A osteoartrite canina, especialmente quando afeta articulações cruciais como os cotovelos e os joelhos, representa um desafio significativo tanto para veterinários quanto para tutores de animais. O tratamento eficaz dessa condição depende de um entendimento profundo da complexidade da doença e de uma abordagem multifacetada que combine terapias farmacológicas, físicas e alternativas. Os avanços recentes na medicina veterinária têm demonstrado que um tratamento bem-sucedido da osteoartrite canina não pode ser centrado em uma única terapia, mas deve envolver o uso coordenado de várias estratégias terapêuticas.

Estudos de intervenções terapêuticas para osteoartrite canina têm mostrado resultados variados, mas em geral, a combinação de diferentes abordagens tem se mostrado mais eficaz do que o uso isolado de um único tratamento. A administração de medicamentos anti-inflamatórios, como o meloxicam e o carprofeno, é comum, mas esses fármacos não atuam sozinhos. Em conjunto, terapias físicas, como exercícios de reabilitação e fisioterapia, são essenciais para restaurar a função articular e melhorar a mobilidade do animal. Esses métodos visam não apenas aliviar a dor, mas também fortalecer os músculos ao redor da articulação afetada, proporcionando estabilidade e reduzindo o impacto da artrite.

Além disso, técnicas como a injeção intra-articular de agentes como ácido hialurônico e plasma rico em plaquetas (PRP) têm sido exploradas com o intuito de melhorar a função articular e retardar a progressão da degeneração cartilaginosa. A combinação de corticoides com terapias físicas também tem sido bastante discutida, embora os efeitos a longo prazo dessa abordagem exijam mais estudos. De fato, a individualização do tratamento, levando em conta a gravidade da condição e as necessidades específicas de cada animal, é fundamental.

No entanto, nem todas as soluções são farmacológicas ou de reabilitação. Técnicas complementares, como a acupuntura e a terapia com laser de baixo nível (LLLT), têm atraído a atenção por seus efeitos benéficos na redução da dor e na melhora da qualidade de vida de cães com osteoartrite. A acupuntura, por exemplo, pode ser particularmente eficaz quando utilizada em conjunto com outras terapias, proporcionando alívio da dor através da estimulação dos pontos de acupuntura que influenciam o sistema nervoso e promovem o alívio de tensões musculares.

Importante destacar é a consideração da saúde geral do animal, especialmente em cães idosos, que podem apresentar uma comorbidade significativa associada à osteoartrite, como fraqueza muscular ou outros distúrbios sistêmicos. A abordagem gerontológica em cães com osteoartrite deve ir além da simples administração de medicamentos, considerando também a qualidade de vida, o conforto e a preservação das funções físicas do animal. O cuidado com a nutrição, o controle de peso e a implementação de programas de exercícios controlados são vitais para a manutenção da mobilidade e para a prevenção de complicações adicionais.

Além das opções terapêuticas tradicionais, o diagnóstico precoce e as tecnologias de imagem avançadas, como a ultrassonografia e a ressonância magnética, desempenham um papel crucial na identificação da extensão do dano articular e na escolha do tratamento mais adequado. A utilização dessas ferramentas permite não apenas um diagnóstico mais preciso, mas também a avaliação do progresso do tratamento, ajustando-o conforme necessário. Essas tecnologias, aliadas ao monitoramento contínuo dos parâmetros cardiorrespiratórios e renais, especialmente durante tratamentos invasivos, são fundamentais para garantir a segurança e a eficácia do manejo.

A consideração da dor crônica no contexto da osteoartrite canina também exige uma abordagem mais ampla, abordando não apenas o tratamento dos sintomas, mas também a compreensão da fisiologia da dor e as intervenções mais eficazes para seu controle. O tratamento multimodal visa reduzir a dor de forma eficaz, mas também busca prevenir a progressão da doença e preservar a função articular, utilizando uma combinação de terapias farmacológicas e não farmacológicas. Isso inclui a análise de como a dor influencia a mobilidade e como os diferentes tipos de intervenções podem ajudar a restaurar a qualidade de vida.

Portanto, ao se tratar de osteoartrite canina, é essencial que os tutores e profissionais de saúde veterinária adotem uma abordagem integrada e adaptada às necessidades específicas de cada animal. A pesquisa contínua e a implementação de novas terapias oferecem esperança para o tratamento mais eficaz da osteoartrite, melhorando não apenas a longevidade, mas também a qualidade de vida dos cães afetados.

Quais as opções cirúrgicas para o tratamento da luxação patelar medial em cães?

As técnicas de correção da luxação patelar medial (LPM) visam restaurar a biomecânica normal do joelho e reduzir as tensões anormais sobre a patela. Diversas abordagens têm sido desenvolvidas para alinhar adequadamente o mecanismo do quadríceps e minimizar os estresses biomecânicos inadequados sobre a patela (Johnson et al., 2001; L’Eplattenier & Montavon, 2002a; Arthurs & Langley-Hobbs, 2006; Swiderski & Palmer, 2007; Yeadon et al., 2011; Perry & Dejardin, 2021). Na maioria dos casos, múltiplas técnicas são aplicadas de forma combinada para maximizar os resultados.

A trocleoplastia é um dos procedimentos cirúrgicos mais comuns. Ela envolve o aprofundamento da troclea femoral para estabilizar a patela, especialmente quando a profundidade da troclea é insuficiente. O objetivo dessa técnica é garantir que pelo menos 50% da patela fique abaixo dos elevados da troclea. Dentre as técnicas relatadas, as que preservam a cartilagem hialina da troclea são preferidas, uma vez que permitem uma recuperação mais rápida e um menor avanço de osteoartrite (OA), em comparação com a excisional chondroplasty (Perry & Dejardin, 2021). As técnicas de wedge e block recession de troclea têm se mostrado eficazes na preservação da cartilagem. Uma abordagem mais recente, a trocleoplastia semicilíndrica, foi introduzida e demonstrou resultados promissores em estudos clínicos (Blackford-Winders et al., 2021).

Embora o aprofundamento da sulco troclear seja eficaz para corrigir a posição da patela, ele não re-alinha o mecanismo do quadríceps, o que torna necessária a realização de osteotomias tibiais ou femorais em muitos casos. A transposição da tuberosidade tibial é uma técnica que visa corrigir a rotação interna da tibia, comum em cães com LPM. Esta transposição reduz significativamente a probabilidade de re-luxação após a correção cirúrgica. Durante o procedimento, a tuberosidade tibial é cortada e reposicionada com o auxílio de implantes ortopédicos, como fios K, fios cerclagem, ou placas (Perry & Dejardin, 2021; Cortina et al., 2023).

No entanto, em casos de luxação patelar de grau III e IV, onde há um aumento excessivo no ângulo distal femoral lateral (aDFLA), o tratamento com transposição da tuberosidade tibial pode não ser suficiente. Nesse cenário, a osteotomia distal femoral (ODF) é recomendada. Estudos de modelagem computacional demonstraram que um aDFLA superior a 103° pode causar LPM, quando outros fatores anatômicos são controlados (Lee et al., 2020). A ODF corrige esse varo excessivo do fêmur, o que contribui para a estabilização da patela. Embora a ODF seja mais invasiva que a transposição da tuberosidade tibial, ela tem uma taxa de complicações baixas e bons resultados a longo prazo (Brower et al., 2017).

Em casos em que há rotação interna da tibia, uma suturas anti-rotacional pode ser colocada, como a sutura lateral fabelar-tibial, usada também no reparo extracapsular de rupturas do ligamento cruzado cranial (L’Eplattenier & Montavon, 2002a; Hackett et al., 2021). Além disso, a reconstrução de tecidos moles, por meio da liberação das fáscias e da imbricação das tecidos frouxos, pode ser realizada juntamente com as intervenções cirúrgicas mencionadas para ajudar a manter a patela na sulco troclear (L’Eplattenier & Montavon, 2002a; Perry & Dejardin, 2021).

Em muitos casos, LPM ocorre juntamente com a ruptura do ligamento cruzado cranial (CCL). Quando essas duas condições são diagnosticadas simultaneamente, o tratamento cirúrgico deve ser adaptado para corrigir ambos os problemas biomecânicos (L’Eplattenier & Montavon, 2002a; Langenbach & Marcellin-Little, 2010; Yeadon et al., 2011). Modificações nas técnicas de TPLO, TTA e TTO foram aplicadas com sucesso para tratar tanto a LPM quanto a ruptura do CCL, proporcionando resultados eficazes no tratamento de ambas as condições (Langenbach & Marcellin-Little, 2010; Yeadon et al., 2011; Leonard et al., 2016; Livet et al., 2019; Curuci et al., 2021; Hackett et al., 2021).

Além dos procedimentos cirúrgicos descritos, é importante que o tratamento de LPM seja combinado com terapias de reabilitação pós-operatória. A reabilitação desempenha um papel crucial na recuperação do animal, incentivando o uso adequado do membro afetado e promovendo a cura dos tecidos. Sessões de fisioterapia, incluindo massagem, mobilização passiva das articulações e uso de terapias como ultrassom pulsado, laser e exercícios terapêuticos, são fundamentais para restaurar a função e prevenir complicações (Livet et al., 2019; Perry & Dejardin, 2021).