A osteoartrite (OA) é uma condição degenerativa das articulações que afeta cães, causando dor, rigidez e limitação de movimento. Além do tratamento convencional com medicamentos anti-inflamatórios e modificadores da doença, a nutrição desempenha um papel fundamental no manejo dessa doença. Vários suplementos nutricionais têm sido investigados e, embora os resultados variem, alguns se mostram promissores na prevenção da progressão da OA e na mitigação dos sintomas.

O uso de suplementos nutricionais, também conhecidos como nutracêuticos, é uma prática comum no manejo da osteoartrite canina. Esses produtos, derivados de fontes alimentares, oferecem benefícios à saúde que vão além do valor nutricional básico. Quando combinados com uma dieta balanceada, os nutracêuticos podem ajudar a controlar os sintomas da OA e até retardar sua progressão. Contudo, é importante observar que esses suplementos são complementares, e não tratamentos primários, devendo ser usados em conjunto com terapias mais eficazes para a OA avançada.

A L-carnitina é um exemplo de nutracêutico que tem demonstrado benefícios no manejo da OA. Administrada em doses superiores a 300 mg/kg de alimento seco, ela ajuda a preservar a massa muscular magra em pacientes submetidos a programas de perda de peso. Além disso, antioxidantes, como a vitamina E, C e o selênio, têm mostrado potenciais efeitos preventivos e terapêuticos, agindo na redução dos danos articulares causados pela OA.

Entre os suplementos nutricionais com potencial para modificar a evolução da OA, destacam-se os ácidos graxos essenciais (EFA), especialmente os provenientes de fontes marinhas. O DHA (ácido docosahexaenoico) e o EPA (ácido eicosapentaenoico) são os principais ácidos graxos dessa categoria, sendo reconhecidos por suas propriedades anti-inflamatórias. Eles competem com o ácido araquidônico para reduzir a produção de mediadores inflamatórios e moléculas que degradam a cartilagem. Embora o ALA (ácido alfa-linolênico), encontrado em fontes vegetais como o óleo de semente de linhaça, seja um EFA importante, ele não apresenta os mesmos benefícios anti-inflamatórios observados em outras espécies. A dosagem recomendada de EPA/DHA para cães com OA varia conforme o estágio da doença, sendo sugerido 75-100 mg/kg/dia para estágios iniciais e 100 mg/kg/dia para estágios mais avançados.

Outro suplemento nutricional frequentemente utilizado é a glucosamina, que, juntamente com a condroitina, contribui para a produção de glicosaminoglicanos e proteoglicanos, componentes essenciais da cartilagem saudável. Embora esses suplementos sejam amplamente promovidos, a evidência científica sobre sua eficácia é inconsistente, com alguns estudos sugerindo que eles não oferecem benefícios significativos para a OA. A glucosamina, em sua forma de cloreto ou sulfato, pode ser utilizada, mas a absorção do cloreto é geralmente menos eficaz.

O Fortetropin® é um suplemento relativamente novo, utilizado para aumentar a massa muscular em cães que sofrem de sarcopenia ou atrofia por desuso. Ele atua no aumento da síntese de proteínas e no bloqueio da degradação muscular, mostrando benefícios em pacientes que, além da OA, enfrentam perda muscular significativa. No entanto, a evidência de sua eficácia específica para a OA é limitada.

A musculatura também pode se beneficiar do uso de mexilhões verdes (GLM) de Nova Zelândia, que são ricos em aminoácidos essenciais, glicoproteínas e EFA. Estudos demonstraram que o GLM pode melhorar o conforto e a mobilidade em cães com OA, embora a palatabilidade seja um desafio para alguns pacientes. A mistura proprietária de EFA e esteróis (PCSO-524), derivada do GLM, mostrou resultados promissores.

Outro suplemento relevante é o colágeno tipo II não desnaturado (UC-II), que tem sido estudado devido à sua capacidade de regenerar a cartilagem articular. Estudos em cães demonstraram que o UC-II, administrado a uma dose de 10 mg/dia, pode reduzir a dor, a claudicação e a rigidez, além de aumentar a atividade. Os benefícios são observados após 90-120 dias de suplementação, embora os estudos de qualidade superior ainda sejam necessários para confirmar sua eficácia de forma mais definitiva.

Por fim, os curcuminoides, compostos ativos do açafrão, têm demonstrado propriedades antioxidantes, anti-catabólicas e anti-inflamatórias em estudos in vitro. Embora esses benefícios sejam promissores, sua tradução para a prática clínica ainda carece de mais evidências. Eles podem contribuir para a síntese de colágeno tipo II, mas, assim como outros suplementos, sua eficácia clínica requer mais investigações.

Ao considerar o uso de nutracêuticos no manejo da osteoartrite canina, é importante que os proprietários de cães comecem a suplementação após a fase inicial da doença, especialmente para os ácidos graxos essenciais, que apresentam melhores resultados quando usados precocemente. Além disso, deve-se ter em mente que a dosagem de suplementos comerciais pode variar amplamente, sendo fundamental garantir que a quantidade recomendada de EFA seja atingida para obter os benefícios terapêuticos desejados.

Além dos suplementos, o exercício físico moderado e o controle do peso são cruciais no tratamento da osteoartrite. Atividades que o animal possa realizar sem dor são importantes não apenas para manter a mobilidade, mas também para prevenir o agravamento dos sintomas. A alimentação balanceada, rica em nutrientes e pobre em substâncias inflamatórias, também desempenha papel fundamental na gestão da doença, contribuindo para o bem-estar geral do animal.

Como a Reabilitação e Tratamento Cirúrgico Influenciam o Gerenciamento Médico da CSM em Cães

A mielopatia cervical (CSM) associada a alterações ósseas apresenta desafios no tratamento clínico e cirúrgico. Embora os tratamentos médicos possam resultar em melhorias significativas em até 54% dos cães, a resposta à terapia é frequentemente limitada aos primeiros 12 meses após o diagnóstico. Estudo realizado com 30 cães submetidos ao tratamento médico para CSM óssea revelou que 45% dos casos apresentaram piora, enquanto 40% não sofreram mudanças e 15% mostraram melhorias (Poad et al., 2022). Comparativamente, cães tratados cirurgicamente mostraram uma taxa de melhora de longo prazo de 67% (Poad et al., 2022).

Os tratamentos médicos têm seu lugar na gestão da CSM, mas é claro que a abordagem cirúrgica se torna necessária quando a lesão é mais grave ou progressiva. Decidir entre tratamento médico e cirúrgico depende de vários fatores, incluindo a resposta do animal à dor, a natureza da compressão espinhal e o tipo de mielopatia. Lesões estáticas dorsais em CSM associada a causas ósseas, por exemplo, são tratadas com laminectomia dorsal, enquanto lesões ventrais estáticas são abordadas com procedimentos de fenda ventral. Já as compressões dinâmicas exigem técnicas de distração-estabilização ou artroplastia cervical, métodos que visam estabilizar a coluna cervical e aliviar a pressão sobre as estruturas nervosas comprimidas.

A diversidade de técnicas cirúrgicas disponíveis para CSM discogênica ilustra a complexidade da patologia e a necessidade de um julgamento cuidadoso por parte do cirurgião, com base no tipo e número de lesões encontradas. No entanto, a cirurgia não está isenta de complicações. Uma das mais comuns é o desenvolvimento de uma "doença do segmento adjacente", ou lesão domino, que ocorre em cerca de 20% dos casos dentro de 2-3 anos após a cirurgia (McKee et al., 1989; McKee et al., 1990). Esse fenômeno é atribuído ao aumento do estresse nos discos intervertebrais adjacentes devido às alterações biomecânicas da coluna vertebral, ou à progressão natural da doença para outros discos intervertebrais.

Em termos de sucesso, estudos mostram taxas de sucesso de aproximadamente 80% para a cirurgia de CSM discogênica (Jeffery & McKee, 2001; da Costa et al., 2008). No entanto, a expectativa de vida de cães tratados cirurgicamente ou medicamente pode ser limitada. Um estudo longitudinal de Dobermans com CSM discogênica relatou uma sobrevida média de 36 meses após o tratamento, seja cirúrgico ou médico (da Costa et al., 2008).

No caso da estenose lumbossacral degenerativa (DLSS), conhecida também como síndrome da cauda equina, os sinais clínicos incluem dor e dificuldades motoras. Cães com DLSS, especialmente de raças médias a grandes, como o Pastor Alemão, frequentemente apresentam sinais de dor ao se mover, relutância em saltar ou dificuldade em se levantar de posições sentadas ou deitados. Embora esses sinais possam ser confundidos com outras condições ortopédicas, o diagnóstico preciso é crucial para determinar o tratamento adequado. O exame físico que envolve a manipulação da região lombossacral ajuda a identificar a dor e a localização exata da compressão nervosa. O diagnóstico clínico é frequentemente confirmado por meio da detecção de hipersensibilidade na região lombossacral, onde mais de 90% dos cães afetados apresentam dor.

O tratamento de DLSS geralmente envolve um manejo combinado de opções médicas e cirúrgicas. Técnicas cirúrgicas para DLSS podem incluir a descompressão dos nervos afetados, geralmente realizada por meio de laminectomia ou técnicas de estabilização vertebral. Em casos mais graves, a cirurgia pode ser necessária para aliviar a pressão sobre a cauda equina e melhorar a função motora. O prognóstico pós-operatório varia de acordo com a gravidade da doença e a resposta ao tratamento.

Além disso, a reabilitação física desempenha um papel fundamental no tratamento tanto de CSM quanto de DLSS. A fisioterapia, incluindo massagem, integração sensorial, exercícios de amplitude de movimento, alongamentos e treinamento postural, pode ser um complemento eficaz aos tratamentos médicos e cirúrgicos. A reabilitação física tem o potencial de melhorar a qualidade de vida dos cães afetados e acelerar a recuperação pós-cirúrgica.

Entender que cada caso de CSM e DLSS pode exigir uma abordagem única é crucial para um tratamento eficaz. Não existe uma solução universal, e o tratamento deve ser adaptado às necessidades específicas do animal, considerando o tipo de lesão, o estágio da doença e a resposta aos tratamentos. A intervenção precoce e o acompanhamento contínuo são fundamentais para garantir o melhor resultado possível e a qualidade de vida do paciente canino.

Como o Distúrbio Degenerativo da Medula Espinhal Canina (DM) afeta os Cães: Aspectos Clínicos, Genéticos e Diagnósticos

O Distúrbio Degenerativo da Medula Espinhal (DM) canino é reconhecido como uma condição comum que afeta várias raças puras e mistas, com uma prevalência geral de 0,19%. Esta doença neurodegenerativa, que se caracteriza pela degeneração progressiva dos neurônios motores e sensoriais, é uma das causas mais frequentes de paralisia em cães, especialmente nas raças Pembroke Welsh Corgi, Boxer, Pastor Alemão e Bernese Mountain Dog, entre outras.

A etiologia da DM canina foi um mistério por muitos anos, mas, em 2009, pesquisadores descobriram uma mutação genética associada a essa condição. Especificamente, uma transição c.118G>A no gene SOD1, que causa uma mutação de sentido trocado, chamada E40K. Essa mutação foi identificada como um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento da doença, não apenas em raças específicas, mas em mais de 100 raças de cães e cães mistos. Importante destacar que nem todos os cães que possuem essa mutação genética desenvolvem sinais clínicos da doença, o que sugere uma penetrância incompleta, característica de um modo de herança relacionado à idade.

Embora a mutação no gene SOD1 também seja conhecida por causar formas familiares de esclerose lateral amiotrófica (ELA) em seres humanos, a DM canina apresenta um padrão genético diferente. Enquanto a ELA humana é tipicamente dominante, a DM em cães parece ter uma herança recessiva incompleta. Isso significa que cães homozigotos para o alelo SOD1:c.118A têm um risco significativamente maior de desenvolver DM, mas não necessariamente todos os cães afetados vão apresentar sintomas clínicos em sua vida.

Além disso, foram identificados outros modificadores genéticos, como o locus SP110 localizado no cromossomo 25 dos cães, que influenciam a idade de início e a gravidade da doença, especialmente em cães homozigotos para a mutação c.118A. Essa descoberta, embora ainda em investigação, abre portas para uma compreensão mais ampla das interações genéticas que podem modular a progressão da DM.

Em termos clínicos, a DM canina segue um padrão progressivo de sinais neurológicos que se iniciam com paresia assimétrica dos membros pélvicos e ataxia proprioceptiva generalizada. Em seus estágios iniciais, os cães apresentam sinais de paresia espástica dos membros pélvicos, com uma progressão para paraplegia não ambulatorial em menos de um ano após o início dos sintomas. A doença progride com o envolvimento dos membros torácicos, levando a um quadro de tetraplegia flácida, atrofia muscular generalizada e disfunção do tronco encefálico. Os estágios finais da doença incluem perda de função respiratória devido à paralisia dos músculos respiratórios e, frequentemente, incontinência urinária e fecal.

É fundamental que o diagnóstico de DM seja baseado no reconhecimento clínico de seus sinais progressivos, juntamente com testes diagnósticos de exclusão. A ausência de dor paravertebral, comum em outras mielopatias compressivas, é um aspecto importante para diferenciar a DM de outras condições semelhantes. Exames de imagem, como ressonância magnética (RM) ou tomografia computadorizada, podem ser úteis, mas nem sempre são conclusivos, pois lesões discais podem ser confundidas com a doença. O diagnóstico definitivo é geralmente feito com base no histórico clínico e na progressão dos sinais.

Nos primeiros estágios, os sinais clínicos incluem ataxia e paresia espástica leve nos membros pélvicos, com reflexos patelares que podem ser normais ou exagerados. Essa fase é geralmente acompanhada de sinais assimétricos e alterações nos reflexos espinhais. Nos casos mais avançados, a perda de reflexos e a paralisia flácida indicam a progressão para a fase de sinais de neurônio motor inferior (LMN), onde a atrofia muscular e a perda de função nos membros torácicos se tornam evidentes.

Para o proprietário de um cão afetado, o prognóstico geralmente envolve decisões difíceis. Quando os sinais clínicos tornam-se graves, com a incapacidade de sustentar o peso nos membros pélvicos, muitos optam pela eutanásia. A duração média da doença antes da eutanásia pode ser de cerca de 19 meses, como observado em raças como o Pembroke Welsh Corgi.

Embora ainda não exista cura para a DM, a pesquisa contínua sobre os mecanismos genéticos e os fatores que influenciam a progressão da doença pode abrir novas possibilidades para o tratamento e manejo de cães afetados. O teste genético para a mutação SOD1:c.118A pode ser uma ferramenta valiosa para o diagnóstico precoce, permitindo que os proprietários façam escolhas informadas sobre o cuidado de seus cães.

Importante ressaltar que, além dos aspectos genéticos e clínicos, o manejo da DM canina também envolve o apoio emocional e prático aos donos. Com o tempo, muitos cães precisam de cuidados especiais, como fisioterapia e apoio para se locomover, além de um monitoramento constante para complicações associadas à perda de mobilidade e à função respiratória. O acompanhamento veterinário regular é essencial para monitorar a progressão da doença e melhorar a qualidade de vida dos animais afetados.

Como as próteses veterinárias e reabilitação avançada impactam a recuperação e qualidade de vida dos animais

A evolução das próteses veterinárias, como o PerFITSTM, e o desenvolvimento de protocolos complexos de reabilitação representam um avanço significativo na medicina veterinária, especialmente no que tange à recuperação funcional e à melhora da qualidade de vida dos pacientes animais. Com mais de 467 produtos comerciais disponíveis, as próteses proporcionam uma alternativa eficaz para cães e outros animais com deficiências locomotoras, sendo essenciais para o manejo de lesões periféricas, como as que afetam nervos e tendões, e condições ortopédicas variadas, incluindo displasia de quadril, luxações e fraturas complexas.

A reabilitação funcional, complementada por modalidades físicas como fotobiomodulação, crioterapia, ultrassom terapêutico, terapia por campo eletromagnético pulsado e exercícios proprioceptivos, tem demonstrado eficácia na promoção da cicatrização, no alívio da dor e na recuperação do movimento. A importância de técnicas como o treinamento de força e resistência, a facilitação neuromuscular proprioceptiva (PNF) e os exercícios pliométricos revela-se fundamental para restabelecer a função muscular e melhorar a estabilidade articular, principalmente em pacientes geriátricos, onde a sarcopenia e a neuropatia periférica são comuns.

A integração de terapias manuais, como a mobilização de tecidos moles e a terapia por liberação posicional, juntamente com a fisioterapia aquática, exemplifica uma abordagem multimodal que potencializa os resultados da recuperação. A inclusão de exercícios específicos para o condicionamento muscular e o aprimoramento da propriocepção visa prevenir relesões e melhorar a performance funcional, refletindo a necessidade de programas personalizados que considerem a idade, raça, tipo de lesão e nível de atividade do animal.

A nutrição desempenha papel complementar crucial, especialmente com a utilização de ácidos graxos poli-insaturados, proteínas adequadas e o controle de minerais como fósforo, potássio e sódio, que influenciam diretamente no metabolismo celular e na regeneração tecidual. Além disso, a administração criteriosa de fármacos para manejo da dor e inflamação, incluindo anti-inflamatórios, moduladores da resposta neural e agentes regenerativos como o plasma rico em plaquetas, reforça a abordagem integrativa da reabilitação.

Entender as fases do processo cicatricial — desde a fase proliferativa até a remodelação — é fundamental para determinar os momentos ideais para a aplicação das diferentes modalidades terapêuticas e para a progressão adequada dos exercícios de reabilitação, evitando sobrecarga e lesões secundárias. A avaliação constante da amplitude de movimento (ROM), da qualidade do tecido cicatricial e do padrão de locomoção, muitas vezes auxiliada por exames de imagem avançados como ultrassonografia, radiografia e tomografia, permite ajustes precisos no plano terapêutico.

Além disso, é imprescindível que profissionais da área veterinária adotem uma postura colaborativa interdisciplinar, envolvendo proprietários, treinadores e especialistas em reabilitação, para garantir a adesão aos protocolos e a continuidade dos cuidados. A formação e qualificação dos profissionais, bem como a utilização de tecnologias emergentes e a compreensão das particularidades anatômicas e fisiológicas das diferentes raças, são fatores determinantes para o sucesso do tratamento.

A reabilitação veterinária transcende a mera recuperação física; ela promove um impacto direto na qualidade de vida dos animais, especialmente os geriátricos, cuja complexidade clínica exige cuidados individualizados que considerem a prevenção de comorbidades, o manejo da dor crônica e a manutenção da autonomia funcional. A incorporação de escalas de avaliação específicas e a monitorização dos progressos permitem uma abordagem baseada em evidências e centrada no paciente.

Complementarmente, é importante destacar a necessidade de compreender os aspectos psicossociais que envolvem os animais em reabilitação, incluindo o estresse associado à dor e à limitação funcional, que podem ser amenizados por estímulos comportamentais apropriados, ambientes enriquecidos e programas de condicionamento gradual.

O avanço das próteses, combinado a protocolos integrados de reabilitação, exemplifica o potencial da medicina veterinária moderna para transformar prognósticos e proporcionar bem-estar duradouro aos pacientes, exigindo, contudo, constante atualização, pesquisa e aplicação criteriosa dos recursos terapêuticos disponíveis.

Como a Nutrição Pode Ajudar no Desempenho Canino e na Reabilitação

A obesidade em cães, assim como em seres humanos, é um problema multifacetado, cujas causas incluem a sobrealimentação, a falta de exercício físico e a percepção equivocada de muitos donos sobre o estado corporal ideal de seus animais. No caso de cães com lesões ortopédicas, a obesidade pode se tornar ainda mais complexa, já que a falta de movimento e a sedentarização podem acentuar a predisposição para o sobrepeso. Contudo, diversos estudos indicam que os padrões de atividade dos donos estão diretamente correlacionados com os padrões de atividade dos cães, sendo que mudanças nesses hábitos podem ser um desafio. Nesse contexto, a perda de peso, mesmo que modesta (cerca de 11% do peso corporal), tem mostrado benefícios substanciais, como a melhoria de sintomas clínicos relacionados à osteoartrite.

A nutrição desempenha um papel crucial no controle do peso dos cães, e as estratégias dietéticas mais eficazes envolvem dietas ricas em fibras e proteínas. O aumento do consumo de fibras tem se mostrado uma forma eficaz de reduzir a densidade calórica dos alimentos, mantendo a sensação de saciedade por um período mais longo. No entanto, é importante notar que a saciedade gerada pelas fibras é de curto prazo, o que exige que outras estratégias sejam empregadas para prevenir comportamentos excessivos de busca por alimentos, como o aumento da proteína na dieta. As dietas com mais de 30% de proteína ajudam a preservar a massa magra durante o processo de emagrecimento, permitindo que os cães se mantenham ativos e satisfeitos enquanto perdem peso.

Além disso, a reabilitação física também é essencial para a manutenção da massa muscular e da mobilidade durante o emagrecimento. Programas de reabilitação estruturados têm mostrado que cães que continuam ativos durante o processo de perda de peso não apenas mantêm sua massa muscular, mas podem comer mais calorias, o que ajuda na aderência ao plano alimentar e melhora a saúde geral. A combinação de nutrição adequada e exercício controlado é, portanto, um dos pilares para melhorar a saúde do animal e promover uma recuperação eficiente após lesões ortopédicas.

No caso dos cães geriátricos, é amplamente reconhecido que eles sofrem uma perda gradual de massa muscular, um processo conhecido como sarcopenia. Esse fenômeno, frequentemente associado à atrofia neurogênica, pode resultar em uma condição corporal mais magra, o que exige intervenções de reabilitação focadas em preservar a massa magra e melhorar a mobilidade. Em cães idosos, a alimentação inadequada, especialmente com dietas de baixo teor de gordura e proteína, pode ser prejudicial, pois essas dietas não são suficientes para suportar o processo de reabilitação. É importante garantir que cães com sarcopenia recebam cerca de 5 g de proteína por kg de peso corporal, com dietas que contenham aproximadamente 28-30% de proteína em matéria seca. Nesse caso, ração de manutenção ou até mesmo rações de performance podem ser mais adequadas, pois ajudam a suprir as necessidades aumentadas de proteínas de alta qualidade.

Em cães com doenças ortopédicas crônicas, como osteoartrite, e que passaram por cirurgias ortopédicas, a alimentação pode ser ajustada para mitigar a inflamação e melhorar a saúde das articulações. Dietas ricas em ácidos graxos ômega-3, especialmente os ácidos eicosapentaenoico (EPA) e docosahexaenoico (DHA), demonstraram benefícios substanciais no controle da inflamação, já que substituem os ácidos graxos ômega-6, como o ácido araquidônico, na produção de eicosanoides inflamatórios. A suplementação com óleo de peixe, que contém esses ácidos graxos ômega-3 de cadeia longa, tem mostrado melhorar o prognóstico clínico de cães com osteoartrite, ajudando a reduzir a degradação da cartilagem e a inflamação nas articulações.

É importante lembrar que a dose adequada de ômega-3 para cães pode variar dependendo do peso e do estado de saúde do animal, sendo que uma dose recomendada é de cerca de 1 g de EPA/DHA para cada 10 kg de peso corporal. No entanto, essa suplementação também pode aumentar a ingestão calórica, o que deve ser levado em consideração ao ajustar a alimentação do animal, para evitar o ganho de peso indesejado.

Portanto, uma dieta cuidadosamente planejada, com atenção a fatores como proteínas de alta qualidade, fontes adequadas de gorduras anti-inflamatórias e a inclusão de fibras, é crucial para a saúde canina, especialmente em cães que enfrentam desafios de mobilidade ou doenças articulares. Além disso, a implementação de programas de exercício adaptados às necessidades do cão e sua capacidade física também é fundamental para promover a recuperação, a preservação da massa muscular e, consequentemente, a qualidade de vida do animal.