O conceito de produto exterior desempenha um papel crucial no entendimento das formas diferenciais, especialmente quando se trabalha com formas alternadas em espaços vetoriais. O conjunto ArVA^r V^* é chamado de o produto exterior de VV^* de ordem rr, e é um subespaço vetorial de Lr(V,R)L^r(V, \mathbb{R}), o espaço das formas rr-alternadas sobre VV. No caso de r>2r > 2, as formas rr-alternadas são aquelas que satisfazem propriedades específicas de alternância e linearidade. A definição formal de uma forma alternada de ordem rr inclui, por exemplo, que a aplicação de uma forma rr-alternada aa a um conjunto de vetores v1,v2,,vrv_1, v_2, \dots, v_r é zero sempre que dois vetores são iguais.

De maneira mais precisa, para uma forma aArVa \in A^r V^*, temos que ela satisfaz as seguintes condições equivalentes:

  1. a(v1,v2,,vr)=0a(v_1, v_2, \dots, v_r) = 0 se vj=vkv_j = v_k para algum jkj \neq k.

  2. A troca de dois vetores em a(v1,,vr)a(v_1, \dots, v_r) deve inverter o sinal de aa, isto é, a(,vj,,vk,)=a(,vk,,vj,)a(\dots, v_j, \dots, v_k, \dots) = -a(\dots, v_k, \dots, v_j, \dots).

  3. Se os vetores v1,v2,,vrv_1, v_2, \dots, v_r são linearmente independentes, então a(v1,,vr)=0a(v_1, \dots, v_r) = 0.

Além disso, é importante destacar que, para r>dim(V)r > \text{dim}(V), ArV={0}A^r V^* = \{0\}. Isso decorre diretamente da linearidade das formas alternadas e das implicações acima, uma vez que não é possível ter uma forma alternada de ordem maior que a dimensão do espaço vetorial.

Outro aspecto importante do produto exterior é que ele pode ser interpretado em termos de determinantes. Dado um conjunto de formas ω1,,ωrV\omega_1, \dots, \omega_r \in V^*, o produto exterior ω1ωr\omega_1 \wedge \dots \wedge \omega_r é definido por um determinante de uma matriz r×rr \times r, onde os elementos da matriz são dados pela ação das formas sobre os vetores de VV. Essa operação é um exemplo clássico de forma rr-alternada, pois satisfaz as propriedades de anticomutatividade e linearidade, fundamentais para a definição do produto exterior.

O conceito de base também desempenha um papel central. Se (e1,,em)(e_1, \dots, e_m) é uma base de VV e (e1,,em)(e^1, \dots, e^m) é a base dual de VV^*, então o conjunto {ej1ej2ejr}\{ e^{j_1} \wedge e^{j_2} \wedge \dots \wedge e^{j_r} \}, onde 1j1<j2<<jrm1 \leq j_1 < j_2 < \dots < j_r \leq m, é uma base para ArVA^r V^* para rmr \leq m. O número de elementos dessa base é dado pelo binômio (mr)\binom{m}{r}, que também corresponde à dimensão do espaço ArVA^r V^*.

Além disso, a construção do produto exterior pode ser estendida a qualquer combinação de formas alternadas de diferentes ordens, criando um mapeamento bilinear de ArV×AsVA^r V^* \times A^s V^* para Ar+sVA^{r+s} V^*. Esse produto é tanto associativo quanto anticomutativo, o que significa que ele satisfaz as identidades:

ab=(1)rsbaparaaArV,bAsV.a \wedge b = (-1)^{rs} b \wedge a \quad \text{para} \quad a \in A^r V^*, b \in A^s V^*.

Essa propriedade é uma das características essenciais do produto exterior, e pode ser vista como uma generalização do produto vetorial em espaços de dimensão maior.

Por fim, uma extensão importante do produto exterior é a noção de uma álgebra graduada anticomutativa. Para espaços vetoriais EkE_k sobre o campo KK, a soma direta E:=EkE := \bigoplus E_k pode ser dotada de uma estrutura algébrica, onde a multiplicação é definida de forma que satisfaça as propriedades de anticomutatividade e associatividade, caracterizando uma álgebra graduada.

Essa estrutura algébrica mais geral fornece uma ferramenta poderosa para trabalhar com produtos de formas alternadas de diferentes ordens, e permite a generalização de muitos conceitos da álgebra multilinear para uma ampla classe de espaços vetoriais e formas diferenciais.

É essencial entender que o produto exterior não apenas cria uma estrutura algébrica que permite manipulações e operações dentro do espaço VV^*, mas também serve como um dos pilares fundamentais para o estudo das variedades diferenciais, onde as formas diferenciais de diversas ordens desempenham papéis cruciais na descrição de geometria diferencial, topologia e física matemática.

Como se define a codiferencial em variedades Riemannianas (e pseudo-Riemannianas)?

A construção da codiferencial em variedades Riemannianas parte da definição do operador estrela de Hodge, o qual permite introduzir dualidades entre formas diferenciais de diferentes graus. Dada uma variedade Riemanniana orientada (M,g)(M, g), o operador estrela é inicialmente definido sobre Ωr(M)\Omega^r(M), levando formas diferenciais de grau rr em formas de grau mrm - r, onde m=dimMm = \dim M. Para assegurar a completude do formalismo, estende-se o domínio para incluir também Ω1(M):={0}\Omega^{ -1}(M) := \{0\} e Ωm+1(M):={0}\Omega^{m+1}(M) := \{0\}, permitindo definir a codiferencial como um operador que diminui o grau de uma forma em uma unidade: δ:Ωr(M)Ωr1(M)\delta: \Omega^r(M) \to \Omega^{r-1}(M), com 0<r<m0 < r < m.

A definição explícita da codiferencial é dada por:

δα:=(1)m(r+1)dα,para αΩr(M),\delta \alpha := (-1)^{m(r+1)} * d * \alpha, \quad \text{para } \alpha \in \Omega^r(M),

onde dd é a derivada exterior. Essa expressão é análoga, em estrutura, ao laplaciano de Hodge Δ=dδ+δd\Delta = d\delta + \delta d, e é crucial para a formulação de teorias físicas e geométricas envolvendo equações diferenciais em variedades.

A definição é cuidadosamente ajustada para garantir a comutatividade do diagrama:

Ωr(M)dΩr+1(M)Ωmr(M)δΩmr1(M)\begin{array}{ccc}
\Omega^r(M) & \xrightarrow{d} & \Omega^{r+1}(M) \\ \downarrow * & & \downarrow * \\ \Omega^{m-r}(M) & \xrightarrow{\delta} & \Omega^{m - r - 1}(M) \end{array}

O operador * preserva a estrutura da variedade e a orientação imposta pela métrica. Diversas propriedades emergem naturalmente dessa definição. Por exemplo, δ2=0\delta^2 = 0, dado que d2=0d^2 = 0. Além disso, operadores compostos como δd=dδ\delta * d = d * \delta evidenciam simetrias fundamentais da teoria.

Em coordenadas ortonormais (x1,,xm)(x^1, \dots, x^m), o cálculo local da codiferencial para uma 1-forma α=jajdxj\alpha = \sum_j a_j dx^j fornece:

δα=j=1m(1gj(gaj)),\delta \alpha = -\sum_{j=1}^m \left( \frac{1}{\sqrt{|g|}} \partial_j (\sqrt{|g|} a^j) \right),

onde g|g| denota o determinante da métrica gg. Em particular, essa fórmula mostra que δ\delta atua como uma divergência generalizada em variedades Riemannianas.

Em contextos pseudo-Riemannianos, como no espaço de Minkowski R1,3\mathbb{R}^{1,3}, onde a assinatura da métrica varia, as definições sofrem modificações pontuais. Assume-se que o sinal da métrica sign(g)\text{sign}(g) permanece constante sobre MM. Nesse caso, a operação estrela satisfaz:

α=sign(g)(1)r(mr)α,**\alpha = \text{sign}(g) (-1)^{r(m - r)} \alpha,

e a codiferencial se define como:

δα:=sign(g)(1)m(r+1)dα.\delta \alpha := \text{sign}(g)(-1)^{m(r+1)} * d * \alpha.

Tal modificação preserva a consistência formal e permite a extensão natural das propriedades da codiferencial para variedades pseudo-Riemannianas.

Exemplos concretos demonstram o funcionamento local do operador. Por exemplo, para a 2-forma α=dxdy\alpha = dx \wedge dy em coordenadas ortonormais, temos:

(dxdy)=dzdt,* (dx \wedge dy) = dz \wedge dt,

em R1,3\mathbb{R}^{1,3}, e portanto,

δ(dxdy)=d(dxdy)=d(dzdt),\delta (dx \wedge dy) = - * d * (dx \wedge dy) = - * d(dz \wedge dt),

ilustrando a aplicação direta da definição.

Em termos mais gerais, o papel da codiferencial é duplo: analítico e geométrico. Analiticamente, ela surge como o adjunto formal da derivada exterior no espaço de formas dotado do produto interno induzido pela métrica. Geometricamente, ela mede o "fluxo interno" de uma forma diferencial, complementando a noção de circulação expressa por dd. Essa dualidade é especialmente relevante na formulação de equações de Maxwell e teorias de gauge em espaços curvos.

Importante ainda é a compatibilidade da codiferencial com a estrutura diferencial da variedade. A regularidade do operador δ\delta é assegurada: trata-se de uma aplicação linear que preserva a classe de diferenciabilidade da forma original. Além disso, suas propriedades algébricas (como δ2=0\delta^2 = 0, δ=(1)r+1d\delta * = (-1)^{r+1} d *) são reflexo da consistência da construção e da geometria subjacente.

Por fim, convém observar que, embora localmente o operador seja expresso de forma explícita via coordenadas e métricas, seu significado intrínseco é global, pois depende exclusivamente da estrutura métrica e orientada da variedade. Essa perspectiva é crucial para compreender seu papel nas teorias geométricas modernas, onde operadores diferenciais globais substituem derivadas parciais locais como ferramentas fundamentais.