Campanhas políticas de grande escala costumam reunir uma vasta gama de especialistas e estrategistas, como analistas de comerciais televisivos, gurus de pesquisas e conselheiros experientes. Essa multiplicidade de talentos pode gerar uma sofisticada estratégia, contudo, exige disciplina rigorosa para evitar a confusão interna e a competição destrutiva. Quando o grupo é grande, é comum que surjam conflitos internos que podem anular o benefício da diversidade de ideias. Para manter a coesão, seria necessário um líder com a autoridade e o carisma de um novo David Axelrod, figura emblemática que conseguiu centralizar a coordenação de uma equipe multifacetada. No entanto, relatos indicam que, em certas campanhas, a falta dessa liderança firme resultou em mensagens fragmentadas e ausência de unidade, evidenciando o caos em vez da força.
Por outro lado, um modelo oposto é adotado por campanhas mais enxutas, nas quais o líder político se cerca de um círculo restrito e de absoluta confiança. No caso analisado, o candidato apostou em poucos colaboradores próximos, majoritariamente familiares, que lhe garantiam lealdade e alinhamento de visão. Essa escolha impacta não apenas na gestão da campanha, mas também na formulação das políticas posteriores. A participação direta de familiares na elaboração de discursos e decisões políticas denota uma centralização do poder e um estilo de liderança altamente personalista. Além disso, a inserção de conselheiros com perfis ideológicos fortes, como o estrategista populista e antissistêmico, molda a narrativa política com base em uma autenticidade muitas vezes construída pela rejeição de aparências e convenções tradicionais.
A figura desse estrategista, descrito como um "street fighter" que não se preocupa com a imagem, ressoa com um eleitorado que valoriza a percepção de genuinidade e identificação com a "pessoa comum". Essa autenticidade é parte fundamental do carisma político que desafia os padrões tradicionais e apela para segmentos específicos da população, sobretudo homens brancos da classe média baixa, criando uma visão limitada e excludente da nação. A campanha, portanto, não é apenas uma disputa eleitoral, mas também um campo de batalhas culturais e identitárias, onde o estilo e a composição da equipe refletem e reforçam determinadas visões de mundo.
Contrastando com isso, a equipe de outro líder autoritário histórico revela um perfil bastante distinto. Esse líder, caracterizado pelo isolamento social e pela desconfiança extrema, mantinha poucos vínculos pessoais além da família próxima. A comunicação e a coordenação política se davam por meio de canais restritos e fiéis, com grande dependência de colaboradores que compartilhavam sua origem ideológica inicial. A presença de uma amante e biógrafa, que também influenciou culturalmente o regime, mostra como a política e a cultura se entrelaçaram na construção do poder autoritário. A transformação de um movimento originalmente de esquerda para uma expressão da direita radical foi conduzida por assessores próximos, cuja lealdade e visão intransigente foram essenciais para a consolidação do regime.
A Marcha sobre Roma, por exemplo, demonstra como a liderança autoritária dependia de figuras-chave que representavam força e disciplina, forçando a legitimidade política a partir da demonstração de poder. A importância dessas figuras políticas não está apenas na execução das estratégias, mas também na representação simbólica da ordem e do controle. A morte de alguns desses colaboradores no auge da crise política mostra a intensidade do vínculo entre os líderes e seus assessores, e o papel decisivo que estes desempenhavam na sustentação do regime.
Compreender essas dinâmicas é fundamental para perceber que o sucesso político não reside apenas nas mensagens ou na popularidade, mas na estrutura interna da equipe, na disciplina da comunicação e na coesão ideológica. A composição das equipes e o estilo de liderança revelam muito sobre a natureza do poder exercido e as bases sociais e culturais que sustentam cada projeto político. A centralização, a confiança pessoal, e a capacidade de representar uma identidade coletiva específica são elementos que se entrelaçam para definir o alcance e a resiliência dos regimes e campanhas.
Além disso, o leitor deve estar atento ao fato de que a estrutura organizacional e o tipo de liderança influenciam diretamente as estratégias adotadas e os resultados obtidos. O desafio constante entre dispersão e centralização, entre inovação e controle, é um tema recorrente na política, e compreender essas tensões ajuda a interpretar não apenas campanhas eleitorais, mas também os modos pelos quais o poder é consolidado e exercido. A história mostra que a capacidade de articular equipes, gerir conflitos internos e apresentar uma imagem coerente ao público pode ser tão decisiva quanto o conteúdo das políticas defendidas.
Como o Fascismo Construiu sua Coesão Interna e Manteve o Poder na Itália
A fundação do Partido Nacional Fascista, realizada em novembro de 1921 no Teatro Augusteo em Roma, marcou a transição do fascismo de um movimento disperso para uma organização política estruturada e consolidada. O evento, inicialmente recebido com indiferença pela população da capital, rapidamente transformou-se em palco de confrontos violentos entre fascistas e forças policiais, resultando em mortos e feridos. Apesar das tensões, a unanimidade da convenção em apoiar Mussolini como Duce dos Fascistas consolidou sua liderança incontestável, estabelecendo as bases para a estrutura rígida que organizaria o partido nas décadas seguintes.
Com a formalização do partido, Mussolini não apenas coibiu os elementos mais indisciplinados e radicais — os “squadristi ras” —, mas também fortaleceu sua posição pessoal ao construir alianças políticas estratégicas com figuras influentes do Parlamento, como Giolitti e Orlando. Essa liberdade de atuação permitiu-lhe manipular o partido tanto como um instrumento de poder quanto como uma rede de controle social, agindo com autonomia e impondo disciplina conforme seus interesses. Mesmo as resistências internas, como as representadas por Roberto Farinacci, foram geridas com habilidade política, mantendo-os isolados e convocados apenas quando necessários.
A organização interna do Partido Fascista era uma complexa pirâmide burocrática que refletia a centralização do poder em Mussolini. No topo, o Duce dirigia um Diretório liderado pelo Secretário Geral Michele Bianchi e o Secretário Administrativo Giovanni Marinelli, enquanto o Conselho Nacional supervisionava as associações afins, como sindicatos e grupos empresariais. Esse aparato era replicado nas federações provinciais, municipais e locais, criando uma estrutura em grelha que envolvia cada membro — os “gerarcas” — sob vigilância constante, com comitês disciplinares encarregados de expulsar dissidentes em todos os níveis. A existência de uma hierarquia tão meticulosamente articulada assegurava que o partido funcionasse simultaneamente como um organismo político e um sistema de vigilância interna.
Apesar dessa institucionalização, Mussolini mantinha desconfiança permanente em relação ao aparato partidário, evitando que os cargos governamentais fossem preenchidos exclusivamente por membros do partido. Sua substituição dos secretários de maior competência por indivíduos submissos, como Achille Starace, evidencia sua estratégia de controlar o partido por meio de uma liderança submissa, garantindo que a máquina fascista estivesse subordinada à sua vontade pessoal, sem risco de autonomia ou dissidência interna significativa.
No período anterior à Marcha sobre Roma, as motivações que mantinham os fascistas unidos iam além das experiências de combate e do passado de violência política. A conexão entre veteranos da Primeira Guerra Mundial, legionários de Fiume e squadristas convergia para uma visão coletiva que se alimentava de um sentimento de renovação nacional, restauração da ordem e rejeição dos sistemas políticos tradicionais. Essa visão, embora vaga e permeada por elementos nacionalistas e autoritários, oferecia coesão ideológica suficiente para galvanizar o movimento rumo ao poder, moldando uma narrativa de futuro que justificava a radicalização e a militarização da ação política.
É fundamental entender que o fascismo não apenas se consolidou através da violência e do carisma pessoal de Mussolini, mas sobretudo mediante a construção de uma máquina política complexa que misturava burocracia, controle social e manipulação ideológica. A ausência de uma estrutura partidária democrática e a supremacia do líder criaram uma dinâmica de poder que minava a pluralidade política e suprimia a dissidência, caracterizando o fascismo como um regime profundamente autoritário, embora disfarçado inicialmente sob a aparência de ordem e modernidade.
Além disso, o contexto histórico italiano — marcado por instabilidade, crises econômicas e medo do comunismo — forneceu terreno fértil para que essa forma de política autoritária emergisse como uma “solução” para a fragmentação social e política. O fascismo, assim, tornou-se não apenas uma reação a esses problemas, mas também uma ideologia que procurava remodelar a sociedade de maneira totalitária, impondo uma unidade forçada e eliminando o pluralismo.
O que realmente une Mussolini e Trump? Reflexões sobre poder, mídia e medo coletivo
A comparação entre Donald Trump e Benito Mussolini, apesar de anacrônica em termos históricos e socioeconômicos, revela paralelos desconcertantes quando se observa suas personalidades, estratégias de comunicação, relação com o poder e manipulação do medo popular. A década de 1920, da qual Mussolini emergiu, foi marcada por uma Europa em frangalhos, com dinastias imperiais colapsadas, hiperinflação em países como a Alemanha e uma instabilidade política que abriu caminho para extremismos — de um lado o comunismo e, do outro, o fascismo nascente. Foi um tempo em que os partidos moderados viam os extremistas como contrapeso e, ao negligenciarem os riscos, acabaram por alimentar o totalitarismo.
Nos Estados Unidos do pós-crise de 2008, que antecedeu a eleição de Trump, o cenário era outro: recuperação econômica em curso, estabilidade institucional, mas uma crescente divisão ideológica, com tons emocionais que remontavam aos tempos da Guerra Civil. A economia crescia, mas o tecido social se desgastava silenciosamente. Uma nova ansiedade tomava forma, especialmente entre segmentos da população branca com baixa escolaridade, temerosos de perder sua identidade e posição social diante das transformações demográficas e culturais inevitáveis. Nesse contexto, a retórica xenófoba de Trump encontrou eco.
Como Mussolini, Trump explorou medos latentes e ressentimentos coletivos. Os imigrantes passaram a ocupar o lugar simbólico dos "inimigos internos" — papel que, nos anos 20, foi atribuído por Lenin aos capitalistas, por Mussolini aos comunistas e por Hitler aos judeus. Essa estratégia de identificar e atacar um "outro" serve como uma forma de canalizar a frustração social para fora do sistema político, mantendo intocadas as estruturas que perpetuam o próprio mal-estar.
A semelhança se acentua ainda mais no domínio da comunicação política. Mussolini utilizou com eficiência o rádio, o cinema e os cinejornais como ferramentas de propaganda estatal, numa Itália onde a liberdade de imprensa foi rapidamente suprimida. Trump, por sua vez, entendeu o poder das redes sociais antes de seus adversários. O Twitter lhe permitiu escapar da mediação da imprensa tradicional, falando diretamente com suas bases, moldando uma narrativa paralela que se alimenta da desinformação. E enquanto Mussolini controlava rigidamente o conteúdo difundido, Trump criou uma simbiose quase perfeita com canais como a Fox News, onde o entretenimento político se confunde com doutrinação.
Mas talvez seja no culto à personalidade que a comparação se torne mais perturbadora. Ambos são figuras messiânicas, autocentradas, que se veem como salvadores indispensáveis. Ambos desprezam a crítica, exigem lealdade incondicional e cultivam uma imagem pública cuidadosamente construída. Mussolini, no entanto, era intelectualmente mais sofisticado — leitor voraz, multilíngue, jornalista de formação. Trump, ao contrário, exibe um desinteresse ativo pela leitura, pela história e até pela própria língua que fala, privilegiando a performance e a emoção sobre o conteúdo.
Essa relação visceral com a imagem e o espetáculo se revela nos comícios multitudinários — instrumento clássico de manipulação de massas — onde tanto Mussolini quanto Trump encontram seu habitat natural. O palco, a claque, o discurso hipnótico: tudo serve para consolidar a percepção de força e unidade em torno do líder, mesmo que baseada em ilusões cuidadosamente alimentadas.
A questão da misoginia não é apenas um traço pessoal, mas sim um reflexo da relação que ambos mantêm com o poder. Seus históricos de abuso e objetificação de mulheres revelam uma dinâmica de dominação que vai além da política e adentra a esfera íntima, como uma extensão do desejo de controle absoluto. No caso de Trump, as evidências são gravadas; no de Mussolini, documentadas com espantosa frequência. Ainda que outros líderes históricos tenham tido vidas amorosas tumultuadas, em Trump e Mussolini o sexo parece ser menos sobre desejo e mais sobre conquista — uma reafirmação simbólica da própria supremacia.
Ambos também partilham a ilusão de autossuficiência nacional como pilar de sua visão de mundo. Mussolini, com sua busca por autarquia econômica, levou a Itália ao desastre. Trump, com sua retórica de "Make America Great Again", tentou resgatar uma industrialização perdida à força de tarifas e slogans. Mas o que ambos ignoraram é que a interdependência global é, hoje, um fato estrutural — resistir a ela sem estratégia resulta em isolamento e ineficiência. A tentativa de retroceder para uma economia fechada é, no fundo, um gesto simbólico de negação da complexidade contemporânea, uma fantasia de controle absoluto num mundo onde o poder é, cada vez mais, difuso e relacional.
É crucial entender que, embora Trump não tenha instaurado uma ditadura nem suprimido as instituições democráticas americanas, os paralelos com líderes autoritários do século XX revelam mais do que coincidências estilísticas. Eles expõem padrões psicológicos e mecanismos de dominação recorrentes, que podem emergir sempre que o medo coletivo supera a razão, e quando as democracias se mostram incapazes de responder às ansiedades reais da população. Não se trata apenas de Trump ou Mussolini — mas do terreno fértil que sociedades polarizadas e mal informadas oferecem ao autoritarismo sob novas roupagens.

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