A ultrassonografia é uma ferramenta fundamental no diagnóstico de lesões musculoesqueléticas, especialmente em cães, onde a avaliação precisa dos tecidos moles e das articulações pode ser crucial para um tratamento eficaz. Embora a aplicação da ultrassonografia seja bem estabelecida em humanos e cavalos, seu uso na medicina veterinária ainda está em expansão, apesar de seu potencial para proporcionar diagnósticos rápidos e não invasivos. A análise detalhada das estruturas musculares, tendinosas e articulares permite não apenas identificar lesões agudas, mas também monitorar a evolução de condições crônicas.
Em relação à articulação do cotovelo, um dos desafios mais evidentes é a dificuldade de visualização da fratura do processo coronoide medial, uma lesão comum em cães, devido à posição anatômica dos fragmentos e ao tamanho da articulação. Estudos indicam que a ultrassonografia pode ser útil para examinar as inserções do tríceps no olécrano, o bíceps, o braquial, assim como os ligamentos colaterais, embora a incidência de lesões nessas áreas seja baixa. No entanto, a presença de alterações patológicas nessas regiões pode ser detectada, o que é importante para o diagnóstico precoce e o manejo adequado dessas lesões (Cogar et al., 2008; Cook & Cook, 2009).
A avaliação do carpo também se beneficia da ultrassonografia, permitindo a visualização de ligamentos colaterais, tendões extensores e flexores, feixes neurovasculares, retináculos e o canal carpiano. Apesar de a descrição da anatomia normal do carpo ser baseada principalmente em estudos cadavéricos, alguns avanços permitem estabelecer protocolos de exame mais padronizados (Gonzalez-Rellan et al., 2021; Entani et al., 2022). Embora existam estudos que tratem de lesões patológicas, como a do abdutor do polegar longo, as descrições das mudanças ultrassonográficas são ainda limitadas na literatura revisada por pares (Hittmair et al., 2012).
Outra área importante que se beneficia da ultrassonografia é a região do iliopsoas, onde lesões agudas e crônicas, além de adaptações secundárias, podem ser visualizadas. A ultrassonografia pode detectar alterações no padrão linear das fibras musculares, aumento da ecodensidade indicando infiltração celular, e mudanças no tamanho ou espessura do músculo, o que é vital para o diagnóstico de lesões musculares graves. Além disso, a avaliação do tendão, frequentemente envolvido em tendinopatias crônicas, pode revelar espessamento e alterações na ecogenicidade das fibras tendinosas (Cullen et al., 2017; Breur & Blevins, 1997).
No joelho, particularmente na avaliação do ligamento cruzado cranial, a ultrassonografia tem mostrado uma sensibilidade limitada, com a ruptura confirmada em apenas uma pequena porcentagem dos casos, o que é esperado devido à localização anatômica do ligamento e às limitações técnicas do exame (Gnudi & Bertoni, 2001; Arnault et al., 2009). Contudo, o exame do menisco com ultrassom tem boa sensibilidade e especificidade, o que o torna uma ferramenta útil no diagnóstico pré-cirúrgico, especialmente para lesões que podem exigir intervenção cirúrgica imediata (Franklin et al., 2017).
A avaliação do tarso e suas estruturas associadas, como os tendões do mecanismo de Aquiles, é igualmente bem estabelecida, e a ultrassonografia tem um papel vital na caracterização de lesões e no monitoramento da cicatrização pós-tratamento (Kramer et al., 1999). A análise do tendão calcâneo comum, do tendão gastrocnêmio e do tendão flexor digital superficial permite uma abordagem detalhada para diagnosticar lesões nesses locais específicos.
A ultrassonografia muscular e das estruturas conjuntivas tem sido cada vez mais utilizada tanto em humanos quanto em cavalos para o diagnóstico de lesões. No entanto, seu uso em cães ainda é relativamente recente. Com a utilização de transdutores de alta resolução e uma boa compreensão da anatomia local, é possível identificar alterações subtis nos tecidos, como espessamento, atrofia e aderências fibrosas. Além disso, os escores de graduação das lesões musculares ajudam os profissionais a classificar as alterações e a planejar tratamentos mais eficazes para a reabilitação dos cães (Cullen et al., 2017; Schaaf et al., 2020).
Finalmente, a artroscopia por agulha tem se mostrado uma ferramenta útil para o diagnóstico e tratamento de alterações intra-articulares em cães. Embora a artroscopia clássica seja o padrão ouro, a artroscopia por agulha, mais acessível e com menor custo, tem mostrado resultados equivalentes em diversas articulações, como o ombro, cotovelo e joelho. Esta técnica tem sido particularmente eficaz na visualização de danos no tendão subescapular e no ligamento glenoumeral medial, que são difíceis de avaliar por outros métodos de imagem (von Pfeil et al., 2021).
Com a combinação dessas técnicas de diagnóstico por imagem, como a ultrassonografia e a artroscopia por agulha, é possível realizar um diagnóstico preciso e eficaz, promovendo melhores resultados no tratamento das lesões musculoesqueléticas em cães.
Inibidores da Recaptação de Serotonina e Norepinefrina: Aplicações no Tratamento da Dor Crônica em Cães
A dor crônica em cães, especialmente a dor neuropática, pode ser desafiadora de tratar. Embora a terapêutica convencional, como os analgésicos anti-inflamatórios não esteroides (AINEs), seja frequentemente eficaz, o tratamento de dores mais complexas, como aquelas decorrentes de doenças degenerativas ou neurológicas, demanda o uso de medicamentos mais específicos. Entre esses, destacam-se os inibidores da recaptação de serotonina e norepinefrina (ISRS e IRSNs), cujas aplicações em humanos são bem documentadas e, cada vez mais, exploradas na medicina veterinária.
S-adenosilmetionina (SAMe) e Outros Inibidores de Recaptação
A S-adenosilmetionina (SAMe) tem demonstrado propriedades que podem influenciar positivamente os níveis de serotonina e norepinefrina, e seu uso tem sido sugerido para melhorar o conforto dos cães com dor crônica. Embora mais comumente associada ao tratamento de problemas hepáticos e articulares, a SAMe pode também ajudar na modulação dos neurotransmissores envolvidos na dor neuropática. Além disso, drogas como a duloxetina e a fluoxetina, que são amplamente usadas para tratar a depressão em humanos, podem também ser eficazes em certos casos de dor crônica em cães.
Duloxetina e Fluoxetina: Potenciais Terapêuticos no Tratamento da Dor Neuropática
A duloxetina, um inibidor da recaptação de serotonina e norepinefrina (SNRI), tem sido utilizada em humanos para o manejo da dor neuropática associada à neuropatia diabética, neuralgia pós-herpética e fibromialgia. Embora existam estudos conflitantes sobre sua biodisponibilidade em cães, alguns indicam que a duloxetina pode ter um efeito similar ao de outras terapias padrão, como a gabapentina, na redução da dor associada a condições como doenças degenerativas da coluna vertebral e malformações semelhantes à Chiari.
A fluoxetina, um ISRS, por sua vez, tem mostrado menos impacto direto na dor crônica em seres humanos, sugerindo que a serotonina possa ter um papel secundário em comparação com a norepinefrina. No entanto, o uso de fluoxetina em cães pode ainda oferecer benefícios ao influenciar tanto o conforto físico quanto o estado emocional do animal, visto que os efeitos psicoativos da fluoxetina podem, em certos casos, melhorar o bem-estar geral.
Interações Medicamentosas e Cuidados no Uso Combinado
É fundamental ter cautela ao usar inibidores de recaptação de serotonina e norepinefrina em combinação com outros medicamentos, como os anticonvulsivantes e os analgésicos tradicionais. A combinação de múltiplos agentes com ação serotoninérgica, como os antidepressivos tricíclicos (TCAs) ou os próprios IRSNs, pode resultar em interações perigosas, como a síndrome serotoninérgica, caracterizada por hiperatividade, tremores, agitação e até complicações graves. Portanto, é essencial monitorar de perto o tratamento, ajustando as doses e evitando combinações inseguras. Além disso, ao iniciar qualquer terapia que modifique os níveis de neurotransmissores, é importante que a escolha do medicamento leve em conta a condição clínica individual do paciente.
Amantadina e Pregabalina: Alternativas e Adjuntos
Além dos antidepressivos, outros fármacos, como a amantadina e a pregabalina, também têm mostrado utilidade no tratamento de dor crônica. A amantadina, com sua ação antiviral e efeitos dopaminérgicos fracos, atua como um antagonista dos receptores NMDA, modulando a dor em condições como a osteoartrite canina. A pregabalina, com uma estrutura farmacocinética que se aproxima da gabapentina, oferece uma opção eficaz no tratamento da dor neuropática e tem sido utilizada com sucesso em diversos cenários clínicos.
Considerações Finais para o Tratamento da Dor Crônica em Cães
Embora o uso de inibidores da recaptação de serotonina e norepinefrina tenha mostrado potencial no tratamento da dor crônica em cães, é imprescindível compreender que a resposta ao tratamento pode variar amplamente entre os indivíduos. O manejo da dor não deve se basear apenas em um único tipo de medicação, mas sim em uma abordagem multifacetada que considere tanto os aspectos físicos quanto emocionais do paciente. A ansiedade, por exemplo, pode exacerbar a dor, e o uso de ansiolíticos em conjunto com analgésicos pode ser fundamental para melhorar os resultados terapêuticos.
Além disso, embora os ISRS e IRSNs ofereçam promissores resultados, seu impacto na dor crônica animal ainda precisa de mais estudos clínicos para ser plenamente validado. Isso destaca a importância de uma avaliação veterinária cuidadosa e personalizada, considerando todos os aspectos do quadro clínico do animal, como comorbidades, interação com outros medicamentos e potenciais efeitos adversos.
Qual a importância da preparação do Plasma Rico em Plaquetas (PRP) e suas implicações na medicina veterinária?
A preparação do Plasma Rico em Plaquetas (PRP) tem ganhado destaque na medicina veterinária, especialmente no tratamento de lesões em tecidos moles, como tendões. A técnica envolve a centrifugação do sangue para isolar as plaquetas e, assim, promover a regeneração tecidual através de fatores de crescimento liberados por essas plaquetas. Contudo, é fundamental compreender a complexidade desse processo para garantir sua eficácia.
A separação das frações celulares do sangue, incluindo as plaquetas, leucócitos e o plasma, é um passo crucial para a obtenção de um PRP de qualidade. Quando a camada de buffy coat, que contém as plaquetas, é extraída em sua totalidade, tanto a concentração de plaquetas quanto a de leucócitos aumenta consideravelmente. No entanto, é possível obter concentrações altas de plaquetas com uma quantidade reduzida de leucócitos se apenas a fração superficial do buffy coat for isolada, o que é tecnicamente mais simples, mas desafiador na prática. Esses detalhes são importantes, pois a quantidade de leucócitos presentes no PRP pode influenciar a resposta inflamatória e, consequentemente, os resultados clínicos.
Embora seja possível preparar o PRP utilizando equipamentos básicos, muitos veterinários preferem sistemas comerciais de centrifugação ou filtragem. Esses sistemas são mais convenientes, demandam menos tempo e esforço e, muitas vezes, garantem maior controle sobre a esterilidade do processo, embora a consistência dos produtos obtidos com esses sistemas ainda não tenha sido completamente validada. A preparação do PRP utilizando equipamentos comerciais, como mostrado em alguns modelos automáticos, facilita a separação de frações do sangue, incluindo plasma pobre em plaquetas, PRP e a fração dos glóbulos vermelhos. Esses sistemas são projetados principalmente para o uso humano, mas já existem estudos que investigam suas adaptações para a medicina veterinária, principalmente para o uso em cães.
Porém, é importante observar que as características do sangue canino diferem significativamente das do sangue humano. Por exemplo, a densidade, o tamanho e a taxa de sedimentação das células sanguíneas variam entre essas espécies, o que significa que o PRP gerado de sangue humano não terá as mesmas propriedades quando extraído de sangue canino. Estudos recentes sobre a preparação de PRP de sangue de cães indicam uma ampla gama de características nos diferentes sistemas utilizados. A concentração de plaquetas pode variar, sendo que alguns sistemas reduzem o número de plaquetas, enquanto outros podem aumentar sua concentração em até cinco vezes em relação à linha de base.
Além disso, a ativação das plaquetas no PRP, por meio de agentes como cloreto de cálcio ou trombina, desempenha um papel fundamental na liberação de fatores de crescimento, como o TGF-β1 e o PDGF-BB. A ativação das plaquetas, que ocorre após a preparação do PRP, é crucial para maximizar a eficácia do PRP no processo de regeneração tecidual. Estudos demonstraram que a ativação com trombina resulta em uma liberação mais robusta de fatores de crescimento, o que pode ter implicações importantes na terapia de lesões.
Em relação à aplicação clínica, diversos estudos investigaram o uso de PRP em lesões tendinosas em cães. Experimentos com construções de fibrina ricas em plaquetas mostraram que o uso de PRP ativado pode aumentar a proliferação de tenócitos em cultura celular e melhorar a regeneração do tecido lesado em modelos experimentais. No entanto, quando PRP foi utilizado no tratamento de lesões no tendão patelar em cães, observou-se que, embora o volume de tecido de reparo fosse maior, a taxa e a qualidade da cicatrização não apresentaram melhorias significativas. Esses resultados indicam que, embora o PRP tenha o potencial de aumentar o volume de tecido regenerado, a melhoria da qualidade do reparo ainda precisa ser mais explorada.
Além disso, a aplicação percutânea de PRP, especialmente em lesões tendinosas em cães atletas, é um campo de grande interesse. Estudos mostram que injeções de PRP, particularmente aquelas com alto conteúdo de leucócitos, podem melhorar a heterogeneidade e a ecogenicidade dos tendões, embora os resultados variem, e os efeitos clínicos nem sempre sejam tão pronunciados. O efeito placebo, que é documentado em cerca de 40% dos casos na medicina veterinária, também deve ser considerado ao avaliar os resultados de tais tratamentos.
Finalmente, quando o PRP é combinado com outras terapias, como células-tronco derivadas de tecido adiposo (ADSCs) ou concentrado de aspirado de medula óssea (BMAC), há indícios de que a combinação pode melhorar os resultados em tendinopatias em cães. Esses tratamentos combinados podem ser mais eficazes na modulação do ambiente celular e na promoção de uma cicatrização mais robusta, mas mais estudos são necessários para confirmar sua eficácia a longo prazo.
Em conclusão, o PRP é uma ferramenta poderosa, mas não é uma solução universal. O sucesso de sua aplicação clínica depende de uma série de variáveis, incluindo o sistema de preparação utilizado, a concentração de plaquetas e leucócitos, a ativação das plaquetas e, acima de tudo, a adaptação do tratamento à condição clínica específica do paciente. O uso de PRP deve ser cuidadosamente planejado, levando em consideração as características individuais do sangue do paciente e os objetivos terapêuticos.
Qual é o Potencial Terapêutico das Células-Tronco Mesenquimatosas na Medicina Veterinária?
As células-tronco mesenquimatosas (MSCs) têm atraído grande atenção nas terapias regenerativas devido às suas propriedades únicas, que as tornam promissoras em tratamentos veterinários, especialmente no contexto de doenças articulares e regeneração tecidual. A capacidade das MSCs de se diferenciar em diversos tipos celulares, como osteócitos, adipócitos e condrogênicos, e de modular respostas inflamatórias e imunológicas, abre um leque de possibilidades terapêuticas.
O potencial das MSCs se baseia principalmente em sua capacidade de migrar para áreas lesionadas, um processo que ocorre em resposta ao aumento das citocinas inflamatórias e quimiocinas após o trauma tecidual. Elas podem contribuir para a regeneração do tecido, não necessariamente pela diferenciação direta em células do tecido-alvo, mas também pela secreção de fatores de crescimento, citoquinas e moléculas da matriz extracelular que atuam por mecanismos paracrinos e autocrinos. Esse fenômeno sugere que as MSCs poderiam promover a reparação tecidual principalmente por intermédio da modulação do ambiente local, estimulando a regeneração celular e a diferenciação de células progenitoras em tecidos danificados.
Dentre as fontes de MSCs, destacam-se o tecido fetal (como o cordão umbilical e sangue), os tecidos adultos, como a medula óssea, pele, tecido adiposo, sinóvio, periosteum e polpa dental. No entanto, a obtenção de MSCs de fontes adultas como a medula óssea ou gordura, geralmente exige uma expansão celular em cultura por várias semanas, uma vez que a fração de células mesenquimatosas é muito pequena, sendo inferior a 0,001% da população celular total. A cultura dessas células permite aumentar o número de MSCs para que elas possam ser utilizadas de maneira terapêutica.
Embora as células-tronco embrionárias ofereçam uma capacidade de diferenciação mais ampla, com o risco associado de formação tumoral, as MSCs multipotentes são consideradas mais seguras para uso clínico devido ao seu estágio de comprometimento celular mais avançado. A aplicação de células-tronco mesenquimatosas já é bem documentada em veterinária, especialmente em cavalos, onde o uso de células-tronco derivadas da medula óssea (BMAC) tem mostrado resultados positivos no tratamento de desmite ligamentar.
A terapia com MSCs também se mostra promissora no tratamento de osteoartrite (OA) em cães, uma condição comum e debilitante. Tradicionalmente, o tratamento da OA envolve a redução da dor por meio de analgésicos e anti-inflamatórios não esteroides (AINEs), mas esses tratamentos não modificam o curso da doença. Já o uso de MSCs visa reduzir a atividade catabólica nas articulações, promovendo a regeneração da cartilagem, embora esse efeito regenerativo ainda esteja em fase de pesquisa e dependa de variáveis como a idade do animal e o tipo de tratamento utilizado. Um estudo experimental com cães Beagle demonstrou que a combinação de PRP (Plasma Rico em Plaquetas) e MSCs pode ter efeitos sinérgicos na regeneração articular, ao combinar os fatores de crescimento do PRP com o potencial regenerativo das MSCs.
Além da OA, outras condições tratadas com MSCs incluem doenças autoimunes, como artrite reumatoide, e distúrbios neoplásicos do sangue e da medula óssea. Essas terapias são particularmente atrativas devido à capacidade das MSCs de modular a resposta imunológica, o que pode ser benéfico em doenças onde o sistema imunológico ataca o próprio corpo.
Em termos de mecânica de ação, as MSCs têm a capacidade de secretar fatores bioativos que não apenas ajudam na regeneração celular, mas também desempenham um papel significativo na modulação do ambiente local. Isso inclui a modulação da resposta imunológica local, particularmente nas doenças autoimunes, onde a desregulação do sistema imunológico é um dos principais fatores patológicos. Nesse contexto, a terapêutica celular com MSCs pode ser uma abordagem inovadora e eficaz para controlar inflamações crônicas e autoimunes.
A utilização de MSCs, seja por meio da medula óssea ou do tecido adiposo, oferece uma alternativa eficaz e menos invasiva em comparação a outras formas de terapia celular. O tecido adiposo, por exemplo, tem se mostrado uma fonte promissora para a obtenção de MSCs devido à sua abundância e acessibilidade. Estudos indicam que a fração vascular estromal (SVF) derivada do tecido adiposo tem mostrado um bom potencial em tratamentos, com um número de células mesenquimatosas que pode ser considerado adequado, embora seja necessário um processo cuidadoso de digestão enzimática e centrifugação para isolá-las.
Porém, ainda existem desafios na aplicação clínica dessas terapias, especialmente em relação à identificação precisa de MSCs viáveis e ao entendimento mais profundo de seus mecanismos de ação. O estudo contínuo e a experimentação são necessários para estabelecer protocolos mais eficazes, bem como para minimizar os riscos de efeitos adversos como a carcinogênese, que foi observada em estudos envolvendo células-tronco embrionárias.
A terapia com MSCs representa uma das fronteiras mais promissoras na medicina veterinária moderna, com grande potencial para transformar o tratamento de uma variedade de doenças musculoesqueléticas e outras condições sistêmicas. No entanto, é crucial que os veterinários, além de conhecer os benefícios dessas terapias, também compreendam suas limitações e riscos potenciais, para garantir que o tratamento seja utilizado de forma segura e eficaz, otimizando os resultados para os pacientes animais.
Tratamento com Células-Tronco em Doenças Ortopédicas Caninas: Avanços e Desafios
Os tratamentos baseados em células-tronco têm emergido como uma alternativa promissora no tratamento de diversas condições ortopédicas caninas, especialmente em casos de osteoartrite (OA), lesões em ligamentos e tendões, e doenças do disco intervertebral (IVDD). Embora as pesquisas sobre o uso de células-tronco em cães ainda estejam em estágio inicial, os resultados preliminares apontam para melhorias significativas em várias condições clínicas.
Um estudo recente investigou os efeitos da injeção intra-articular de células-tronco derivadas de tecido adiposo (ADSCs) e do fluido stromal vascular (SVF) em cães com OA de quadril. Os resultados mostraram melhorias significativas nos parâmetros subjetivos de avaliação, tanto por parte dos donos quanto dos veterinários, após 2 e 3 meses de acompanhamento. No entanto, não houve diferença estatisticamente significativa entre os grupos tratados com PRP (plasma rico em plaquetas) e MSCs (células-tronco mesenquimatosas). É importante destacar que, embora esses tratamentos mostrem efeitos positivos, as medições objetivas de cinética, como a análise de força de placa, ainda são escassas nos estudos realizados até agora.
Além disso, um estudo prospectivo, randomizado, duplo-cego e controlado por placebo com 74 cães investigou a aplicação intra-articular de ADSCs alogênicas em um ou dois joelhos. Esse estudo demonstrou que o tratamento com ADSC foi seguro e eficaz, resultando em melhorias significativas nas avaliações subjetivas realizadas pelos donos e pelos veterinários, com efeitos superiores ao placebo. No entanto, não foi observada diferença estatisticamente significativa nas medições objetivas de força vertical pico, realizadas por meio de força de placa.
Lesões em ligamentos e tendões, como a ruptura parcial do ligamento cruzado craniano (CCL), também têm sido tratadas com células-tronco, combinadas com terapias como o PRP. Um estudo com 36 cães mostrou que o tratamento intra-articular com BMAC (células-tronco de medula óssea) ou ADSCs com PRP, associado a um protocolo de reabilitação, levou a uma diminuição significativa nas lesões de reintegração após a volta às atividades físicas. Embora os resultados preliminares sejam encorajadores, é necessário mais estudo para confirmar os efeitos terapêuticos de longo prazo das células-tronco nessas condições.
A aplicação de células-tronco para o tratamento da tendinopatia, especialmente em lesões crônicas, ainda é um campo com muito a ser explorado. Em cães, foram realizados estudos com células-tronco derivadas de gordura (ADSCs) e PRP, mostrando melhorias no padrão de fibras tendinosas observadas por ultrassonografia. No entanto, dados adicionais são necessários para determinar a eficácia definitiva dessas terapias. Curiosamente, embora algumas pesquisas humanas sugiram benefícios, não há ainda evidências suficientes para afirmar a eficácia do tratamento com células-tronco para tendinopatias em seres humanos.
As doenças do disco intervertebral (IVDD), que frequentemente causam dor e déficits neurológicos em cães, são tratadas principalmente com medicação anti-inflamatória, analgésica e, em casos graves, cirurgia. No entanto, essas abordagens não oferecem uma solução para a degeneração discal, e os tratamentos atuais podem trazer efeitos colaterais a longo prazo. Em resposta a essa limitação, novas terapias baseadas em células estão sendo investigadas para promover a regeneração dos discos intervertebrais degenerados. Uma estratégia envolve o uso de células-tronco mesenquimatosas (MSCs) e células discogênicas. Em modelos experimentais, a aplicação de MSCs demonstrou um atraso significativo na degeneração do disco intervertebral, mas ainda faltam estudos clínicos que provem sua eficácia em casos espontâneos de IVDD.
Embora os estudos sobre o uso de células-tronco na medicina veterinária mostrem resultados promissores, as evidências ainda são limitadas. A maioria dos estudos realizados até o momento tem se concentrado em modelos experimentais, e os resultados em cães com doenças naturalmente ocorridas ainda precisam ser confirmados. É fundamental que mais ensaios clínicos prospectivos, randomizados e controlados sejam realizados para validar essas abordagens terapêuticas.
Para que os tratamentos com células-tronco se tornem uma opção terapêutica eficaz na medicina veterinária, será necessário superar desafios como a padronização dos protocolos de tratamento, a avaliação objetiva dos resultados e a criação de práticas seguras e eficazes para a aplicação dessas terapias. As futuras pesquisas devem focar na utilização de células-tronco em doenças degenerativas, como a OA e IVDD, e em lesões crônicas de ligamentos e tendões, proporcionando um avanço significativo no tratamento dessas condições debilitantes.

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