Cuba, com sua rica história sociocultural e seu apelo turístico, tornou-se um destino cada vez mais relevante no cenário global. Sua diversidade racial, proveniente da colonização espanhola e do impacto das populações africanas e chinesas, deu origem a uma fusão única de culturas, expressa em suas tradições musicais, religiosas e gastronômicas. A ilha, com sua extensa costa e clima ameno durante o ano inteiro, oferece aos turistas não apenas paisagens paradisíacas, mas também uma experiência cultural profundamente rica e envolvente.

Nos últimos 30 anos, o turismo cubano tem sido impulsionado principalmente pelo modelo "sol, mar e areia", onde as cidades funcionam, na maioria das vezes, como pontos de passagem para os visitantes. No entanto, é inegável que a gastronomia cubana possui um papel cada vez mais relevante, não apenas como uma componente do lazer, mas também como um vetor de identidade e de expressão cultural. Embora as práticas alimentares cubanas não tenham sido suficientemente promovidas no cenário turístico, a gastronomia local revela-se uma grande riqueza, não apenas para os turistas, mas também como uma parte vital do patrimônio cultural do país.

O turismo gastronômico, em particular, surge como uma tendência crescente, transformando o consumo de alimentos em uma experiência que vai além do simples prazer sensorial. Cada prato cubano conta uma história, refletindo as influências indígenas, africanas, espanholas e asiáticas, todas misturadas em uma culinária cheia de sabor e tradição. A cozinha cubana, ao mesmo tempo simples e sofisticada, se reflete nas práticas diárias dos cubanos, em mercados de rua, feiras de alimentos e nas tradicionais "paladares", pequenos restaurantes privados que oferecem pratos preparados com ingredientes frescos e locais.

Além disso, Cuba tem se destacado como um destino de turismo de saúde, especialmente entre os países da América Latina. A combinação entre cuidados médicos de qualidade e a oferta de experiências gastronômicas saudáveis, com produtos orgânicos e locais, tem atraído um público cada vez mais interessado não apenas em tratamentos médicos, mas também em vivenciar a rica cultura alimentar cubana.

É importante destacar que o turismo gastronômico não se resume a simplesmente viajar para um lugar para provar a comida local. Ele está intrinsecamente ligado a um desejo mais profundo de imersão cultural, onde o turista busca, além da gastronomia, entender o modo de vida local, participar da produção dos alimentos e, muitas vezes, até mesmo aprender as técnicas culinárias de um determinado local. O turismo gastronômico torna-se, assim, uma forma de turismo experiencial, no qual o elemento surpresa e a autenticidade desempenham papéis centrais. O conceito de "Gastrodiplomacia" surge nesse contexto, fortalecendo os laços entre os países através da comida e das tradições culinárias.

Em Cuba, esse tipo de turismo se alinha com um movimento crescente de valorização do patrimônio cultural e da sustentabilidade. O turismo gastronômico, quando praticado de forma consciente, tem o potencial de fortalecer a economia local, gerar empregos e promover práticas agrícolas sustentáveis. Com a crescente mobilidade dos alimentos e o interesse global pela gastronomia de diversos países, Cuba tem uma oportunidade única de promover sua culinária como um dos pilares do seu setor turístico, ao mesmo tempo em que preserva e promove suas tradições culturais.

No entanto, o turismo gastronômico em Cuba enfrenta desafios, como a infraestrutura deficiente, a escassez de recursos e a baixa qualidade dos serviços em algumas regiões. Além disso, questões de segurança alimentar e sustentabilidade ambiental também devem ser levadas em consideração, especialmente à medida que o país busca expandir suas ofertas turísticas. A necessidade de melhorar a formação de profissionais no setor, além de promover práticas mais responsáveis e sustentáveis, é fundamental para que Cuba possa se posicionar como um destino turístico de referência no turismo gastronômico mundial.

Por fim, o turismo gastronômico em Cuba não se limita apenas a uma oportunidade econômica, mas representa também uma forma de preservar e promover as tradições culturais da ilha, através da sua comida. A culinária cubana tem a capacidade de contar a história de um povo, de suas influências, sua luta e sua identidade, e o turismo, ao se integrar com essa realidade, pode atuar como um grande aliado na preservação e promoção desse patrimônio.

O que caracteriza o turismo de expatriados e como ele molda a identidade dos migrantes?

O turismo de expatriados representa uma forma de mobilidade específica, que se distingue das migrações laborais, de refúgio ou educacionais. Trata-se de uma movimentação com motivações claramente voltadas para o lazer e a busca por um estilo de vida, ao invés de uma necessidade econômica ou de sobrevivência. Expatriados são pessoas que, por diversos motivos, decidem viver fora de seu país de origem, seja de maneira permanente ou temporária. Esse fenômeno pode envolver tanto aqueles que buscam uma vida melhor em um novo local quanto aqueles que simplesmente escolhem um destino por seus atrativos turísticos e qualidade de vida.

Apesar de as fronteiras entre turistas e expatriados serem tênues, a principal característica que define o expatriado é o seu desejo de realizar uma imersão parcial ou total em outra cultura, muitas vezes motivada por um desejo de escapar da rotina ou de reconfigurar seu estilo de vida. A diferenciação entre expatriados e turistas, embora por vezes ambígua, pode ser observada em aspectos como o tempo de permanência e os motivos subjacentes. Um turista costuma estar no local por um período limitado, movido pela exploração e lazer, enquanto o expatriado se instala por um período prolongado, visando, na maioria das vezes, um novo estilo de vida mais satisfatório ou mais alinhado aos seus interesses pessoais.

É importante destacar que o conceito de expatriado não é necessariamente vinculado a uma categoria socioeconômica específica, embora frequentemente esteja associado a grupos privilegiados, que têm a oportunidade de investir na busca por um estilo de vida diferente. A ideia de "migração por estilo de vida", muitas vezes também chamada de "migração de amenidades", pode ser observada quando indivíduos se mudam para destinos que oferecem características naturais ou culturais atraentes, como áreas litorâneas, montanhosas ou rurais. Esse tipo de migração é impulsionado não por uma necessidade urgente, mas pela busca por uma vida mais tranquila, equilibrada ou excitante.

A migração de expatriados pode ser modelada de maneira a refletir um padrão similar ao de um "anel" concêntrico. No centro desse anel estão os expatriados que buscam mais diretamente uma qualidade de vida ligada ao lazer. Esses indivíduos são frequentemente motivados pela possibilidade de escapar de realidades cotidianas ou estressantes, optando por lugares que lhes oferecem conforto e entretenimento. À medida que nos afastamos do centro, a motivação se torna mais complexa, envolvendo questões como a necessidade de emprego ou a adaptação a um novo contexto socioeconômico, embora a busca por estilo de vida ainda seja predominante.

Outro aspecto importante do fenômeno dos expatriados é a identidade. Em um mundo globalizado, onde as barreiras físicas e culturais são constantemente desafiadas, a busca por um novo estilo de vida também leva os expatriados a procurar por uma nova identidade. A perda de laços com o país de origem e a constante busca por novos significados e pertencimentos pode ser vista como uma característica fundamental dessa mobilidade. Ao se tornarem cidadãos do mundo, muitos expatriados experimentam um desconforto contínuo com as noções tradicionais de identidade nacional e cultural. A mobilidade, portanto, não é apenas geográfica, mas também existencial, levando os indivíduos a uma redefinição constante de quem são e de onde pertencem.

O conceito de "nômade digital" surge nesse contexto como uma extensão do turismo de expatriados. A popularização do trabalho remoto, especialmente impulsionada pela pandemia de COVID-19, permitiu que muitas pessoas se tornassem "nômades digitais", movendo-se entre diferentes países enquanto mantêm suas atividades profissionais. Este movimento oferece ainda mais flexibilidade e liberdade para a criação de um estilo de vida adaptado às necessidades e desejos pessoais, sem as amarras de um local fixo de residência ou de trabalho.

Portanto, a busca por um estilo de vida "ideal" se mistura com o desejo de desconstruir identidades e contextos preexistentes, criando novas formas de viver e de se relacionar com o mundo. Para muitos expatriados, a ideia de estabelecer raízes em um local específico não é mais tão relevante quanto a possibilidade de experimentar diversas culturas e estilos de vida. O turismo de expatriados, portanto, não se limita apenas à exploração de novas geografias, mas também à reinvenção pessoal e social, com impacto direto nas dinâmicas culturais e nas percepções globais sobre identidade e pertencimento.

A mobilidade associada ao turismo de expatriados também envolve uma reflexão crítica sobre as desigualdades globais. Embora muitos expatriados busquem experiências enriquecedoras, a prática pode, em alguns casos, perpetuar dinâmicas de colonialismo e exploração cultural. A presença de estrangeiros em determinadas regiões pode não apenas alterar as culturas locais, mas também exacerbar as disparidades econômicas e sociais entre os migrantes e as comunidades de acolhimento. Ao mesmo tempo, a maneira como os expatriados interagem com as culturas locais pode ser marcada por uma visão exotificada, na qual o "outro" é consumido como parte do espetáculo turístico, muitas vezes sem uma real compreensão das complexidades socioculturais envolvidas.

Dessa forma, a mobilidade dos expatriados e o turismo relacionado a ela exigem uma análise cuidadosa sobre as implicações sociais, culturais e econômicas dessas práticas, considerando os efeitos tanto para os migrantes quanto para as comunidades anfitriãs. Além disso, é importante compreender que a busca por um estilo de vida "ideal" pode ser, por vezes, uma busca que reflete uma desconexão das realidades locais, resultando em uma forma de turismo que muitas vezes não questiona as disparidades globais ou as dinâmicas de poder que alimentam essas mobilidades.

Como as sanções impactam o turismo e a resiliência dos destinos sancionados?

O impacto das sanções econômicas sobre o comportamento dos turistas e o desenvolvimento do turismo tem sido, historicamente, pouco explorado em comparação com outras crises globais. Essa lacuna possivelmente se deve ao fato de que os países sancionados raramente figuram como destinos turísticos de destaque ou grandes players no mercado internacional. Ainda assim, a relevância econômica do turismo para essas nações permanece significativa, especialmente como fonte de divisas estrangeiras.

Países afetados por sanções, como Irã, Rússia e Turquia, têm buscado estratégias para lidar com as restrições impostas, focando majoritariamente no turismo doméstico. A desvalorização cambial, consequência comum das sanções, acaba por promover o consumo interno ao tornar o turismo local mais acessível para os habitantes. Além disso, esses países elevam impostos de saída e implementam campanhas de marketing para estimular o turismo nacional e reduzir as viagens para o exterior. Outro aspecto estratégico é o fortalecimento de uma economia resistente e autônoma, que inclui diversificação das parcerias turísticas, voltando-se para países aliados ou mercados menos afetados, como o turismo de saúde, de peregrinação e o turismo entre diásporas.

A experiência da Rússia é emblemática nesse sentido, pois, diante das sanções, adotou políticas de substituição de importações e diversificação econômica, buscando garantir a resiliência de seus mercados turísticos frente a choques externos. São Tomé e Príncipe, por sua vez, embora não diretamente envolvido em sanções, exemplifica um destino que, ao apostar no turismo baseado em recursos naturais e na valorização do patrimônio cultural, tenta ampliar sua competitividade e sustentabilidade a longo prazo.

Com a globalização e a interconexão das economias, os efeitos das sanções extrapolam as fronteiras nacionais, afetando também empresas transnacionais e o fluxo turístico global. O setor de aviação, por exemplo, sofre efeitos indiretos que impactam a mobilidade e acessibilidade aos destinos sancionados. Assim, entender o impacto das sanções no turismo é essencial para gestores públicos, empresários e pesquisadores, principalmente no contexto de tensões geopolíticas crescentes.

Ainda que esforços macroeconômicos para avaliar os efeitos das sanções sejam frequentes, a resposta das empresas e a tomada de decisão dentro do setor turístico permanecem pouco investigadas. É necessário compreender como diferentes atores do mercado, inclusive corporações multinacionais, respondem a pressões externas prolongadas e quais estratégias são eficazes para garantir a sustentabilidade do turismo em condições adversas.

A trajetória de São Tomé e Príncipe na busca por um turismo sustentável, centrado na ecologia e no resgate de seu patrimônio histórico, oferece uma importante lição para destinos que enfrentam restrições econômicas e pressões externas. O crescimento do número de visitantes internacionais, o aumento da receita turística e a ampliação da infraestrutura demonstram que é possível construir resiliência a partir do fortalecimento do turismo doméstico e da atração de mercados estratégicos.

Além do impacto econômico imediato, é crucial considerar os efeitos de longo prazo das sanções na competitividade dos destinos turísticos e sua capacidade de se reinventar. O turismo pode funcionar como um agente de aproximação cultural e diplomática, potencialmente contribuindo para a resolução de conflitos e para o fomento da paz mundial, aspectos que ainda demandam maior investigação acadêmica.

Importa ainda compreender que o turismo, em contextos de sanções, não é apenas um setor econômico, mas um fenômeno social e político que reflete as complexas relações internacionais. A adaptação dos destinos sancionados revela uma tensão entre isolamento e conexão, onde o turismo interno e o fortalecimento de redes alternativas emergem como respostas pragmáticas e inovadoras.

O que revela o olhar do turista sobre as desigualdades sociais?

O turismo, apesar de frequentemente revestido de neutralidade e prazer descompromissado, é profundamente político. Desde a consagrada obra de John Urry The Tourist Gaze (2002), sabemos que o olhar do turista não é espontâneo, mas socialmente construído, condicionado por estruturas de poder que moldam o que se vê, como se vê e por que se vê. O turista, majoritariamente oriundo de sociedades afluentes, transporta consigo uma percepção formatada pelos valores hegemônicos do Ocidente, o que o torna, mesmo que inconscientemente, um vetor da dominação cultural.

Esse olhar “gaze” funciona como instrumento de distinção simbólica, no sentido bourdieusiano do termo, onde o gosto e o consumo refletem as condições de classe. A distinção entre o "refinado" e o "vulgar", ou o "autêntico" e o "comercial", está ligada a uma hierarquia social internalizada e reproduzida em escala global. A própria valorização do sentido da visão, tida como mais "nobre" que outros sentidos na experiência turística, foi historicamente apropriada pelas elites burguesas ocidentais, como forma de controle do discurso sobre o que é digno de ser contemplado.

A mercantilização do turismo, criticada desde a Escola de Frankfurt, reforça esse sistema. Mesmo quando dissociada da crítica marxista original ao fetichismo da mercadoria, a análise frankfurtiana reconhece que o turismo de massas transforma culturas, tradições e pessoas em produtos homogêneos para consumo. Esse processo não apenas despoja comunidades locais de suas narrativas autônomas, mas também intensifica as desigualdades, pois os lucros raramente são redistribuídos de forma equitativa. O turista, mesmo bem-intencionado, se torna cúmplice da reprodução de uma lógica que prioriza o consumo e a estética da experiência sobre a justiça social.

É nesse ponto que o conceito de justiça social ganha centralidade nos estudos do turismo. Embora a questão da luta de classes tenha perdido força no discurso contemporâneo, ela permanece latente na análise das estruturas que definem quem viaja, para onde, por quê e com que impacto. A pesquisa recente tem explorado como as desigualdades socioeconômicas persistentes (como evidenciado por Piketty, 2014) afetam não só o acesso ao turismo, mas também sua configuração e suas consequências para os destinos.

Emergem, assim, agendas de investigação focadas em equidade de acesso a experiências turísticas por grupos historicamente marginalizados — mulheres, minorias étnicas, LGBTQIA+, pessoas com deficiência, entre outros. Mas isso não basta. A crítica contemporânea aponta que, sem enfrentar as raízes estruturais da desigualdade — e aqui a herança do marxismo permanece útil —, qualquer política de inclusão corre o risco de se tornar apenas uma forma de integração superficial ao sistema que causa a exclusão.

Por outro lado, novas formas de empreendedorismo social têm buscado transformar esse cenário. O turismo socialmente empreendedor surge como uma tentativa de reverter a lógica tradicional, mobilizando o turismo como ferramenta para gerar soluções inovadoras a problemas sociais, econômicos e ambientais nos destinos. A atuação proativa de agentes locais ou externos, com propósitos de transformação sustentável e inclusão, ressignifica a prática turística ao promover justiça e regeneração em vez de exploração e esgotamento.

A orientação empreendedora social em empresas do setor turístico tem ganhado relevância, sobretudo nas últimas duas décadas. A definição de turismo socialmente empreendedor como “um processo que utiliza o turismo para criar soluções inovadoras para problemas imediatos em destinos, mobilizando ideias, capacidades, recursos e acordos sociais internos ou externos para a transformação social sustentável” mostra o potencial da atividade para além do lucro.

Pesquisas indicam que consumidores estão cada vez mais dispostos a apoiar estabelecimentos com impacto social positivo, como restaurantes que contratam pessoas com deficiência. Tal comportamento sinaliza uma mudança de paradigma possível, na qual o turista também passa a ser agente de transformação — desde que sua escolha seja informada, consciente e crítica.

Importa compreender, entretanto, que o olhar do turista só poderá se libertar de suas amarras coloniais e classistas se houver uma ruptura com o modelo de consumo que o sustenta. A verdadeira transformação não está apenas na intenção, mas na desestabilização das estruturas que determinam quem narra, quem lucra e quem observa.

A crítica à fetichização das culturas locais, a exigência por autenticidade e a busca por experiências "exóticas" continuam sendo expressões sofisticadas de um desejo ocidental de controle e diferenciação. Assim, não se trata apenas de democratizar o turismo, mas de repensá-lo radicalmente: como prática, como indústria e como espelho das desigualdades que insistimos em não ver.

Qual é a vantagem comparativa no turismo e como ela molda destinos emergentes como as Comores?

A vantagem comparativa no turismo remete à capacidade de um país ou destino de oferecer produtos ou serviços a um custo de oportunidade relativamente mais baixo, baseado nos recursos naturais, culturais e humanos que possui. No contexto das Comores, arquipélago situado no Oceano Índico entre Moçambique e Madagascar, essa vantagem se manifesta principalmente na sua biodiversidade marinha preservada, no vulcão ativo Karthala e no patrimônio cultural árabe-suaíli presente nas capitais Moroni e Mutsamudu. Embora o país seja um dos mais pobres do mundo e enfrente desafios políticos e econômicos, o turismo despontou a partir da década de 1980 e tem potencial para se tornar um motor de desenvolvimento econômico e social.

A economia das Comores depende significativamente das remessas da diáspora, além da exportação de matérias-primas não processadas como baunilha e cravo. O turismo, embora ainda em estágio exploratório, cresce com visitantes interessados em ecoturismo, observação de aves, caminhadas e experiências culturais autênticas. O aumento do turismo de visita a amigos e parentes indica também uma ligação social importante, representando mais da metade das chegadas recentes.

No entanto, a infraestrutura turística ainda é limitada, com poucos hotéis e uma força de trabalho pouco qualificada, o que destaca a necessidade urgente de capacitação e formação profissional adequada para atender às demandas do setor. Além disso, a ausência de uma legislação robusta para garantir investimentos e proteger o setor é um obstáculo ao desenvolvimento sustentável do turismo.

A distinção entre vantagem comparativa e competitividade é essencial para entender o potencial real do turismo nas Comores. A vantagem comparativa refere-se aos recursos disponíveis, enquanto a competitividade envolve a habilidade de utilizar esses recursos de forma eficaz, incluindo a qualidade da infraestrutura, capacidade de inovação e estratégias para sustentabilidade ambiental e social. O equilíbrio entre esses aspectos define o sucesso do turismo no longo prazo.

O cenário global, especialmente após a pandemia de Covid-19, trouxe à tona vulnerabilidades do setor turístico, incluindo a concentração do mercado e a dependência excessiva em determinados perfis de turistas e destinos. A digitalização e o uso de grandes volumes de dados têm potencial para transformar o marketing e a gestão turística, mas também podem aumentar as barreiras para destinos menos estruturados, como as Comores, tornando o acesso ao mercado mais seletivo e menos inclusivo.

Além disso, a reflexão sobre a dependência excessiva do turismo e os riscos de fenômenos como o overtourism, que já afeta destinos consolidados, é relevante para países em desenvolvimento que buscam crescer no setor. É fundamental que o desenvolvimento turístico nas Comores ocorra de forma planejada, integrada às metas sociais e ambientais do país, evitando a exploração desenfreada dos recursos naturais e culturais.

O apoio de organizações internacionais e investimentos externos, especialmente do Oriente Médio e da África, tem papel crucial no fortalecimento do turismo nas Comores, mas a criação de um ambiente regulatório que proteja esses investimentos e promova o desenvolvimento local é igualmente imprescindível. O turismo pode servir como instrumento de redução da pobreza e geração de empregos, desde que alinhado a políticas públicas eficazes.

Além disso, é importante compreender que a vantagem comparativa não é estática. Ela pode ser ampliada por meio da inovação, educação, diversificação do produto turístico e integração regional. O turismo nas Comores, ao aproveitar suas especificidades naturais e culturais, pode se consolidar como um exemplo de turismo sustentável e diferenciado, atraindo nichos específicos que buscam experiências autênticas e responsáveis.

Portanto, o desenvolvimento do turismo nas Comores exige uma visão estratégica que combine a valorização dos seus recursos únicos com o fortalecimento das capacidades locais, investimentos em infraestrutura e qualificação profissional, além de um marco regulatório claro. O equilíbrio entre preservação ambiental, inclusão social e crescimento econômico será determinante para que a vantagem comparativa se traduza em competitividade sustentável e benefícios reais para a população.