Como a AFP Molda a Política Local: Estratégias e Parcerias para Promover uma Agenda Conservadora

A Fundação Americans for Prosperity (AFP) surgiu com o objetivo de influenciar as políticas públicas nos Estados Unidos, especialmente em nível estadual, por meio de uma combinação de ativismo de base e pressão sobre legisladores. Desde o seu surgimento, a AFP tem se destacado não apenas pela mobilização popular, mas também pela estreita colaboração com outros grupos conservadores como a ALEC (American Legislative Exchange Council) e a SPN (State Policy Network), formando o que pode ser descrito como uma "troika" de forças de direita nos Estados Unidos. Através dessa parceria, a AFP tem sido capaz de promover reformas fiscais, cortes de impostos e mudanças no sistema educacional que favorecem o setor privado e reduzem a intervenção estatal.

Um exemplo claro dessa colaboração ocorre no estado do Maine, onde a AFP-Maine começou suas atividades com a missão de reduzir gastos públicos e aumentar a competitividade econômica do estado. Desde o início, o capítulo do Maine se focou em treinamento de ativistas para ajudar a impulsionar sua agenda política. Mais de setenta ativistas participaram do primeiro evento de formação, no qual aprenderam estratégias de engajamento político, como a criação de campanhas e o uso eficaz de mensagens para influenciar debates legislativos. Esse tipo de treinamento tem sido um pilar da AFP, permitindo-lhe construir uma rede de cidadãos mobilizados que atuam de forma eficaz nas arenas políticas locais e nacionais.

Além do treinamento, a AFP-Maine também adotou abordagens mais tradicionais para influenciar a política. No apoio ao orçamento proposto pelo governador Paul LePage em 2012, que previa cortes significativos de impostos, a diretora do capítulo, Carol Weston, defendeu publicamente as propostas, argumentando que a redução de impostos era essencial para o crescimento econômico do estado. Weston, que já tinha uma carreira política consolidada e conexões dentro do establishment republicano de Maine, representa o perfil típico dos diretores da AFP: indivíduos com um histórico político forte e com laços estreitos com outros grupos de influência conservadora.

Porém, a atuação da AFP não se limita à política estadual. Uma das atividades emblemáticas da organização foi a promoção do "No Climate Tax Pledge", um compromisso firmado por legisladores republicanos para se opor a qualquer aumento de impostos relacionado ao combate às mudanças climáticas. Essa estratégia foi fundamental para bloquear tentativas de legislações bipartidárias que visavam implementar uma precificação do carbono, o que, de acordo com a AFP, seria um encargo adicional para cidadãos e empresas. A ação em Maine, em que candidatos ao governo e à Câmara dos Representantes assinaram o compromisso, é um exemplo claro da capacidade da AFP de mobilizar suas bases para pressionar legisladores e candidatos a seguir a linha de suas propostas.

Apesar de sua grande influência, a colaboração entre os três grupos da troika nem sempre é perfeita. Embora haja uma grande sinergia em questões como redução de impostos, enfraquecimento dos sindicatos e cortes de regulamentações ambientais, existem áreas de desacordo, especialmente quando as políticas envolvem regulamentações favoráveis ao setor empresarial. Nesse caso, a ALEC e a SPN, que representam uma coalizão entre interesses empresariais e conservadores, podem apoiar legislações que favorecem o setor privado com benefícios fiscais ou regulamentações mais brandas, o que pode gerar algumas fricções com outros membros da troika que priorizam a redução do papel do Estado de maneira mais abrangente.

Ao analisar a atuação da AFP e sua parceria com a ALEC e a SPN, é importante compreender a amplitude e o impacto dessa rede conservadora na política americana. Esses grupos não apenas moldam políticas fiscais e educacionais, mas também influenciam o discurso público sobre questões como impostos, mudanças climáticas e liberdade econômica. Através de um uso estratégico de mídia e treinamento de ativistas, a AFP tem conseguido transformar sua base de apoio em uma força política capaz de moldar o futuro legislativo em vários estados.

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Como a Troika de Direita Influenciou a Política Trabalhista em Wisconsin: O Caso da Lei 10

A análise do impacto da troika de direita na política estadual pode ser enriquecida ao observar um estudo de caso específico. A vantagem dessa abordagem reside na possibilidade de rastrear com precisão os processos utilizados pela troika para pressionar o governo estadual, isolando outras variáveis que poderiam afetar os resultados. O embate em torno da Lei 10 de Wisconsin, que entre outras mudanças efetivamente desmantelou a negociação coletiva no setor público, oferece uma ilustração clara de como os três membros da troika convergiram em apoio a um objetivo político comum, desafiando os sindicatos do setor público.

A Lei 10 foi introduzida pelo governador republicano Scott Walker logo após sua posse em 2011, sob a alegação de que a medida era necessária para corrigir o déficit orçamentário do estado. A proposta incluía, além de cortes orçamentários, mudanças substanciais nas regras da negociação coletiva, restringindo os direitos dos sindicatos dos funcionários públicos, mas isentando os policiais e bombeiros, categorias de trabalhadores historicamente mais alinhadas aos interesses republicanos. A reação inicial dos sindicatos foi de disposição para negociar os cortes orçamentários, mas não a restrição dos direitos de negociação. Walker, no entanto, insistiu em avançar com o pacote completo, o que resultou em grandes manifestações de oposição por parte dos sindicatos e cidadãos simpatizantes.

A retórica em torno da Lei 10 foi de que a mudança nas negociações coletivas não tinha relação direta com a melhoria da situação orçamentária, mas, pelo contrário, parecia ser uma forma de atingir politicamente os adversários de Walker. A isenção dos sindicatos de policiais e bombeiros foi um indicativo de que a medida tinha um caráter ideológico mais do que econômico. Mesmo assim, a troika de direita se mobilizou de maneira decisiva para garantir que a proposta fosse aprovada. Walker, como membro ativo do American Legislative Exchange Council (ALEC) antes de assumir o cargo de governador, recebeu apoio contínuo dos aliados dessa organização, que ajudaram a moldar as políticas em torno da redução da capacidade dos consumidores de processar as empresas e das reformas trabalhistas no setor público.

A atuação da ALEC foi crucial para a formulação do projeto, que incorporou várias de suas sugestões, incluindo a limitação dos direitos de negociação coletiva. Além de Walker, outros líderes republicanos no estado, como os irmãos Fitzgerald, participaram ativamente da formulação e defesa do projeto, alinhados com as diretrizes da ALEC. O apoio de outras organizações conservadoras, como a Americans for Prosperity (AFP), foi igualmente fundamental. A AFP não apenas ajudou a mobilizar apoio popular para a legislação, mas também organizou protestos e investiu substanciais quantias em campanhas publicitárias para defender a proposta.

As alianças entre a ALEC, AFP e o State Policy Network (SPN) foram decisivas para garantir a aprovação da Lei 10 e para assegurar a continuidade da agenda reformista de Walker. A SPN, através de institutos como o MacIver Institute, desempenhou um papel de destaque na criação de um ambiente favorável para as mudanças legislativas. O MacIver, por exemplo, forneceu apoio crucial durante os protestos, ajudando a divulgar imagens e vídeos que favoreciam a aprovação da Lei 10, ao mesmo tempo que negava as previsões catastróficas feitas pelos opositores da reforma.

A resposta à resistência popular foi uma demonstração de força do movimento conservador. Quando Walker foi alvo de uma eleição de recall, a AFP, em parceria com o MacIver Institute, investiu milhões de dólares para defender a reforma e promover eventos de apoio ao governador. A tática de criar um movimento popular de base que contrastava com a oposição dos sindicatos provou ser eficaz, e a Lei 10 foi finalmente implementada, enfraquecendo significativamente o movimento sindical em Wisconsin.

O impacto da Lei 10 pode ser claramente observado anos depois. Os sindicatos do setor público perderam membros, e sua capacidade de influenciar a política local e estadual foi substancialmente reduzida. A diminuição do poder sindical teve um efeito direto na capacidade dos democratas de competir em nível local, enquanto os republicanos, com o apoio das forças conservadoras organizadas, puderam consolidar seu domínio no estado. A medida, que inicialmente parecia ser uma forma de corte orçamentário, mostrou-se mais uma estratégia para enfraquecer uma oposição política poderosa e garantir o controle republicano sobre o estado.

O efeito duradouro da Lei 10 em Wisconsin também reflete uma tendência mais ampla nos Estados Unidos, em que o movimento conservador tem utilizado táticas coordenadas entre organizações como a ALEC, AFP e SPN para implementar reformas que enfraquecem os sindicatos e alteram as dinâmicas políticas em níveis estaduais e locais. O caso de Wisconsin é um exemplo claro de como a troika de direita pode ser mobilizada para atingir objetivos políticos específicos, utilizando tanto estratégias legislativas quanto mobilização popular para consolidar o poder.

É importante notar que o enfraquecimento dos sindicatos não é apenas uma questão de redução de sua capacidade de negociação, mas também de como isso altera a dinâmica do financiamento político. Com menos recursos para apoiar candidatos, os sindicatos perdem uma parte importante de sua influência no processo eleitoral. A centralização do poder nas mãos de organizações conservadoras e a redução do poder sindical representam mudanças significativas no equilíbrio político do estado e podem ter efeitos de longo prazo em termos de políticas públicas.