Agentes anticolinérgicos como tropicamida, atropina e ciclopentolato induzem a dilatação pupilar ao inibir o músculo constritor parasimpático e ao provocar a cicloplegia. A tropicamida 0,5% ou 1,0% é um agente de ação curta com poucos efeitos adversos. Já a atropina e o ciclopentolato inibem diretamente a ação da acetilcolina sobre os músculos lisos da íris e do corpo ciliar. Esses medicamentos são utilizados para dilatar a pupila e bloquear o efeito acomodativo do músculo ciliar, permitindo uma exame intraocular sem constrição pupilar, além de possibilitar a determinação do estado refrativo do olho sem interferência da acomodação.

Embora esses agentes sejam eficazes para exames oculares, seus efeitos colaterais podem ser significativos. Os efeitos adversos relatados incluem glaucoma de ângulo fechado, problemas cardiopulmonares e efeitos no sistema nervoso central. Crianças prematuras, indivíduos com deficiências neurológicas e distúrbios convulsivos possuem maior risco de efeitos sistêmicos. No caso de prematuros, o uso de ciclopentolato pode desencadear apneia e bradicardia. O uso de anticolinérgicos deve ser feito com cautela em neonatos e lactentes. Além disso, mulheres, crianças com pele clara e indivíduos com síndrome de Down podem ser mais propensos à toxicidade da atropina. A toxicidade sistêmica dos anticolinérgicos inclui boca seca, diminuição da transpiração, hipertermia, erupções cutâneas, taquicardia, retenção urinária e alterações comportamentais. Há relatos de complicações fatais, especialmente com doses tópicas que não são mais recomendadas.

A solução de ciclopentolato a 2% apresenta maior risco de efeitos adversos, sendo que casos de convulsões foram registrados, inclusive em crianças sem histórico de crises, após a aplicação tópica padrão de ciclopentolato a 1%. Da mesma forma, o uso tópico de atropina a 1% aumentou a frequência de convulsões em uma criança de 3 anos. Embora o risco de efeitos graves seja relativamente baixo, com apenas de 2 a 10 episódios por 1,6 milhões de exposições, os profissionais devem estar cientes dos riscos, principalmente em crianças com condições neurológicas.

Preservativos têm sido adicionados aos colírios para evitar a contaminação microbiana, com o cloreto de benzalcônio sendo o mais comum. No entanto, esse conservante pode desestabilizar a camada lipídica do filme lacrimal e aumentar a evaporação das lágrimas, tornando os sinais de toxicidade ocular mais frequentes quando comparados aos colírios sem conservantes. Sintomas como ardor, sensação de corpo estranho, lacrimejamento e coceira são comuns, e a queratite pontuada superficial pode ocorrer, indicando danos epiteliais. O uso crônico de colírios contendo conservantes, como em tratamentos para glaucoma, pode diminuir o tempo de ruptura das lágrimas e aumentar a coloração pontuada da córnea.

A miopia, que afeta cerca de 80 milhões de crianças no mundo, pode ser tratada com atropina 1%, que demonstrou reduzir a progressão dessa condição, embora com efeitos colaterais como hipocomodação e fotossensibilidade. Outras opções incluem pirenzepina, um antagonista do receptor M1, utilizado na Europa para tratar dispepsia, que mostrou reduzir a progressão da miopia em 40% em um estudo com 174 crianças. A atropina em concentrações mais baixas, como a 0,05%, também tem mostrado bons resultados, com menos efeitos colaterais, conforme o estudo LAMP. A atropina 0,01% também é eficaz, embora a regressão ocorra após a interrupção do uso.

No caso das alergias oculares, a combinação de vasoconstritores, anti-histamínicos, estabilizadores de mastócitos, anti-inflamatórios não esteroides e esteróides pode ser utilizada. As preparações de venda livre contêm agentes simpatomiméticos para vasoconstrição α-adrenérgica, mas o uso oral acidental pode causar complicações graves, como hipotermia, hipoglicemia e depressão respiratória. Agentes como ketotifeno 0,025% e olopatadina 0,1% são eficazes na combinação de anti-histamínico e estabilizador de mastócitos. Esteróides tópicos podem ser usados por curtos períodos, mas o uso prolongado é problemático devido aos efeitos adversos, como catarata induzida por esteróides e glaucoma. A conjuntivite vernal, uma forma rara de alergia ocular em crianças e jovens adultos, pode exigir terapias de prescrição e pode resultar em complicações graves, como a obliteração dos ductos lacrimais e ceratite seca severa. O uso de ciclosporina tópica tem mostrado eficácia no tratamento de conjuntivite vernal sem complicações.

O uso de esteróides na pediatria deve ser feito com cautela, pois pode induzir hipertensão ocular, uma complicação bem documentada. A pressão intraocular pode aumentar significativamente após o uso de esteróides, com riscos maiores em crianças devido à imaturidade do trabeculado e menor capacidade de drenagem ocular. Glaucoma e buphthalmos podem ocorrer em recém-nascidos após o uso tópico de esteróides, e a suspensão precoce dos mesmos é a única forma de reverter esses efeitos.

O risco de complicações graves exige que os profissionais de saúde estejam atentos ao histórico e características individuais de cada paciente. Em crianças, o uso de medicamentos tópicos deve ser monitorado de perto, especialmente quando envolvem substâncias que afetam a função ocular, como anticolinérgicos e esteróides. A decisão sobre o tratamento deve sempre levar em consideração os potenciais benefícios e os riscos, adaptando-se às necessidades específicas de cada criança.

Imipenem e Meropenem: Diferenças, Mecanismos de Ação e Aplicações Clínicas

Imipenem e meropenem são dois antibióticos da classe dos carbapenêmicos, utilizados no tratamento de infecções graves causadas por uma ampla gama de organismos bacterianos. Embora ambos compartilhem a capacidade de inibir a síntese da parede celular bacteriana, suas diferenças estruturais e farmacocinéticas resultam em características únicas de eficácia e segurança.

Imipenem, em comparação com outros antibióticos β-lactâmicos, possui uma cadeia lateral em configuração trans, o que contribui para sua estabilidade frente às β-lactamases. Esse aspecto estrutural é fundamental para a eficácia do imipenem contra uma variedade de organismos gram-positivos e gram-negativos. Especificamente, ele é eficaz contra estreptococos, incluindo as cepas resistentes à penicilina de S. pneumoniae, bem como contra S. aureus suscetíveis à meticilina e cepas sensíveis à penicilina de Enterococcus faecalis. No entanto, sua atividade contra enterococos é bacteriostática, não bactericida, assim como ocorre com as penicilinas.

Em relação aos organismos gram-negativos, o imipenem é ativo contra membros da família Enterobacteriaceae, incluindo produtores de ESBL (β-lactamase de espectro estendido), e também contra Pseudomonas aeruginosa, incluindo cepas resistentes a penicilinas antipseudomonais e cefalosporinas. No entanto, S. maltophilia e algumas cepas de Burkholderia cepacia são resistentes ao imipenem. No que diz respeito aos anaeróbios, o imipenem é eficaz contra uma ampla gama de espécies, como Peptococcus, B. fragilis e Clostridium (exceto C. difficile).

O mecanismo de ação do imipenem envolve a ligação com alta afinidade às proteínas de ligação à penicilina (PBPs) em organismos gram-positivos e gram-negativos. Ele se destaca pela afinidade por PBP2 em organismos gram-negativos, enquanto apresenta menor afinidade por PBP1. Além disso, o imipenem não é hidrolisado pela maioria das β-lactamases, incluindo penicilinasas e cefalosporinases, mas pode ser degradado pela β-lactamase de S. maltophilia, algumas enzimas de Bacillus e Bacteroides. Sua farmacocinética envolve a metabolização renal, o que torna necessário o uso combinado com cilastatina, um inibidor da dehidropeptidase-1. A combinação com cilastatina também reduz a nefrotoxicidade do imipenem.

No entanto, o uso de imipenem está associado a alguns efeitos adversos, com náuseas e vômitos sendo os mais comuns. Ele pode também causar elevações nas enzimas hepáticas e leucopenia. Embora as convulsões sejam raras, elas podem ocorrer, especialmente em pacientes com distúrbios neurológicos ou função renal comprometida. Para esses pacientes, ajustes na dosagem são essenciais.

Meropenem, por outro lado, apresenta uma estrutura ligeiramente diferente, possuindo um derivado dimetilcarbamóilo na posição 2 do anel, em vez do grupo N-formidil encontrado no imipenem. Isso confere ao meropenem uma maior estabilidade frente à dehidropeptidase-1, o que significa que não necessita da combinação com cilastatina para prevenir a inativação do fármaco nos rins. A eficácia de meropenem é similar à do imipenem, mas ele tende a ser ligeiramente mais ativo contra bactérias gram-negativas, incluindo algumas cepas de P. aeruginosa resistentes ao imipenem.

O meropenem também apresenta um mecanismo de ação semelhante ao do imipenem, ligando-se a diversas PBPs, particularmente em E. coli e P. aeruginosa. Sua capacidade de penetrar melhor nas membranas das bactérias gram-negativas o torna uma opção vantajosa contra infecções mais resistentes. Em termos de resistência, o meropenem é resistente à maioria das β-lactamases, incluindo as de S. maltophilia. Contudo, ele não se liga eficientemente às PBPs de Enterococcus faecium, o que torna este organismo naturalmente resistente ao fármaco.

Do ponto de vista farmacocinético, o meropenem não é afetado pela dehidropeptidase renal, o que facilita seu uso sem a necessidade de combinação com inibidores. Esse fármaco tem sido aprovado para o tratamento de meningite em crianças, com estudos mostrando que ele não aumenta a incidência de convulsões, um efeito adverso que, no caso do imipenem, pode ser mais prevalente. Além disso, meropenem tem sido usado para tratar exacerbações pulmonares em pacientes com fibrose cística, com resistência ao fármaco sendo rara.

Quanto aos efeitos adversos, os relatos mais comuns de meropenem incluem diarreia, erupções cutâneas e náuseas. Pacientes com meningite podem apresentar monilíase ou glossite, mas, em geral, o perfil de efeitos colaterais do meropenem é considerado mais favorável em comparação ao imipenem, especialmente em termos de segurança no sistema nervoso central.

Em relação à dosagem, para crianças com mais de três meses, a dosagem recomendada de meropenem varia conforme a infecção tratada, sendo de 10 mg/kg a cada 8 horas para infecções complicadas da pele e 40 mg/kg a cada 8 horas para meningite. Não há experiência com o uso do meropenem em pacientes pediátricos com insuficiência renal.

A escolha entre imipenem e meropenem deve ser baseada em fatores como o tipo de infecção, a presença de resistência bacteriana local e o perfil do paciente. Ambos os fármacos têm papel crucial no tratamento de infecções graves, especialmente em ambientes hospitalares, mas suas particularidades farmacológicas e de segurança influenciam diretamente na decisão terapêutica.

É importante que os clínicos estejam atentos à possível resistência emergente, especialmente em organismos como S. maltophilia e P. aeruginosa, que podem desenvolver resistência durante o tratamento. A abordagem clínica deve ser sempre contextualizada com as características do paciente e as informações microbiológicas mais recentes, garantindo que a escolha do antibiótico seja a mais adequada.

Qual é o papel do cloranfenicol no tratamento de infecções bacterianas graves e por que seu uso é limitado hoje em dia?

O cloranfenicol é um antibiótico de amplo espectro com um histórico importante no tratamento de diversas infecções bacterianas graves. Em tempos passados, ele foi amplamente utilizado no tratamento de crianças com infecções sérias, como meningite, devido à sua excelente difusão em todos os fluidos corporais, incluindo o líquido cefalorraquidiano (LCR), humor vítreo e fluido sinovial. Isso tornava o cloranfenicol particularmente útil no tratamento de meningites, oftalmite bacteriana e artrite séptica, já que suas concentrações no LCR eram de 0,5 a 0,66 da concentração sérica, o que conferia uma eficácia considerável.

Além disso, o cloranfenicol possui a capacidade de penetrar em leucócitos e tecidos, tornando-o útil no tratamento de febre tifoide e infecções em pacientes com doença granulomatosa crônica. A penetração do cloranfenicol no sistema nervoso central (SNC) é superior à de qualquer outro antibiótico devido à sua alta solubilidade lipídica. Níveis de cloranfenicol no tecido cerebral podem ser até nove vezes maiores do que os níveis simultâneos no sangue. Essa propriedade, aliada ao fato de que as bactérias anaeróbicas estão quase sempre presentes em abscessos cerebrais, fazia do cloranfenicol um antimicrobiano ideal para o tratamento dessas infecções.

No entanto, com o tempo, o cloranfenicol perdeu a predominância no tratamento de diversas infecções, sendo substituído por antibióticos mais seguros e eficazes. Atualmente, o cloranfenicol é indicado principalmente para o tratamento de febre tifoide em áreas onde o custo e a disponibilidade tornam esse medicamento a melhor opção para infecções causadas por cepas suscetíveis de Salmonella typhi. Ainda assim, a terapia com cloranfenicol deve ser restrita a condições onde os benefícios do medicamento superam os riscos potenciais de toxicidade, uma vez que efeitos adversos graves, como a síndrome do "poço cinza", podem ocorrer, especialmente em recém-nascidos.

Em relação a infecções por Haemophilus influenzae tipo b, o cloranfenicol já foi o medicamento de escolha, mas foi gradualmente substituído por ceftriaxona, um antibiótico de terceira geração, que oferece uma alternativa mais segura. O cloranfenicol também continua a ser uma boa opção para o tratamento de meningite meningocócica, embora em alguns casos de meningite pneumocócica, o tratamento com cloranfenicol possa ser insatisfatório, já que algumas cepas de Streptococcus pneumoniae são inibidas, mas não completamente eliminadas. Além disso, as cepas de S. pneumoniae resistentes à penicilina frequentemente são também resistentes ao cloranfenicol.

No que tange a infecções anaeróbicas, o cloranfenicol é altamente eficaz contra a maioria das bactérias anaeróbias, como Bacteroides fragilis. No entanto, existem outras alternativas igualmente eficazes e menos tóxicas, como o metronidazol para abscessos cerebrais e o clindamicina, cefoxitina e cefotetan para infecções intra-abdominais.

O uso de cloranfenicol em infecções causadas por Rickettsia, como a febre maculosa das Montanhas Rochosas e o tifo epidêmico, ainda é considerado útil em situações graves, especialmente quando o tratamento intravenoso é necessário, ou em mulheres grávidas e crianças menores de 8 anos. Contudo, as tetraciclinas, que são igualmente eficazes e menos tóxicas, geralmente são preferidas.

Em infecções entericas causadas por bacilos gram-negativos aeróbicos, o cloranfenicol pode ser eficaz, mas, como no caso de infecções por Pseudomonas aeruginosa, a escolha preferencial recai sobre aminoglicosídeos, como gentamicina ou tobramicina, ou cefalosporinas de terceira geração.

O cloranfenicol também tem sido utilizado no tratamento de infecções causadas por cepas resistentes de Enterococcus faecium, que mostram resistência a penicilinas, ampicilina e vancomicina. No entanto, outros antibióticos menos tóxicos, como linezolida e quinupristina-dalfopristina, estão disponíveis e são frequentemente preferidos.

Do ponto de vista farmacocinético, o cloranfenicol é altamente lipossolúvel, mas possui uma solubilidade aquosa limitada, o que leva à formação de ésteres que precisam ser hidrolisados no corpo para liberar o antibiótico ativo. Por exemplo, o cloranfenicol palmitato, quando administrado oralmente, é hidrolisado no intestino delgado para liberar cloranfenicol livre, enquanto a forma succinato de cloranfenicol, usada para administração intravenosa, é rapidamente hidrolisada após a administração. A variabilidade na taxa de hidrólise e na eliminação renal do cloranfenicol em crianças e recém-nascidos pode afetar sua disponibilidade terapêutica, tornando o controle de doses mais desafiador. Essa variabilidade é uma das razões pelas quais o uso do cloranfenicol em pacientes pediátricos requer monitoramento rigoroso.

Em resumo, apesar de seu histórico e eficácia comprovada, o uso do cloranfenicol tem se tornado mais restrito devido aos seus efeitos colaterais graves e à disponibilidade de alternativas mais seguras. Sua aplicação continua sendo relevante principalmente em contextos específicos, como no tratamento da febre tifoide em áreas com resistência antimicrobiana, ou quando outras opções não estão disponíveis. É essencial que os profissionais de saúde considerem os riscos e benefícios desse medicamento, bem como a disponibilidade de opções terapêuticas mais eficazes e menos tóxicas.