A prática de esportes caninos, como a agilidade, envolve uma combinação complexa de treinamento, genética, ambiente e fatores fisiológicos. Embora os cães participantes desses eventos possam exibir impressionante destreza física, é fundamental compreender os diferentes aspectos que podem contribuir para o risco de lesões. As lesões em cães atletas podem ocorrer em diversas partes do corpo, desde as articulações até os músculos e ligamentos, com vários fatores sendo identificados como determinantes para o desenvolvimento dessas condições.

Os estudos realizados sobre a saúde de cães envolvidos em competições de agilidade revelam uma série de fatores de risco que contribuem para o aumento da probabilidade de lesões. A análise dos dados de diferentes pesquisas mostra que o peso corporal, a idade de castração e o tipo de treinamento são algumas das variáveis mais significativas. Cães mais pesados, por exemplo, têm maior chance de sofrer lesões nas articulações, especialmente na articulação do joelho, devido ao aumento do impacto durante as atividades de alto desempenho. A castração também aparece como um fator relevante: a castração precoce tem sido associada ao risco de doenças nas articulações e até a câncer, afetando negativamente a saúde a longo prazo do animal. A questão da castração é um tópico complexo, que deve ser analisado individualmente, levando em consideração a idade e a raça do cão.

Além disso, o tipo de treinamento desempenha um papel crucial. Treinamentos intensivos e excessivos, que não respeitam o tempo necessário para recuperação entre os exercícios, podem levar a lesões musculares ou ligamentares, especialmente quando os cães são forçados a realizar movimentos repetitivos em alta velocidade. A escolha do solo também é outro fator determinante; superfícies muito duras ou muito escorregadias podem aumentar o risco de lesões. Embora muitas competições de agilidade ocorram em locais com piso controlado, a exposição ao treino em diferentes ambientes e tipos de terreno pode colocar os cães em risco de lesões, se não houver o devido cuidado com a escolha do local e a adaptação do animal.

Pesquisas também sugerem que cães de raças grandes têm maior risco de sofrer lesões nos ligamentos do joelho. A ruptura do ligamento cruzado cranial (CCR) é uma das lesões mais comuns em cães de grande porte, e a predisposição genética de algumas raças, como o Labrador Retriever, torna esses cães mais vulneráveis a essa condição. O mesmo pode ser observado em cães com uma estrutura corporal desproporcionalmente grande para sua idade, o que pode sobrecarregar suas articulações e aumentar o risco de lesões graves. Raças menores, por sua vez, podem ser mais suscetíveis a problemas nas costas ou nas patas dianteiras, já que o impacto gerado pelo movimento é distribuído de maneira diferente.

Outro ponto importante é a relação entre o envelhecimento e a incidência de lesões. Cães mais velhos são mais propensos a sofrer danos ósseos e musculares devido ao desgaste natural das articulações e à diminuição da elasticidade muscular. A prática de esportes de alta intensidade em cães idosos, sem a devida preparação física e cuidado, pode resultar em lesões irreversíveis. A recuperação de lesões em cães mais velhos é geralmente mais demorada, o que implica a necessidade de um acompanhamento veterinário constante e uma abordagem preventiva eficaz.

Fatores genéticos também devem ser levados em consideração, já que algumas raças de cães têm predisposição a determinadas condições, como displasia coxofemoral, osteoartrite e problemas no ligamento cruzado. A combinação de genética e treinamento inadequado pode resultar em sérios problemas de saúde para o animal, o que demanda uma abordagem mais cuidadosa tanto na escolha da raça quanto na gestão do treino e das competições.

Além disso, a observação e o monitoramento constantes das condições físicas do cão durante o treinamento são essenciais para a prevenção de lesões. O treinamento deve ser progressivo e sempre adaptado às capacidades do cão, evitando exigências excessivas. É vital também que os donos de cães atletas invistam em cuidados pós-treinamento, como fisioterapia e técnicas de relaxamento muscular, que auxiliam na recuperação e previnem o aparecimento de lesões musculares e articulares.

Em resumo, o treinamento adequado, a gestão do risco relacionado à raça, peso e idade, bem como a análise constante do estado físico do cão, são essenciais para garantir a saúde e o desempenho dos cães em competições. O uso de pisos adequados, a adaptação do treinamento à individualidade de cada cão, e o acompanhamento médico veterinário são estratégias fundamentais para minimizar os riscos de lesões.

O entendimento e a implementação dessas práticas são cruciais para garantir não apenas o sucesso nas competições, mas também a saúde e o bem-estar a longo prazo dos cães atletas. A preparação física e mental deve ser equilibrada, respeitando os limites naturais do corpo do animal, com o devido suporte e cuidados necessários ao longo de sua carreira esportiva.

Como a Homeostase da Cartilagem Afeta a Saúde e a Reabilitação Veterinária

A homeostase da cartilagem desempenha um papel crucial na saúde articular, sendo uma das principais responsáveis pela função das articulações e pela manutenção da mobilidade e flexibilidade nos animais. A cartilagem, ao funcionar como amortecedor e estabilizador das articulações, permite que os movimentos ocorram sem dor ou restrição. No entanto, qualquer desequilíbrio neste processo pode levar a uma série de doenças articulares, como a osteoartrite, que afeta tanto cães quanto seres humanos, especialmente em idades avançadas ou após lesões traumáticas.

A osteoartrite é uma condição degenerativa que ocorre quando a cartilagem que reveste as articulações se desgasta, resultando em dor, inflamação e perda de função. Este desgaste da cartilagem é muitas vezes exacerbado por fatores como genética, idade, obesidade e falta de atividade física. No contexto veterinário, a compreensão da homeostase da cartilagem e dos processos que afetam sua integridade é essencial para o tratamento de doenças como a osteoartrite em cães, principalmente aqueles de raças predispostas ou que passaram por lesões traumáticas ou cirúrgicas.

Estudos têm demonstrado que a atividade física moderada e controlada pode ser benéfica para a manutenção da saúde da cartilagem. A reabilitação física veterinária, que inclui exercícios terapêuticos, tem mostrado resultados promissores na recuperação da função articular, especialmente em cães que sofreram lesões ou que apresentam sinais de degeneração articular. Esses exercícios não apenas ajudam na manutenção da mobilidade, mas também podem aliviar a dor e reduzir o processo inflamatório nas articulações afetadas.

Além disso, a aplicação de terapias complementares, como a vibração de corpo inteiro, tem sido investigada em vários estudos para verificar seus efeitos no tratamento de doenças articulares em cães. A vibração de corpo inteiro, ao promover estímulos nos músculos e na estrutura óssea, pode melhorar a força muscular e a mobilidade das articulações. Isso é particularmente relevante em animais que enfrentam dores crônicas ou limitações funcionais devido à osteoartrite ou outras condições degenerativas.

Outro aspecto importante é a nutrição, que desempenha um papel fundamental na manutenção da saúde da cartilagem e das articulações. Dietas balanceadas, ricas em ácidos graxos ômega-3, glucosamina e condroitina, são frequentemente recomendadas para animais com osteoartrite ou outros problemas articulares, pois esses nutrientes ajudam a promover a regeneração da cartilagem e a reduzir a inflamação.

A monitorização contínua da função articular e a avaliação de sinais precoces de degeneração podem ajudar a prevenir o avanço de doenças articulares. No entanto, o desafio maior é a conscientização de tutores e profissionais veterinários quanto à importância de intervenções precoces. O diagnóstico e o tratamento precoce, bem como a implementação de um programa de exercícios adaptado e um plano nutricional adequado, são essenciais para melhorar a qualidade de vida dos animais afetados.

A reabilitação física também envolve um trabalho em conjunto entre veterinários, fisioterapeutas e os tutores dos animais. Estratégias de acompanhamento personalizado são vitais para garantir a adesão aos tratamentos e a eficácia dos programas de exercícios. Isso inclui o uso de dispositivos como trilhos de cavalete para melhorar a coordenação motora, além de treinos de escada para fortalecer as articulações dos membros posteriores, com ênfase na recuperação do movimento completo da articulação.

É importante destacar que, enquanto o tratamento da osteoartrite é essencial para a gestão de doenças articulares, ele não é uma solução única. As abordagens terapêuticas devem ser multidimensionais, englobando desde a fisioterapia até a modificação comportamental, com a introdução de atividades físicas regulares que promovam a saúde articular sem sobrecarregar as articulações. A combinação de exercícios de baixo impacto, alimentação adequada e, quando necessário, o uso de medicamentos anti-inflamatórios, pode garantir uma abordagem eficaz para o manejo da osteoartrite.

Em casos mais avançados, quando as articulações estão severamente comprometidas, pode ser necessário considerar intervenções cirúrgicas, como a artroplastia ou a substituição total da articulação. Contudo, a reabilitação pós-cirúrgica continua a ser fundamental, uma vez que ajuda a otimizar a recuperação e a restaurar a função do animal de forma mais eficaz.

Além disso, a observação do comportamento dos animais, como mudanças na intensidade e na duração das caminhadas, pode fornecer informações valiosas sobre o progresso da doença ou da recuperação. Muitos tutores relatam que, à medida que os cães desenvolvem osteoartrite, suas caminhadas tornam-se mais curtas e lentas, e a percepção dessas alterações pode ajudar a ajustar os tratamentos e intervenções terapêuticas.

Por fim, é fundamental que os tutores de animais afetados por doenças articulares compreendam a complexidade da saúde articular e a necessidade de um manejo contínuo e proativo. O controle da osteoartrite e de outras doenças articulares não depende apenas do tratamento médico, mas também do compromisso dos tutores com a reabilitação física, a nutrição e a monitorização regular da saúde do animal.

Quais são os tratamentos cirúrgicos mais eficazes para doenças do cotovelo em cães?

A patologia do cotovelo em cães, particularmente em raças grandes e gigantes, é um campo de estudo crescente e complexo, dado o impacto dessas condições na qualidade de vida dos animais. A osteocondrose (OC) e a osteocondrite dissecante (OCD) no cotovelo, por exemplo, são frequentemente associadas ao processo de desgaste articular e comprometem a função do membro. Essas condições geralmente envolvem o côndilo humeral distal medial, um ponto crítico de articulação durante a fase de suporte da marcha. Embora o tratamento conservador possa aliviar sintomas, as alterações na conformação articular e o aumento da fricção nas articulações exigem intervenções mais agressivas, como a cirurgia.

A abordagem cirúrgica para esses casos tem mostrado resultados variados, mas uma das opções mais inovadoras e frequentemente recomendadas é a artroplastia unicondilar do cotovelo canino (CUE®). Este procedimento visa resurfacing localizado, ou seja, a renovação das superfícies articulares de contato entre o processo coronoide medial e o côndilo humeral medial, com o uso de implantes de cobalto-cromo e componentes de polietileno de peso molecular ultralto. Apesar de seu sucesso inicial, estudos indicam que os sinais clínicos de alterações patológicas no cotovelo nem sempre são resolvidos de maneira definitiva com este tratamento, o que sugere que a efetividade do CUE® pode ser limitada a estágios iniciais da doença articular (Franklin et al., 2014; Cook et al., 2015).

A substituição total da articulação do cotovelo (TER) tem sido investigada ao longo dos anos, mas o alto índice de complicações ainda impede que se torne uma prática mais amplamente adotada. Isso ocorre principalmente devido aos riscos associados à falha da prótese e à complexidade do procedimento.

O tratamento não cirúrgico também possui seu lugar, especialmente em cães cujas condições não exigem uma intervenção invasiva imediata. Embora não altere a conformação articular, o manejo conservador pode proporcionar alívio de dor e melhoria funcional temporária. Técnicas como infiltrações intra-articulares de ácido hialurônico, que substituem o fluido sinovial e ajudam a restaurar um estado fisiológico mais normal na articulação, são comumente utilizadas (Mathies, 2006). Além disso, terapias biológicas, como o uso de plasma rico em plaquetas (PRP) ou células-tronco, podem ser consideradas pós-cirurgia para reduzir a inflamação e promover a cicatrização tecidual (Guercio et al., 2012; Zhu et al., 2013).

No caso específico da osteocondrose ou osteocondrite dissecante do cotovelo, o tratamento cirúrgico de remoção do fragmento de OCD é muitas vezes indicado. A cura, após a remoção, é complementada por curetagem e osteostixia do osso subcondral para estimular a regeneração da cartilagem fibrocartilaginosa. Defeitos maiores (> 6 mm) podem justificar o uso de resurfacing, utilizando autógenos osteocondrais ou implantes sintéticos, como o SynACART®, um substituto para a cartilagem hialina (Fitzpatrick et al., 2009). Embora a literatura sobre o SynACART® ainda seja limitada em relação ao cotovelo canino, os resultados iniciais são promissores.

Em relação à patologia do processo anconeal não unido (UAP), a compreensão da fisiopatologia ainda não é completamente clara. Fatores como deficiências nutricionais, displasia do sulco troclear, trauma e fatores metabólicos foram propostos como possíveis causas. Um componente genético também foi sugerido, especialmente em cães da raça Pastor Alemão, que têm uma incidência significativamente maior dessa condição (Packard, 1986). A identificação precoce do UAP é crucial para o manejo adequado, uma vez que o diagnóstico definitivo só pode ser feito após os 20 semanas de idade. A radiografia lateral é fundamental para a confirmação do diagnóstico, embora imagens avançadas, como tomografia computadorizada (CT) ou artroscopia, possam ser úteis para avaliar condições concomitantes, como a MCorD.

O tratamento para UAP geralmente envolve procedimentos cirúrgicos como a osteotomia do úmero proximal ou a fixação do processo anconeal com parafusos e pinos, com taxas de união que variam de 12 a 100% (Pettitt et al., 2009). Em alguns casos, a remoção do processo anconeal pode ser necessária, especialmente quando não há possibilidade de reparo eficaz.

Em todos esses tratamentos, a gestão da dor e a reabilitação pós-cirúrgica desempenham um papel fundamental na recuperação e no retorno à função normal do membro. Procedimentos como a fisioterapia e o controle rigoroso de peso também são componentes essenciais do plano de tratamento para garantir a melhor qualidade de vida para o animal.

No entanto, é importante que o proprietário compreenda que, mesmo com os tratamentos mais avançados, o prognóstico a longo prazo para muitas dessas condições envolve o desenvolvimento de osteoartrite. O controle contínuo da dor e a monitorização do progresso do animal são fundamentais para gerenciar a condição ao longo da vida do animal.

Como a Deficiência do Ligamento Cruciado Afeta o Menisco Medial no Cão

A deficiência do ligamento cruzado cranial (LCC) no cão resulta em uma série de modificações dinâmicas na mecânica da articulação do joelho, muitas das quais afetam diretamente o menisco medial. A instabilidade articular gerada pela ruptura do LCC provoca uma subluxação da articulação do joelho, o que resulta em um aprisionamento do menisco medial entre o côndilo femoral e o platô tibial. Este aprisionamento torna o menisco medial ainda mais vulnerável à lesão, principalmente em animais que já apresentam um desbalanceamento biomecânico na articulação do joelho. Quando o LCC está comprometido, a articulação perde parte da sua capacidade de estabilidade, levando a uma sobrecarga nas estruturas circundantes, como o menisco, que pode ser danificado progressivamente.

A relação entre a degeneração do ligamento cruzado e as lesões do menisco medial é um fenômeno bem documentado. No contexto da deficiência do LCC, o menisco medial é mais suscetível a lesões devido ao aumento da translação cranial da tíbia em relação ao fêmur. Esse movimento exagerado altera a pressão nas estruturas meniscais, favorecendo a lesão ou até mesmo a ruptura do menisco, o que pode agravar ainda mais a instabilidade articular e predispor a um quadro de osteoartrite (OA) secundária.

Compreender as alterações cinemáticas da articulação do joelho no cão é essencial para diagnosticar e tratar adequadamente essas condições. O ângulo do platô tibial (TPA) desempenha um papel significativo na biomecânica da articulação. Em cães com ângulo de platô tibial mais acentuado, a carga sobre o LCC e as estruturas associadas, como o menisco, aumenta substancialmente, elevando o risco de ruptura do LCC. Em contrapartida, o alinhamento inadequado e a conformation alterada dos membros pélvicos também podem predispor ao desenvolvimento de lesões no menisco medial, intensificando a lesão articular.

É importante destacar que a patologia associada à ruptura do LCC envolve mais do que apenas um processo degenerativo localizado. Trata-se de um fenômeno multifatorial, com componentes biológicos e biomecânicos que se interligam, formando um quadro complexo. Fatores genéticos, como a predisposição para a fraqueza do colágeno e a estrutura do menisco, são particularmente relevantes, principalmente em raças predispostas a doenças articulares. Em raças como o Labrador Retriever, o Rottweiler e o Akita, a incidência de lesões do LCC e danos meniscais é elevada, o que sugere um forte componente genético e uma susceptibilidade ao desgaste articular prematuro.

Ademais, a função muscular também deve ser considerada. A falta de suporte muscular adequado pode comprometer a mecânica normal da articulação do joelho e aumentar a pressão sobre o menisco. Em cães com deficiência do LCC, o desequilíbrio na distribuição das forças articulares acelera o desgaste e a degeneração do menisco, o que pode levar à dor crônica e a uma limitação significativa na mobilidade do animal.

O tratamento das lesões meniscais associadas à ruptura do LCC é igualmente complexo. Em muitos casos, a lesão meniscal é acompanhada por uma instabilidade articular significativa, que requer uma abordagem terapêutica agressiva. A correção cirúrgica do LCC é frequentemente indicada, já que estabilizar a articulação pode prevenir a progressão das lesões meniscais e da osteoartrite. O uso de técnicas minimamente invasivas, como a artroscopia, tem mostrado bons resultados no diagnóstico e tratamento das lesões meniscais, além de reduzir a morbidade associada ao procedimento cirúrgico.

No entanto, é importante lembrar que cada caso de ruptura do LCC e lesão meniscal é único, e o tratamento deve ser individualizado. O prognóstico para a recuperação depende da gravidade da lesão, da resposta à intervenção terapêutica e da capacidade do animal de manter uma função articular satisfatória após o procedimento. O tratamento cirúrgico, embora eficaz, não elimina completamente o risco de complicações, como a progressão da osteoartrite, e o manejo pós-operatório é essencial para garantir o sucesso a longo prazo.

A lesão do LCC no cão não é apenas uma condição que afeta o ligamento em si, mas desencadeia um processo degenerativo que pode afetar diversas outras estruturas articulares, incluindo o menisco medial. A interdependência entre essas estruturas destaca a importância de um diagnóstico precoce e de uma abordagem terapêutica abrangente, que envolva tanto a correção da instabilidade articular quanto a proteção das estruturas meniscais.

É essencial que os tutores de cães com predisposição genética ou sinais clínicos de instabilidade articular fiquem atentos a qualquer mudança no comportamento ou na locomoção do animal. A detecção precoce de alterações no padrão de marcha ou de dificuldades para se levantar pode ser fundamental para evitar complicações graves. Além disso, a manutenção do peso ideal, o fortalecimento muscular e o monitoramento constante da saúde articular podem ajudar a minimizar os riscos de desenvolvimento dessas condições debilitantes.

Como Avaliar Posturas Anormais e o Galope de Cães com Distúrbios no Membro Pélvico: Elementos de um Exame Compreensivo

Existem várias posturas anormais frequentemente observadas nos membros pélvicos de cães com distúrbios ortopédicos. Cães que não conseguem realizar a extensão adequada do quadril devido à displasia coxofemoral grave ou a extensão normal do joelho devido a luxações patelares médias de alto grau muitas vezes posicionam suas patas cranialmente em relação ao quadril, o que resulta em uma cifose na coluna lombar. Este tipo de alteração postural pode ser observado, inclusive, quando a cifose lombar está associada a uma cifose torácica e a uma extensão excessiva do joelho, o que eleva a postura do cão na parte posterior. A perda de angulação, comumente vista em raças de cães "bully", pode também estar associada a lesões no ligamento cruzado cranial, o que, possivelmente, reduz a eficiência propulsora dos membros pélvicos.

Deformidades no fêmur e na tíbia são comuns em raças condrodistróficas e em cães com luxação patelar de alto grau. No caso do fêmur, essas deformidades podem incluir coxa vara (com redução da inclinação do pescoço femoral), torção externa distal do fêmur e varo femoral. Já as deformidades tibiais podem envolver a torção medial da tíbia, associada ao posicionamento medial da apófise tibial. Essas alterações podem resultar na apresentação clínica de genu varum (pernas arqueadas), pes varus ou pes valgus, com ou sem luxação patelar medial.

Outra anomalia comum que pode ser observada nos cães é o aumento do ângulo tarsal de suporte, conhecido como hiperextensão do tarsus. Essa alteração postural frequentemente ocorre como compensação, sendo indicativa de alterações patológicas graves no quadril ou no joelho, e não propriamente no tarsus. Cães com luxação patelar de alto grau frequentemente exibem esse tipo de postura. Em contraste, lesões nos componentes do tendão calcâneo comum podem resultar em redução do ângulo tarsal de suporte, o que é conhecido como "tarsus caído". Essa condição pode estar associada à hiperflexão dos dedos, sugerindo que o tendão flexor digital superficial está intacto, ou com hiperextensão (achatamento) dos dedos, sugerindo que todos os componentes do tendão calcâneo comum estão comprometidos.

A análise da marcha é uma ferramenta crucial na avaliação de distúrbios ortopédicos. A análise subjetiva da marcha, geralmente realizada de forma visual, busca identificar anomalias, principalmente ao caminhar ou trotar. Embora a análise subjetiva tenha a vantagem de ser facilmente acessível ao clínico em qualquer ambiente, ela deve ser realizada com uma compreensão profunda de suas limitações. Esse método é particularmente insensível tanto na detecção de claudicação quanto na identificação precisa dos membros afetados. Um estudo realizado com Labrador Retrievers após lesão do ligamento cruzado cranial, com ou sem cirurgia, demonstrou que aproximadamente 75% dos cães sem claudicação visual não apresentaram forças de reação do solo compatíveis com cães saudáveis da mesma raça. A análise de vídeo em câmera lenta não melhora a precisão da análise subjetiva da marcha. Além disso, efeitos placebo por parte do cuidador ocorrem 45% das vezes quando veterinários examinam cães para identificar claudicação ao caminhar ou trotar. Dessa forma, a avaliação visual da marcha deve ser utilizada apenas para identificar alterações na marcha e, a partir daí, direcionar investigações mais detalhadas.

Os cães com claudicação nos membros pélvicos frequentemente apresentam o que é conhecido como "queda do quadril" (deslocamento inferior do trocanter maior ao suportar peso). Outra estratégia comum em cães com claudicação nos membros pélvicos é a "caminhada lateral", também conhecida como "crab walk" ou "caminhada lateralizada". Neste tipo de marcha, o membro não afetado se torna o principal responsável pela propulsão e é colocado no solo entre os membros torácicos, enquanto o membro afetado é posicionado lateralmente, afastado da linha média. Essa estratégia também é observada em cães com claudicação nos membros torácicos, e a diferenciação entre um membro pélvico ou torácico afetado exige uma avaliação física cuidadosa. Além disso, a caminhada lateral pode ocorrer em cães com aumento da angulação dos membros pélvicos e uma sobrecarga do movimento, onde essa estratégia é utilizada para evitar a interferência com os membros torácicos durante a marcha rápida.

Outro comportamento comum observado é o aumento da oscilação lateral da pelve e uma marcha de paciência, estratégias adotadas para reduzir a flexão e extensão das articulações dolorosas, especialmente em cães que apresentam claudicação bilateral. Esse aumento do movimento lateral da pelve ocorre principalmente quando os membros pélvicos estão afetados, enquanto a escolha por uma marcha de paciência ocorre quando o cão apresenta comprometimento em todos os membros, como é frequentemente visto em cães jovens com displasia de quadril e cotovelo, ou em cães com osteoartrite de múltiplas articulações de grau moderado a grave.

Para avaliar a função de maneira eficaz, o clínico deve compreender completamente os componentes da tarefa canina sendo avaliada. Tarefas funcionais, como a mudança de recumbência lateral para esternal ou de esternal para a posição sentada, podem ser divididas em seus movimentos individuais, para que se possa identificar o ponto exato em que ocorre o déficit. Uma vez que o clínico se familiarize com esse processo, as mesmas abordagens podem ser aplicadas em situações novas, possibilitando uma avaliação mais acurada das atividades.

A palpação é uma técnica fundamental em qualquer exame físico ortopédico. Ela deve ser realizada das partes distais para as proximais dos membros pélvicos. Embora as estruturas do membro distal, devido à menor cobertura de tecidos moles, sejam mais facilmente palpáveis, o exame deve focar especialmente na avaliação da qualidade do movimento das articulações e no teste de comprimento dos músculos na parte proximal dos membros. A palpação é dividida em duas partes: detectar anomalias, como inchaço, efusão, tensão, espessamento periarticular ou fibrose e/ou calcificação muscular, e detectar dor. A presença de dor pode indicar uma área de lesão ativa, enquanto alterações estruturais, como fibrose ou osteófitos, podem não estar relacionadas ao quadro atual, representando lesões antigas ou resolvidas.

Além disso, a resolução de alterações estruturais dos tecidos frequentemente ocorre mais lentamente do que a melhora no conforto e na função, e os pacientes podem retornar à atividade antes que essas mudanças estruturais desapareçam por completo.