A noção de que a informação precisa ser verdadeira é intuitivamente aceita, mas essa percepção é desafiada pela distinção entre desinformação, informação incorreta e a verdadeira essência da informação. A desinformação é deliberadamente criada para enganar, enquanto a informação errada ocorre de maneira não intencional, como quando um guarda confunde um estranho com um líder. A pergunta que surge é: por que a informação precisa ser verdadeira para reduzir a incerteza de uma pessoa? Segundo a teoria de comunicação de Shannon, a informação é entendida como a redução da incerteza, eliminando alternativas possíveis (Berger e Calabrese, 1975). A informação falsa, por sua natureza, não pode reduzir essa incerteza, pois mantém alternativas abertas e confunde a percepção da realidade.
Para ilustrar isso, considere o exemplo de uma pessoa, B, que ama A, mas não sabe se A sente o mesmo. B, portanto, está em um estado de incerteza. Ao receber uma mensagem de A, a incerteza de B diminui — mas isso só ocorre se a mensagem de A for verdadeira. Se, de fato, A não ama B, mas envia uma mensagem falsa com a intenção de manipular os sentimentos de B, a incerteza de B é aparentemente reduzida, mas, na realidade, não o é. Nesse caso, a mensagem de A é desinformação, pois induz B a acreditar em algo que não é verdadeiro. Isso reforça a ideia de que a veracidade é uma propriedade intrínseca da informação, ou seja, a desinformação e a informação errada não são, de fato, informações.
Há, no entanto, um debate sobre o uso das palavras "desinformação" e "informação errada". Alguns teóricos, como Dretske (2007), argumentam que tais termos são um tratamento excessivamente rígido da linguagem comum, pois, no contexto da comunicação, esses termos ainda são amplamente utilizados, mesmo que não representem informação no sentido clássico de redução de incerteza. Para ele, essas expressões, apesar de tecnicamente incorretas, ainda têm um papel na comunicação cotidiana. No entanto, a conclusão geral é que a verdadeira informação deve ser capaz de reduzir a incerteza de maneira válida, ou seja, a informação precisa ser confiável para que sua utilidade seja reconhecida.
No campo da análise da informação, a relação entre o "referente" (Ref) e o sinal que transmite a informação (Str) é central. O conceito de "referente" envolve a associação entre o sinal e o evento ou objeto que ele representa, enquanto o sinal em si pode ser considerado um meio para transmitir a informação. Por exemplo, o som de uma campainha não é apenas um som aleatório; ele é projetado para transmitir a informação de que alguém está chegando. A questão da determinação do referente é um aspecto normativo da informação, pois depende da intenção de quem cria o sinal. O sinal só tem valor informativo porque ele foi projetado para referir-se a algo específico.
A mensuração da "quantidade de referente" (Ref) também gera debate. Alguns estudiosos, como Bar-Hillel e Carnap (1953), acreditam que é possível definir a quantidade de referente, enquanto outros, como Dretske (1981), argumentam que a possibilidade condicional de que um sinal seja verdadeiro ou falso deve ser considerada na mensuração da informação. A diferença qualitativa entre sinais com pequenas variações pode ser significativa, mas a análise quantitativa nem sempre reflete essa diferença. De maneira geral, a utilidade do referente depende do contexto e da intenção da comunicação, o que nos leva a discutir a natureza normativa da informação.
A informação normativa, ou "informação útil", é aquela que tem valor no contexto específico da comunicação. Ela não é apenas sobre a precisão ou veracidade do sinal, mas sobre sua capacidade de fazer a diferença no estado epistemológico ou na ação do receptor. A informação normativa é aquela que, ao ser recebida, provoca uma mudança significativa na percepção ou na tomada de decisões do receptor. Por exemplo, para uma pessoa que viveu há 2000 anos na China, a afirmação "uma baleia é um mamífero" seria uma informação nova. Para o público moderno, no entanto, isso não é mais uma informação nova, pois é amplamente conhecida e redundante. Nesse caso, a informação deixou de ser útil porque não provoca mais mudança no estado de conhecimento do receptor.
Por fim, é importante compreender que a informação é sempre contextual e temporária. A mesma mensagem pode ter diferentes valores dependendo de quem a recebe, quando e por que motivo. Por exemplo, a sequência de símbolos "Eu te amo" pode ser entendida de maneira diferente por quem a envia e por quem a recebe, dependendo do contexto emocional e das intenções envolvidas. A utilidade dessa informação está diretamente ligada à sua relevância no momento e ao efeito que ela tem no receptor. Portanto, a informação normativa está sempre ancorada na mudança que ela pode provocar no estado de conhecimento ou nas ações do receptor. É essa utilidade que faz da informação algo mais do que uma simples troca de sinais, mas um fator que, de fato, altera a percepção ou comportamento do destinatário.
Como Entender a Informação: Aspectos Estruturais, Referenciais e Normativos
A interação social entre remetentes e receptores tem sido fundamental para a compreensão da informação. No entanto, diferentes teorias se propõem a caracterizar essa noção, e uma delas, que ganhou nova atenção nas pesquisas contemporâneas, foi apresentada por Charles Sanders Peirce. Ao contrário das abordagens que usam cálculos probabilísticos para definir a informação, Peirce recorre a quantidades lógicas para medir a "informação não-reduzível" (Nor), focando no crescimento do conhecimento por meio das mudanças na profundidade e amplitude desse saber. Mesmo que a metodologia empregada por Peirce seja distinta, a teoria não é incoerente com outras abordagens se entendermos o conhecimento como crenças justificadas e verdadeiras, estados mentais resultantes da informação adquirida.
A análise conceitual dos aspectos estruturais, referenciais e normativos da informação revela que esses três elementos não são apenas diferentes formas de caracterizar a informação, mas que estão hierarquicamente dependentes uns dos outros. Em outras palavras, a estrutura depende da referência, que, por sua vez, depende da estrutura. A análise da estrutura pode, em um primeiro momento, ignorar a referência e a norma; a análise da referência requer a consideração da estrutura, mas pode ignorar a norma; enquanto a análise da norma exige a consideração tanto da referência quanto da estrutura. Em resumo, esses três aspectos estão interligados de forma assimétrica e hierárquica.
A teoria da informação, tal como abordada por Bates (2005) e Deacon (2006), sugere que a natureza hierárquica da informação permite sua aplicação em diferentes domínios, com níveis adequados de abstração. Floridi (2011) argumenta que a informação pode ser usada em diversos contextos, mas deve sempre respeitar a complexidade dessa hierarquia para ser adequadamente compreendida e aplicada.
Porém, o conceito de informação é frequentemente confundido com outros conceitos relacionados, como mensagens, dados, computação, códigos e significado. No início das teorias matemáticas da informação, aspectos como a "referência" e a "utilidade" foram abandonados por razões de engenharia. Apesar disso, o uso do conceito de informação em muitas áreas ainda envolve essas dimensões de forma inevitável, gerando confusão sobre o que exatamente é a informação. Para entender a informação, é necessário um trabalho de análise conceitual e construção teórica. A construção teórica deve se basear na análise conceitual, que oferece um mapa no qual os problemas da informação podem ser explicitamente marcados.
A informação pode ser dividida em três aspectos principais: estrutural, referencial e normativo. A informação estrutural origina-se da quebra de simetria. Onde há diferença, há informação estrutural. Este tipo de informação é objetivo e pode ser medido tanto de forma intrínseca quanto extrínseca. A informação referencial diz respeito à relação de referência entre o sinal e a fonte. Não deve ser confundida com significado, que ocupa um lugar central na filosofia da linguagem. A informação referencial é muito mais básica do que o significado e não se limita a fenômenos linguísticos. Ela é alethicamente neutra, ou seja, não está vinculada à verdade ou falsidade. O aspecto normativo envolve a utilidade ou a função da informação, que pode ser compreendida em dois níveis: tipo e token. Um sinal geralmente possui funções estabilizadas, e essa função estabilizada é um tipo que pode ser diferente da função intencional ou da função realmente realizada. Esses três aspectos—estrutural, referencial e normativo—estão interligados de forma hierárquica, sendo que o normativo depende do referencial, que depende do estrutural.
Com essa análise conceitual, é possível construir uma teoria da informação que integre esses três aspectos. Embora as teorias mais bem-sucedidas, como a teoria matemática de Shannon e a teoria algorítmica da informação, se concentrem na medição da quantidade de informação estrutural, há uma perda de significado nesses modelos formais. O desafio atual dos estudos da informação é restaurar os aspectos referenciais e normativos na compreensão do conceito de informação.
Em um cenário contemporâneo, é essencial entender que a informação não é uma entidade unidimensional. Ela envolve não apenas a estrutura dos dados, mas também as relações que esses dados mantêm com as fontes e sua utilidade prática. Cada uma dessas dimensões deve ser considerada no contexto de um estudo mais amplo da comunicação e da cognitividade. A partir dessa perspectiva, a informação é vista como um fenômeno tripartido, onde as interações entre esses aspectos definem a sua complexidade e aplicabilidade.
Como a Informação Pode Ser Compreendida Fisicamente: A Interdependência Entre Entropias Informacional e Termodinâmica
A informação, muitas vezes entendida de maneira abstrata ou representacional, pode ser abordada sob uma perspectiva mais física, onde a noção de "restrições" assume um papel central. A ideia de que a informação não é apenas uma representação ou mapeamento abstrato, mas uma série de restrições impostas por eventos e sinais, oferece uma maneira inovadora de pensar sobre a comunicação e a transmissão de dados. Quando essas restrições são geradas, uma capacidade específica de realizar trabalho também é gerada, refletindo a natureza essencial da informação dentro de um contexto físico.
No modelo proposto por Millikan dentro da biosemântica, as regras de mapeamento semântico podem ser vistas não como representações abstratas, mas como restrições. Em outras palavras, o que se transfere de um evento para um sinal informacional são as restrições impostas por esse evento. Isso significa que as restrições inerentes ao evento se propagam através do sinal, que, por sua vez, passa a encarnar essas mesmas restrições. Esse ponto de vista ajuda a evitar algumas das dificuldades metafísicas que surgem ao tentar compreender a teoria de Millikan, fundamentando o significado nas restrições naturais em vez de mapeamentos abstratos ou formas externas. Essa abordagem também se alinha com o significado etimológico de "informação", onde a "ação de dar forma a algo material" pode ser interpretada como o processo de propagação de restrições da fonte para o receptor através do sinal.
Entender a comunicação de informações através das restrições e da propagação física dessas restrições revela uma base física para a informação e o referente. Isso nos leva a reconsiderar a própria física da comunicação de formas, especialmente em relação aos conceitos de entropia termodinâmica e informacional. A noção de restrições não é apenas teórica; ela reflete a dinâmica física dos sistemas e como esses sistemas, ao comunicar-se, impõem formas e estados que são essenciais para a transmissão de dados.
Para entender melhor como a informação opera fisicamente, é necessário abordar a relação entre entropias informacional e termodinâmica. A teoria de Shannon, muitas vezes associada à medição da quantidade de informação, tem um caráter probabilístico, que implica uma lógica negativa: a quantidade de informação não é determinada pelas propriedades intrínsecas do sinal, mas pelo conjunto de possíveis sinais que poderiam ter sido enviados. Ou seja, a informação que um sinal carrega não é definida pelo que está presente, mas pelas alternativas ausentes. Sem o contexto dessas alternativas ausentes, a quantidade de informação de uma mensagem não pode ser medida.
Por exemplo, se há um evento no mundo com quatro estados possíveis (S1, S2, S3, S4) e quatro sinais possíveis (M1, M2, M3, M4), cada sinal corresponderia a um estado específico. Quando o estado S1 ocorre, o sinal M1 é enviado, carregando a informação de S1. A quantidade de informação gerada no evento e transmitida por M1 é determinada não pelo próprio sinal, mas pela ausência dos outros sinais possíveis. Assim, a quantidade de informação percebida pelo receptor é baseada nas alternativas que não foram escolhidas, ou seja, na ausência dos outros sinais.
Este entendimento da informação como a diferença entre possibilidades, e não apenas entre presenças, é crucial. A informação, nesse caso, não é uma propriedade positiva do sinal, mas uma característica negativa, uma diferença que faz a diferença. Essa compreensão negativa da informação, portanto, nos ajuda a ver a relação entre a teoria probabilística de informação e a física real do mundo. Em sistemas naturais, a informação está sempre ligada a essas restrições, que moldam a distribuição probabilística dos estados possíveis do sistema.
A relação entre a entropia informacional e a entropia termodinâmica também deve ser considerada. As duas compartilham a mesma fórmula matemática, mas pertencem a categorias lógicas diferentes. A entropia informacional, conforme descrita por Shannon, refere-se à incerteza associada à recepção de um sinal, enquanto a entropia termodinâmica está ligada à probabilidade de um sinal ser corrompido durante a transmissão. Embora compartilhem a mesma fórmula, essas duas entropias são fundamentalmente diferentes: a entropia informacional trata de incertezas e probabilidades dentro de um sistema de comunicação, enquanto a entropia termodinâmica está relacionada à dissipação de energia e à tendência dos sistemas físicos de aumentar sua desordem.
É importante notar que, embora ambas as entropias compartilhem uma base matemática comum, elas não podem ser simplesmente equiparadas. A entropia termodinâmica tende a aumentar à medida que o sistema se isola, enquanto a entropia informacional não necessariamente aumenta de maneira espontânea em um sistema de comunicação. Isso implica que a informação, no contexto da comunicação, não é apenas uma questão de transmissão de dados, mas também de como os sistemas físicos interagem e impõem restrições uns aos outros, alterando sua estrutura e comportamento de maneiras que são observáveis e mensuráveis.
Além disso, a maneira como a entropia informacional e a termodinâmica se interrelacionam pode fornecer insights valiosos sobre os limites da comunicação e as possibilidades de processamento de informação em sistemas complexos. A tensão entre a necessidade de reduzir a incerteza na comunicação e as limitações impostas pelas leis da termodinâmica pode ajudar a entender os desafios enfrentados por sistemas naturais e tecnológicos ao tentar processar e transmitir informações de forma eficiente.
Como Explicar a Funcionalidade e a Normatividade da Representação no Contexto Naturalista?
A representação de um evento distancial é considerada sua função própria, uma vez que representar o distancial é seu papel funcional adequado. Ao pensarmos na representação em termos de função, conseguimos compreender o aspecto normativo da intencionalidade. A questão da má representação e a indeterminação do conteúdo podem ser resolvidas através da concepção funcional. No entanto, considerar a representação apenas como um tipo de função não nos oferece uma explicação totalmente naturalista, pois a função é um conceito teleológico. Por um lado, a função é uma noção teleológica e, portanto, normativa. Usá-la para explicar a normatividade da intencionalidade levanta a questão: de onde vem a normatividade da função? Por outro lado, as noções teleológicas não são compatíveis com o naturalismo. Um princípio central do naturalismo é excluir a teleologia da compreensão dos fenômenos naturais, como destacado desde Descartes. Logo, devemos explicar a origem da normatividade da função de uma maneira naturalista—isto é, devemos naturalizar o conceito de função.
Para os artefatos, explicar sua função é direto. Um artefato é projetado para realizar uma função específica. Por exemplo, uma cafeteira é projetada para fazer café, e um martelo é projetado para impactar algo. Alguns sinais também adquirem sua função representacional adequada de maneira similar. Os humanos podem usar quaisquer correlações naturais observáveis para estabelecer relações representacionais. Por exemplo, as pessoas utilizam o número de anéis de uma árvore como sinal da sua idade, a fumaça como sinal de fogo, ou a mudança de cor das folhas como sinal de clima mais frio. Contudo, apelar às interpretações dos usuários apenas desloca a questão. Explicar o “sobre o que” da representação através da capacidade intencional da mente ainda nos deixa precisando de uma explicação sobre a intencionalidade da mente. A intencionalidade, característica marcante do mental, é justamente o que tentamos explicar desde o início.
Muitos naturalistas argumentam que a analogia entre representação e função se estende à explicação de sua normatividade. Eles usam a chamada teoria etiológica para dar conta da função, que remonta a Wright (1973). Em termos simples, uma função é um efeito para o qual um traço ou item foi selecionado no passado. Ou seja, um traço ou item existe devido ao efeito que produziu no passado. Formalmente: “...para que um item A tenha uma função F como 'função própria', é necessário (e quase suficiente) que... A tenha se originado como uma 'reprodução' (para dar um exemplo, uma cópia, uma cópia de uma cópia) de algum item ou itens anteriores que, devido em parte à posse das propriedades reproduzidas, realmente produziram F no passado, e A existe por causa (causalmente, historicamente) desse ou desses desempenhos” (Millikan 1989b, p. 288).
Já que uma função própria é definida como um efeito selecionado no passado, essa explicação é também chamada de teoria dos efeitos selecionados. Por exemplo, um detector de metais é membro de uma família reprodutiva de detectores de metais com a propriedade de detectar metais, e o detector existe devido à sua capacidade de detectar metais. Da mesma forma, um coração é membro de uma família reprodutiva de corações que têm a propriedade de bombear sangue, e ele existe por causa dessa função. Uma vantagem imediata dessa teoria é que ela evita um dos problemas metafísicos mais desafiadores que as explicações teleológicas enfrentam: o problema de eventos futuros causarem eventos presentes, uma inversão temporal de causa e efeito. Um detector de metais tem a função própria de detectar metal porque o mesmo tipo de mecanismo produziu esse efeito no passado e foi selecionado por projetistas para reproduzi-lo.
Ao contrário dos artefatos, cujas funções próprias são selecionadas por projetistas, não há designer para as funções próprias dos traços biológicos. Os efeitos como funções próprias dos traços biológicos foram selecionados pela seleção natural. Um efeito é a função própria de um traço biológico se o genótipo responsável por esse traço foi selecionado para produzir o efeito porque ele contribui para a aptidão inclusiva dos ancestrais do organismo. A aptidão inclusiva é medida pelo número de descendentes que um organismo reproduz. Uma vez que a seleção natural é um processo puramente mecanicista, não há intenção ou interpretação prévia, e o conceito de função é naturalizado pela teoria dos efeitos selecionados.
A representação como um tipo de função própria também pode ser naturalizada da mesma maneira. Representar um tipo de evento é a função própria de um sinal porque contribui para a aptidão inclusiva dos usuários do sinal. Ou seja, usuários que usaram o sinal para representar o evento tinham maior aptidão inclusiva, e assim o evento representado foi selecionado pela seleção natural. Como resultado, o referente do sinal foi determinado nesse processo evolutivo, sem recorrer a quaisquer outros processos teleológicos. Essa família de teorias, baseada na explicação dos efeitos selecionados da função, é conhecida como telosemântica. Ela explica a normatividade do significado. No entanto, não está livre de desafios. Principalmente, existem três tipos de objeções à teoria dos efeitos selecionados do significado: (1) a história de seleção não é necessária para dar conta de uma função (a objeção do homem-pântano); (2) a história de seleção não é suficiente para explicar uma função (a objeção da indeterminação epistemológica); (3) é difícil explicar casos sofisticados de função (a objeção sofisticada) (Neander 1995; Allen e Neal 2020; Schulte e Neander 2022).
O "homem-pântano" é uma réplica física perfeita de Davidson, sem história de vida, surgindo de um evento físico puramente acidental (Davidson 1987)—um raio atinge um pântano. É difícil negar que o coração do homem-pântano tem a função de bombear sangue porque ele produz o mesmo efeito que o coração de Davidson. Da mesma forma, os estados cerebrais do homem-pântano realizam as mesmas representações mentais que os estados cerebrais de Davidson, mesmo que o homem-pântano não tenha história de seleção. Portanto, a história de seleção não é necessária para que a intencionalidade seja uma função. Metafisicamente, a história de seleção de um organismo pode determinar uma função, como argumentamos. No entanto, às vezes é fácil determinar a(s) função(ões) de um traço biológico sem conhecer sua história de seleção; em outras ocasiões, é difícil compreender a função de um traço apenas pela história de seleção. Por exemplo, as pessoas sabiam que a função do coração era bombear sangue muito antes de entenderem que era resultado da seleção natural. Peixes que vivem em cavernas sem luz possuem olhos, que originalmente foram selecionados para a visão, mas que agora não servem mais para essa função. Da mesma forma, o apêndice humano foi selecionado para digerir folhas, mas não desempenha mais essa função. Assim, saber a história de seleção de um traço não é nem necessário nem suficiente para entender sua função. Frequentemente, é epistemologicamente difícil determinar a função de um traço biológico apenas considerando sua história de seleção.
A objeção dos casos sofisticados argumenta que a teoria dos efeitos selecionados é simplista e ingênua para explicar casos sofisticados de funções e significado. Por um lado, a teoria dos efeitos selecionados depende de uma visão excessivamente simplificada da evolução pela seleção natural, enquanto os mecanismos reais da evolução são muito mais complexos (Christie et al. 2022). Por outro lado, um traço pode ter mais de uma função, e a função que ele atualmente desempenha pode não ser a mesma que foi selecionada em sua história evolutiva. Por exemplo, as asas dos pássaros servem tanto para voar quanto para manter o calor. Embora as asas dos pássaros tenham sido selecionadas para o voo, as asas dos pinguins não servem mais para esse fim.
Como a Informação Evolui na Natureza: Da Auto-Organização à Comunicação Biológica
A questão da evolução da informação não pode ser abordada sem considerar os diferentes níveis de complexidade nos sistemas biológicos. No âmago dessa questão, encontra-se a capacidade dos organismos para gerar, processar e utilizar informações de maneiras cada vez mais sofisticadas. A emergência da comunicação, o papel da autopoiese e a evolução da semântica informacional são aspectos centrais nesse processo.
A teoria do ciclo hipercomplexo, desenvolvida por Eigen e Schuster (1979), exemplifica a ideia de que sistemas biológicos podem organizar-se de forma espontânea, formando ciclos de retroalimentação que favorecem a auto-organização e a evolução de processos biológicos complexos. Este conceito de auto-organização não deve ser visto apenas como um fenômeno físico ou químico, mas como uma propriedade fundamental da vida, que permite a adaptação e evolução de sistemas diante de desafios ambientais.
O conceito de "informação" é crucial neste contexto. Segundo Floridi (2010), a informação pode ser entendida como um bem fundamental para os processos de cognicão e adaptação dos seres vivos. Mas a informação não é apenas um conceito abstrato; ela tem implicações práticas para a biologia, especialmente quando se trata de como os organismos a utilizam para regular seus processos internos e interagir com o ambiente. A informação, em um nível biológico, não é apenas uma transmissão de dados, mas uma maneira de organizar e estruturar a vida de forma funcional.
A evolução das formas de comunicação entre organismos, incluindo as formas simbólicas, é um aspecto relevante a ser considerado. A teoria dos jogos, discutida por Huttegger (2014) e outros, mostra como a evolução dos sistemas de sinalização (comunicação entre indivíduos de uma espécie) pode ser entendida como um processo de seleção, no qual certos sinais tornam-se mais prevalentes devido ao seu valor adaptativo. Este processo é um exemplo claro de como a informação e seu significado são selecionados no contexto da interação social e ambiental.
Além disso, o trabalho de Godfrey-Smith (2012) sobre a biologia da informação explora como os sistemas biológicos não apenas transmitem informação, mas também a interpretam, processam e reagem a ela de maneiras que favorecem a sobrevivência e reprodução. A noção de que a informação biológica não se limita à codificação genética, mas se estende à forma como os organismos interagem com o mundo ao seu redor, é central para entender a evolução da vida.
Na esfera das interações entre organismos e seus ambientes, a capacidade de processar e usar informações corretamente pode determinar o sucesso evolutivo. O conceito de affordance, discutido por Heras-Escribano (2020), é um exemplo de como os organismos percebem e interagem com o mundo ao seu redor, de acordo com as informações que o ambiente oferece. Este conceito, que origina-se da psicologia ecológica, mostra como a percepção de um organismo sobre o que é "possível" em seu ambiente está diretamente ligada à capacidade de processar a informação disponível de maneira eficiente.
Além da evolução da comunicação, o papel da semântica também merece destaque. A semântica, como campo de estudo, trata do significado das informações e como elas são interpretadas e utilizadas pelos organismos. Como argumenta Fodor (1990), o estudo do conteúdo e do significado da informação é uma das chaves para entender não apenas a comunicação entre seres vivos, mas também a natureza da própria vida. O significado, no caso, não é algo dado ou fixo; ele emerge das interações e adaptações dos organismos em um dado contexto.
É importante também considerar que a evolução da informação nos sistemas biológicos não é linear nem predeterminada. Ela está fortemente ligada a processos de adaptação e seleção, nos quais os sinais e significados podem ser continuamente alterados conforme os organismos enfrentam novos desafios e exigências ambientais. Nesse contexto, a evolução da informação é não apenas um fenômeno adaptativo, mas um processo dinâmico e interativo, onde o significado emerge e se transforma à medida que os organismos interagem com seu ambiente e com outros organismos.
Dessa forma, a evolução da informação deve ser vista como um fenômeno complexo, que envolve não apenas a transmissão de dados, mas também a criação de significados, a adaptação aos ambientes, e a interação entre diferentes sistemas biológicos. É uma área onde a biologia, a filosofia, a semântica e a teoria da informação se cruzam, fornecendo uma base para a compreensão mais profunda da vida e da cognição. O estudo desses processos revela não apenas como a vida se organiza, mas também como ela se comunica, evolui e se adapta de maneira contínua e multifacetada.
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