O conceito de guerra não é mais restrito aos campos de batalha físicos. No mundo contemporâneo, as operações de influência, disfarçadas sob a forma de campanhas de desinformação, manipulação de narrativas e manipulação psicológica, tornaram-se uma parte integral das estratégias de guerra. A guerra moderna, frequentemente invisível aos olhos do grande público, é travada em diversas frentes, com ênfase especial na manipulação da percepção e na batalha pela verdade. Esse fenômeno é alimentado pela proliferação de tecnologias de comunicação que tornaram a informação uma das armas mais poderosas.
Na atualidade, a guerra informacional se apresenta não apenas como uma extensão das operações militares, mas também como uma forma de "guerra híbrida", onde as linhas entre estratégias militares e não-militares estão cada vez mais tênues. A "arte da guerra" de Sun Tzu, que enfatizava a enganação e a manipulação estratégica, reflete-se claramente nas modernas campanhas de influência. Assim, as operações de influência podem ser entendidas como um novo tipo de guerra, onde as ações psicológicas e a distorção da realidade tornam-se instrumentos essenciais para se atingir objetivos que, tradicionalmente, eram considerados fora do alcance de uma ação militar direta.
A questão central desse tipo de guerra não está apenas na capacidade de disseminar informações falsas, mas na construção e controle da narrativa. Em países como Taiwan, por exemplo, a disseminação de fake news e campanhas de desinformação têm sido usadas como um método para desacreditar a estabilidade política e social, criando divisões internas e enfraquecendo a confiança nas instituições. O uso de influências externas, seja por meio de governos ou atores privados, serve para desestabilizar nações e minar a confiança popular.
Ao mesmo tempo, a resistência a essas práticas está crescendo. O combate à desinformação envolve uma combinação de iniciativas de educação e políticas públicas para reforçar a resiliência das sociedades. Em Taiwan, o governo implementou programas educacionais voltados para o combate à fake news, ensinado jovens a identificar e resistir às notícias falsas. Tais medidas, embora eficazes a curto prazo, exigem uma constante adaptação, já que a natureza da guerra informacional evolui rapidamente com o avanço das tecnologias.
As ferramentas de guerra informacional, como a manipulação de redes sociais, os bots e as campanhas coordenadas online, têm o objetivo de alterar as percepções públicas e direcionar os comportamentos de grupos específicos. Isso pode ser feito através de influências discretas, como postagens de apoio a determinadas narrativas, ou mais agressivamente, por meio da criação de falsas evidências, vídeos manipulados e declarações oficiais falsas que circulam como verdades amplamente aceitas.
O combate a esse tipo de guerra exige uma integração cuidadosa de resiliência nas políticas de defesa. A defesa cibernética, por exemplo, não pode ser vista apenas como uma proteção contra hackers, mas também como uma forma de proteger a integridade das informações e a credibilidade das instituições governamentais e privadas. O fortalecimento das capacidades de contrainteligência e a promoção de uma mídia independente e bem-informada são igualmente cruciais para criar uma sociedade resistente à manipulação externa.
Em países como Singapura e Taiwan, os esforços para identificar e neutralizar os "agentes de influência" estrangeiros são intensificados. A vigilância sobre indivíduos e grupos que atuam para outros governos, utilizando meios de comunicação e plataformas digitais, se torna uma prioridade estratégica. Embora seja uma resposta legítima a uma ameaça crescente, também levanta questões sobre a liberdade de expressão e os limites da vigilância estatal.
A manipulação da informação não se limita a esferas políticas e militares. A guerra informacional impacta diretamente a vida cotidiana dos cidadãos. O controle da narrativa, a desinformação e a criação de "inimigos" imaginários servem como alavancas para criar um clima de desconfiança e medo. Por isso, a integridade da informação torna-se, cada vez mais, um campo de batalha crucial, não apenas para governos, mas também para indivíduos e organizações que buscam promover um debate público saudável.
A resistência a esse tipo de guerra não depende apenas das autoridades ou das elites tecnológicas. A participação ativa da sociedade civil, a conscientização sobre os perigos da desinformação e o envolvimento das gerações mais jovens no fortalecimento das capacidades críticas são elementos essenciais para garantir que a sociedade consiga enfrentar esse novo tipo de ameaça.
Embora seja impossível prever o futuro da guerra informacional com certeza, é claro que ela não desaparecerá. Ela mudará, evoluirá, mas sempre fará parte das estratégias de poder no cenário global. Por isso, é imprescindível que países, governos, organizações e cidadãos estejam preparados para lidar com essa realidade, desenvolvendo não apenas tecnologias avançadas para combater a desinformação, mas também uma cultura robusta de pensamento crítico e ceticismo saudável.
Como a Alemanha Está Combatendo a Desinformação Online
A desinformação online se espalha com uma velocidade impressionante, especialmente quando está associada a tópicos sensíveis como migração, segurança e política. No entanto, várias iniciativas têm surgido para lidar com esse fenômeno, e a Alemanha se destaca nesse esforço. Um exemplo disso é o projeto Hoaxmap, uma plataforma colaborativa que tem como objetivo criar um banco de dados de histórias falsas, muitas das quais envolvem crimes como furtos, roubos e violência sexualizada, bem como alegações infundadas sobre benefícios sociais. Um dos relatos mais comuns é o de que solicitantes de asilo recebam iPhones gratuitos ao serem realocados para abrigos. Outro exemplo frequentemente encontrado é a alegação de que refugiados são responsáveis pelo fechamento de supermercados devido a furtos em massa.
O objetivo do Hoaxmap é fornecer uma ferramenta que ajude as pessoas a identificarem e desmentirem esses rumores. O site oferece uma espécie de mapa interativo, no qual cada história falsa é registrada, acompanhada pela data de publicação, por links para artigos que refutam as alegações e uma categoria que descreve o conteúdo da notícia. Criado com base no trabalho voluntário, o Hoaxmap depende do apoio da comunidade para verificar histórias e fornecer informações corretas. O projeto foi expandido para a Alemanha, Áustria e Suíça, após solicitações de seus usuários, e serve como um recurso valioso tanto para jornalistas quanto para educadores que buscam combater a desinformação em suas respectivas áreas de atuação.
De maneira semelhante, iniciativas como o Mimikama e o Huhumylly, uma versão finlandesa do Hoaxmap, são fundamentais para o controle e prevenção da desinformação online. Essas plataformas também rely heavily em crowdsourcing, ou seja, no apoio do público para identificar e corrigir informações falsas que circulam principalmente em redes sociais. Desde fevereiro de 2016, o Hoaxmap já documentou 491 histórias falsas nesses três países, com a maioria dessas histórias sendo desmentida pela mídia local.
Além dessas iniciativas, o cenário de combate à desinformação na Alemanha tem se fortalecido com o crescimento de organizações de checagem de fatos. Um exemplo significativo é o projeto Echtjetzt, lançado em abril de 2017 pelo grupo de mídia sem fins lucrativos Correctiv.org. Esse projeto é o único parceiro de checagem de fatos do Facebook na Alemanha. A equipe, inicialmente composta por apenas quatro verificadores de fatos, dedica-se a investigar histórias virais nas plataformas sociais, bem como alegações feitas por políticos. O Echtjetzt, como outros projetos de checagem de fatos, é essencial para desmontar as alegações falsas que ganham força na esfera pública, especialmente no período pré-eleitoral.
No entanto, a eficácia desses projetos é limitada. Embora as iniciativas de checagem de fatos estejam crescendo, elas ainda não são capazes de acompanhar o volume de informações falsas que circulam nas redes sociais. A falta de financiamento e de recursos técnicos adequados dificulta a tarefa de verificar todas as histórias que precisam de atenção. Além disso, a colaboração com plataformas como o Facebook tem mostrado resultados modestos. Em um estudo feito após as eleições de 2017, o Echtjetzt constatou que a maioria da desinformação de conteúdo político não teve impacto significativo nos resultados eleitorais. No entanto, algumas histórias falsas se espalharam rapidamente, especialmente entre pequenos grupos de usuários, sem qualquer controle efetivo.
Além disso, deve-se notar que a desinformação não se limita a histórias virais que envolvem imigração ou políticas de asilo. Embora a mídia de serviço público da Alemanha, como a ARD e a ZDF, tenha criado suas próprias iniciativas de verificação de fatos, a eficácia dessas plataformas permanece limitada, uma vez que essas organizações não têm recursos suficientes para verificar uma grande quantidade de alegações. Além disso, a abordagem adotada por essas plataformas tende a focar principalmente em alegações feitas por políticos, deixando de lado outras áreas em que a desinformação pode ter um impacto considerável, como saúde, ciência e segurança pública.
A situação legal na Alemanha também tem sido um ponto de discussão. Em 2017, foi introduzida a "Netzwerkdurchsetzungsgesetz" (Lei de Aplicação de Redes), que exige que plataformas de mídia social com mais de dois milhões de usuários na Alemanha removam conteúdos ilegalmente postados dentro de 24 horas, sob pena de multas de até cinco milhões de euros. Embora a lei tenha sido vista como uma medida contra as notícias falsas, ela abrange principalmente discurso de ódio e incitação à violência, com apenas uma parte relacionada à desinformação. Críticos alertam que isso pode resultar em uma censura excessiva, onde conteúdos controversos, mas legais, podem ser removidos indevidamente, ou "bloqueio excessivo" como se diz na prática.
Embora a implementação dessa lei tenha sido mais lenta do que o esperado, é um reflexo do esforço do governo alemão para lidar com a crescente ameaça da desinformação. No entanto, ainda não se sabe ao certo se tais legislações terão um impacto real na redução da propagação de fake news, especialmente devido às dificuldades de monitoramento e verificação que surgem com o grande volume de conteúdo gerado diariamente pelas redes sociais.
O panorama geral da desinformação na Alemanha e em outros países europeus deixa claro que a luta contra notícias falsas não se limita apenas ao trabalho de jornalistas e verificadores de fatos, mas envolve um esforço colaborativo entre organizações não governamentais, empresas de mídia e, principalmente, os próprios cidadãos. A participação ativa da população na identificação e correção de desinformações é crucial, pois apenas com a colaboração de todos será possível controlar a propagação dessas notícias prejudiciais. É importante, portanto, que cada indivíduo se torne mais consciente de sua responsabilidade ao consumir e compartilhar informações, especialmente nas redes sociais, onde o poder de amplificar narrativas falsas é enorme.

Deutsch
Francais
Nederlands
Svenska
Norsk
Dansk
Suomi
Espanol
Italiano
Portugues
Magyar
Polski
Cestina
Русский