A otosclerose é uma condição caracterizada pela fixação da platina do estribo, o que leva a uma perda auditiva condutiva progressiva. Ao longo dos séculos, os métodos cirúrgicos evoluíram significativamente, buscando melhorar a audição e, ao mesmo tempo, minimizar os riscos associados à intervenção. O tratamento cirúrgico da otosclerose continua a ser uma opção viável para muitos pacientes, mas o sucesso do procedimento depende de diversos fatores, incluindo o estágio da doença, as preferências do paciente e a abordagem do cirurgião.
Nos primeiros estudos sobre otosclerose, tentativas iniciais de melhorar a audição envolveram a mobilização do estribo fixado. No entanto, essas abordagens iniciais apresentaram resultados mistos, com uma alta taxa de recidiva da perda auditiva. O avanço subsequente foi a realização de uma fenestração no osso temporal para criar uma nova janela que conduzisse as ondas sonoras para o ouvido interno, uma técnica que melhorou a audição em cerca de 50% dos pacientes. O desenvolvimento da estapedectomia, na década de 1950, representou um avanço significativo, com a remoção parcial ou total da platina do estribo, levando à melhoria da audição em muitos casos. Mais recentemente, a estapedotomia tem se tornado o procedimento mais comum, onde uma pequena abertura é feita na platina para permitir a movimentação do estribo e melhorar a condução sonora.
O tratamento da otosclerose deve ser individualizado, levando em consideração os sintomas do paciente, seu histórico clínico e suas preferências. Em casos de perda auditiva unilateral ou bilateral precoce, onde a deficiência auditiva não é tão significativa, a observação pode ser uma abordagem adequada. O acompanhamento audiométrico serial permite monitorar a progressão da doença e decidir se a intervenção cirúrgica será necessária no futuro. Além disso, o paciente pode optar por buscar ajuda quando perceber uma piora na audição, o que pode indicar que a cirurgia seja necessária.
Os aparelhos auditivos representam outra opção de tratamento, especialmente quando a cirurgia não é uma opção ou não é desejada. Os pacientes podem ser instruídos a usar aparelhos auditivos para melhorar a qualidade de vida e a comunicação, especialmente quando a deficiência auditiva é moderada. Para aqueles com perda auditiva grave ou profunda, a cirurgia pode ser vantajosa, pois eleva os limiares de condução aérea a um nível mais adequado para o uso de aparelhos auditivos.
Em relação à cirurgia, a escolha do paciente para submeter-se ao procedimento depende de diversos fatores, incluindo a gravidade da perda auditiva, os riscos envolvidos e as expectativas do paciente. A cirurgia pode ser realizada em um ouvido, com a expectativa de que a audição do outro ouvido, saudável, seja suficiente para compensar a perda auditiva unilateral. No entanto, a cirurgia bilateral deve ser cuidadosamente planejada, pois os riscos podem ser maiores em relação à recuperação e ao resultado funcional.
O procedimento cirúrgico propriamente dito pode ser dividido em três fases principais. A primeira envolve a confirmação do diagnóstico por meio de uma abordagem endoscópica ou microscópica, com o objetivo de verificar a fixação do estribo e outras condições que possam mimetizar a otosclerose, como a fixação do martelo. A segunda fase é a remoção da parte superior do estribo, seguida da criação de um pequeno orifício na platina usando um laser ou microbroca, conhecido como estapedotomia. Por fim, uma prótese é inserida no local da platina removida, estabelecendo continuidade na cadeia ossicular e restaurando a condução sonora.
O sucesso da cirurgia é frequentemente medido pela redução da lacuna de condução óssea para menos de 10 dB em 90% dos casos, com uma taxa de complicações mínima. Embora a cirurgia para otosclerose seja geralmente segura e eficaz, é fundamental que o paciente compreenda os riscos potenciais, como o vertigem e a possibilidade de não alcançar os resultados esperados.
A escolha entre tratamento cirúrgico, uso de aparelhos auditivos ou simples acompanhamento depende das preferências do paciente e da progressão da doença. Cada abordagem tem seus benefícios e limitações, e a decisão deve ser tomada em conjunto com o otorrinolaringologista, levando em consideração as necessidades e expectativas de cada indivíduo.
Além disso, o paciente deve estar ciente de que o sucesso a longo prazo da cirurgia depende não só da técnica utilizada, mas também da reabilitação auditiva pós-operatória e do acompanhamento contínuo para garantir que o tratamento se mantenha eficaz ao longo do tempo.
Quais são as principais características e desafios da perda auditiva sensorioneural e suas implicações clínicas?
A perda auditiva sensorioneural (PAS) refere-se a um comprometimento funcional da cóclea ou do nervo auditivo, resultando em dificuldade para captar e processar sons. Historicamente conhecida como surdez nervosa, essa condição envolve especialmente a disfunção das células ciliadas externas, responsáveis pela amplificação e seletividade de frequência no ouvido interno. Quando essas células perdem sua função, a audição de sons suaves fica prejudicada, enquanto sons altos são percebidos normalmente ou até exageradamente, fenômeno conhecido como recrutamento. Essa não linearidade na percepção sonora cria um desafio para o paciente, que pode não perceber pequenos sons, mas sofre desconforto com ruídos intensos.
Além da amplificação prejudicada, a PAS compromete a resolução de frequência, ou seja, a habilidade da cóclea de distinguir sons próximos em termos de frequência. Essa perda de seletividade ocorre porque a área da membrana basilar ativada por diferentes frequências torna-se sobreposta, dificultando a percepção clara de sons em ambientes ruidosos. Em casos como a perda auditiva induzida por ruído (PAIR), essa sobreposição é notável na região dos 4 kHz, prejudicando a discriminação da fala e a compreensão em ambientes com múltiplas fontes sonoras.
As manifestações clínicas da PAS variam conforme a idade, a gravidade da perda e sua unilateralidade ou bilateralidade. Em crianças, as consequências são severas, afetando o desenvolvimento da linguagem e o comportamento, que pode se tornar desatento pela dificuldade em captar sons ao redor. Em adultos, as dificuldades são mais relacionadas à comunicação em ambientes profissionais e sociais, especialmente em locais ruidosos. A perda unilateral, muitas vezes assintomática na infância, torna-se problemática em situações que demandam localização do som e percepção em ambientes com ruído de fundo.
Do ponto de vista audiométrico, a PAS pode se apresentar em diferentes padrões: perda uniforme em todas as frequências (plano), declive para altas frequências, ascendente para baixas frequências, ou em forma de “mordida de biscoito” (“cookie bite”), característico em algumas perdas congênitas e induzidas por ruído. Cada padrão revela a extensão e localização do dano coclear, orientando o diagnóstico e manejo clínico.
A etiologia da PAS é multifatorial, abrangendo causas congênitas, hereditárias e adquiridas. Aproximadamente 1,1 em cada mil crianças nascem com perda auditiva bilateral significativa, muitas vezes de origem genética. Destas, cerca de 70% seguem um padrão autossômico recessivo, 25% autossômico dominante e 5% ligado ao cromossomo X. Entre as síndromes hereditárias mais estudadas estão a síndrome de Usher, caracterizada por perda auditiva associada a retinite pigmentosa, e a síndrome de Pendred, que envolve alterações da tireoide e do aqueduto vestibular. Essas condições demonstram a complexidade das interações genéticas que afetam a audição e outras funções sensoriais.
Os avanços terapêuticos incluem o uso de aparelhos auditivos e implantes cocleares, além de tratamentos médicos para retardar a progressão da doença. Contudo, terapias farmacológicas, como o uso de fluoretos ou bisfosfonatos, ainda não apresentam evidências conclusivas de benefício a longo prazo na otosclerose associada. Em termos cirúrgicos, técnicas inovadoras, incluindo o uso de robótica e dispositivos implantáveis que estimulam diretamente a janela redonda da cóclea, oferecem esperança para pacientes com formas mais complexas de perda auditiva.
É fundamental compreender que a PAS não afeta apenas a capacidade de ouvir sons, mas interfere profundamente na comunicação, interação social e desenvolvimento cognitivo, principalmente em crianças. A perda auditiva unilateral ou leve não deve ser subestimada, visto que pode comprometer habilidades essenciais como localização do som e compreensão em ambientes ruidosos. Além disso, o impacto psicológico e a qualidade de vida dos pacientes devem ser considerados no manejo clínico.
A natureza progressiva e multifatorial da PAS exige uma abordagem interdisciplinar, envolvendo otorrinolaringologistas, audiologistas, geneticistas e especialistas em reabilitação auditiva. A identificação precoce, o diagnóstico preciso e o acompanhamento contínuo são cruciais para minimizar os efeitos adversos e promover a adaptação do indivíduo ao ambiente sonoro.
A relação entre fatores genéticos e ambientais ainda é objeto de intensa pesquisa, com o objetivo de esclarecer mecanismos patogênicos e desenvolver tratamentos mais eficazes. A genética não só determina predisposições, mas pode influenciar a resposta a intervenções terapêuticas, o que reforça a importância de um entendimento detalhado das bases moleculares da perda auditiva.

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