A Ulster House, projetada por Levitt e Goodman, representa um exemplo claro de como é possível integrar a natureza, conforto e eficiência térmica em um espaço urbano, ao mesmo tempo em que se desafiam as normas tradicionais de construção. Com seu design inovador, a casa multiplica as possibilidades de morar, incorporando elementos como saunas, pátios e grandes janelas para maximizar a conexão com o ambiente externo, independentemente das estações do ano. Ao longo das estações, as mudanças de clima tornam-se um convite para experimentar o ambiente de maneiras diferentes. Como menciona Levitt, "A sauna é o ponto de ancoragem para todas as estações. Muitas noites, nos sentamos do lado de fora, depois de uma longa sessão de sauna, em roupões e chinelos, sentindo realmente o calor no frio — e nos sentindo bem por poder estar ao ar livre em um jardim selvagem no meio do inverno."

Embora essa abordagem não seja para todos, a Ulster House não é apenas uma casa, mas também um protótipo de um conceito maior: a expansão das opções de moradia. O design e a implementação de casas multiplex, como a Ulster House, respondem a um desafio crescente nas cidades contemporâneas: a escassez de moradias acessíveis. Ao mesmo tempo, essas casas desafiam as normas urbanísticas, especialmente em relação à densificação residencial, trazendo à tona o potencial das casas secundárias e das unidades nos fundos, também conhecidas como "laneway suites".

A ideia de "multiplex" propõe um novo modelo de habitação, onde várias unidades residenciais podem ser inseridas em espaços anteriormente reservados para casas unifamiliares. Esse conceito ganha força dentro de programas como o "Expanding Housing Options in Neighbourhoods" (EHON), que foi iniciado em 2023 para facilitar a construção de multiplexes nas cidades. No entanto, a viabilidade desses projetos vai além da criação de planos de construção; envolve também a superação de obstáculos regulatórios e culturais.

A implementação de multiplexes enfrenta uma série de desafios burocráticos. Um exemplo claro disso é a resistência da prefeitura e das autoridades reguladoras em aceitar transformações rápidas nos bairros. Como observado em Bedford Park, uma tentativa de dividir duas casas semidetachadas em várias unidades foi barrada por questões de zoneamento, que classificaram as propriedades como um único edifício residencial, algo proibido sob as normas vigentes. Tais barreiras tornam a legalidade e a viabilidade financeira dos multiplexes questionáveis, refletindo as dificuldades enfrentadas por aqueles que tentam implementar novas formas de habitação.

No entanto, esses obstáculos não impedem o avanço do conceito de multiplex. O ReHousing, por exemplo, busca oferecer uma ferramenta para que os proprietários de imóveis possam planejar e executar reformas de maneira mais eficaz, com o apoio de um "kit de ferramentas" de design. Como afirma Samantha Eby, "É sobre transmitir nossas habilidades de design e nossa experiência em pensar sobre coisas como a fase de um projeto para um público mais amplo." O ReHousing busca permitir que até mesmo quem não é arquiteto possa fazer mudanças significativas em suas propriedades, desde simples reformas até a criação de unidades adicionais.

Além disso, projetos como o Ulster House demonstram que é possível combinar inovações na construção com uma reflexão profunda sobre a sustentabilidade e o impacto ambiental. A escolha por um sistema HVAC totalmente elétrico, por exemplo, visa garantir que a residência seja o mais próxima possível de um projeto de baixo carbono. Mas esse compromisso com a sustentabilidade também traz à tona os desafios práticos, como o atraso na instalação de sistemas elétricos e outros problemas relacionados à falta de preparação das infraestruturas públicas para suportar tais inovações. A experiência de Levitt e Goodman mostra como a resistência burocrática pode resultar em custos inesperados e longos períodos de espera, que impactam diretamente na rentabilidade e viabilidade dos projetos.

Por fim, a reflexão sobre como os nossos conceitos de "casa" e "moradia" estão sendo moldados pelas mudanças socioeconômicas e pelo mercado imobiliário moderno é essencial. Quando a habitação se torna uma ferramenta de investimento, a flexibilidade das regras de zoneamento e a possibilidade de transformar propriedades de forma mais dinâmica e adaptável são vitais para enfrentar os desafios da escassez de moradia. A resistência a essas mudanças muitas vezes vem do medo do risco, como observado na evolução das normas que antes permitiam que vizinhos ajudassem uns aos outros com reformas e agora os forçam a se submeter a regras rígidas de permissão.

A transformação das casas unifamiliares em múltiplas unidades exige uma revisão crítica das leis urbanísticas e da maneira como as cidades se adaptam às novas necessidades de seus habitantes. O avanço das casas multiplex é uma resposta essencial à crise habitacional, mas é preciso questionar até que ponto a burocracia e os interesses do mercado imobiliário irão permitir que esse modelo seja amplamente adotado, oferecendo soluções sustentáveis e acessíveis para as populações urbanas.

Como o Design de Interiores Pode Transformar a Experiência Culinária: O Caso do Restaurante Adela em Paris

O design de interiores de um restaurante não é apenas uma questão estética ou decorativa. Ele pode, de fato, moldar toda a experiência que o cliente tem ao degustar uma refeição. O restaurante Adela, em Paris, é um exemplo notável de como o espaço e a arquitetura podem ir além da simples funcionalidade, criando uma atmosfera que complementa e realça a proposta culinária.

Adela, aberto em julho, traz uma fusão única entre a cozinha italiana e a atmosfera parisiense. O trabalho da arquiteta Jessica Mille, responsável pelo design do local, incorpora uma série de referências art nouveau, um estilo que tem fortes laços com as brasseries francesas do início do século XX. Porém, a visão de Mille vai além de uma simples recriação histórica. Ela busca reinterpretar os elementos do passado através de uma lente contemporânea, criando um espaço que, embora enraizado na tradição, é também inovador e vibrante.

Mille descreve a inspiração para o design de Adela como um tributo ao passado, mas com um toque moderno. A arte de reinterpretação da história é visível em toda a decoração. A escolha das cores e dos materiais no espaço é pensada para trazer um toque de vivacidade aos códigos clássicos do art nouveau, criando um ambiente de contrastes dinâmicos, onde o antigo e o novo coexistem de forma harmoniosa.

A localização de Adela também influenciou diretamente o seu design. Situado na área dos Grands Boulevards, conhecida por sua atmosfera boêmia e por ser um ponto de encontro de artistas e intelectuais ao longo das décadas, Mille sentiu-se inspirada pela energia criativa do local. Ela queria refletir essa essência artística no interior do restaurante, incorporando elementos que remetem à arte e à cultura local, criando uma conexão natural entre o espaço e o ambiente ao seu redor.

Além das influências do art nouveau, Mille introduziu um aspecto de renovação no restaurante, especialmente em relação à fachada do edifício. Com a adaptação do térreo, ela foi capaz de suavizar as linhas rígidas do estilo Haussmanniano, presente na vizinhança, utilizando portas deslizantes de madeira com detalhes curvos que atraem a atenção de quem passa. Este toque contemporâneo no exterior se desvia do convencional, gerando uma interação interessante entre a arquitetura histórica e a inovação do design.

O uso de artesãos especializados também foi fundamental para o sucesso do projeto. Um dos destaques do design de Adela é o fresco botânico na parede do térreo, que se estende até uma das colunas da sala de jantar. Este trabalho minucioso foi realizado por Victor Brun, um mestre do artesanato, que levou duas semanas para pintar as flores e os padrões de cores vibrantes sobre andaimes. A precisão e a habilidade artesanal se refletem em cada detalhe, fazendo com que o design do restaurante se torne um espetáculo visual tanto quanto uma experiência culinária.

O espaço do restaurante é distribuído em três andares, com a cozinha situada no subsolo, onde a massa é feita, cortada e preparada. O prato principal, no entanto, é montado e servido no andar superior. A utilização de um elevador de carga garante que os pratos fluam entre os andares com eficiência, mantendo a fluidez do serviço e ao mesmo tempo preservando a estética do espaço. Esse tipo de atenção ao fluxo do restaurante, combinado com a decoração, não só faz com que os clientes se sintam imersos no ambiente, mas também cria uma experiência mais fluida e agradável durante a refeição.

O design de Adela é um exemplo claro de como o interior de um restaurante pode contribuir para a narrativa e a identidade de um local. Ele não é apenas um suporte passivo para a refeição, mas uma parte ativa da experiência, moldando como o cliente se relaciona com o espaço, a comida e o próprio ato de comer. Adela mostra que, quando bem executado, o design pode ser uma extensão do menu e até um componente essencial da experiência gastronômica.

É importante que os leitores compreendam que, em espaços como Adela, o design não é apenas sobre como o local se parece, mas como ele faz o cliente se sentir. Cada detalhe – desde a escolha dos materiais até a cor das paredes e a disposição dos móveis – tem o potencial de evocar uma emoção ou uma sensação específica, criando um ambiente que não é apenas visualmente atraente, mas também sensorialmente estimulante. O design de interiores é, portanto, uma ferramenta poderosa que pode transformar a percepção do consumidor sobre o restaurante e sobre a experiência gastronômica como um todo.

Como a Geometria e o Design se Fundem no Movimento Art Nouveau e na Arquitetura Contemporânea

As linhas sinuosas que caracterizam o estilo Art Nouveau possuem um eco profundo de fluidez e movimento, um conceito amplamente explorado no design de interiores e na arquitetura moderna. A linha conhecida como “linha chicote” (whiplash line), típica deste estilo, remete a uma geometria que não é apenas decorativa, mas uma força de expressão em si. Esse tipo de linha não se limita a ser uma simples forma; ela representa a continuidade do movimento, conectando diferentes espaços e elementos de uma forma que parece natural, como se estivessem em constante transformação. Quando os artistas do movimento Art Nouveau incorporam essas formas, eles criam um espaço onde as fronteiras entre o objeto e o ambiente se dissolvem, gerando uma sensação de harmonia fluída.

O design moderno, especialmente nas obras de designers como Hannes Peer, tem encontrado maneiras de reinterpretar essa fluidez. Peer, por exemplo, é reconhecido por sua capacidade de unir tradição e inovação, criando peças que dialogam com a arquitetura e o design clássico, mas ao mesmo tempo rompem com convenções, dando espaço para a experimentação. Em sua colaboração com a Minotti, ele introduziu o sistema de assentos Yves, um exemplo perfeito de como a modernidade pode ser infundida com a elegância do passado. As formas arredondadas, os detalhes de costura e a maneira como os elementos se entrelaçam criam um ambiente em que cada peça não é apenas funcional, mas também uma obra de arte. A maneira como Peer lida com a transformação dos materiais e formas mostra uma profunda conexão com o movimento Art Nouveau, onde a fluidez e a transformação são centrais.

O conceito de fluidez no design não é apenas uma busca estética; é também uma reflexão sobre o próprio espaço. Em um restaurante, por exemplo, o ambiente pode ser desenhado de maneira que as linhas do mobiliário e da arquitetura se entrelacem, criando uma sensação de continuidade que guia o olhar do cliente sem interrupções bruscas. As paredes curvas, os tecidos macios, e os revestimentos com texturas orgânicas permitem que o espaço respire e se movimente de uma maneira que é tanto confortável quanto estimulante. No caso de Mille, que trabalha com uma mescla de estilo brasserie e elementos modernos, o uso de azulejos de travertino e o jogo com os móveis — como as cadeiras Thonet e o uso de almofadas de veludo — cria uma combinação que é ao mesmo tempo elegante e descontraída. A habilidade de combinar esses diferentes elementos de forma coesa é o que eleva o design a um novo patamar, levando o conceito de fluidez a uma expressão tangível no ambiente.

Em sua obra, Peer também introduziu a ideia de "micro-arquitetura" no mobiliário. Cada peça de sua coleção para a Minotti pode ser considerada uma miniatura de um edifício, com sua própria estrutura, equilíbrio e funcionalidade. As formas interligadas, como as do famoso Nico table, demonstram como os elementos simples podem se transformar em algo grandioso. O uso de mármore e a combinação de formas geométricas criam um ponto de interesse visual que desafia a percepção tradicional de mobiliário. As linhas não são meramente decorativas; elas geram um movimento, uma narrativa visual que se estende pelo espaço, conectando o mobiliário à arquitetura de maneira única.

Além disso, a experimentação com materiais e formas, como a introdução de elementos como o "doppio toro" ou toros duplos, também remete à habilidade de misturar inovação com tradição. O “doppio toro”, por exemplo, foi uma revolução no design de sofás, ao permitir que as formas mais fluídas e orgânicas fossem incorporadas a um design que antes era mais rígido e estrutural. A Minotti, conhecida por sua busca pela perfeição clássica, teve que ajustar sua visão para aceitar esse novo tipo de suavidade que Peer trouxe, o que exigiu mais de quinze protótipos até que o produto final estivesse alinhado com a visão de ambos os lados.

Esses elementos não são apenas questões de forma ou estética, mas também de como o espaço é vivido e experimentado. As escolhas de design têm um impacto profundo na percepção que se tem de um lugar, desde a maneira como a luz e a sombra interagem com as superfícies até o tipo de sensação que se quer transmitir ao ocupante do espaço. Se o movimento Art Nouveau já buscava dissolver as fronteiras entre o ambiente e o ser humano, o design contemporâneo continua esse trabalho de borrar essas linhas, permitindo que as pessoas se sintam integradas ao espaço de uma maneira orgânica e intuitiva.

Ao incorporar esses princípios de fluidez e movimento, os designers modernos, como Peer, estão trazendo o design de interiores e o mobiliário para um território onde a funcionalidade se funde com a arte, criando ambientes que são ao mesmo tempo habitáveis e esteticamente ricos. A ideia de que o design deve ser uma extensão da arquitetura e da experiência humana continua sendo um princípio central, refletindo a filosofia original do Art Nouveau, mas com uma interpretação contemporânea e inovadora. O design não é mais apenas sobre forma e função, mas sobre como essas duas dimensões podem ser unidas para criar uma nova linguagem visual que seja ao mesmo tempo moderna e atemporal.