A otite média aguda (OMA) é uma condição comum na infância, com maior prevalência em crianças menores de dois anos, especialmente na presença de otite média bilateral ou otorreia. Nesses casos, a escolha do antibiótico deve seguir protocolos microbiológicos locais, sendo recomendados antibióticos de amplo espectro, como a amoxicilina ou macrolídeos (por exemplo, claritromicina), como primeira linha de tratamento. No entanto, o aumento da resistência bacteriana exige doses mais elevadas ou o uso de antimicrobianos capazes de erradicar bactérias produtoras de beta-lactamase.

Mesmo na presença de perfuração da membrana timpânica ou de tubos de ventilação, os antibióticos orais permanecem eficazes. A ototoxicidade potencial das gotas otológicas contendo aminoglicosídeos é bem documentada, mas seu uso por até duas semanas é geralmente considerado seguro diante de otorreia. Quando ocorre ruptura espontânea da membrana timpânica, recomenda-se manter o ouvido seco, pois a maioria das perfurações cicatriza espontaneamente em até três meses, devendo ser acompanhada pelo clínico geral para verificação do fechamento.

A dor associada à OMA deve ser tratada com analgésicos apropriados, que também podem funcionar como antipiréticos. Não há evidências de que o uso de anti-histamínicos ou descongestionantes, orais ou intranasais, tenha impacto no curso da OMA, embora possam aliviar sintomas nasais quando a infecção ocorre em conjunto com uma infecção respiratória superior.

A drenagem cirúrgica do fluido do ouvido médio, com ou sem inserção de tubos de ventilação (grommets), pode reduzir a otalgia e fornecer material para cultura em casos onde a ruptura timpânica espontânea não ocorreu. Esta abordagem é especialmente indicada em pacientes imunocomprometidos, em casos refratários ao tratamento convencional ou em quadros clínicos mais graves. A presença de complicações também justifica a drenagem cirúrgica.

Pacientes com OMA recorrente devem ser avaliados quanto a fatores de risco modificáveis: evitar a exposição precoce a ambientes com muitas crianças, manter o bebê semi-sentado durante a alimentação com mamadeira, limitar o uso de chupetas após o primeiro ano de vida e evitar a exposição passiva ao tabaco são medidas importantes. A ingestão materna adequada de vitamina C e a abstinência de álcool no terceiro trimestre da gestação mostram associação com menor incidência de OMA.

Nos casos de recorrência frequente, é necessário excluir anemia ferropriva e distúrbios de células brancas. Testes de imunoglobulinas podem ser indicados, principalmente se houver infecções recorrentes em outros sistemas, como infecções urinárias ou respiratórias. A avaliação inclui os níveis de IgG, subclasses de IgG e IgM, além da resposta específica a imunizações, como anticorpos anti-Haemophilus e antipneumocócicos. Níveis insuficientes podem justificar revacinação. A imunização contra o vírus da gripe A e pneumococo demonstrou reduzir a incidência de OMA.

Em pacientes com sintomas nasais e pulmonares persistentes, deve-se considerar disfunção ciliar primária como diagnóstico diferencial. A profilaxia antibiótica em baixa dose, durante três meses ou ao longo do inverno, tem sido utilizada para reduzir a frequência e gravidade dos episódios. Amoxicilina ou macrolídeos administrados uma vez ao dia podem melhorar a mucosa do ouvido médio, diminuindo assim o risco de novos episódios. Se a OMA ocorrer durante o tratamento profilático, o tratamento convencional deve ser iniciado, retomando-se a profilaxia após a resolução. A anotação diária dos sintomas ajuda a avaliar a eficácia da abordagem.

A inserção de tubos de ventilação é uma alternativa relevante para crianças com efusão persistente no ouvido médio. Estes tubos impedem o acúmulo de pressão e, por conseguinte, a dor intensa característica da OMA. No entanto, como consequência, a criança poderá desenvolver otorreia a cada novo episódio infeccioso. Em certos casos, o tubo pode se tornar fonte de infecção, exigindo sua retirada.

A adenoidectomia ou adenotonsilectomia é controversa como método para redução da OMA, mas pode ser considerada em crianças com otites recorrentes após a falha da terapia médica e inserção de tubos de ventilação.

Fatores imunológicos como deficiência de subclasses IgG2, atopia e grupo sanguíneo materno A estão associados a maior risco de OMA. Fatores ambientais — habitação precária, creches, uso prolongado de chupetas e tabagismo passivo — também desempenham papel significativo. A complicação mais comum da OMA em adultos é a mastoidite aguda, mas essa complicação é mais frequente em crianças devido à maior prevalência da OMA nessa faixa etária.

Como Diagnosticar e Tratar Abscessos Subperiosteais em Crianças com Sinusite Aguda Bacteriana

O tratamento de abscessos subperiosteais, uma complicação rara mas grave da sinusite bacteriana aguda (ARS) em crianças, exige uma abordagem cuidadosa e um diagnóstico preciso. Esses abscessos, frequentemente associados a infecções dos seios paranasais, particularmente o seio frontal, podem resultar em complicações como o tumor de Pott, uma condição caracterizada pela osteomielite da tábua anterior do osso frontal. O manejo eficaz exige uma combinação de terapias, incluindo antibióticos de largo espectro e intervenções cirúrgicas, que podem variar de drenagem a procedimentos mais invasivos.

Em crianças pequenas, especialmente com menos de cinco anos, os abscessos subperiosteais localizados medialmente e com volume reduzido (menos de 0,5–1,0 mL) são mais comuns. Nesses casos, a acuidade visual normal e a ausência de envolvimento sistêmico permitem que o diagnóstico seja feito com mais confiança. A tomografia computadorizada (CT) com contraste é essencial para identificar o abscesso, sendo geralmente combinada com venografia por ressonância magnética (MRI) para descartar trombose dos seios venosos. Embora a trombose do seio cavernoso seja rara, ela deve ser considerada quando há sinais de complicações intracranianas.

O tratamento inicial inclui antibióticos intravenosos em alta dose e, muitas vezes, drenagem por perfuração óssea ou craniotomia. A drenagem guiada por imagem também pode ser uma opção eficaz, principalmente quando as condições permitem uma abordagem menos invasiva. Em alguns casos, é necessário drenar os seios paranasais, especialmente o seio frontal. A mortalidade associada a abscessos intracranianos em crianças permanece relativamente alta, com taxas de até 20%.

Além disso, complicações ósseas associadas à ARS em crianças podem incluir osteomielite da tábua posterior do osso frontal, que pode se espalhar para o interior do crânio por meio das veias diploicas, gerando complicações intracranianas. Quando ocorre osteomielite da tábua anterior, um edema "mole" sobre a pele do osso frontal pode ser observado, indicando a presença de um abscesso subperiosteal.

O manejo multidisciplinar, envolvendo pediatras, neurocirurgiões e oftalmologistas, é fundamental para lidar com complicações graves, como aquelas relacionadas ao seio cavernoso. A utilização de anticoagulantes é controversa, mas pode ser indicada se as imagens não mostrarem alterações hemorrágicas intracerebrais, sendo que os corticosteroides podem ser úteis para reduzir a inflamação, especialmente quando administrados concomitantemente com antibióticos.

As complicações de ARS em crianças são frequentemente classificadas como orbitais (60%-75%), intracranianas (15%-20%) e ósseas (5%-10%). Embora as complicações orbitais sejam mais comuns, complicações intracranianas e ósseas devem ser consideradas em qualquer criança com sintomas graves ou persistentes. A evolução da doença geralmente segue uma infecção respiratória viral inicial, mas é crucial distinguir os tipos de infecção e o estágio da doença para um tratamento eficaz.

É importante que os profissionais de saúde estejam atentos ao padrão de envolvimento dos seios paranasais, que varia conforme a faixa etária da criança. Crianças mais novas tendem a apresentar doença nos seios etmoidais e maxilares, enquanto crianças mais velhas podem também desenvolver complicações no seio frontal. A ARS em crianças nem sempre requer tratamento cirúrgico; muitos casos podem ser manejados com antibióticos e acompanhamento rigoroso, sendo necessário intervenções mais invasivas apenas em casos complicados.

Além disso, é importante que se tenha em mente que muitos casos de ARS não necessitam de intervenção cirúrgica. No entanto, complicações graves como abscessos subperiosteais, apesar de raras, exigem uma resposta rápida e coordenada para minimizar o risco de sequelas a longo prazo, como déficits neurológicos focais ou perda da acuidade visual.

A Utilização de Tecnologias Avançadas no Diagnóstico e Monitoramento de Doenças Laríngeas

A utilização de tecnologias de imagem tem avançado significativamente no diagnóstico e monitoramento de doenças da laringe e das vias aéreas superiores. Um dos métodos inovadores que vem sendo cada vez mais adotado é a Narrow Band Imaging (NBI), uma técnica que aprimora a visualização das superfícies mucosas através do uso de filtros ópticos aplicados à luz branca padrão emitida por um nasoendoscópio flexível. Este método é particularmente útil para a avaliação de padrões vasculares anormais em tumores das vias aéreas superiores, destacando capilares submucosos de maneira eficaz.

O NBI explora a neoangiogênese, que é a formação de novos vasos sanguíneos, comum em tumores malignos. Ao aplicar luz com comprimentos de onda específicos, como 415 nm (400–430 nm) e 540 nm (525–555 nm), é possível observar padrões vasculares anormais, que se tornam visíveis com cores distintas: vasos proeminentes em submucosa são evidenciados em um tom marrom e os mais superficiais aparecem em ciano. Este método tem sido de grande valia não só para o diagnóstico de câncer laríngeo, mas também para o acompanhamento de pacientes após tratamentos como cirurgia ou radioterapia.

Uma limitação importante do NBI é que a interpretação clínica dos resultados exige experiência e treinamento. Alterações inflamatórias crônicas, frequentemente observadas após tratamentos como radioterapia, podem ser confundidas com sinais de neovascularização, o que pode aumentar a taxa de falsos positivos, especialmente entre clínicos menos experientes. No entanto, quando utilizado em conjunto com a endoscopia com luz branca e imagens em alta definição, o NBI torna-se uma ferramenta poderosa para o diagnóstico e o planejamento cirúrgico de tumores da laringe e outras neoplasias das vias aéreas superiores.

Outro avanço tecnológico significativo no campo da avaliação funcional laríngea é a Laringografia Elétrica. Essa técnica mede a função da laringe através de um eletrolaringógrafo, dispositivo que utiliza dois eletrodos colocados ao lado da cartilagem tireoide, na altura das cordas vocais. Através da aplicação de uma corrente de alta frequência (3 MHz), é possível avaliar a área de contato das cordas vocais durante a vibração, fornecendo informações valiosas sobre a função laríngea. Esse método é particularmente útil para monitorar a voz, sem ser afetado pelas alterações no trato vocal que podem ocorrer quando se utiliza um microfone para captar a voz do paciente.

Medidas como jitter (variação de frequência) e shimmer (variação de intensidade), bem como índices mais complexos como a razão harmônica-ruído e o quociente de contato, podem ser calculadas para fornecer uma avaliação quantitativa do desempenho laríngeo. Além disso, essa técnica é útil no monitoramento intraoperatório de pacientes com câncer das vias aéreas superiores e pode auxiliar na definição de margens de ressecação durante a cirurgia.

A Eletromiografia (EMG) também desempenha um papel crucial na avaliação de doenças neurológicas que afetam a laringe. A EMG mede a atividade elétrica dos músculos, permitindo a diferenciação entre paralisia laríngea e fixação mecânica. A técnica, embora desafiadora, pode ser usada para diagnosticar condições neurológicas como miastenia gravis e esclerose lateral amiotrófica, além de ajudar no monitoramento intraoperatório, como nas cirurgias de tireoide. O uso de agulhas concêntricas ou monopolares para realizar a EMG laríngea, frequentemente feito sem anestesia local, permite um estudo detalhado da musculatura da laringe e pode ser realizado em consultórios ou ambientes ambulatoriais. No entanto, a interpretação dos sinais deve ser feita por um neurofisiologista experiente, para garantir a precisão do diagnóstico.

Por fim, os exames radiológicos, como a ultrassonografia e a tomografia computadorizada (TC), continuam sendo ferramentas importantes no diagnóstico das doenças laríngeas, especialmente para detectar anomalias em pacientes pediátricos ou para ajudar em procedimentos como biópsias por agulha fina de nódulos da tireoide ou linfonodos em casos avançados de câncer laríngeo. A ultrassonografia, embora limitada devido ao reflexo sonoro causado pela estrutura cartilaginosa da laringe, ainda pode ser útil na avaliação da mobilidade das cordas vocais, enquanto a TC oferece imagens mais detalhadas e rápidas, sendo especialmente útil em casos de trauma ou em situações onde há suspeita de metástases.

Essas tecnologias não apenas melhoram a precisão diagnóstica, mas também desempenham um papel crucial no planejamento e acompanhamento de tratamentos. Contudo, é importante destacar que nenhuma técnica isolada é suficiente para um diagnóstico definitivo. O sucesso no tratamento de doenças laríngeas depende de uma abordagem multidisciplinar, onde a integração de diferentes métodos de imagem e avaliação clínica é fundamental para garantir o melhor cuidado possível ao paciente.