O processo de EMDR (Dessensibilização e Reprocessamento por Movimentos Oculares) pode, por vezes, ser desafiador, e não raramente as sessões não seguem o curso planejado. Embora a técnica seja conhecida por seus efeitos rápidos e profundos, o processo de cura nem sempre ocorre de forma linear. Algumas sessões podem ser incrivelmente transformadoras, enquanto outras podem se revelar difíceis ou incompletas. O importante, no entanto, é entender que, em qualquer cenário, não há erro em não concluir uma sessão completamente. As interrupções, bloqueios e retrocessos fazem parte do caminho, e aprender a lidar com eles é fundamental para continuar o progresso.

Quando uma Sessão de EMDR Não Vai até o Fim

Existem diversas razões pelas quais uma sessão de EMDR pode não ser concluída. Pode ser o impacto de uma forte resposta emocional, conhecida como abreação, que requer mais tempo para ser processada. Outras vezes, o trauma abordado pode ser tão complexo e denso que não é possível cobrir tudo dentro do tempo limitado da sessão. Além disso, a descoberta de traumas conectados pode exigir mais tempo de trabalho. O mais importante a entender é que esses contratempos não significam falha ou erro; fazem parte de um processo natural de cura.

Quando isso acontece, o essencial é saber como fechar a sessão de forma positiva e estabilizadora até que se possa continuar no próximo encontro. Isso ajuda a evitar que o processo seja interrompido ou que se perca o foco. Entre as estratégias mais eficazes está a utilização de uma técnica chamada "mini instalação".

A Estratégia da Mini Instalação

A mini instalação é um método adaptado para quando não é possível concluir uma sessão. Envolve a estimulação bilateral enquanto se foca em uma crença positiva sobre si mesmo. Ao fim de uma sessão incompleta, essa técnica oferece um ponto de equilíbrio, permitindo que a pessoa saia da sessão com um senso de progressão, ao invés de uma sensação de frustração ou incompletude.

Durante essa técnica, a pessoa é convidada a refletir sobre os avanços realizados até aquele momento e a reforçar uma crença positiva sobre si mesma. Por exemplo, a crença de que "eu sou capaz" ou "eu mereço coisas boas". Essas afirmações não são meras palavras, mas representam um reforço emocional que ajuda a pessoa a perceber seu valor e resiliência durante o processo de cura.

A mini instalação deve ser breve, não ultrapassando mais de 30 segundos. A ideia é manter o foco na reflexão sobre o progresso realizado, sem entrar em detalhes excessivos. A técnica pode ser repetida se necessário, mas sempre com o objetivo de finalizar a sessão de forma positiva, criando uma sensação de completude que permitirá um retorno mais tranquilo na próxima vez.

A Importância de Questionamentos Abertos

Outro aspecto essencial do trabalho com EMDR são os questionamentos abertos. Estes são usados para estimular o cérebro a pensar de maneiras novas, desafiando crenças limitantes e facilitando o processo de reprocessamento das experiências traumáticas. As perguntas abertas são formuladas de forma a permitir ao paciente examinar suas próprias conclusões e chegar a respostas que talvez não tivesse considerado antes.

Essas perguntas, que podem ser feitas pelo terapeuta de EMDR, ajudam a pessoa a se afastar do pensamento rígido, do tipo “preto ou branco”, comum em pessoas que passaram por experiências traumáticas. Elas criam um espaço para que a pessoa possa explorar suas emoções, crenças e sentimentos de maneira mais flexível e compreensiva. Exemplos incluem perguntas como "O que você precisava ouvir na época do trauma?" ou "Quem deveria ter te protegido?" Esses questionamentos ajudam a pessoa a reavaliar seu passado e a visualizar novas possibilidades para o presente e futuro.

A Criatividade como Aliada

Em muitos momentos, a solução para desbloqueios durante o processo de EMDR pode vir da criatividade. Usar a imaginação para explorar novas formas de enfrentar desafios, ou até mesmo visualizar uma "equipe de restauração" que possa oferecer apoio simbólico, pode ser extremamente útil. Esta equipe pode ser composta por figuras ou objetos que a pessoa sente que a protegeriam ou a ajudariam a enfrentar seus medos e traumas.

Essa abordagem criativa é particularmente valiosa em momentos de estagnação. Ela permite que a pessoa se reconecte com sua capacidade interna de lidar com a dor e o sofrimento, abrindo portas para novas percepções e possibilidades de cura. O mais importante é manter a curiosidade e a disposição de explorar essas alternativas, pois isso facilitará a superação de bloqueios e a continuidade do processo de cura.

Considerações Finais

Quando uma sessão de EMDR não se conclui como esperado, é crucial lembrar que o processo de cura é dinâmico e multifacetado. Nem sempre é possível trabalhar com tudo de uma vez, e a paciência consigo mesmo é essencial. As técnicas descritas, como a mini instalação e o uso de perguntas abertas, são ferramentas valiosas para ajudar a superar obstáculos temporários, promovendo uma sensação de progresso e positividade. Além disso, a criatividade, a curiosidade e a flexibilidade mental são fundamentais para manter o processo em movimento.

É importante compreender que, em momentos de bloqueio, o não fechamento de uma sessão não é um fracasso, mas sim uma oportunidade de amadurecimento emocional. Esses períodos de interrupção fornecem espaço para reflexões mais profundas e, muitas vezes, são necessários para a verdadeira assimilação das experiências e crenças que estamos processando.

Como o Trauma Pode Gerar Depressão e Ansiedade: Compreendendo os Sinais e Sintomas

A depressão e a ansiedade frequentemente surgem após traumas, sendo sinais comuns que indicam que algo mais profundo está em jogo. No entanto, muitas vezes, não se percebe que o trauma é a verdadeira causa dessas condições. O impacto contínuo do trauma no sistema nervoso, se não resolvido, pode resultar em uma série de reações, que muitas vezes se manifestam como sintomas de depressão e ansiedade.

O trauma pode sobrecarregar o sistema nervoso, mantendo-o em um estado constante de alerta ou estresse, mesmo quando não há perigo imediato. Essa resposta de alerta pode se transformar em um estresse crônico, que torna difícil regular as reações emocionais e comportamentais. O sistema nervoso, por sua vez, pode se encontrar em um ciclo de hiperatividade, no qual a resposta de “luta ou fuga” é acionada repetidamente. Isso pode levar a uma série de sintomas físicos, como aumento da frequência cardíaca, tensão muscular e distúrbios do sono. Além disso, a dificuldade de recuperação, ou seja, a redução da capacidade de retornar a um estado de calma ou equilíbrio após o estresse, torna-se um obstáculo adicional.

Entre os sintomas de depressão, que podem surgir como consequência do trauma, estão sentimentos de desesperança em relação ao futuro, comportamentos de isolamento ou evitação, tristeza profunda, luto, e uma visão negativa de si mesmo. A pessoa que vivencia essas emoções pode se perceber como incapaz de lidar com as adversidades, o que reforça ainda mais a sensação de impotência e desconexão com o mundo ao seu redor.

No caso da ansiedade, o trauma pode se manifestar em uma constante vigilância, com a pessoa se sentindo frequentemente em alerta, assustada e facilmente reativa a estímulos. A irritabilidade, a agitação, bem como a dificuldade de concentração, são características comuns dessa condição. A pessoa com trauma pode também se ver presa em um estado constante de antecipação de perigo, o que interfere profundamente em sua capacidade de viver o momento presente de maneira tranquila.

Ao explorar essas questões, é possível observar que muitos indivíduos, ao começarem a realizar tratamentos como a EMDR (Dessensibilização e Reprocessamento por Movimentos Oculares), experimentam uma redução nos sintomas de ansiedade e depressão. Isso ocorre porque a EMDR busca tratar a raiz do trauma, permitindo que o sistema nervoso seja "descarregado" de suas experiências traumáticas e restaurando a capacidade de lidar com as emoções de maneira mais equilibrada.

O entendimento do "Eu interno" e de suas diversas partes também é fundamental para a cura. Muitas vezes, nos vemos como uma entidade única, mas, na verdade, somos compostos por várias partes distintas que influenciam nossas reações, pensamentos e emoções. O terapeuta Richard C. Schwartz, criador da Terapia de Sistemas Familiares Internos (IFS), descreve essas partes como "Exilados", "Protetores" e "O Eu". Cada uma dessas partes tem uma função específica e uma forma de reagir diante das situações que vivemos.

Os "Exilados" são partes feridas, frequentemente associadas a experiências traumáticas da infância, que carregam uma carga emocional de vergonha, vulnerabilidade e impotência. Eles são os que sofreram com o trauma e, muitas vezes, ficam "exilados", em um estado de sofrimento profundo, sem poder se integrar de maneira saudável com as demais partes do eu.

Já os "Protetores" são aqueles que surgem como uma forma de defesa contra a dor do trauma. Esses aspectos do "Eu" podem se manifestar como reatividade excessiva, evitação ou até comportamentos destrutivos, tudo com o intuito de evitar mais sofrimento. Eles desempenham um papel crucial na manutenção da sobrevivência emocional, mas, frequentemente, acabam se tornando disfuncionais quando são excessivamente rígidos ou críticos, seja consigo mesmos ou com os outros aspectos internos.

Por fim, o "Eu" verdadeiro é a parte essencial de quem somos. Ele é a essência autêntica, sem julgamentos ou críticas, e é o lugar de onde podemos observar e perceber as outras partes de nós. Ele é, em essência, o centro de nossa integridade, compaixão e clareza. O entendimento dessas diferentes partes do "Eu" e sua interação é uma chave importante no processo de cura, permitindo que o indivíduo navegue pelo trauma com mais autocompaixão e compreensão.

Compreender essas dinâmicas internas é um passo importante para a recuperação. Quando sentimos conflito interno, frequentemente não sabemos como lidar com a sobrecarga emocional. Contudo, reconhecer e entender as partes do nosso "Eu" que estão em conflito pode trazer alívio imediato. Esse reconhecimento oferece um espaço para que essas partes sejam ouvidas e compreendidas, permitindo que a pessoa ganhe maior estabilidade emocional e equilíbrio.

A simples prática de perguntar a si mesmo sobre o que está motivando um conflito interno, ou entender os medos e desejos dessas partes conflitantes, pode ser extremamente útil. Reconhecer a presença de um "Protetor" reativo ou de um "Exilado" ferido abre espaço para que novas possibilidades de resposta sejam consideradas. Isso facilita o processo de cura, permitindo que, com o tempo, essas partes do "Eu" se integrem de maneira mais harmoniosa.

Ao trabalhar essas questões internas com abordagens como a EMDR ou a Terapia de Sistemas Familiares Internos, podemos gradualmente restaurar a capacidade de regular nossas emoções, reencontrar nossa paz interior e, finalmente, superar os traumas que nos afetaram. Essa jornada de autoconhecimento e autocompaixão é um caminho essencial para uma vida mais plena e equilibrada.