A relação entre os Estados Unidos e o México após a Segunda Guerra Mundial revelou-se fundamental para o crescimento econômico de ambas as nações, especialmente à medida que o "baby boom" pós-guerra nos EUA amadurecia, e a população mexicana passava a enfrentar um crescimento mais lento. Esse contexto de complementação entre o envelhecimento da força de trabalho nos EUA e o crescimento da economia mexicana, se bem coordenado, pode gerar aumentos de produtividade e salários, além de contribuir para o aumento das remessas enviadas pelos migrantes mexicanos para seu país de origem. No entanto, a convivência de políticas de comércio, migração, trabalho e remessas precisa ser cuidadosamente orquestrada para que ambos os países se beneficiem de forma mútua.

Entre 1942 e 1980, o México experimentou uma significativa convergência no PIB per capita em relação aos Estados Unidos, um fenômeno que foi interrompido a partir da década de 1980, quando o desenvolvimento das duas economias passou a seguir caminhos mais divergentes. O processo de integração comercial e migratória entre os dois países foi, muitas vezes, compatível e vantajoso, mas, em outros momentos, as políticas divergiram, prejudicando a efetiva integração econômica. A mudança das políticas comerciais nos Estados Unidos, que se tornaram mais abertas desde a década de 1980, contrastava com o aumento das barreiras migratórias, que tornaram mais difícil a mobilidade de trabalhadores entre os países.

A falta de uma estrutura legal eficaz para gerenciar a migração e garantir os direitos dos trabalhadores imigrantes acabou por resultar em um mercado de trabalho distorcido. A imigração indocumentada entre os anos de 1990 e 2010, particularmente vinda do México e da América Central, exacerbava essa distorção. A reforma de imigração e controle (IRCA) de 1986, que legalizou muitos imigrantes indocumentados que chegaram aos Estados Unidos até 1982, teve um efeito paradoxal: enquanto pretendia regularizar a situação dos migrantes, ela também fortaleceu o processo de "ferramento", ou seja, a permanência de trabalhadores indocumentados de maneira mais permanente no território norte-americano. Esse fenômeno, embora intensificado pela falta de políticas regionais ou nacionais coordenadas, ajudou a manter os salários artificiais baixos e o mercado de trabalho imigrante nas sombras da ilegalidade.

A migração indocumentada, embora sem o apoio de uma legislação adequada, gerou maiores benefícios econômicos para os Estados Unidos do que a própria liberalização do comércio, como demonstrado em diversos estudos econômicos. O fluxo de trabalhadores, muitas vezes explorado em setores de baixo salário, tornou-se uma engrenagem essencial no crescimento do PIB dos Estados Unidos, apesar de todas as controvérsias e limitações impostas pelas políticas de imigração.

Após a Segunda Guerra Mundial, os EUA adotaram uma série de iniciativas para integrar o comércio e a migração com o México. Durante a década de 1940, o programa Bracero foi uma das medidas mais significativas, permitindo a vinda temporária de trabalhadores mexicanos para os Estados Unidos. No entanto, as políticas de imigração passaram a ser mais restritivas na década de 1950, especialmente com o fim do Bracero Program e o lançamento da Operação Wetback (1952–53), que visava deportar trabalhadores ilegais mexicanos. Com a criação do Programa de Industrialização Fronteiriça (BIP) nos anos 1960, a imigração passou a ser regulamentada de forma mais rigorosa, mas ainda assim as barreiras migratórias não impediram o aumento do número de migrantes não documentados.

A assinatura do Acordo de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA) em 1994 foi um marco na relação comercial entre os três países da América do Norte. No entanto, esse acordo, ao mesmo tempo em que estimulava o comércio, não resolveu os problemas relacionados à imigração. A falta de uma reforma efetiva nas políticas migratórias dos Estados Unidos resultou em um aumento do número de migrantes indocumentados, tornando cada vez mais difícil para os trabalhadores mexicanos terem acesso legal ao mercado de trabalho norte-americano.

As políticas de imigração dos Estados Unidos, especialmente após a adoção do NAFTA, não só não facilitaram a mobilidade de trabalho, como também prejudicaram os fluxos migratórios regulares. Durante a presidência de George W. Bush e Barack Obama, houve um avanço na liberalização do comércio agrícola e no aumento das trocas de intermediários comerciais, mas as políticas migratórias continuaram a ser dominadas por medidas punitivas, como as deportações em massa e a construção de barreiras físicas na fronteira.

A administração Trump, por sua vez, representou um retrocesso em relação à integração das economias dos dois países, com políticas de imigração extremamente restritivas e a ameaça de uma guerra comercial com o México. Trump, ao adotar uma abordagem protecionista, além de construir muros e aumentar as taxas de encarceramento de imigrantes, tentou reverter ou renegociar acordos como o NAFTA, propondo mudanças drásticas que resultaram na criação do USMCA, um acordo muito similar ao anterior.

A relação entre os Estados Unidos e o México, quando vista através da lente das políticas de comércio e imigração, revela um quadro de sucessos e fracassos. O comércio, por vezes liberalizado, e a migração, frequentemente obstruída, têm sido elementos cruciais na formação da dinâmica econômica entre os dois países. A falta de uma integração mais fluida e coordenada entre essas políticas resultou em distorções que afetaram tanto os mercados de trabalho quanto o crescimento econômico de ambos os países.

Para que o modelo de cooperação econômica entre os EUA e o México seja mais eficiente no futuro, é fundamental a construção de políticas migratórias que favoreçam a mobilidade de trabalhadores, garantindo-lhes direitos e reconhecimento legal. Além disso, a integração econômica deve ser fortalecida por acordos que considerem as disparidades de desenvolvimento e que incentivem investimentos em áreas estratégicas para ambos os países, criando um ciclo de prosperidade mútua.

Como o Escapismo Social Conduz à Formação de Identidades Reativas Entre Imigrantes

Os processos sociais resultantes da marginalização e do estigma contra imigrantes não se limitam a uma transformação imediata do panorama político, mas frequentemente provocam alterações mais profundas nas comunidades visadas. Um dos efeitos menos previsíveis, porém substancial, é o surgimento de uma "etnicidade reativa", uma identidade étnica militante formada em resposta à discriminação percebida. Quando um grupo é atacado externamente, como ocorre com frequente nas campanhas de estigmatização de imigrantes, há uma tendência de fortalecimento da solidariedade interna dentro da comunidade visada. A discriminação externa mobiliza um senso renovado de identidade coletiva, estreitando os laços entre os membros do grupo e solidificando suas fronteiras sociais.

Esse fenômeno de formação reativa de identidade pode ser visto de forma clara nas comunidades de imigrantes que se veem alvo de políticas restritivas. Quando os imigrantes são apresentados como "outros" ou como uma ameaça ao "status quo", a resposta dentro da própria comunidade imigrante muitas vezes se traduz em uma redefinição de sua posição social e política, rearticulando seu papel na sociedade em termos mais favoráveis e mais coerentes com suas próprias experiências. As tensões que surgem a partir de um processo de exclusão e marginalização podem, assim, estimular uma revalorização da identidade étnica e até mesmo catalisar movimentos políticos internos, que, em última instância, podem desestabilizar as estruturas de poder que inicialmente os atacaram.

O caso de Miami nos anos 1980 oferece um exemplo paradigmático desse processo. Quando a crise dos refugiados cubanos do Mariel (1980) resultou em uma crescente hostilidade por parte da comunidade anglo-americana, a resposta da comunidade cubano-americana foi uma intensificação do sentimento étnico e uma reorganização de suas estratégias de inserção política. Inicialmente, a chegada dos Marielitos foi vista com desconfiança, tanto por parte dos cubanos exilados que já viviam em Miami quanto pela população anglo-americana, que temia a perda de sua hegemonia política e cultural. No entanto, à medida que os ataques à comunidade cubana aumentaram, a reação foi clara: um fortalecimento da solidariedade étnica interna e uma busca por maior visibilidade política. Movimentos como a Fundação Nacional Cubano-Americana (CANF) tornaram-se fundamentais para a construção de uma narrativa que revalorizava as contribuições dos cubanos para os Estados Unidos, sublinhando suas vitórias sociais e políticas. Como resultado, a comunidade cubano-americana não só sobreviveu à hostilidade, como também emergiu mais politicamente engajada e representada, alcançando posições de destaque em todo o país, como no Senado.

Esse tipo de resposta não se limita ao contexto de Miami, mas se repete em diversas outras comunidades de imigrantes nos Estados Unidos. O exemplo da Califórnia, em 1994, durante o debate sobre a Proposition 187, também ilustra como a exclusão e a desumanização de imigrantes pode gerar uma resposta de "etnicidade reativa". A proposta visava negar serviços básicos a imigrantes indocumentados e foi uma tentativa de incitar o medo e a hostilidade contra a comunidade latina. A resposta, mais uma vez, foi a organização em torno da identidade latina, com organizações como o Centro de Ação Política de Los Angeles (LAPC) mobilizando-se para derrubar a proposição. Como em Miami, essa reação trouxe um fortalecimento das identidades latinas e a expansão de sua influência política em uma série de áreas, desde o nível local até o estadual.

Além disso, é fundamental compreender que a formação de uma identidade reativa não ocorre de forma homogênea em todas as comunidades imigrantes. O contexto sociopolítico local, a história de cada grupo e as condições de sua integração anterior são fatores determinantes nesse processo. Alguns grupos podem responder com maior intensidade a políticas de discriminação, enquanto outros podem adotar uma estratégia mais conservadora ou focada na assimilação. O fenômeno da etnicidade reativa é, portanto, um reflexo de como os imigrantes reinterpretam seu lugar na sociedade, não apenas em resposta ao preconceito, mas também como um meio de fortalecer seu capital político e social.

Em última instância, é importante perceber que a discriminação e o estigma contra os imigrantes não apenas enfraquecem as coesões sociais, mas também podem engendrar forças transformadoras que redefinem a relação de poder entre os imigrantes e a sociedade maior. O fortalecimento da identidade de grupo e a politização de suas demandas não são apenas respostas defensivas, mas também caminhos potenciais para a construção de um novo tipo de engajamento cívico, que pode alterar a própria dinâmica de poder nas sociedades receptoras. Portanto, mais do que uma reação passageira, a etnicidade reativa pode se tornar um fator decisivo na transformação social, desafiando as normas estabelecidas e promovendo uma reconfiguração das identidades políticas e sociais.

Como o Novo Acordo Comercial EUA-México Pode Beneficiar Trabalhadores de Ambos os Lados da Fronteira

O recente acordo preliminar entre os Estados Unidos e o México, parte do processo de renegociação do NAFTA (Acordo de Livre Comércio da América do Norte), busca melhorar as condições para trabalhadores em ambos os países, uma mudança significativa em relação aos acordos comerciais anteriores. Analisando as implicações desse novo pacto, é possível perceber que ele representa uma tentativa de atender não só às demandas empresariais, mas também às necessidades da força de trabalho que, em diversas áreas, sofreu as consequências da globalização descontrolada e da política econômica adotada ao longo dos últimos 30 anos.

Em um contexto de crescente desigualdade econômica, onde grandes corporações frequentemente se beneficiaram de condições de mercado vantajosas, mas os trabalhadores permaneceram com salários estagnados, o novo acordo procura inverter esse cenário. A ênfase na criação de empregos mais bem remunerados, especialmente nas indústrias automotiva e manufatureira, é um passo importante. Aumento de exigências para a produção de peças em território norte-americano e incentivos à melhoria das condições de trabalho dentro do México são medidas que visam garantir que os benefícios da integração econômica sejam mais bem distribuídos, sem que os trabalhadores continuem sendo explorados por acordos comerciais sem uma consideração suficiente por suas condições de vida.

Ademais, a mudança proposta no acordo também se alinha com um movimento crescente de questionamento sobre os impactos negativos da globalização nas economias locais. O comércio globalizado e a abertura irrestrita das fronteiras para grandes multinacionais resultaram em uma transferência de empregos de setores tradicionais para economias com menores custos trabalhistas, como o México, mas sem um contrapeso suficiente na forma de investimentos em infraestrutura e capacitação profissional. O novo pacto sugere uma correção dessas distorções, propondo mecanismos para que a integração comercial também gere um ciclo virtuoso de crescimento e qualificação profissional para os trabalhadores mexicanos.

Ainda assim, o impacto do acordo não se limita à questão do emprego. A análise de Blecker (2014) sobre os efeitos do NAFTA mostra que, apesar de alguns ganhos econômicos, a integração de economias tão desiguais gerou um desequilíbrio considerável nas relações comerciais e uma desaceleração no desenvolvimento industrial de países como o México. A modernização do NAFTA, com foco na reestruturação das regras comerciais, busca resolver alguns desses problemas ao garantir que a produção no México beneficie mais diretamente os cidadãos do país, e que as regras comerciais promovam um crescimento mais inclusivo e sustentável.

Por outro lado, é preciso reconhecer que, apesar das promessas, o impacto real sobre os trabalhadores pode ser mais complexo do que aparenta. O aumento da competitividade e a pressão por inovação nas empresas mexicanas podem significar a melhoria de condições para alguns, mas também podem intensificar a precarização em outros setores. O acordo não resolve todas as questões estruturais da economia mexicana, como a baixa produtividade e a concentração de riqueza nas mãos de uma pequena elite, o que ainda representa um grande obstáculo para um desenvolvimento verdadeiramente inclusivo.

É relevante, ainda, que o novo pacto também tenta enfrentar questões relacionadas à mobilidade de capital e à proteção dos direitos dos trabalhadores, particularmente em relação à reforma nas cláusulas de disputas entre investidores e Estados. A proposta de limitação ao poder de corporações multinacionais, ao lado de garantias de melhor proteção para os trabalhadores, reflete um esforço para equilibrar os interesses econômicos e sociais. Contudo, a aplicação efetiva dessas cláusulas dependerá de uma fiscalização rigorosa e da capacidade dos Estados em se protegerem de pressões externas.

Além disso, o impacto do novo acordo não será homogêneo ao longo da fronteira. Regiões que já estavam economicamente mais integradas ao mercado dos EUA, como o norte do México, provavelmente se beneficiarão mais rapidamente das novas condições. Já o sul do país, com uma economia mais fragilizada e menos preparada para enfrentar a concorrência, poderá sofrer com o aumento das disparidades econômicas internas, o que exigirá políticas públicas adicionais para mitigar essas desigualdades.

É importante entender que a verdadeira mudança na dinâmica de trabalho e nas relações econômicas entre os países não se limita à assinatura de acordos ou à implementação de novas regras comerciais. A natureza da globalização e seus efeitos sobre o mercado de trabalho são complexos, envolvendo tanto dinâmicas de poder quanto desafios estruturais profundamente enraizados nas economias locais. O novo acordo pode representar um avanço significativo, mas, ao mesmo tempo, ele reflete uma tentativa de resolver questões que não podem ser completamente solucionadas apenas por meio de reformas comerciais. Por isso, além das alterações específicas no pacto, é fundamental que haja um acompanhamento contínuo e uma avaliação rigorosa dos impactos sobre os trabalhadores, especialmente aqueles em situações de vulnerabilidade.