A prática da fisioterapia veterinária, especialmente no contexto da reabilitação canina, envolve uma abordagem detalhada e multidisciplinar que integra a avaliação contínua do paciente, a adaptação das intervenções terapêuticas e a consideração das necessidades específicas dos tutores e suas condições pessoais. Ao desenvolver o plano de cuidados fisioterapêuticos (POC) para um cão, o fisioterapeuta veterinário (DQPT) deve não apenas observar o desempenho funcional do paciente, mas também os fatores externos que podem influenciar a eficácia do tratamento. Isso inclui compreender as preferências e limitações dos tutores, que podem variar de acordo com suas condições físicas, como no caso de tutores com artrite reumatoide, ou com um estilo de vida mais ativo, como o de um casal jovem e sem filhos. Essas variáveis podem mudar o enfoque das metas, estratégias e táticas do tratamento.

Ao definir a intervenção, o DQPT leva em conta os efeitos no nível celular, tecidual e orgânico, mas com o foco principal no sistema corporal do paciente e como ele interage para permitir que o cão funcione normalmente. A escolha das intervenções terapêuticas é baseada em uma análise detalhada das limitações funcionais e das deficiências observadas. O prognóstico dado pelo DQPT, fundado em evidências científicas, melhores práticas e experiência, busca promover mudanças mensuráveis nas disfunções do paciente, seja através da reabilitação ou da introdução de métodos preventivos.

Quando o DQPT avalia que a fisioterapia não é a melhor opção para o cão, ele pode encaminhá-lo a um veterinário especializado, geralmente um DQDVM, ou a outro profissional da saúde veterinária. Essa colaboração entre os membros da equipe interdisciplinar é fundamental para garantir que o paciente tenha acesso ao tratamento mais adequado.

A reavaliação contínua é uma característica central do trabalho do DQPT, permitindo ajustes dinâmicos nas intervenções conforme o progresso do paciente. Isso implica na realização de reavaliações periódicas para verificar a resposta do paciente às intervenções, adaptando o plano conforme necessário, seja para dar continuidade ao tratamento ou para realizar ajustes significativos no caso de progressos mínimos. Em casos como a mielopatia degenerativa, onde o declínio funcional é esperado, a transição para uma terapia de manutenção pode ser mais apropriada. A reavaliação também é uma oportunidade para comunicar qualquer sinal clínico ou problema não detectado ao veterinário responsável, ampliando a abordagem terapêutica de forma integrada.

O DQPT possui uma formação especializada que o capacita a contribuir de maneira única dentro da equipe interdisciplinar. Com treinamento avançado em biomecânica e nos aspectos fisiológicos do movimento, ele é capaz de detectar padrões de movimento anormais que necessitam de ajustes no POC para evitar lesões secundárias e melhorar a eficiência do movimento. Além disso, ele tem um vasto conhecimento das tecnologias de intervenção, como modalidades térmicas e eletroterapêuticas, além de exercícios terapêuticos e técnicas manuais. Essa expertise permite ao DQPT propor um tratamento que não apenas corrija as disfunções físicas, mas que também promova a prevenção de novos problemas.

Um dos componentes importantes do trabalho do DQPT é o uso e a adaptação de dispositivos assistivos, como órteses, próteses, cadeirinhas de rodas, e outros suportes que auxiliam na mobilidade do cão. Ele avalia as necessidades específicas do paciente e faz recomendações personalizadas para garantir que esses dispositivos melhorem a funcionalidade do paciente, evitando complicações decorrentes de uso inadequado. Além disso, o DQPT também se preocupa com a educação dos tutores, ajudando-os a compreender como os dispositivos podem ser usados corretamente, como realizar exercícios em casa e como adaptar suas próprias práticas para interagir de forma mais saudável e eficiente com seus cães.

O DQPT é, portanto, um profissional com um conjunto de habilidades único, capaz de oferecer contribuições valiosas dentro de um modelo de cuidado interdisciplinar, integrando conhecimentos técnicos e científicos para o benefício do paciente canino. Além disso, ele desempenha um papel crucial na educação dos tutores, ajudando-os a melhorar a qualidade de vida tanto do animal quanto deles próprios, principalmente em situações onde a interação física pode ser desafiadora, como no caso de tutores com limitações físicas.

O campo da reabilitação canina está em plena expansão, com um aumento no número de profissionais qualificados e uma maior aceitação de terapias físicas como parte do processo de recuperação de cães com lesões, doenças e dificuldades de mobilidade. No entanto, a regulamentação ainda é uma barreira importante em muitos lugares. Em alguns estados dos EUA, por exemplo, a prática de fisioterapia veterinária é regulamentada e só pode ser realizada por profissionais licenciados, enquanto em outros, as leis ainda não são claras. Isso cria um desafio para a expansão e padronização da prática. Mesmo assim, as perspectivas para o futuro da reabilitação canina são promissoras, com avanços tecnológicos, novas descobertas científicas e a ampliação das áreas de atuação dos profissionais.

Por fim, é essencial compreender que a reabilitação canina vai além do simples tratamento de lesões; trata-se de um processo contínuo e colaborativo que envolve a adaptação constante das intervenções para maximizar os resultados e melhorar a qualidade de vida do paciente e de seu tutor. Essa abordagem multidisciplinar não só promove a recuperação física do cão, mas também fortalece a relação entre o animal e o tutor, proporcionando uma experiência de cuidado integrada e eficiente.

Quais são as implicações mecânicas e ortopédicas da amputação de membros em cães?

A amputação de membros em cães tem sido um tema de crescente estudo nas últimas décadas, com diversos pesquisadores investigando tanto as consequências fisiológicas como as biomecânicas dessa intervenção. A adaptação dos cães ao movimento tripodal, ou seja, a locomoção com três membros, é um aspecto central das discussões sobre a amputação, uma vez que os cães rapidamente ajustam sua marcha, mas a longo prazo isso pode acarretar em significativas alterações no corpo do animal.

No final do século XX, foram publicados vários estudos que abordaram a satisfação dos donos com a amputação, destacando que, embora a maioria dos cães se adaptasse bem ao novo estilo de locomoção, uma porcentagem considerável de donos expressava objeções à amputação, muitas vezes motivadas por preocupações emocionais e não por julgamentos racionais (Carberry & Harvey, 1987; Withrow & Hirsch, 1979; Kirpensteijn et al., 1999). De forma geral, embora os cães se adaptassem à locomoção tripodal, havia uma preocupação crescente com as consequências de longo prazo dessa adaptação.

Estudos mais recentes indicam que a amputação, particularmente da extremidade torácica, pode levar a uma redistribuição significativa do peso corporal, aumentando a carga sobre os membros restantes. Pesquisas como a de Kirpensteijn et al. (2000) demonstraram que cães que perderam uma das extremidades torácicas transferem 46,9% de sua massa corporal para o membro torácico remanescente, enquanto a outra parte é suportada pelos membros pélvicos. A análise cinemática mostrou que a marcha dos cães amputados sofre alterações importantes, com mudanças tanto na distribuição do peso quanto nas forças geradas pelos membros restantes.

Essas alterações têm implicações além da simples adaptação à nova condição de vida. A distribuição anormal de peso pode levar a um aumento no risco de lesões ortopédicas nos membros restantes. Isso ocorre porque a sobrecarga em um único membro pode acelerar o desgaste das articulações, aumentar a instabilidade e, ao longo do tempo, resultar em doenças musculoesqueléticas. Em particular, a coluna vertebral, o carpo e as articulações do quadril e joelho podem sofrer modificações biomecânicas devido à adaptação à nova forma de locomoção. Estudos indicam que alterações na cinemática da coluna vertebral, como desvios laterais e aumento da amplitude de movimento das articulações, estão associadas a sobrecarga nas articulações do membro restante, resultando em um risco aumentado de danos a essas estruturas.

Além disso, a adaptação à amputação da extremidade torácica envolve uma mudança significativa na dinâmica da marcha, com o aumento da carga na coluna vertebral e nas articulações do membro pélvico contralateral. Essa adaptação pode ser acompanhada por uma sobrecarga nas estruturas de suporte, como os tendões e músculos da região pélvica, o que pode gerar uma sobrecarga crônica, tornando o animal mais suscetível a lesões de longo prazo. Pesquisas como as de Hogy et al. (2013) e Goldner et al. (2015) confirmam que a mecânica do movimento do membro pélvico remanescente é alterada, o que pode resultar em desgaste precoce das articulações.

No caso da amputação do membro pélvico, as implicações biomecânicas são igualmente complexas. Como o membro pélvico é crucial para a propulsão e a estabilidade da marcha, a perda desse membro leva a mudanças na dinâmica da locomoção. O estudo de Kirpensteijn et al. (2000) revelou que, após a amputação de um membro pélvico, o membro pélvico remanescente passa a carregar cerca de 26% do peso corporal, enquanto os membros torácicos carregam 37% cada. Embora essa redistribuição de peso não seja tão extrema quanto no caso da amputação de um membro torácico, as forças de rotação e os momentos de carga sobre o tronco se alteram substancialmente, o que pode gerar novas adaptações na coluna vertebral e nos membros remanescentes.

Adicionalmente, a marcha do cão amputado do membro pélvico muitas vezes apresenta uma postura desviada lateralmente da coluna vertebral, o que é compensado pela maior amplitude de movimento no tornozelo e nos tendões calcâneos. Esse aumento da amplitude de movimento é uma tentativa do animal de otimizar a propulsão, mas também pode resultar em sobrecarga crônica das articulações e músculos envolvidos.

Estudos sobre a amputação de membros em cães têm se concentrado principalmente nas mudanças imediatas da marcha e na adaptação dos cães a uma locomoção tripodal. No entanto, as consequências de longo prazo dessas mudanças ainda são pouco compreendidas e precisam ser mais bem investigadas. Alterações nas forças internas e externas durante a marcha podem desencadear problemas ortopédicos e prejudicar a qualidade de vida dos animais amputados.

Embora a amputação de um membro em cães seja, em muitos casos, necessária para salvar vidas ou melhorar a qualidade de vida dos animais, é importante que os profissionais veterinários considerem os impactos mecânicos e ortopédicos a longo prazo. A amputação, especialmente da extremidade torácica, não é um procedimento isento de complicações. Consequentemente, o uso de próteses adequadamente ajustadas pode ser uma solução importante para mitigar os efeitos negativos de uma amputação, oferecendo uma melhor distribuição do peso e uma locomoção mais equilibrada, que pode prevenir ou diminuir a incidência de problemas ortopédicos subsequentes.

O que é um atleta canino e qual a importância da medicina esportiva e reabilitação para eles?

A medicina esportiva e reabilitação canina é uma das especialidades mais recentes dentro da medicina veterinária, e tem crescido consideravelmente nos últimos anos. Ela abrange um conjunto de áreas como ortopedia, fisiologia do exercício, neurologia, cardiologia, pneumologia, nutrição, entre outras, visando o cuidado e o desempenho dos cães atletas e trabalhadores. A reabilitação, que não se limita apenas à recuperação após lesões, mas também à manutenção da forma física e prevenção de futuros danos, é um parceiro essencial da medicina esportiva canina.

O conceito de "atleta canino" não se restringe aos cães que competem em eventos como provas de agilidade, obediência ou competições de frisbee. Ele engloba também cães de trabalho, como os utilizados por forças policiais e militares, cães de busca e resgate, e até mesmo os cães-guia para pessoas com deficiência. A medicina esportiva e reabilitação aplicada aos cães, portanto, envolve qualquer animal que participe ativamente de atividades físicas, independentemente de competir ou não. Isso significa que uma grande parte da população canina pode se beneficiar dos avanços nessa área.

É importante compreender que a medicina esportiva canina não se dedica apenas ao tratamento de lesões, mas à promoção de uma saúde ideal, tanto em cães atletas quanto em cães trabalhadores. A atuação dos profissionais dessa área visa não apenas recuperar a capacidade física do animal após um episódio de doença ou trauma, mas também prevenir novas lesões, otimizando a musculatura, a resistência, a coordenação, o equilíbrio e a flexibilidade do cão. Essa abordagem exige um profundo conhecimento das exigências físicas dos diferentes tipos de eventos em que o cão participa ou das tarefas específicas que o cão realiza em seu trabalho, como a busca de pessoas ou objetos, ou o transporte de carga.

A chave para um tratamento eficaz é entender profundamente o tipo de atividade que o cão realiza, seja em uma competição de esporte, seja em um trabalho de serviço. Para isso, é fundamental que os profissionais de medicina esportiva e reabilitação canina participem de treinos e competições desses cães, além de manter uma constante atualização sobre as novas técnicas e abordagens que surgem dentro da ciência do esporte animal.

A medicina esportiva canina é um campo que exige uma colaboração interdisciplinar entre veterinários, fisioterapeutas, nutricionistas e outros especialistas, que trabalham juntos para garantir o retorno do cão ao seu nível máximo de desempenho físico. Os profissionais dessa área têm um papel crucial na recuperação dos cães após lesões e na adaptação de seu treinamento e de seus cuidados para prevenir danos futuros.

Embora o campo da medicina esportiva canina ainda seja relativamente novo, ele já demonstrou seu valor através do trabalho contínuo e da crescente base de evidências que respaldam as técnicas empregadas. Cada vez mais, os veterinários se dedicam ao cuidado dos cães não apenas no ambiente clínico, mas também no acompanhamento da performance do animal, de modo a entender melhor suas necessidades físicas e psicológicas.

A medicina esportiva e a reabilitação são, portanto, essenciais para garantir que os cães, sejam eles atletas ou trabalhadores, possam desempenhar suas funções com a melhor performance possível e sem o risco de lesões prolongadas. No caso de cães que competem, as exigências físicas são ainda mais intensas, demandando um equilíbrio cuidadoso entre treinamento, recuperação e cuidados preventivos. A área de reabilitação pode incluir técnicas como fisioterapia, terapia ocupacional e até mesmo tratamentos integrativos, como acupuntura e massoterapia, que ajudam a otimizar a recuperação e o desempenho dos animais.

O conhecimento profundo sobre o corpo canino, suas capacidades e limitações é essencial para os profissionais que atuam nessa área. A compreensão das necessidades do animal e de sua interação com o ambiente esportivo ou de trabalho é fundamental para a criação de um programa de reabilitação eficaz e individualizado. Além disso, o desenvolvimento contínuo de novas técnicas e a adaptação das práticas existentes são necessários para garantir que a medicina esportiva canina continue a evoluir de acordo com as necessidades dos cães e as expectativas dos seus tutores.

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Como a Termografia e a Condução Nervosa Podem Auxiliar na Avaliação e Reabilitação de Lesões Musculares em Cães Atletas

O estudo da condução nervosa e da termografia tem se mostrado essencial no diagnóstico e acompanhamento de lesões musculares, especialmente em atletas caninos. A condutividade nervosa, que envolve a medição da velocidade do sinal elétrico ao longo de um nervo após a aplicação de um estímulo, fornece informações cruciais sobre o estado de saúde do sistema neuromuscular. A medição da amplitude, duração e área do potencial de ação, bem como a comparação entre os tempos de latência proximal e distal, ajuda a determinar a velocidade de condução nervosa e identificar possíveis alterações patológicas.

Em cães, uma diminuição na velocidade de condução nervosa pode indicar a presença de neuropatias, que afetam a capacidade do nervo de transmitir sinais adequados para os músculos, comprometendo a função motora e a força de contração muscular. Esse tipo de exame é frequentemente utilizado para monitorar a recuperação de lesões nervosas ou identificar o início de problemas neurológicos, como a neuropatia periférica.

Por outro lado, a termografia tem se destacado como uma ferramenta importante para a análise de alterações térmicas nos tecidos moles, permitindo a detecção de lesões musculares e alterações no fluxo sanguíneo. Por meio de imagens térmicas, é possível identificar áreas de aumento de temperatura que indicam inflamação, esforço excessivo ou danos nos músculos, particularmente em cães atletas que estão sujeitos a esforços físicos intensos. O uso de termografia para monitorar o progresso da reabilitação também tem se mostrado eficaz, pois permite que os profissionais da área veterinária observem a resposta dos músculos ao tratamento, ajustando o protocolo terapêutico conforme necessário.

Estudos em cães, como os realizados em raças de trabalho como o Border Collie, têm demonstrado a utilidade da termografia na detecção de anomalias térmicas em músculos, como o vasto lateral e o vasto intermediário, após traumas ou esforços excessivos. A identificação de áreas de aumento de calor em locais específicos pode indicar edema muscular, ruptura de fibras ou formação de hematomas, facilitando o diagnóstico de lesões musculares agudas ou crônicas.

Em um caso exemplificado, um Border Collie sofreu uma lesão no membro pélvico durante treinamento intensivo. A termografia revelou um aumento significativo da temperatura na região da coxa esquerda, o que indicou a presença de lesões musculares. O exame ultrassonográfico complementar confirmou a separação das fibras musculares e a presença de edema no vasto lateral, enquanto a ultrassonografia longitudinal revelou uma grande lesão no músculo reto femoral. O tratamento envolveu uma combinação de repouso, fisioterapia, acupuntura e terapia de campo eletromagnético pulsado (PEMF), resultando em uma recuperação satisfatória, permitindo que o animal retornasse às competições sem novos episódios de dor ou lesão.

Além disso, a termografia tem se mostrado útil para avaliar não apenas as lesões musculares, mas também o impacto do treinamento físico em cães de alto desempenho, como os cães de corrida, cães de resgate ou cães de tração. O uso contínuo dessa tecnologia permite um monitoramento detalhado da condição física do animal, fornecendo dados essenciais para a prevenção de lesões e a otimização do desempenho atlético.

Porém, é importante entender que a interpretação de imagens térmicas e dos resultados de estudos de condução nervosa requer um conhecimento técnico específico. A análise isolada desses exames pode não ser suficiente para um diagnóstico preciso sem a consideração de outros fatores clínicos, como histórico de lesões, exames físicos e avaliações comportamentais. A integração desses dados com outros métodos de diagnóstico, como exames radiológicos e ressonância magnética, pode fornecer uma visão mais clara sobre a condição do animal e orientar as decisões sobre o tratamento.

É fundamental que os profissionais da saúde animal, especialmente os veterinários especializados em medicina esportiva, estejam bem treinados tanto no uso dessas tecnologias quanto na interpretação dos resultados. Além disso, o acompanhamento contínuo do animal após o tratamento é essencial para garantir que não ocorram recidivas das lesões ou o surgimento de novas condições.