Trabalhar juntos não significa apenas colaborar com amigos e colegas, mas também com estranhos, opositores e até inimigos. Isso se torna essencial quando se enfrenta desafios imensos e complexos, como as mudanças climáticas, que exigem um esforço coletivo para encontrar soluções. A questão central, portanto, é: como reunir as pessoas à mesa e o que fazer quando elas estão lá? O autor Adam Kahane, em suas experiências e metodologias, aborda essa questão com uma abordagem prática, que se afasta das tentativas de convencer aqueles que não estão dispostos a mudar. Ao invés disso, ele se concentra em encontrar uma atitude comum entre as partes envolvidas, um reconhecimento de que, para avançar, será necessário agir juntos.
O primeiro passo fundamental é reconhecer que a colaboração pode começar mesmo sem que todos concordem sobre os problemas ou as soluções. A verdadeira mudança pode surgir quando os participantes entendem que, sem união, não há progresso possível. Segundo Kahane, a chave para o sucesso está em perceber que, muitas vezes, as partes envolvidas chegam à mesa de negociações apenas depois de "baterem a cabeça". O ponto de partida, portanto, pode ser simples: concordar que a situação é grave o suficiente para exigir ação coletiva.
O trabalho de Kahane se baseia em um ciclo contínuo entre advocacia e colaboração, uma oscilação constante entre defender com toda a força aquilo que se acredita ser certo e tentar colaborar com aqueles que, à primeira vista, podem ser incompreensíveis, pouco confiáveis ou até antipáticos. Esse estresse de ir da batalha para a mesa de negociações é intensificado por desigualdades de poder — seja de dinheiro, política ou ideias. Para Kahane, os dois pilares fundamentais de seu trabalho são o poder e o amor. Ao contrário do que se pensa popularmente, onde o poder é associado à opressão e o amor à romantização, ele cita o teólogo Paul Tillich, que afirma que o poder é a força vital de todos os seres vivos para se realizar, enquanto o amor é a força que busca a união do que está separado.
Esse equilíbrio entre poder e amor é o núcleo do trabalho social transformador. Ambos têm um lado gerador e degenerativo. O poder, quando em excesso, pode ser destrutivo, opressor; por outro lado, o amor, quando em excesso, pode ser sufocante, incapacitante. Como enfatizou Martin Luther King, "poder sem amor é imprudente e abusivo, e amor sem poder é sentimental e anêmico". Encontrar o ponto de equilíbrio entre essas duas forças é essencial, e é justamente isso que Kahane busca nas situações de estagnação social e política.
Uma das razões pelas quais a humanidade se encontra cada vez mais "presa" em situações complexas e polarizadas é a incapacidade de lidar com problemas difíceis com apenas uma parte ou um grupo de pessoas. Para transformar grandes sistemas, é necessário trabalhar com pessoas que nem sempre compartilham as mesmas ideias ou valores. Não se pode confiar apenas naqueles com quem nos damos bem; é preciso aprender a trabalhar com estranhos, com opositores, com aqueles que não compartilham nossa visão. Se não houver essa consciência, a estagnação será inevitável.
Um método eficaz para desbloquear situações complexas e polarizadas, segundo Kahane, é a criação de cenários transformacionais. Esses cenários não são previsões do futuro, mas histórias que nos permitem pensar de maneira criativa sobre o que é possível. Eles não tentam prever o que as pessoas querem, mas sim explorar o que poderia acontecer se as condições se alterassem. Ao pensar sobre o futuro de maneira aberta, sem as limitações das soluções pré-definidas, é possível gerar novas ideias e soluções.
Durante o processo de planejamento de cenários, Kahane ilustra como cada cenário pode ser representado por um pássaro, como no exemplo do "Mont Fleur", onde diferentes cenários foram retratados como o avestruz, o pato manco, Ícarus e o flamingo, representando diferentes formas de lidar com problemas sociais e políticos. A criação desses cenários, mesmo que não envolva um entendimento prévio entre os participantes, gera novas perspectivas e possibilidades de ação. Para que isso funcione, no entanto, os participantes devem concordar que o que estão criando é possível, mesmo que o futuro seja incerto.
A metodologia de Kahane segue cinco etapas simples, mas não fáceis de implementar:
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Reunir um grupo de atores de todo o sistema envolvido.
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Observar o que está acontecendo no sistema.
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Criar histórias sobre o que poderia acontecer.
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Descobrir o que precisa ser feito a partir dessas histórias.
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Tomar ações para transformar o sistema.
Essas etapas são simples, mas a verdadeira dificuldade está na natureza imprevisível e muitas vezes desconfortável do processo emergente. Ao longo do caminho, pode ser necessário aceitar que alguns problemas simplesmente não podem ser resolvidos de imediato. A primeira ação é reunir as partes com um objetivo comum, não para agir de imediato, mas para entender o que é possível fazer.
No entanto, a criação de uma visão compartilhada para a ação coletiva nem sempre é suficiente. Às vezes, é preciso mais do que um simples diálogo; é necessário mudar o comportamento e a ação. O que está em jogo é a transformação real do sistema, e isso exige que as pessoas se empenhem em transformar tanto suas palavras quanto suas atitudes. Essa mudança comportamental é particularmente difícil em contextos onde o status quo parece funcionar bem para a maioria das pessoas, como em países onde a resistência à mudança é forte.
O grande desafio das mudanças climáticas, como exemplo, é a urgência do problema. Apesar de ser uma das crises mais bem documentadas, a falta de ação frente a ela continua sendo um dos maiores obstáculos. A conscientização sobre o problema não tem sido suficiente para provocar a mudança necessária, e isso nos exige mais criatividade e um compromisso real com a transformação.
A Interconexão e a Urgência Ambiental: Lições de Tibet e do Dalai Lama
A viagem ao Tibet oferece lições profundas sobre a interconexão entre os seres humanos e o meio ambiente, sendo uma experiência difícil de ser ignorada. A partir da beleza única da região, com céus mais azuis e neve mais branca, até a sensação de estar mais conectado com o cosmos, o Tibet mostra um contraste gritante com o que vemos nas sociedades modernas, onde as distrações diárias muitas vezes nos afastam das questões essenciais. A paisagem tibetana, por exemplo, não é apenas um reflexo de sua geografia, mas também da relação intrínseca que seus habitantes mantêm com o planeta. Esta conexão é vividamente expressa através da visão do Monte Everest, cuja grandeza não só rasga o céu, mas também é uma metáfora de como a terra e o cosmos se entrelaçam, desafiando nossa compreensão habitual da natureza e da existência.
No entanto, o Tibet também traz uma lição dolorosa sobre as consequências da degradação ambiental acelerada. A região, que já foi um local de beleza intocada, hoje sofre as consequências do aquecimento global e das atividades humanas, como a mineração e o desmatamento. O Tibet é, de certa forma, um indicador sensível das mudanças climáticas — um "canário na mina de carvão" que nos avisa sobre os danos irreversíveis que podem afetar não só a região, mas todo o planeta.
Durante uma conferência em Dharamsala, o Dalai Lama, líder espiritual do Tibet, falou sobre a gravidade dessa crise. Ele afirmou que as vidas de bilhões de pessoas dependem dos rios que nascem no planalto tibetano. No entanto, essas águas e a própria região estão sendo ameaçadas por mudanças ambientais que já causaram danos irreparáveis. Para ele, a questão ambiental tem uma importância urgente e superior às disputas políticas. As questões relativas ao Tibet, segundo o Dalai Lama, podem esperar, mas o meio ambiente não. A degradação ambiental, que continua a ser acelerada por atividades como a mineração e o desmatamento, não pode ser ignorada.
Em suas palavras, o Dalai Lama apontou a corrupção como uma das causas principais da crise. Ele comparou a corrupção a uma doença que afeta o planeta inteiro, destacando que, no fundo, o problema não é a falta de sistemas judiciais ou policiais, mas uma falha ética. Para ele, a raiz do problema é a falta de autoconsciência e ética das pessoas, o que leva a decisões prejudiciais à natureza e à sociedade. O Dalai Lama enfatizou que é nossa responsabilidade coletiva elevar a conscientização sobre esses problemas, lembrando-nos de que a compaixão e o respeito pelo meio ambiente devem ser fundamentos de nossa ação.
Essa mensagem de compaixão também se estende à maneira como lidamos com os outros, nossa sociedade e a própria natureza. O Dalai Lama, ao refletir sobre a importância da "cabeça ocidental" e "coração asiático", sugeriu que a combinação desses dois elementos — razão e emoção, lógica e compaixão — seria a chave para resolver muitos dos dilemas que enfrentamos. Ele apontou que a verdadeira mudança começa com a prática da amizade genuína, do amor e da preocupação verdadeira pelo bem-estar dos outros, sem esperar nada em troca.
Esse ponto de vista está em sintonia com outros pensadores contemporâneos, como o cientista cognitivo George Lakoff, que argumenta que os fatos não são suficientes para mudar a mente das pessoas, e com os conceitos de Marshall Ganz sobre o diálogo emocional. Em suas palavras, a verdadeira comunicação não vem apenas da informação racional, mas da conexão emocional que geramos com o outro. A crítica ao capitalismo desenfreado, levantada por Joel Bakan, e a importância das redes de confiança, discutidas por Dan Kahan, nos mostram que estamos em um ponto crucial, onde precisamos urgentemente de uma transformação ética e social.
O Dalai Lama, ao refletir sobre suas experiências no exílio e suas observações sobre o mundo fora do Tibet, lembrou-nos de que, em sua terra natal, a água era pura e limpa, algo que, no resto do mundo, já não podemos dar como garantido. O impacto das ações humanas sobre o meio ambiente, principalmente o uso insustentável dos recursos naturais, é algo que afeta a todos nós. Quando se fala em crise ambiental, não é uma questão local, mas global — a sobrevivência de todos os seres vivos está em risco, e isso exige uma ação imediata e consciente.
Este pensamento nos chama a refletir sobre o papel que cada um de nós desempenha nesse processo. Não podemos mais adiar as mudanças necessárias; a inação não é uma opção. O Tibet, com sua sabedoria ancestral, não é apenas um lembrete da beleza do planeta, mas também um alerta sobre a fragilidade dessa beleza e a responsabilidade que temos para com as gerações futuras. A verdadeira urgência não está apenas nas ações políticas, mas na transformação de nossas atitudes, valores e comportamentos diante da natureza.

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