A lubrificação a microquantidade de fluido criogênico, também conhecida como CMQL (Cryogenic Minimum Quantity Lubrication), é uma técnica inovadora que visa melhorar o processo de retificação, principalmente em materiais de alta dureza, como ligas de titânio. Um dos maiores desafios no processo de retificação é o controle eficiente da temperatura, que pode afetar tanto a qualidade da superfície quanto a vida útil das ferramentas de corte. A CMQL, com seu efeito único de resfriamento, tem sido estudada como uma solução para mitigar o aumento de temperatura na zona de corte durante a operação.

Quando o fluido de lubrificação criogênico entra em contato com a superfície de trabalho, ele absorve o calor gerado pela fricção entre a ferramenta abrasiva e o material da peça. De acordo com estudos experimentais [75, 76], a quantidade de calor absorvida pelas microbolhas geradas durante a evaporação do fluido pode ser expressa através de uma fórmula, que leva em consideração a temperatura de saturação do lubrificante, o ângulo de contato entre as bolhas e a superfície de trabalho, e outros parâmetros termodinâmicos. Quando o fluido atinge um determinado ponto de nucleação, ele forma microbolhas que crescem à medida que absorvem calor e eventualmente se desprendem da superfície, levando consigo a energia térmica.

A equação que descreve a quantidade de calor absorvida por uma única bolha é dada por:

Qd=ζbρgbQ_d = \zeta_b \cdot \rho_g \cdot b

Onde ζb\zeta_b é o calor latente da bolha e ρg\rho_g é a densidade do ar. Essa troca de calor entre a bolha e a superfície da peça resulta em uma redução da temperatura local, o que é essencial para controlar o processo de retificação e reduzir o desgaste da ferramenta.

A quantidade total de calor absorvido pelas bolhas na zona de retificação pode ser calculada multiplicando-se a quantidade de calor absorvida por cada bolha pela quantidade de bolhas presentes na superfície de trabalho. A equação que representa esse processo é a seguinte:

Qb=NbwlcQdQ_b = N_b \cdot w \cdot l_c \cdot Q_d

Aqui, NbN_b é o número de pontos de nucleação na superfície, ww é a largura da zona de retificação e lcl_c é o comprimento da zona de contato. Essa dinâmica de absorção de calor tem um efeito direto sobre o coeficiente de transferência de calor convectivo do filme de fluido que flui sobre a superfície da peça. Esse coeficiente está intimamente relacionado às propriedades físicas do lubrificante, como densidade, viscosidade e capacidade calorífica específica, além das condições de fluxo e temperatura.

Em termos práticos, a temperatura do fluido e a taxa de fluxo desempenham um papel crucial na eficiência da CMQL. Quando a temperatura do ar frio aumenta, o coeficiente de transferência de calor diminui, resultando em uma menor eficiência no resfriamento da peça e maior probabilidade de danos térmicos. Por outro lado, ao diminuir a temperatura do ar, observa-se um aumento no coeficiente de transferência de calor, proporcionando um melhor controle térmico e mantendo a temperatura da superfície da peça dentro de limites seguros.

Experimentos realizados com um sistema de lubrificação a microquantidade de fluido criogênico demonstraram que a diminuição da temperatura do ar cria uma película de fluido mais estável e uniforme, o que melhora a transferência de calor e reduz a temperatura excessiva na zona de retificação. Esse fenômeno é especialmente importante em processos como a retificação de ligas de titânio, que tendem a sofrer deformações térmicas e desgaste acelerado devido ao aumento de temperatura.

Além disso, o uso de sistemas de monitoramento em tempo real da temperatura da superfície da peça, como termopares e matrizes de furos cegos, permite uma análise precisa das condições térmicas durante a operação de retificação. Isso, por sua vez, possibilita ajustes dinâmicos na taxa de fluxo do fluido e na temperatura do ar para otimizar o processo em tempo real.

Por fim, é importante notar que a profundidade de retificação tem um impacto significativo na força de retificação, especialmente em condições de resfriamento a seco. O aumento da profundidade de retificação resulta em um aumento da força tangencial de retificação, já que há uma maior área de contato entre a ferramenta abrasiva e a peça, o que gera mais calor. Esse aumento de calor, sem um controle adequado da temperatura, pode comprometer a qualidade da superfície e reduzir a vida útil da ferramenta.

Em síntese, a lubrificação criogênica a microquantidade é uma técnica altamente eficaz para o controle térmico em processos de retificação. Ao manter a temperatura da superfície da peça controlada, ela não só melhora a eficiência do processo, mas também minimiza o desgaste da ferramenta e aumenta a qualidade do acabamento. No entanto, para garantir os melhores resultados, é fundamental compreender a interação entre as propriedades do fluido, a temperatura ambiente e os parâmetros de retificação.

Como Melhorar o Desempenho de Retificação de Ligas de Níquel: O Impacto dos Biolubrificantes e Nanopartículas

A liga Inconel 718 é amplamente utilizada em componentes de motores aeroespaciais devido à sua excepcional resistência ao calor e alta dureza. No entanto, sua usinabilidade representa um desafio significativo devido à baixa condutividade térmica e ao alto custo de ferramentas de corte, além de exigências específicas no processo de retificação. Diferentemente de ligas mais comuns, como o aço de alta resistência ou o titânio, o Inconel 718 exige cuidados especiais em sua usinagem para evitar o desgaste prematuro das ferramentas e garantir um desempenho ideal do processo.

Uma das abordagens mais eficazes para melhorar o desempenho da retificação de Inconel 718 é a aplicação de biolubrificantes, especialmente no contexto de Lubrificação Minimamente Quantificada (MQL). Estudos recentes demonstraram que o uso de óleos vegetais como óleos de palma, girassol, amendoim e arroz proporciona uma redução significativa no coeficiente de atrito (CoF) e na energia de retificação específica, quando comparado ao uso de lubrificação por inundação. Dentre esses óleos, o óleo de palma se destacou, oferecendo melhorias notáveis em termos de redução da força de retificação e CoF, além de apresentar uma viscosidade superior, o que contribui para um efeito de lubrificação mais duradouro.

O óleo de palma, com sua alta concentração de ácido palmítico (C16:0), um ácido graxo saturado, oferece vantagens em relação a óleos com ácidos graxos insaturados, como o ácido oleico e linoleico encontrados nos óleos de girassol e amendoim. A viscosidade mais alta do óleo de palma, que atinge 38 mPa·s a 40 °C, também é crucial para reduzir a fricção entre a ferramenta e a peça de trabalho, melhorando a eficiência do processo de retificação. Além disso, o uso de óleo de rícino, que contém o ácido ricinoleico, também demonstrou ser eficaz, reduzindo significativamente as forças de retificação normal e tangencial, devido à sua viscosidade extremamente alta (260 mPa·s a 40 °C) e à presença de um grupo polar -OH, que melhora a adesão do filme lubrificante.

A utilização de biolubrificantes pode ser ainda mais otimizada com a adição de nanopartículas. Experimentos com aditivos de Al2O3 (óxido de alumínio) e MoS2 (dissulfeto de molibdênio) em óleos vegetais têm mostrado resultados promissores, reduzindo o CoF e a energia de retificação específica. A adição de nanopartículas ao fluido de corte não apenas melhora as propriedades tribológicas, como também tem o efeito adicional de transformar o atrito deslizante em atrito rolante, minimizando o desgaste da ferramenta e melhorando o desempenho geral do processo.

Particularmente, as nanopartículas de Al2O3 têm se mostrado eficientes na melhoria da lubrificação, devido à sua alta dureza e ao efeito de "rolamento" que elas geram na interface de corte. Isso contribui para a redução da área de contato real entre a ferramenta e a peça de trabalho, o que, por sua vez, resulta em menores forças de retificação e menor desgaste da ferramenta. No entanto, é importante observar que a concentração de nanopartículas deve ser otimizada, pois concentrações excessivas podem levar à aglomeração, prejudicando o desempenho do biolubrificante.

Além da redução do CoF e da energia de retificação, o uso de biolubrificantes também impacta diretamente o desgaste da roda de retificação. O desgaste excessivo das ferramentas é uma das principais dificuldades no processo de usinagem de ligas de níquel, e a implementação de lubrificantes adequados pode prolongar significativamente a vida útil das rodas de retificação. O aumento do índice G (que relaciona o volume de material removido com o desgaste da ferramenta) foi observado com a utilização de óleos vegetais, particularmente com a adição de nanopartículas como o Al2O3.

Os benefícios observados com o uso de biolubrificantes e nanopartículas não se limitam apenas à melhoria no desempenho da retificação, mas também refletem um avanço significativo na sustentabilidade do processo de usinagem. A substituição de óleos sintéticos por biolubrificantes renováveis reduz os impactos ambientais associados ao uso de lubrificantes tradicionais e, ao mesmo tempo, contribui para a eficiência operacional.

Para o sucesso contínuo nesse campo, é crucial compreender as interações complexas entre os materiais utilizados, o tipo de biolubrificante, a presença de nanopartículas e as condições específicas de usinagem. As propriedades tribológicas de cada sistema devem ser ajustadas de forma precisa para garantir um desempenho ideal, equilibrando a redução de atrito e desgaste com a manutenção da eficiência térmica e da integridade das ferramentas.