O modo operacional normal das bombas pulsáteis Novacor e TCI, bem como o funcionamento das válvulas aórticas nesses sistemas, se afastou da verdadeira função de suporte assistido, transformando-se, em alguns casos, em dispositivos de substituição do ventrículo esquerdo. Esse fenômeno foi documentado no estudo de Weaver e colegas (1979), onde a estenose da válvula aórtica reduzia a pulsação e causava complicações gastrointestinais, como sangramentos. Este tipo de sangramento foi associado à doença de von Willebrand, embora os dados não comprovem de forma conclusiva que isso tenha ocorrido por causa do impacto direto da bomba sobre a fisiologia do paciente (Nascimbene et al., 2016).

Entretanto, a introdução das bombas de fluxo contínuo (LVADs) trouxe uma abordagem revolucionária. Esses dispositivos, quando operados corretamente, podem evitar a insuficiência aórtica, como comprovado pela equipe do Texas Heart Institute, que sugeriu que a abertura da válvula aórtica poderia ser preservada ajustando-se o fluxo da bomba para garantir que o tempo de abertura não fosse inferior a 40% do normal. A preservação da válvula aórtica impede a fusão das lâminas da válvula, um problema frequentemente observado nas bombas pulsáteis.

Outro desafio importante encontrado com as LVADs de fluxo contínuo foi a falência do coração direito, uma complicação associada à falência do coração esquerdo. O uso de bombas de fluxo contínuo pode alterar a dinâmica cardiovascular ao ponto de induzir falência cardíaca direita em pacientes com falência do ventrículo esquerdo. No entanto, as LVADs de fluxo contínuo apresentam a vantagem de fornecer fluxos de até 12 L/min, o que permite uma compensação significativa no suporte ao ventrículo esquerdo sem causar a falência do ventrículo direito, desde que o dispositivo seja utilizado corretamente.

A instalação de um segundo dispositivo de assistência para o coração direito foi a solução adotada pela equipe do Texas Heart Institute em um caso clínico específico, no qual a falência progressiva do ventrículo direito foi observada. A redução da velocidade da bomba Jarvik por 8 segundos a cada minuto restaurou uma função mais fisiológica, favorecendo o enchimento ventricular esquerdo e evitando o deslocamento do septo interventricular. A experiência demonstrou que, para que o funcionamento do dispositivo seja eficaz, ele deve atuar como um verdadeiro assistente, trabalhando em paralelo com o coração nativo e não tomando a função do ventrículo esquerdo completamente.

Ao longo do tempo, o trabalho com LVADs de fluxo contínuo estimulou o desenvolvimento do conceito de uma bomba de coração total (TAH) de fluxo contínuo. A preocupação com a durabilidade dos dispositivos pulsáteis, que limitava sua aplicação, levou ao desenvolvimento de dispositivos de substituição cardíaca que pudessem eliminar as falhas de funcionamento dos sistemas pulsáteis. O uso de bombas de fluxo contínuo em modelos experimentais com bezerros, realizados em 2005, comprovou a viabilidade de uma circulação "sem pulso" e suportou a hipótese de que tal circulação poderia ser bem tolerada em sistemas controlados (Frazier et al., 2005).

Outro avanço notável foi a substituição total do coração de um bezerro usando um modelo inicial da HeartMate 3, que era mais compacto que o HeartMate II, e fornecia uma circulação sem pulso. O bezerro se recuperou rapidamente da cirurgia, voltou a andar na esteira e mostrou crescimento normal, com boa função dos órgãos após 20 dias de suporte, antes de ser sacrificado para a realização da autópsia. A ausência de complicações orgânicas foi confirmada, evidenciando que o dispositivo não causava danos permanentes aos órgãos vitais.

Em 2011, um paciente com amiloidose foi o primeiro a receber suporte total do coração usando dois dispositivos HeartMate II. Esse procedimento marcou um marco significativo no avanço das LVADs de fluxo contínuo, comprovando que a função total do coração poderia ser substituída com sucesso, desde que a dinâmica fisiológica do corpo fosse devidamente ajustada para evitar complicações secundárias, como o deslocamento do septo interventricular, que pode ocorrer devido ao desequilíbrio no fluxo sanguíneo entre os ventrículos.

É importante entender que, embora as bombas de fluxo contínuo tenham mostrado avanços notáveis no suporte cardíaco, a busca por uma substituição total do coração ainda enfrenta desafios, como a necessidade de manter um equilíbrio entre os fluxos do ventrículo esquerdo e direito. A contínua pesquisa e desenvolvimento desses dispositivos visam resolver essas questões fisiológicas e melhorar a durabilidade e a eficácia a longo prazo desses sistemas. Para os pacientes que se beneficiam de LVADs, o conceito de um coração totalmente implantável (TAH) pode ser a solução definitiva, mas somente quando os desafios fisiológicos forem superados, permitindo a integração plena da bomba no sistema cardiovascular do paciente.

Como as Diversas Religiões Encaram o Fim da Vida e o Papel dos Profissionais de Saúde

O conceito de fim da vida, bem como os rituais e decisões em torno deste momento, são profundamente influenciados pelas tradições religiosas, culturais e filosóficas de diferentes povos. No Islã, por exemplo, a vida é considerada sagrada e pertencente a Deus, e qualquer ação que comprometa a integridade da vida humana, sem permissão divina, é considerada uma violação das normas espirituais. A lei islâmica (Shari'a) proíbe o suicídio assistido por médicos, não permitindo que qualquer intervenção médica acelere a morte. Para os muçulmanos, a morte é um evento que deve acontecer quando Deus decidir, e qualquer ação que busque antecipá-la, mesmo por compaixão ou necessidade de aliviar o sofrimento, é vista como uma transgressão contra a vontade divina.

Os médicos muçulmanos são instruídos a evitar práticas que possam ser interpretadas como contribuindo para a morte prematura de um paciente. A remoção de aparelhos que sustentam a vida, em muitos casos, é vista como um gesto de permitir que o paciente siga seu destino, e não como um ato de matar. No entanto, há divergências entre os estudiosos islâmicos sobre a definição precisa de morte. Alguns consideram a morte cerebral como suficiente para declarar o fim da vida, enquanto outros insistem que todos os órgãos devem falhar para que a morte seja oficialmente reconhecida. Em todas essas discussões, o respeito pela dignidade humana e pela vontade de Deus ocupa uma posição central.

No Hinduísmo, que é uma religião sincrética com uma diversidade de práticas, o conceito de "moksha" — ou libertação do ciclo de reencarnações — é o objetivo final da vida. Para os hindus, a morte é vista como um processo natural, que deve ocorrer no momento certo, de forma tranquila e em condições adequadas. A morte prematura ou em circunstâncias impuras é temida e evitada, pois pode interromper o ciclo de karma, levando a uma reencarnação menos favorável. O hinduísmo valoriza a ideia de uma "boa morte", que ocorre de maneira serena, com o paciente consciente e com a mente voltada para Deus, o que facilita a passagem da alma para a próxima fase da existência.

Em muitos casos, a família desempenha um papel crucial na decisão de interromper tratamentos médicos agressivos para prolongar a vida de um ente querido. A intervenção médica em casos de doença terminal é vista com ceticismo, pois pode interferir com o karma da alma do paciente. Para os hindus, a aceitação da morte, sem a tentativa de prolongar artificialmente a vida, é frequentemente vista como uma expressão de sabedoria e respeito pelas leis espirituais. A presença da família e a concordância com as normas religiosas são de extrema importância para garantir que a morte aconteça de maneira apropriada.

Além disso, a interação dos profissionais de saúde com as famílias hinduístas, particularmente em situações de fim de vida, deve ser feita com sensibilidade, respeitando as hierarquias familiares e os desejos culturais. Muitas vezes, os membros da família preferem tomar as decisões em nome do paciente, garantindo que os rituais e a transição para a morte ocorram de maneira harmoniosa.

Ao refletir sobre os ensinamentos islâmicos e hindus, torna-se evidente que as questões envolvendo o fim da vida e o papel da medicina transcendem a prática médica em si. Elas estão intimamente ligadas às crenças espirituais, à moralidade e ao entendimento do propósito da vida. Os médicos, ao lidarem com pacientes dessas tradições, devem estar preparados para navegar em um campo ético e espiritual delicado, onde as expectativas religiosas e culturais muitas vezes se sobrepõem às intervenções científicas ou terapêuticas.

É importante ressaltar que, além do conhecimento sobre as práticas religiosas, os profissionais de saúde devem estar atentos à diversidade de crenças dentro de cada tradição. Embora existam normas gerais, a maneira como uma pessoa pratica sua fé pode variar consideravelmente. Em muitos casos, as decisões de fim de vida podem ser moldadas por fatores culturais, familiares e individuais, que podem ou não se alinhar com as interpretações mais tradicionais de suas religiões.

Qual é o papel da fragilidade na avaliação de pacientes com insuficiência cardíaca avançada e dispositivos de assistência circulatória?

A fragilidade é um fator crítico no manejo de pacientes com insuficiência cardíaca avançada (ICA), especialmente aqueles que estão em consideração para implantes de dispositivos de assistência circulatória (DAC) ou para transplantes cardíacos. Apesar do crescente uso de dispositivos como o LVAD (Left Ventricular Assist Device), a definição precisa de fragilidade antes da implantação do MCS (suporte circulatório mecânico) ou do transplante cardíaco ainda não possui um padrão diagnóstico universalmente aceito. No entanto, várias ferramentas têm sido utilizadas para avaliar a fragilidade, com destaque para o fenótipo físico de fragilidade, conforme descrito por Fried e suas modificações, bem como o Índice de Fragilidade (Frailty Index).

O fenótipo de fragilidade de Fried inclui cinco componentes principais: lentidão, medida pela velocidade da marcha, fraqueza, avaliada pela força de preensão manual, exaustão, redução da atividade física e perda de peso. O fenótipo de Fried, embora amplamente utilizado, pode ter limitações devido à sobreposição com manifestações clínicas da insuficiência cardíaca, o que torna mais difícil discernir entre fragilidade e as consequências diretas da doença cardíaca. Além disso, modificações no fenótipo têm sido propostas, como a avaliação da função cognitiva e a substituição da perda de peso por anorexia.

O Índice de Fragilidade, por outro lado, é baseado em uma avaliação geriátrica abrangente e define a fragilidade como um estado clínico resultante do acúmulo de déficits em 70 domínios físicos, funcionais, médicos e psicossociais. O índice é calculado pela razão entre o número de itens presentes e o total de itens avaliados. Este modelo contínuo fornece uma medida mais detalhada da fragilidade, relacionada diretamente à idade cronológica do paciente. A aplicabilidade do Índice de Fragilidade tem se mostrado eficaz na previsão de desfechos a longo prazo, particularmente em pacientes com insuficiência cardíaca com fração de ejeção preservada.

A fragilidade tem sido identificada como um importante fator de risco para desfechos adversos após intervenções cardíacas, como cirurgia ou implantes de dispositivos. Pacientes frágeis apresentam maior mortalidade, taxas mais altas de readmissão hospitalar, maior tempo de internação e qualidade de vida significativamente reduzida. O processo fisiopatológico que envolve a fragilidade é complexo, incluindo senescência celular e molecular, disfunção neuroendócrina, sarcopenia e distúrbios cognitivos. No contexto da insuficiência cardíaca, a fragilidade está intimamente associada à progressão da doença e é considerada um fator independente de risco para piores resultados clínicos.

Uma das manifestações mais evidentes da fragilidade é a deficiência na função física, que pode ser quantificada por diversas ferramentas. A avaliação da velocidade da marcha, por exemplo, é uma das medições mais simples e amplamente utilizadas para monitorar a função física em pacientes frágeis. Estudos demonstram que um aumento de 0,1 m/s na velocidade da marcha pode reduzir o risco de morte em 12%, um dado que destaca a importância desse parâmetro para prever resultados a longo prazo em pacientes com doenças cardíacas. A força de preensão manual, medida por um dinamômetro, também tem sido usada como uma ferramenta importante de avaliação, principalmente para aqueles que não conseguem caminhar devido à sua condição clínica. A baixa força de preensão está associada a uma pior sobrevida e a mais hospitalizações, e também é um indicador significativo de fragilidade pré-operatória.

No contexto de pacientes que se preparam para a implantação de um LVAD, a avaliação da fragilidade é ainda mais relevante. A utilização de ferramentas como o fenótipo de Fried e o Índice de Fragilidade pode ajudar na seleção dos pacientes mais aptos a se beneficiarem dessa intervenção. Pacientes frágeis, com força de preensão abaixo de 25% do peso corporal, por exemplo, apresentam um risco aumentado de complicações pós-operatórias e morte precoce. A fragilidade pré-operatória tem um impacto direto na recuperação após a implantação de dispositivos de assistência circulatória, com risco aumentado de complicações, estada hospitalar prolongada e dificuldades no manejo do dispositivo, como o cuidado com o driveline, o controlador e o anticoagulante.

Portanto, a avaliação precisa da fragilidade é essencial não apenas para prever os riscos operacionais, mas também para personalizar o plano de cuidados pós-operatórios. Ao considerar a implantação de dispositivos de assistência circulatória, é crucial que a fragilidade seja abordada de forma sistemática, levando em conta todos os aspectos clínicos e funcionais do paciente. Isso não apenas melhora a eficácia do tratamento, mas também pode contribuir para uma recuperação mais bem-sucedida e uma melhor qualidade de vida a longo prazo.

A avaliação de fraqueza física, como a força de preensão manual e a velocidade de marcha, é um parâmetro fundamental. Além disso, a consideração dos aspectos psicossociais e funcionais, como a cognição e a capacidade de realizar atividades diárias, deve ser incorporada na avaliação global do paciente. Esse olhar mais abrangente permite um diagnóstico mais preciso da fragilidade e, consequentemente, uma abordagem terapêutica mais eficaz.

Como os Pacientes e Cuidadores se Adaptam à Vida com um Dispositivo de Assistência Ventricular Esquerda (LVAD)

A adaptação à vida com um dispositivo de assistência ventricular esquerda (LVAD) pode ser um processo desafiador, não apenas do ponto de vista físico, mas também emocional e social. Ao longo desse processo, pacientes mais jovens frequentemente enfrentam dificuldades que seus pares mais velhos não experienciam, incluindo desafios no funcionamento social e no suporte emocional. Esse fator é amplificado pela necessidade constante de comunicação próxima com a equipe médica, que se torna um pilar importante para o manejo diário e o enfrentamento de complicações.

Em centros especializados em LVAD, é comum que pacientes e cuidadores tenham acesso a recursos informativos e educacionais, além de grupos de apoio que abordam questões como intimidade, sexualidade e reintegração ao mercado de trabalho. Estudos sugerem que intervenções direcionadas à educação do paciente e ao apoio psicológico contínuo podem ser vitais para um melhor ajuste emocional, especialmente em relação a mudanças nas rotinas diárias e nas interações sociais (Hoffman III et al., 2019).

Grupos de apoio, tanto presenciais quanto online, têm se mostrado eficazes para muitos pacientes. Esses espaços proporcionam uma plataforma onde os participantes podem discutir abertamente suas preocupações, tais como ajustes emocionais após a colocação do LVAD, dificuldades relacionadas ao uso do dispositivo, viagens, complicações médicas e até mesmo questões alimentares. A experiência compartilhada nesses ambientes cria um senso de comunidade que pode ser reconfortante e motivador. A participação nesses grupos oferece não apenas um alívio emocional, mas também práticas valiosas de enfrentamento que podem ser fundamentais no processo de adaptação (Naik et al., 2017).

Nos centros de LVAD, os grupos de apoio são organizados de maneira variável, com diferentes locais, horários e frequências, mas geralmente acontecem de forma mensal. Além disso, muitas dessas reuniões incluem palestrantes da comunidade VAD, como profissionais de saúde e outros especialistas, para fornecer informações detalhadas sobre como lidar com os desafios específicos dessa condição. A oferta de apoio é considerada crucial, pois os pacientes com LVAD podem experimentar um grande impacto em sua qualidade de vida, especialmente no que diz respeito à sua capacidade de realizar atividades cotidianas e de se relacionar com os outros.

É importante notar que, embora os grupos de apoio desempenhem um papel significativo, eles não são a única forma de suporte. A formação de uma rede de apoio sólida, que inclua tanto familiares quanto amigos próximos, pode ser essencial. Além disso, a continuidade do cuidado médico e a atenção às comorbidades que podem surgir ao longo do tempo são aspectos igualmente críticos para garantir que o paciente tenha uma vida o mais plena possível.

Além disso, é imprescindível que a educação voltada para o paciente e seus cuidadores seja abrangente, cobrindo não apenas os aspectos técnicos do LVAD, mas também os fatores psicológicos e sociais envolvidos. Isso inclui, por exemplo, abordagens para lidar com a fadiga emocional e as expectativas irrealistas, que podem surgir quando a transição para a vida com LVAD não acontece como esperado. A falta de preparo adequado pode resultar em sentimentos de isolamento, depressão ou desânimo, principalmente entre os pacientes mais jovens, que podem se sentir distantes de seus círculos sociais devido às limitações impostas pelo dispositivo.

A implementação de programas de reabilitação, tanto durante a internação quanto no período pós-cirúrgico, tem se mostrado eficaz na melhoria do estado emocional e da qualidade de vida dos pacientes e cuidadores (Chaudhry et al., 2019). Esses programas, ao focar na reabilitação física e emocional, oferecem um suporte abrangente que vai além do cuidado clínico, incorporando aspectos da saúde mental, como o manejo da depressão e da ansiedade.

Por fim, além dos cuidados médicos e do apoio emocional, o apoio educacional contínuo é uma chave para o sucesso na adaptação à vida com um LVAD. O conhecimento aprofundado sobre o funcionamento do dispositivo, suas possíveis complicações e a forma de integrá-lo de maneira harmoniosa ao dia a dia são cruciais. Isso garante não apenas a segurança do paciente, mas também melhora sua qualidade de vida ao promover uma maior autonomia e controle sobre a situação.