de trabalho estabelecidos no país.
O impacto psicológico das deportações de migrantes com residência estabelecida nos Estados Unidos também não pode ser subestimado. Muitos desses migrantes eram chefes de família, com uma média de idade superior a 35 anos, e sua remoção não só desestruturava suas famílias, mas também tinha um efeito dissuasivo em relação à intenção de retorno. Dados do EMIF indicam que a intenção de retornar ao norte caiu drasticamente a partir de 2009, com uma redução acentuada entre 2016 e 2017, quando apenas cerca de 41% dos deportados expressaram desejo de retornar, um número muito inferior ao verificado nos anos anteriores.
A partir de 2014, a fiscalização não se limitou mais apenas à fronteira, mas passou a focar também no interior do país, especialmente nas comunidades com altos índices de migrantes de longa permanência. Essas medidas foram intensificadas sob a administração Trump, com a deportação de migrantes estabelecidos em bairros e áreas urbanas, além da abordagem nos postos de trabalho e nas ruas. Isso gerou um efeito psicológico significativo entre os migrantes, cujos laços sociais e econômicos com os Estados Unidos foram abruptamente interrompidos.
Os dados coletados a partir de entrevistas com migrantes deportados logo após a repatriação mostram que, mesmo em casos de migração recente, onde os migrantes foram apreendidos na tentativa de cruzar a fronteira, a taxa de intenção de retorno caiu drasticamente. As circunstâncias que envolvem a deportação, incluindo a separação da família e a perda de empregos, resultam em uma diminuição do desejo de retornar aos Estados Unidos. Isso contrasta com a visão de que as políticas de fiscalização na fronteira, por si só, seriam as principais responsáveis pela redução do fluxo migratório.
A mudança no perfil dos migrantes repatriados também é significativa. Migrantes com menos de um ano de estadia são em grande parte jovens e solteiros, e muitos são deportados durante tentativas de entrada. Em contraste, aqueles com mais tempo nos Estados Unidos geralmente têm famílias e empregos, e são deportados em ações dentro do território, o que reflete um tipo de fiscalização mais intrusiva. Esses dados apontam que as mudanças nas políticas de fiscalização foram eficazes em capturar migrantes que já estavam estabelecidos no país, mas, ao mesmo tempo, podem ter contribuído de forma indireta para a diminuição do fluxo de novos migrantes.
A relação entre a aplicação da lei e a redução do fluxo migratório, portanto, não é linear e deve ser analisada dentro de um contexto mais amplo. A recessão de 2008 teve um impacto considerável no mercado de trabalho dos Estados Unidos, especialmente no setor da construção civil, onde muitos migrantes mexicanos trabalhavam. A perda de empregos e a consequente redução das oportunidades de trabalho fizeram com que muitos migrantes decidissem retornar ao México, mesmo sem a intervenção direta das políticas de fiscalização. Portanto, a diminuição do fluxo migratório é um fenômeno que resulta de múltiplos fatores, com a fiscalização desempenhando um papel importante, mas não determinante.
O que é importante destacar é que, apesar da intensificação das políticas de fiscalização, a redução do fluxo migratório mexicano para os Estados Unidos parece ter sido impulsionada por fatores econômicos mais amplos, em particular a recessão que afetou ambos os países. Além disso, a mudança no perfil dos migrantes deportados e o impacto psicológico das remoções indicam que a natureza da migração mudou, com menos pessoas dispostas a arriscar sua permanência a longo prazo nos Estados Unidos.
Como o USMCA Impacta o Desenvolvimento Econômico Sustentável e Inclusivo na América do Norte?
Nos últimos anos da administração do presidente Enrique Peña Nieto (2012-2018), a política de aumento do salário mínimo ganhou força, especialmente no México, com o objetivo de garantir a qualquer trabalhador um rendimento capaz de cobrir os custos de uma cesta básica para si e para um dependente. A administração de López Obrador, que o sucedeu, continuou a apoiar essa política, mas com um foco mais amplo, tentando garantir que o salário mínimo fosse uma ferramenta de inclusão social e redução das desigualdades. Porém, a realidade nos Estados Unidos foi bem diferente. Durante o governo de Donald Trump, a promessa de aumentar o salário mínimo para US$ 15 por hora não se concretizou, apesar de uma campanha significativa a favor dessa medida.
O Tratado entre México, Estados Unidos e Canadá (USMCA) trouxe consigo algumas melhorias nos direitos dos trabalhadores, principalmente no que diz respeito à organização sindical, um ponto de interesse da administração López Obrador. No entanto, para que o acordo realmente beneficie o desenvolvimento econômico de toda a América do Norte, seria necessário que fosse acompanhado pela criação de um banco regional de desenvolvimento adequadamente financiado, capaz de investir em indústrias e educação nas regiões mais desfavorecidas de todos os três países. Sem isso, as verdadeiras necessidades de desenvolvimento econômico regional dificilmente seriam atendidas.
Para enfrentar as políticas de promoção de exportações da China, que prejudicaram tanto as exportações mexicanas quanto o mercado de trabalho dos EUA, seria necessário um esforço conjunto dos três países membros do USMCA, além de uma colaboração com outras potências comerciais, como a União Europeia. Negociar com a China ou apresentar queixas à Organização Mundial do Comércio (OMC) seria um passo importante nesse processo. No entanto, é fundamental reconhecer que, no final das contas, cada nação precisa trabalhar para tornar suas economias mais equitativas e competitivas, principalmente por meio de esforços internos. A transformação do NAFTA para o USMCA, portanto, terá um impacto limitado, contribuindo de forma pequena ou até mesmo negativa no que diz respeito aos desafios estruturais do desenvolvimento de longo prazo.
O impacto do USMCA foi, de fato, uma redução da incerteza enorme criada pela administração Trump em relação ao futuro do comércio na região, mas pouco mais do que isso. Embora tenha evitado o pior cenário, a assinatura do novo tratado não foi uma panaceia capaz de resolver os principais desafios econômicos e sociais que os três países enfrentam. O que é crucial compreender é que o problema não está nas estrelas ou nas políticas comerciais, mas em um processo falho de implementação de uma agenda para o desenvolvimento inclusivo e sustentável.
No caso do México, a administração de López Obrador, até agora, não demonstrou uma visão clara para colocar a economia mexicana em um caminho de crescimento sustentável e inclusivo de longo prazo. Embora a política de aumento do salário mínimo e outras iniciativas no mercado de trabalho representem passos positivos, a maior parte da agenda econômica do governo segue uma linha neoliberal, com a continuidade das políticas iniciadas na década de 1980. Não há uma política industrial ativa em curso, nem uma reforma fiscal progressiva, ou iniciativas para a criação de um sistema universal de proteção social. A política monetária continua focada no controle da inflação, enquanto a política fiscal se compromete com uma austeridade fiscal severa.
Em termos de política econômica, a administração de López Obrador não parece estar disposta a remover os obstáculos que impedem um desenvolvimento social e econômico sustentável no México. De fato, pode estar tornando essas restrições ainda mais rígidas. Só o tempo dirá se o governo mexicano mudará sua trajetória e construirá um pacto social com os principais atores econômicos e políticos em favor de uma nova agenda para o desenvolvimento inclusivo e o crescimento econômico sustentado. Porém, o cenário nos Estados Unidos parece ser ainda mais complicado, com as esperanças de um futuro mais inclusivo agora concentradas nas eleições presidenciais de 2020, e não em medidas que a administração Trump poderia adotar.
É importante destacar que, além das questões políticas, o desenvolvimento econômico na América do Norte enfrenta barreiras estruturais que não podem ser resolvidas apenas por acordos comerciais. O USMCA, assim como o NAFTA antes dele, pode trazer algumas melhorias superficiais, mas não resolve as questões mais profundas de desigualdade e falta de competitividade nas economias dos três países. Para realmente avançar em direção a um crescimento econômico inclusivo e sustentável, os governos precisam investir mais em educação, infraestrutura e em políticas públicas que favoreçam a integração econômica de maneira mais justa para todos os cidadãos.
Como a Migração e a Globalização Impactam a Economia e as Identidades Sociais?
A migração, enquanto fenômeno social e econômico, possui um papel multifacetado em um mundo cada vez mais globalizado. Um dos principais movimentos da contemporaneidade é a migração de trabalhadores e a transferência de partes ou de toda a produção para outros países, um processo frequentemente confundido com o conceito de "offshoring". Embora esses termos sejam comumente usados de forma intercambiável, a principal diferença é que offshoring refere-se especificamente à terceirização que ultrapassa as fronteiras nacionais, enquanto outsourcing pode ocorrer dentro do mesmo país. A transferência de processos produtivos para regiões onde os custos são mais baixos, portanto, é uma das faces da globalização econômica.
O fenômeno do offshoring tem amplas implicações tanto para os países de origem quanto para os de destino. Para os países desenvolvidos, a busca por custos mais baixos pode significar a perda de postos de trabalho, principalmente em setores que envolvem tarefas repetitivas e de baixo valor agregado. Ao mesmo tempo, países em desenvolvimento se beneficiam da chegada de novos investimentos e da criação de empregos, muitas vezes em indústrias que antes não existiam. No entanto, o impacto dessa transferência de produção não é apenas econômico, mas também cultural e social, afetando diretamente as dinâmicas de identidade e de classes sociais.
Além da migração laboral, outro fenômeno relevante é o das migrações políticas, ou seja, movimentos de pessoas que fogem de regimes autoritários ou perseguições políticas em busca de segurança em outros países. Esse tipo de migração é amplificado por crises humanitárias e políticas em diversas partes do mundo. O sistema de refúgio, com todas as suas complexidades legais e restrições, desempenha um papel fundamental na proteção dessas populações. Em muitos países, o sistema de asilo tem sido alvo de reformas, com algumas administrações tentando implementar medidas mais restritivas, como a separação de famílias na fronteira ou a negação de direitos básicos a refugiados e imigrantes.
Em relação aos aspectos sociais, a migração também traz à tona a questão da identidade étnica e racial. Grupos migrantes frequentemente se veem obrigados a construir uma nova identidade em contextos que os categorizam como "outros", frequentemente em função de características como cor da pele, origem nacional ou até mesmo a língua falada. Isso é particularmente evidente nos Estados Unidos, onde a identidade latino-americana, por exemplo, abrange pessoas de uma vasta diversidade de países e culturas, mas que, devido a uma história de discriminação e marginalização, são agrupadas sob uma mesma identidade racializada. Este fenômeno de "identidade panétnica racializada" pode ser observado em diversos contextos migratórios, onde as diferenças culturais são minimizadas ou ignoradas em favor de uma categorização simplista com base em características externas.
A política social, como o conceito de "política social", também desempenha um papel crucial nesse cenário. As políticas públicas, tanto nos países de origem quanto nos de destino, são determinantes para o bem-estar dos migrantes. Nos Estados Unidos, por exemplo, a adoção de políticas restritivas pode afetar diretamente o acesso a direitos fundamentais, como saúde, educação e segurança. Ao mesmo tempo, programas como o "Procampo" no México, que fornece apoio financeiro direto para os agricultores rurais, têm o poder de impactar significativamente a migração interna, já que muitos optam por migrar para as cidades em busca de melhores oportunidades de trabalho devido à falta de apoio efetivo nas áreas rurais.
O fenômeno da migração, especialmente no contexto das transferências de produção para países com custos mais baixos, implica uma mudança profunda não apenas nos fluxos econômicos globais, mas também nas relações sociais e na formação de novas identidades. O conceito de "identidade reativa", onde grupos étnicos e raciais se unem em resposta à discriminação ou marginalização, também surge como uma consequência desses processos. Em muitos casos, a migração forçada ou voluntária leva à construção de uma solidariedade entre migrantes que, mesmo com origens diversas, compartilham experiências semelhantes de exclusão e discriminação.
Importante é que o leitor compreenda que a migração não é um fenômeno isolado, mas sim parte de um processo maior de transformação social, econômica e política que está em constante evolução. A globalização pode ser vista como um motor dessa dinâmica, mas ela também revela as fragilidades e desigualdades de um sistema que ainda enfrenta grandes desafios, como as tensões políticas internas e internacionais, a emergência de nacionalismos e a crescente resistência a políticas de acolhimento de migrantes. Assim, é fundamental considerar os aspectos tanto macroeconômicos quanto as complexas interações sociais que emergem dessa mobilidade humana, para entender melhor as consequências para as sociedades contemporâneas.

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