O movimento formalista na literatura do início do século XX foi marcado por um processo de transformação e adaptação das formas poéticas e dos dispositivos narrativos, frequentemente associada às mudanças socioeconômicas que ocorreram na época. A formação de um “elenco de artistas originais e isolados”, que forneciam suas obras ao mercado, trouxe consigo uma nova dinâmica no campo literário. A rima, que antes era considerada um elemento intrínseco da poesia, passou a ser vista como um "produto inevitável da economia literária mercantil". Essa mudança refletiu o deslocamento da literatura como um objeto de arte para um produto de consumo dentro da economia de mercado.
O formalismo, que inicialmente se opôs ao contentamento estético em favor da análise estrita das formas, começou a ser criticado por sua adesão à sociologia e à ideologia, em muitos casos misturando conceitos que antes pareciam incompatíveis. A famosa frase de Eichenbaum, que criticava a tentativa de unir formalismo e sociologia, é um exemplo claro dessa resistência interna dentro do próprio movimento. No entanto, essas tentativas de unificação não eram tão diferentes das que os membros de OPOYAZ haviam feito anteriormente. A ideia de que o formalismo deveria se desprender de qualquer influência filosófica externa, como as ideologias socioeconômicas, parecia se contradizer em seu esforço contínuo de conectar a literatura à sociedade e ao contexto histórico.
A obra de Shklovsky, particularmente seu estudo sobre Guerra e Paz de Tolstói, ilustra bem essa contradição. Embora o crítico tenha oferecido uma leitura profunda e original sobre o caráter aristocrático do autor, ele não abandonou os princípios da análise formalista ao interpretar a obra. A ideia de que o escritor pode ser, ao mesmo tempo, um produto e um agente da sociedade reflete uma tensão entre a crítica literária formalista e a necessidade de entender a literatura dentro de seu contexto sociopolítico mais amplo.
A análise do estilo de Lenin, por exemplo, também não escapou dessa ambiguidade. Os formalistas, ao estudarem o estilo de Lenin, aplicaram os mesmos métodos que utilizavam para analisar obras literárias, como a automatização da linguagem e a "estranhização" (ostranenie). Embora a linguagem de Lenin tenha sido vista como um ataque às fórmulas estilísticas estabelecidas, o método de análise utilizado pelos formalistas não permitiu uma compreensão plena da complexidade de seu estilo. A crítica de Lenin à "fraseologia revolucionária" foi reduzida a um simples jogo de formas, ignorando o conteúdo social e político que estava por trás dessa ruptura estilística.
De fato, muitos dos críticos formalistas não conseguiam separar a técnica literária de sua carga ideológica. Isso se refletiu na maneira como analisavam o estilo de Lenin. Em vez de compreender as nuances de sua linguagem como um reflexo de uma ruptura com os paradigmas estabelecidos, os formalistas se concentraram em classificá-la dentro de sua própria estrutura teórica. A “redução dos altos estilos” e a combinação de “palavras elevadas” com a linguagem científica e popular foram, para eles, um simples exemplo de uma mudança formal, sem atentar para o potencial político dessa transformação.
É importante destacar que, embora o formalismo tenha introduzido uma nova maneira de analisar as obras literárias, seu enraizamento em uma filosofia que buscava isolar a arte de sua realidade material e política limitou sua eficácia. A proposta de analisar a literatura de forma estritamente formal, sem considerar o contexto social e histórico, parecia cada vez mais desconectada da realidade das mudanças que estavam ocorrendo na sociedade.
Além disso, a crítica ao formalismo não deve ser vista apenas como uma rejeição à sua metodologia. É necessário reconhecer que os formalistas também desempenharam um papel importante no desenvolvimento da teoria literária, trazendo uma nova perspectiva para a análise da forma e da estrutura das obras. No entanto, sua resistência em integrar a sociologia e a política à crítica literária impediu um entendimento mais profundo da literatura como um reflexo da realidade social.
A leitura da literatura, portanto, exige uma abordagem que vá além da simples análise formal. O leitor precisa compreender que a obra literária não é apenas um produto autônomo da criatividade, mas também um reflexo das condições sociais, políticas e econômicas em que foi criada. A literatura pode ser vista tanto como uma arte quanto como um campo de batalha ideológico, onde as tensões entre diferentes forças sociais e culturais se manifestam nas palavras e nas formas utilizadas pelos escritores.
Como o Leninismo Moldou a Literatura Progressista e a Política Cultural
A análise da relação entre a arte e a política, especialmente a forma como o Partido Comunista guiou as produções artísticas, remonta a um ponto crucial na história das sociedades socialistas, onde a ideologia e a criação literária se entrelaçam de maneira profunda e inevitável. Em diversas obras e discursos de Lenin, a concepção de arte e literatura não é vista apenas como uma expressão livre do indivíduo, mas como uma força social fundamental que deve, inevitavelmente, seguir as diretrizes políticas da revolução.
A ideia fundamental por trás da aplicação do princípio leninista de partidarismo é a de que a arte não pode ser dissociada dos processos sociais e revolucionários. O princípio leninista de que a literatura deve estar ligada diretamente ao movimento da classe revolucionária foi uma das bases que moldaram a literatura progressista e a crítica em países como a Letônia e a Bulgária. O crítico literário V. Kolevski, ao examinar a literatura búlgara sob a influência do leninismo, destaca a forma como esses princípios foram fundamentais para a formação da arte socialista, com um caráter profundamente orgânico e ligado ao processo histórico da luta de classes.
A direção partidária da arte, como defendido por Lenin, não é simplesmente uma imposição ideológica de fora para dentro da produção artística. Ao contrário, Lenin considerava que a arte, como qualquer outra manifestação humana, deveria ser regida por leis objetivas do desenvolvimento social, as quais são próprias do socialismo. O partido, de acordo com essa visão, não é um obstáculo à criatividade, mas o motor que potencializa a literatura e a arte, dando-lhes uma finalidade prática e revolucionária. A ligação entre arte e movimento socialista não se dá apenas no campo da ideologia, mas também na própria essência do desenvolvimento artístico. Não se trata de submeter a arte ao controle totalitário, mas de orientá-la para que se desenvolva de acordo com os interesses e as necessidades da revolução.
Um aspecto crucial do entendimento leninista sobre a arte é que a literatura socialista não seria apenas uma mera ferramenta de propaganda política. Ao contrário, a literatura deveria se enriquecer da experiência da classe trabalhadora, tornando-se um reflexo não só das ideias revolucionárias, mas também das lutas e vivências do proletariado. A arte, dessa forma, adquire uma função pedagógica e revolucionária, onde a estética e a política se encontram. Lenin via na literatura uma maneira de elevar a consciência de classe, de comunicar as ideias do movimento socialista e de inspirar a transformação social. Assim, o partido, ao direcionar a produção literária, não apenas preserva a relevância ideológica da arte, mas também a liberta da fragmentação e do caos, criando um espaço para seu florescimento.
Além disso, a liderança do partido não se limita apenas a uma instrução ideológica. O papel do partido, segundo Lenin, é também o de fornecer as condições necessárias para o desenvolvimento artístico, respeitando as especificidades da criação literária e ajudando a organizar o processo criativo. A arte, portanto, não se torna apenas uma expressão individual, mas uma atividade profundamente interligada ao movimento social, sendo parte integrante das transformações culturais da revolução.
Em relação ao papel do partido na arte, é importante destacar que a questão não é simplesmente um debate político sobre o controle da produção cultural, mas um desafio estético e filosófico. De acordo com estudiosos como Hans Koch, a liderança partidária não interfere de forma destrutiva no desenvolvimento da arte, mas cria um ambiente no qual a arte pode se desenvolver dentro de parâmetros que contribuem para o progresso social. Essa compreensão não deve ser vista apenas como uma imposição externa, mas como uma parte necessária do processo artístico, que visa sempre o fortalecimento da relação entre arte e sociedade.
A verdadeira liberdade artística, no entendimento leninista, é aquela que está imersa nos processos sociais, e que busca não apenas a realização pessoal do artista, mas também a transformação social. A obra de arte que se destaca como parte da revolução é aquela que, ao se basear na experiência e nas lutas da classe trabalhadora, cumpre seu papel na construção do novo mundo socialista.
Portanto, o papel do partido na orientação da arte e da literatura deve ser compreendido não apenas como uma exigência política ou ideológica, mas como uma necessidade do próprio desenvolvimento da arte. A arte socialista, longe de ser uma mera propaganda, é a expressão de um processo social contínuo, em que a política, a ideologia e a estética se entrelaçam de forma inseparável. Para que a literatura e a arte possam atingir seu potencial revolucionário, é essencial que elas se alinhem com as necessidades e objetivos da classe trabalhadora, sem que isso signifique a perda da criatividade ou da autenticidade artística.
O que devemos entender, portanto, é que a relação entre arte e política, quando mediada pelos princípios leninistas, não é uma forma de coação ou repressão, mas uma alavanca para o crescimento da arte. A função do partido é garantir que a arte se desenvolva dentro dos parâmetros que possibilitem sua verdadeira contribuição para a sociedade socialista, respeitando sua especificidade, mas também mantendo sua conexão com as transformações sociais e culturais que estão em andamento.
Como Mudanças Sociais e Psicologia Influenciam o Comportamento Coletivo em Temas como Mudanças Climáticas
Como sobreviver ao trabalho invisível na sociedade educada: uma luta de dignidade e resistência
Como os Envelhecimentos Fisiológicos Influenciam a Reabilitação Geriátrica: Desafios e Estratégias

Deutsch
Francais
Nederlands
Svenska
Norsk
Dansk
Suomi
Espanol
Italiano
Portugues
Magyar
Polski
Cestina
Русский