A análise prévia revelou que, em coordenadas adequadas, um conjunto de componentes do estado (a saber, os últimos n — r + 1) não foi afetado pela entrada. Observamos agora que, de fato, todas essas coordenadas, exceto (no máximo) uma, permanecem constantes ao longo do tempo. Se UU^\circ for particionado em fatias de dimensão rr da forma Sx={xU:tr+1(x)=tr+1(ξ),...,tn(x)=tn(ξ)}S_x = \{ x \in U^\circ : t_{r+1}(x) = t_{r+1}(\xi), ..., t_n(x) = t_n(\xi) \}, então qualquer trajetória x(t)x(t) do sistema evoluindo em UU^\circ realmente se desenvolve na fatia que passa pelo ponto inicial xx^\circ. Essa fatia, por sua vez, está particionada em fatias de dimensão r1r-1, cada uma correspondendo a um valor fixo da função da rr-ésima coordenada, que inclui o conjunto de pontos alcançados em um tempo específico TT (ver Figura 1.9).

Agora, uma mudança adicional nas coordenadas locais permite entender melhor o papel do tempo no comportamento do sistema de controle descrito pela equação (1.40). Podemos supor, sem perda de generalidade, que o ponto inicial xx^\circ seja tal que f(x)=0f(x^\circ) = 0. Portanto, temos zi(t)=0z_i(t) = 0 para todos i=r+1,...,ni = r + 1, ..., n, e zr=fr(zr,0,...,0)z_r = f_r(z_r, 0, ..., 0). Além disso, se assumirmos que ff é não nulo, então a função frf_r não será zero em nenhuma parte do vizinho UU. Agora, seja zr(t)z_r(t) a solução dessa equação diferencial, que passa por 00 no tempo t=0t = 0. Claramente, o mapeamento ζ:Izr(t)\zeta: I \rightarrow z_r(t) é um difeomorfismo de um intervalo aberto (ϵ,ϵ)(-\epsilon, \epsilon) do eixo do tempo para o intervalo aberto do eixo zrz_r (zr(ϵ),zr(ϵ))(z_r(-\epsilon), z_r(\epsilon)). Se seu inverso ζ1\zeta^{ -1} for usado como uma transformação de coordenadas locais no eixo zrz_r, facilmente vemos que, como t=zrt = z_r, o tempo tt pode ser tomado como a nova rr-ésima coordenada. Dessa forma, os pontos na fatia SxS_{x^\circ} que passa pelo estado inicial são parametrizados por (z1,...,zr1,t)(z_1, ..., z_{r-1}, t). Em particular, os pontos alcançados no tempo TT pertencem à fatia de dimensão r1r-1 Sx={xU:zr+1(x)=0,...,zn(x)=0}S_{x^\circ}' = \{ x \in U^\circ : z_{r+1}(x) = 0, ..., z_n(x) = 0 \}.

Se ff for um campo vetorial de PP, então a representação local (1.40) é tal que frf_r desaparece em UU^\circ. Portanto, a partir de um ponto xx^\circ tal que z(x)=0z(x^\circ) = 0, teremos zi(t)=0z_i(t) = 0 para todos i=r,...,ni = r, ..., n.

Por definição, a distribuição RR é a menor distribuição que contém f,g1,...,gmf, g_1, ..., g_m e é invariável sob f,g1,...,gmf, g_1, ..., g_m. Assim, podemos afirmar que na decomposição associada (1.40), a dimensão rr é "mínima", no sentido de que não é possível encontrar outro conjunto de coordenadas locais z1,...,zs,...,znz_1, ..., z_s, ..., z_n com ss estritamente menor que rr, com a propriedade de que as últimas nsn - s coordenadas permanecem constantes ao longo do tempo. A partir da interação entre a entrada e o estado, a decomposição (1.40) tem propriedades ainda mais fortes. Na verdade, vamos provar que os estados alcançáveis a partir do estado inicial xx^\circ preenchem pelo menos um subconjunto aberto da fatia de rr dimensões em que estão contidos.

Teorema 1.8.9. Suponha que a distribuição RR (isto é, a menor distribuição invariável sob f,g1,...,gmf, g_1, ..., g_m que contém gmg_m) seja não singular. Seja rr a dimensão de RR. Então, para cada xUx^\circ \in U, é possível encontrar um vizinho UU^\circ de xx^\circ e uma transformação de coordenadas z=ζ(x)z = \zeta(x) definida em UU^\circ, com as seguintes propriedades:

(a) O conjunto Z(x)Z(x^\circ) de estados alcançáveis a partir de xx^\circ ao longo de trajetórias inteiramente contidas em UU^\circ e sob a ação de funções de entrada piecewise constantes é um subconjunto da fatia Sx={xU:zr+1(x)=zr+1(x),...,zn(x)=zn(x)}S_{x^\circ} = \{ x \in U^\circ : z_{r+1}(x) = z_{r+1}(x^\circ), ..., z_n(x) = z_n(x^\circ) \}.

(b) O conjunto Z(x)Z(x^\circ) contém um subconjunto aberto de SxS_{x^\circ}.

A prova da afirmação (a) segue a partir da discussão anterior. Agora, vamos diretamente à prova de (b), assumindo ao longo da prova operar sobre o vizinho UU^\circ no qual a transformação de coordenadas ζ(x)\zeta(x) é definida. Para conveniência, dividimos a prova em várias etapas.

(1) Seja {ξ1,...,ξk}\{ \xi_1, ..., \xi_k \} um conjunto de campos vetoriais, com k<rk < r, e {ϕ1,...,ϕk}\{ \phi_1, ..., \phi_k \} seus respectivos fluxos. Consideramos o mapeamento F:(ϵ,ϵ)kUF: (-\epsilon, \epsilon)^k \rightarrow U^\circ, onde xx^\circ é um ponto de UU^\circ e supomos que seu diferencial tenha posto kk em algum ponto (ξ1,...,ξk)(\xi_1, ..., \xi_k), com 0<ξi<ϵ0 < \xi_i < \epsilon para 1ik1 \leq i \leq k (mostraremos mais tarde que isso é verdade). Para ϵ\epsilon suficientemente pequeno, o mapeamento F:(ξ1,ϵ)×...×(ξk,ϵ)UF: (\xi_1, \epsilon) \times ... \times (\xi_k, \epsilon) \rightarrow U^\circ é uma subvariedade embutida de SxS_{x^\circ}.

(2) Suponha que os campos vetoriais f,g1,...,gmf, g_1, ..., g_m sejam tais que f(x)TXMf(x) \in T_XM para todos xMx \in M. Mostraremos que isso contradiz a suposição k<rk < r.

A interação entre os campos vetoriais e o sistema de controle sublinha a importância de entender como pequenas mudanças nas entradas podem afetar a evolução do sistema e a dinâmica das trajetórias. A decomposição local oferece uma maneira de representar como o estado de um sistema pode ser controlado e alcançado, permitindo uma análise detalhada do comportamento do sistema sob entradas específicas. Além disso, a capacidade de transformar coordenadas e estudar a evolução em diferentes fatias do espaço de estado é fundamental para otimizar o controle e o desempenho de sistemas dinâmicos.

Como representar séries formais e por que seus postos de Hankel e de Lie são fundamentais?

Para estudar de forma sistemática certos sistemas dinâmicos e suas realizações, é necessário introduzir a linguagem algébrica das séries formais, especialmente aquelas em indeterminadas não comutativas. Ao se lidar com conjuntos de séries e operações sobre esses conjuntos, torna-se conveniente representar cada série como uma soma formal infinita de monômios, construídos a partir de um conjunto de indeterminadas abstratas não comutativas z0,...,zmz_0, ..., z_m, denotado por Z={z0,...,zm}Z = \{z_0, ..., z_m\}.

A cada multi-índice (ik,...,i0)(i_k, ..., i_0), associa-se o monômio zikzi0z_{i_k} \cdots z_{i_0}, e uma série formal é então expressa como:

c=c(0)+k=0i0,...,ik=0mc(ik,...,i0)zikzi0.c = c(0) + \sum_{k=0}^\infty \sum_{i_0, ..., i_k=0}^m c(i_k, ..., i_0) z_{i_k} \cdots z_{i_0}.

O conjunto de todas essas séries com coeficientes reais é denotado por R((Z))\mathbb{R}((Z)). Um subconjunto especial é aquele das séries com número finito de termos não nulos, ou seja, os polinômios, cujo conjunto é representado por R[Z]\mathbb{R}[Z]. Cada elemento de R[Z]\mathbb{R}[Z] pode ser representado de forma semelhante, mas com somas finitas.

Tanto R[Z]\mathbb{R}[Z] quanto R((Z))\mathbb{R}((Z)) podem ser dotados de estruturas algébricas diversas. Podem ser considerados espaços vetoriais sobre R\mathbb{R}, onde combinações lineares são definidas termo a termo, e R[Z]\mathbb{R}[Z], em particular, admite estrutura de anel, com soma definida coeficiente a coeficiente, e multiplicação definida pela multiplicação usual de monômios não comutativos. O elemento neutro da soma é o polinômio nulo e, da multiplicação, o polinômio com todos os coeficientes nulos exceto p(0)=1p(0) = 1.

Além disso, R[Z]\mathbb{R}[Z] pode ser dotado de uma estrutura de álgebra de Lie, com o colchete de Lie definido por:

[p1,p2]=p2p1p1p2.[p_1, p_2] = p_2 p_1 - p_1 p_2.

A menor subálgebra de Lie de R[Z]\mathbb{R}[Z] que contém os monômios z0,...,zmz_0, ..., z_m é denotada por L(Z)\mathcal{L}(Z). Ela é fechada por colchetes de Lie com os geradores ziz_i e constitui o menor subespaço com essa propriedade.

O estudo da representação de mapas entrada-saída, especialmente aqueles expressos por funcionais definidos em termos de séries formais, conduz à introdução de dois conceitos centrais: o posto de Hankel e o posto de Lie de uma série cc. Para isso, define-se uma aplicação linear:

Fc:R[Z]R((Z))F_c : \mathbb{R}[Z] \to \mathbb{R}((Z))

da seguinte maneira: para todo monômio zjkzj0Zz_{j_k} \cdots z_{j_0} \in Z^*, define-se

[Fc(zjkzj0)](zirzi0)=c(ir,...,i0,jk,...,j0).[F_c(z_{j_k} \cdots z_{j_0})](z_{i_r} \cdots z_{i_0}) = c(i_r, ..., i_0, j_k, ..., j_0).

Essa definição estende-se linearmente a todo R[Z]\mathbb{R}[Z], tornando FcF_c um morfismo de espaços vetoriais reais.

O posto de Hankel ρH(c)\rho_H(c) é a dimensão da imagem de FcF_c, ou seja, o número de direções linearmente independentes geradas pelas séries obtidas ao aplicar FcF_c aos polinômios de R[Z]\mathbb{R}[Z]. Já o posto de Lie ρL(c)\rho_L(c) é a dimensão da imagem da restrição de FcF_c à álgebra L(Z)\mathcal{L}(Z), isto é, quantos elementos linearmente independentes da forma Fc(p)F_c(p) com pL(Z)p \in \mathcal{L}(Z) existem.

Esses postos têm interpretações matriciais diretas. Representando cada elemento de R[Z]\mathbb{R}[Z] por um vetor coluna infinito, em que cada entrada corresponde a um coeficiente associado a um monômio, e cada série em R((Z))\mathbb{R}((Z)) de forma análoga, a aplicação FcF_c corresponde a uma matriz infinita HcH_c, chamada matriz de Hankel associada à série cc. As colunas são indexadas pelos monômios da base e as linhas também, com as entradas dadas pelos coeficientes c(ir,...,i0,jk,...,j0)c(i_r, ..., i_0, j_k, ..., j_0).

O posto de Hankel de cc é exatamente o posto dessa matriz HcH_c. Em casos simples, como séries formais em uma só indeterminada, a matriz de Hankel se reduz à clássica matriz de Hankel associada a uma sequência c0,c1,c2,...c_0, c_1, c_2, ..., com forma:

[c0c1c2c1c2c3c2c3c4].\begin{bmatrix} c_0 & c_1 & c_2 & \cdots \\ c_1 & c_2 & c_3 & \cdots \\ c_2 & c_3 & c_4 & \cdots \\ \vdots & \vdots & \vdots & \ddots \end{bmatrix}.

A importância desses postos está em que eles capturam propriedades estruturais profundas do sistema representado pela série cc. Por exemplo, em teoria de realização, a dimensão do menor sistema que realiza um dado mapa entrada-saída está intimamente ligada ao posto de Hankel da série associada. O posto de Lie, por sua vez, tem relação direta com a estrutura da álgebra de Lie gerada pelos vetores de campo de controle e os observáveis do sistema.

Na prática, dados um conjunto de vetores de controle {gi}\{g_i\}, uma função de saída hh, e um ponto x0Rnx^0 \in \mathbb{R}^n, define-se a série formal cc por:

c(0)=h(x0),c(ik,...,i0)=LgikLgi0h(x0),c(0) = h(x^0), \quad c(i_k, ..., i_0) = L_{g_{i_k}} \cdots L_{g_{i_0}} h(x^0),

em que LghL_g h representa a derivada direcional de hh na direção de gg. Neste contexto, o posto de Lie da série cc é igual à diferença entre a dimensão do espaço observável WW e a dimensão do subespaço K(x0)Tx0RnK(x^0) \subset T_{x^0} \mathbb{R}^n, que consiste nos vetores da distribuição gerada pelos gig_i que são ortogonais à codistribuição gerada por hh. Em termos formais:

ρL(c)=dimWdimK(x0).\rho_L(c) = \dim W - \dim K(x^0).

Este resultado revela que a capacidade de observação de um sistema não depende apenas da variedade das direções fornecidas pelos vetores de controle, mas também da maneira como essas direções se relacionam com as observações disponíveis. O posto de Lie, assim, mede o conteúdo diferencial acessível do sistema a partir da função de saída e é um critério essencial de observabilidade.

Além dos conceitos estruturais descritos, é importante destacar que a álgebra R[Z]\mathbb{R}[Z], ainda que construída sobre indeterminadas não comutativas, fornece uma estrutura suficientemente rica para modelar operadores diferenciais e suas composições de forma algébrica. A possibilidade de construir tais modelos simbólicos e associar a eles objetos matriciais (como HcH_c) permite a aplicação de métodos computacionais diretos para a análise de sistemas não lineares, tornando acessível a verificação de propriedades como a realizabilidade, a controlabilidade e a observabilidade, em contextos onde métodos clássicos são insuficientes.