A prática de exercícios terapêuticos em cães tem como objetivo restabelecer o funcionamento físico normal após lesões ou condições patológicas. Quando um cão não está acostumado a exercícios de maior intensidade, como aqueles que envolvem contrações musculares excêntricas, pode ocorrer uma síndrome dolorosa conhecida como Dor Muscular de Início Tardio (DOMS, na sigla em inglês). Essa dor geralmente aparece 24 a 48 horas após o exercício e pode durar entre 4 e 5 dias. A DOMS é provocada pelo micro dano nas células musculares, levando a dor, inchaço, rigidez, diminuição da propriocepção e redução da força de contração muscular, o que compromete o desempenho atlético do animal. Isso acontece especialmente em cães que não passaram por uma adaptação gradual ao exercício mais intenso, ou que sofreram lesões prévias.
O processo de cura das lesões musculares ocorre em três fases: aguda, subaguda e crônica, sendo que cada uma delas tem diferentes abordagens terapêuticas. Durante a fase aguda, que pode durar até 72 horas após a lesão, o foco principal é reduzir a dor e o inchaço. O uso de terapias manuais, como compressão leve e drenagem linfática, bem como o uso de modalidades terapêuticas como o gelo e a fotobiomodulação, são essenciais. Na fase subaguda, de 3 a 14 dias após a lesão, a formação de novos vasos sanguíneos e tecido conjuntivo ajuda a reparar o dano, mas o cuidado é necessário para evitar sobrecarregar essas estruturas ainda frágeis. Já na fase crônica, após 14 dias ou mais, o colágeno do tipo III, inicialmente depositado para reparar os tecidos, se transforma em colágeno mais forte (tipo I), o que favorece a recuperação completa, desde que o estresse terapêutico seja aplicado corretamente.
A introdução gradual de atividades físicas adequadas à capacidade física do cão é fundamental para a recuperação e deve ser realizada de forma progressiva. Cães jovens não devem ser expostos a exercícios com alto impacto, enquanto cães mais velhos necessitam de atividades que favoreçam a estabilização e o equilíbrio durante as atividades cotidianas. Além disso, os cães em recuperação devem ser monitorados para evitar o retorno precoce à atividade que pode causar danos adicionais aos tecidos ainda em processo de recuperação.
Um componente chave no plano de exercícios terapêuticos é o controle neuromuscular. A capacidade do corpo de direcionar o movimento com a ajuda dos sistemas motor e sensorial permite que músculos agonistas, antagonistas e estabilizadores sejam ativados corretamente. Quando há lesão ou comprometimento neurológico, o controle e a coordenação podem ser afetados. Exercícios terapêuticos ajudam na restauração dessas funções, utilizando técnicas de facilitação e inibição para melhorar o tempo e a coordenação da ativação muscular. Essa abordagem, além de ser essencial para a recuperação, também é utilizada por atletas humanos para aumentar o desempenho e reduzir o risco de lesões. O mesmo princípio se aplica aos cães em treinamento ou em reabilitação, pois a estimulação controlada do sistema nervoso melhora a resposta muscular.
Outro princípio importante é a estabilidade. O fortalecimento dos músculos estabilizadores, como os que sustentam as articulações e a musculatura central, é crucial para restaurar o movimento funcional e o alinhamento adequado do corpo. Para garantir uma recuperação eficaz, não basta que o animal consiga manter-se em pé. Ele deve ser capaz de realizar transições funcionais, como levantar-se de uma posição de repouso, sem dificuldades. A estabilidade também desempenha um papel importante no equilíbrio, que pode ser estático ou dinâmico, dependendo das atividades diárias do cão. O treinamento de equilíbrio é importante, pois permite que o cão seja capaz de resistir à gravidade e manter a postura, reduzindo o risco de quedas ou lesões.
Por fim, é importante que o plano de exercício terapêutico seja ajustado de acordo com o estágio da vida do cão e sua condição física. Para um cão idoso, o foco será na recuperação da mobilidade e equilíbrio, enquanto para um cão jovem, a ênfase estará em exercícios que promovam o crescimento muscular sem causar sobrecarga. Em todas as fases, a progressão do exercício deve ser cuidadosamente monitorada para evitar o aparecimento de dores ou lesões adicionais, como a DOMS, que pode resultar em uma diminuição da qualidade de vida do animal.
Como a Lesão na Medula Espinhal Afeta o Movimento e a Recuperação Canina: Compreendendo a Plasticidade Neural e o Tratamento de Doenças Degenerativas
A medula espinhal tem a notável capacidade de desenvolver novas conexões neuronais após lesões, um fenômeno denominado plasticidade neural. Nos cães paraplégicos, por exemplo, a ativação de neurônios aferentes, que antes faziam parte do caminho reflexo, pode iniciar movimentos a partir de novas conexões com os geradores de padrões centrais, possibilitando a recuperação de funções motoras, mesmo após lesões graves. Esse processo de reabilitação pode ser mais eficiente em cães do que em seres humanos, devido à capacidade superior da medula espinhal canina em estabelecer novas conexões. A descoberta de que cães com lesões completas na medula espinhal, que antes eram classificados como negativos para dor profunda, podem desenvolver locomação espinhal, levanta questões sobre as potências da neuroplasticidade nos mamíferos. Em muitos casos, cães que se submetem a um rigoroso regime de reabilitação física podem retomar a deambulação espinhal. Fatores como idade jovem e peso corporal inferior a 7,8 kg têm mostrado correlação positiva com o desenvolvimento dessa recuperação, o que sugere que a plasticidade neural pode ser mais pronunciada em cães menores e mais jovens.
No entanto, a degeneração espinhal canina também se manifesta em condições degenerativas, como a doença do disco intervertebral (DDI), que pode afetar cães de diversas raças, especialmente os cães de raças condrodistroficas. Nessas raças, a degeneração discal começa cedo, muitas vezes antes do primeiro ano de vida. Fatores genéticos, como o retrogene do fator de crescimento de fibroblastos 4 (FGF4), estão fortemente associados a essa predisposição precoce para a degeneração discal. À medida que o disco intervertebral se degenera, ocorre uma metaplasia condroidal que pode evoluir para uma extrusão do núcleo pulposo, levando a condições graves como a hérnia do disco intervertebral tipo I, frequentemente associada a hemorragia epidural. Com o envelhecimento, especialmente em raças não condrodistroficas, observa-se a metaplasia fibroidal, que está intimamente relacionada a alterações biomecânicas anormais, resultando em protrusão do disco intervertebral do tipo II.
A localização e os efeitos das hérnias de disco podem variar, mas estudos indicam que as hérnias tipo I ocorrem com maior frequência entre as vértebras T11-12, T12-13, T13-L1 e L1-2. Nos cães de grande porte, a hérnia discal mais comum ocorre entre as vértebras L1 e L2. Durante atividades extenuantes, pode ocorrer a extrusão do núcleo pulposo de forma não compressiva, conhecida como extrusão não compressiva do núcleo pulposo agudo (ANNPE), que embora rara, pode ser documentada por meio de exames de imagem como a ressonância magnética. Embora essa extrusão não cause compressão da medula espinhal, o dano ao tecido neural resultante de lesões compressivas ou concussivas é significativo e está relacionado a alterações no suprimento vascular da região. A gravidade da lesão na medula espinhal está diretamente associada à quantidade de compressão e à sua velocidade de desenvolvimento. Quando a lesão é grave, pode ocorrer dano secundário à medula espinhal, e o diâmetro relativo do canal vertebral em relação à medula espinhal também influencia o grau de lesão.
No que diz respeito aos sinais clínicos de lesão medular, a dor intensa, associada à compressão das raízes nervosas e das meninges, pode ser observada, particularmente quando a coluna vertebral é manipulada. A postura cifótica, a rigidez abdominal e os espasmos musculares podem imitar dor abdominal aguda. Além disso, sinais clínicos de dor nas costas ou no pescoço podem progredir conforme a perda de funções, começando pela percepção proprioceptiva geral, seguida pela perda da função motora voluntária e, finalmente, pela perda da percepção da dor. A perda de função da bexiga geralmente ocorre em cães paraplégicos que também perdem a percepção da dor. Em casos de hérnia de disco toracolombar, reflexos como o reflexo cutâneo podem ajudar a localizar a lesão na medula espinhal.
O diagnóstico de hérnia de disco intervertebral geralmente começa com uma avaliação clínica completa, incluindo sinais clínicos e avaliação neurológica. No entanto, a confirmação diagnóstica depende de exames de imagem, especialmente a ressonância magnética (RM), que se tornou o padrão de cuidado para detectar lesões intraparenquimatosas na medula espinhal. A RM permite a visualização de alterações precoces, como a diminuição da intensidade do sinal no núcleo pulposo, o que é indicativo de degeneração do disco intervertebral. Além disso, a RM permite uma melhor visualização de lesões hemorrágicas associadas a hérnias discais e pode ser usada para prever os resultados clínicos com base nas características das imagens, como a presença de intensidades de sinal alteradas.
Em termos de tratamento, o manejo conservador é uma opção para cães com disfunção neurológica leve, como cães com ataxia proprioceptiva geral ou dor leve. Esse tratamento envolve controle da dor e restrição rigorosa de atividade física, muitas vezes em confinamento por 4 a 6 semanas. Em alguns casos, a medicação analgésica e anti-inflamatória pode ser administrada, mas deve ser feito com cautela, uma vez que a melhoria da dor pode levar a um aumento inadvertido na atividade física do cão, o que poderia agravar a lesão. Para cães paraplégicos com dor profunda negativa, as taxas de recuperação com tratamento médico são significativamente mais baixas. Nestes casos, a intervenção cirúrgica pode ser necessária para obter melhores resultados funcionais.
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Como os Cicloquinas Afetam a Regeneração Muscular e o Metabolismo Durante o Exercício Prolongado
O exercício prolongado causa uma série de adaptações no corpo, muitas das quais são mediadas pelas cicloquinas, pequenas proteínas que desempenham papéis críticos na regulação da resposta imune e na reparação de tecidos. Durante atividades físicas intensas ou prolongadas, as cicloquinas, como a interleucina-6 (IL-6), são elevadas, atuando como um sinal sistêmico que promove a regulação hepática da síntese de glicose. Este processo é parte de uma rede complexa de interações que visa garantir a homeostase durante o exercício, facilitando a comunicação entre o músculo esquelético e os tecidos hepáticos, com o objetivo de manter a energia e os processos metabólicos adequados (Nieman et al., 2015; Nash et al., 2023).
As cicloquinas não apenas influenciam o metabolismo energético, mas também são essenciais para a regeneração muscular após lesões traumáticas. Quando o músculo esquelético sofre uma lesão, como uma distensão ou laceração, ele possui uma notável capacidade de regeneração. Contudo, essa capacidade depende de fatores como a natureza e a duração da resposta inflamatória pós-traumática, bem como das forças mecânicas presentes no local da lesão. A resposta inflamatória após uma lesão muscular ocorre em duas fases distintas (Chazaud, 2020; Howard et al., 2020). Na fase inicial, a resposta imunológica inata se caracteriza pela infiltração de neutrófilos e macrófagos M1 pró-inflamatórios, que secretam cicloquinas clássicas como o fator de necrose tumoral (TNF) e o interferon-gama, além de produzir oxidantes que podem causar danos adicionais ao músculo lesado.
Com o passar de aproximadamente 24 horas após a lesão, os macrófagos M1 começam a ser substituídos por macrófagos M2 anti-inflamatórios, que promovem a resolução da inflamação aguda e a regeneração do tecido muscular. Estes macrófagos secretam cicloquinas como interleucina-4 (IL-4), IL-10 e IL-13, que, além de moderar a inflamação, ativam sinais mitogênicos e diferenciadores como o fator de crescimento hepático e o fator de crescimento semelhante à insulina-1 (IGF-1). Estes sinais estimulam a diferenciação das células satélites musculares, marcando o início da regeneração muscular (Wang et al., 2022). Entretanto, a proteína miostatina também é elevada nesta fase, o que pode retardar a proliferação das células satélites, favorecendo a diferenciação dos mioblastos regeneradores.
Importante destacar que a regeneração muscular é uma resposta complexa e depende de fatores externos, como as forças mecânicas aplicadas ao músculo lesionado. Esforços de alongamento agressivo ou o retorno precoce a atividades de alta intensidade podem induzir uma nova lesão e reiniciar o processo inflamatório agudo, o que pode levar à formação excessiva de tecido fibroso e perda permanente de função muscular (Dueweke et al., 2017; Gardner et al., 2020).
Pesquisas sobre a resposta inflamatória em cães de corrida de longa distância, como os cães de trenó, revelam que, ao contrário de humanos, esses animais não apresentam grandes elevações nas cicloquinas após o exercício prolongado. Durante uma corrida de resistência, a única cicloquina observada em níveis elevados foi a MCP-1 (proteína quimiotática de monócitos-1), que se elevou no meio e ao final da prova. Essa resposta atenuada pode ser atribuída às particularidades do metabolismo desses atletas caninos (Yazwinski et al., 2013; von Pfeil et al., 2015). Estudos semelhantes em cães de caça mostraram que a inflamação pós-exercício é transitória, atingindo o pico uma hora após a atividade e resolvendo-se completamente em seis horas (Pearson et al., 2020).
Esse cenário de respostas inflamatórias e regenerativas, que também ocorre em outros animais, evidencia a complexidade dos processos fisiológicos que envolvem a recuperação muscular após o exercício prolongado. Esses processos são afetados pela interação entre fatores inflamatórios, regeneração celular e o ambiente mecânico em que o músculo opera. Por isso, é fundamental que a prática de exercícios de resistência seja realizada com atenção às fases de recuperação e com o cuidado de evitar a sobrecarga precoce.
Além disso, é crucial entender que a adaptação do corpo ao exercício não se resume à simples restauração do tecido muscular lesado, mas envolve um processo contínuo de ajustes metabólicos e celulares que garantem a eficiência do sistema muscular e metabólico. A regulação de cicloquinas, embora crucial, é apenas uma parte do complexo mecanismo de adaptação do corpo ao esforço físico intenso, e o entendimento das respostas inflamatórias ajuda a otimizar as estratégias de treinamento e recuperação.
Como as Disfunções Pulmonares Afetam Pacientes com Suporte Circulatório Mecânico de Longo Prazo
Como a Homogeneização Adaptativa Pode Compensar Perturbações Não Lineares e Heterogêneas em Sistemas Multiagentes

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