O tratamento da tuberculose resistente (TB) em crianças exige uma abordagem cuidadosa, uma vez que a resistência aos medicamentos pode ser complexa e desafiadora. Em casos de tuberculose resistente a múltiplos medicamentos (RR/MDR-TB), o regime terapêutico deve incluir, no mínimo, quatro medicamentos de segunda linha que tenham alta probabilidade de serem eficazes. O tratamento diário, em vez do intermitente, é preferido, e o regime de observação direta (DOT) é essencial para garantir a adesão ao tratamento, que deve ser realizado por um período de 18 a 20 meses. No entanto, em alguns casos, pode-se considerar um regime mais curto (regime de Bangladesh), com duração de 9 a 12 meses, quando o paciente não foi previamente tratado com agentes de segunda linha e quando a resistência aos fluoroquinolonas ou aos agentes injetáveis é altamente improvável.

A utilização de medicamentos de segunda linha em crianças não foi completamente explorada, e estudos clínicos estão em andamento para avaliar a farmacocinética e a segurança de diversos medicamentos, incluindo os novos fármacos delamanida e bedaquilina. O uso de medicamentos como aminoglicosídeos, fluoroquinolonas, e linezolida se mostra fundamental em muitos regimens, porém, o risco de efeitos adversos, como toxicidade auditiva e renal, exige monitoramento contínuo.

Os aminoglicosídeos, como a amikacina e a estreptomicina, são amplamente utilizados no tratamento da TB resistente a múltiplos medicamentos. Esses medicamentos atuam inibindo a síntese de proteínas bacterianas, mas possuem a desvantagem de causar toxicidade auditiva e renal, especialmente em crianças. A ototoxicidade pode prejudicar significativamente o desenvolvimento linguístico e educacional das crianças. A amikacina, por exemplo, possui efeitos colaterais semelhantes, com a adição de risco de bloqueio neuromuscular. A estreptomicina também apresenta riscos similares, mas com menor concentração nos fluidos cerebrospinais.

Em relação aos fluoroquinolonas, medicamentos como levofloxacino e moxifloxacino são considerados pilares no tratamento de TB resistente. O levofloxacino, disponível em solução oral, é mais apropriado para crianças devido à facilidade de administração, enquanto o moxifloxacino, disponível em comprimidos, pode ser difícil de administrar em crianças pequenas devido ao gosto desagradável. Estes medicamentos atuam inibindo a síntese de DNA bacteriano, e sua eficácia foi demonstrada em vários estudos, especialmente no tratamento de resistência extensa a medicamentos. No entanto, a administração de fluoroquinolonas pode ser associada a efeitos colaterais como artralgia e tendinite, o que exige precaução, principalmente em crianças.

O linezolido é outro fármaco importante que tem mostrado eficácia no tratamento de TB resistente a medicamentos, inclusive em casos de resistência extensiva. Este medicamento age inibindo a síntese de proteínas na bactéria e é altamente eficaz, mas seus efeitos adversos incluem mielossupressão, neuropatia óptica e neuropatia periférica, tornando necessário um monitoramento rigoroso durante o tratamento.

A clofazimina, inicialmente usada no tratamento da hanseníase, tem despertado interesse no tratamento de TB resistente devido às suas propriedades antimicrobianas e anti-inflamatórias. Embora os estudos in vitro tenham demonstrado atividade promissora contra o Mycobacterium tuberculosis, a eficácia clínica ainda é questionada, especialmente em casos de resistência extensiva. Além disso, a clofazimina pode causar efeitos colaterais como coloração vermelha da pele e das mucosas, prolongamento do QT e distúrbios gastrointestinais, o que exige cautela no seu uso.

Outro fármaco relevante, a cicloserina, atua inibindo a síntese de peptidoglicano na parede celular bacteriana. Embora sua penetração no líquido cerebrospinal seja excelente, seu uso pode ser limitado por efeitos adversos psiquiátricos e neurológicos, como convulsões e alterações no comportamento. A cicloserina também pode causar efeitos colaterais gastrointestinais, como náuseas e vômitos, e deve ser utilizada com cautela, especialmente em crianças com problemas renais.

A delamanida, um medicamento relativamente novo, é eficaz na inibição da síntese de ácido micólico na célula bacteriana. Embora a sua utilização em crianças seja ainda limitada, os dados iniciais indicam que pode ser uma opção importante no tratamento de formas resistentes da doença. A delamanida pode causar efeitos adversos como náusea, dor de cabeça e prolongamento do QT, mas os dados sobre sua segurança são ainda insuficientes, especialmente em crianças.

É fundamental que o tratamento da TB resistente em crianças seja adaptado ao perfil específico de resistência da bactéria e às condições de cada paciente. A escolha do regime terapêutico deve ser baseada em uma avaliação cuidadosa da resistência medicamentosa, levando em consideração os efeitos adversos dos medicamentos, a resposta ao tratamento e a capacidade da criança em tolerar os medicamentos.

Além disso, é importante lembrar que a adesão ao tratamento é um dos fatores mais cruciais para o sucesso terapêutico. A supervisão do tratamento, por meio de regimes de observação direta (DOT), deve ser implementada de forma rigorosa para evitar falhas no tratamento e o desenvolvimento de resistência adicional. O acompanhamento contínuo da criança durante todo o regime terapêutico é necessário para monitorar os efeitos adversos e garantir que o tratamento seja eficaz.

Qual o impacto dos antifúngicos na prevenção e tratamento de infecções fúngicas em pacientes imunocomprometidos?

O uso de antifúngicos, especialmente em pacientes imunocomprometidos, como os que passam por transplantes de células-tronco hematopoéticas ou tratamentos intensivos de quimioterapia, desempenha um papel crucial na prevenção e manejo de infecções fúngicas graves. A eficácia de diversos antifúngicos foi testada em uma série de ensaios clínicos randomizados que abordaram diferentes dosagens, formas de administração e combinações terapêuticas.

Estudos realizados no início dos anos 2000 compararam a eficácia de medicamentos como fluconazol e anfotericina B, para a prevenção de infecções fúngicas em pacientes em tratamento de transplante de células-tronco hematopoéticas. Em uma pesquisa conduzida por Koh et al. (2002), foi evidenciado que o fluconazol, em doses baixas, demonstrou eficácia superior à anfotericina B para profilaxia contra infecções fúngicas em tais pacientes. A escolha do medicamento para profilaxia depende de diversos fatores, incluindo o tipo de infecção, a resistência fúngica e o estado clínico do paciente. A redução da dose de fluconazol foi testada como alternativa para reduzir os efeitos colaterais, com resultados promissores em termos de segurança e eficácia.

Adicionalmente, em um estudo multicêntrico conduzido por Rex et al. (2003), foi avaliada a combinação de fluconazol de alta dose com placebo versus fluconazol combinado com anfotericina B, no tratamento de candidemia em pacientes não neutropênicos. Os resultados mostraram que a combinação de fluconazol com anfotericina B não só aumentou a eficácia no combate à candidemia, mas também reduziu a incidência de complicações graves associadas à infecção fúngica.

Além disso, os medicamentos antifúngicos mais modernos, como o voriconazol, têm se mostrado eficazes contra uma variedade de fungos filamentosos, como o Aspergillus, em pacientes com condições imunossuprimidas. A farmacocinética e a segurança desses novos agentes foram extensivamente estudadas, e o voriconazol, por exemplo, demonstrou ser uma opção terapêutica eficaz para o tratamento de aspergilose invasiva, uma infecção fúngica comum entre os pacientes transplantados (Denning et al., 2002).

Enquanto isso, a profilaxia com antifúngicos como o fluconazol em neonatos prematuros, conforme estudado por Manzoni et al. (2007), mostrou redução significativa nas infecções candidiásicas, o que sugere que a administração preventiva pode ser uma estratégia válida em grupos de risco, mesmo quando o uso de antifúngicos em neonatos é cercado de cautela.

A utilização de itraconazol também foi avaliada em diferentes contextos clínicos, incluindo seu uso para profilaxia de infecções fúngicas em pacientes com câncer hematológico ou aqueles que passaram por transplante de células-tronco. Ensaios clínicos demonstraram que o itraconazol, especialmente quando administrado por via intravenosa seguida por administração oral, é uma opção viável para a profilaxia em pacientes com alto risco de infecções fúngicas invasivas. A questão da interação medicamentosa entre itraconazol e outros medicamentos imunossupressores, como tacrolimus e ciclosporina, foi amplamente discutida, pois tais interações podem afetar a farmacocinética de ambos os agentes, impactando na eficácia e segurança do tratamento.

A abordagem terapêutica das infecções fúngicas não se limita apenas à escolha do antifúngico. O ajuste da dose e a determinação da duração do tratamento são igualmente importantes, especialmente em pacientes imunocomprometidos. Em alguns casos, a terapia de manutenção, como o uso prolongado de fluconazol, foi considerada essencial para prevenir recidivas, mas esse uso contínuo deve ser cuidadosamente monitorado devido ao risco de toxicidade acumulativa e resistência.

Além disso, estudos sobre as diferentes formas de administração de antifúngicos (oral versus intravenosa) e a bio-disponibilidade dos medicamentos, como foi observado com o itraconazol, mostram que a escolha da via de administração pode influenciar a eficácia e os efeitos colaterais. O uso de soluções líquidas ou formas alternativas, como as preparações com ciclodextrina, tem sido uma forma de melhorar a absorção e a segurança desses medicamentos, especialmente em pacientes pediátricos ou com dificuldades de absorção.

Em última análise, é fundamental compreender que a escolha do antifúngico e o protocolo de tratamento devem ser individualizados, considerando as características clínicas do paciente, a gravidade da infecção e os potenciais efeitos adversos. A resistência fúngica, em particular, é uma preocupação crescente e pode limitar as opções terapêuticas, exigindo, assim, a constante revisão dos esquemas de tratamento à medida que novas evidências sobre eficácia e segurança vão sendo geradas.