A mastoidite aguda (MA) é uma complicação comum da otite média aguda (OMA), resultante da propagação da infecção para o osso mastoide, frequentemente em consequência da otite média não tratada ou inadequadamente tratada. A infecção pode progredir de maneira insidiosa, com sintomas iniciais de dor e febre, e pode se manifestar em diferentes formas, incluindo abscessos subperiósteos, paralisia facial e até complicações intracranianas.

Em um estudo retrospectivo multicêntrico que analisou 223 casos de mastoidite aguda, foi possível identificar várias cepas bacterianas responsáveis pela infecção. Streptococcus pneumoniae (15 casos), Streptococcus pyogenes (14), Staphylococcus aureus (13) e Pseudomonas aeruginosa (8) foram os agentes mais frequentemente isolados, embora a flora mista também tenha sido observada em alguns casos. É importante observar que, apesar da alta taxa de detecção de Haemophilus influenzae e Moraxella catarrhalis em aspirados de OMA, esses organismos raramente foram encontrados em casos de mastoidite, possivelmente devido à sua baixa afinidade para penetrar no osso.

A tomografia computadorizada (TC) se tornou o método de imagem preferido para investigar a mastoidite aguda, substituindo a radiologia convencional. A TC pode revelar desmineralização ou destruição das septações ósseas do mastoide e a presença de abscessos subperiósteos ou disseminação intracraniana da infecção. É fundamental compreender que a mastoidite pode ser erroneamente diagnosticada como opacificação mastoidea em casos iniciais de OMA, especialmente quando a imagem não é interpretada corretamente.

Na fase inicial de uma mastoidite não coalescente, o tratamento conservador é geralmente adotado, com antibióticos intravenosos direcionados pela cultura e, em alguns casos, inserção de tubos de ventilação através da miringotomia. A duração do tratamento intravenoso é de 7 a 10 dias, sendo eficaz em 75 a 85% dos casos, evitando a necessidade de mastoidectomia cortical, que continua sendo a solução definitiva para os casos mais graves.

Em casos de progressão da infecção, as complicações podem se espalhar para diferentes áreas, dependendo da direção da disseminação da infecção. A infecção pode se estender lateralmente, formando um abscesso subperiósteo, ou, em casos mais graves, pode atingir espaços mais profundos no pescoço, como o espaço parafaringeal, levando à formação de um abscesso de Bezold, uma complicação rara, mas grave. A presença de dor no pescoço e uma massa fluctuantemente palpável indicam a necessidade de drenagem urgente e mastoidectomia cortical. A progressão anterior pode também comprometer o canal facial, causando paralisia facial, ou ainda atingir o labirinto ósseo, resultando em labirintite ou até perda auditiva sensorioneural.

Em relação às complicações intracranianas, a evolução para meningite ou abscesso intracraniano continua sendo uma realidade, apesar do uso generalizado de antibióticos de amplo espectro. A infecção pode se espalhar para o espaço cerebrospinal, resultando em deterioração clínica rápida e potencialmente fatal. Embora a TC possa identificar a destruição óssea, o diagnóstico definitivo depende da evolução clínica do paciente, pois o quadro de mastoidite pode ser difícil de diferenciar de outras condições com sintomas semelhantes.

A paralisia facial é uma complicação rara, mas significativa, da otite média aguda, ocorrendo em cerca de 6% a 8% dos casos de paralisia facial de neurônio inferior. Quando associada à OMA, a paralisia pode estar relacionada a uma deiscência congênita do canal facial, que afeta até 55% dos ossos temporais. Bactérias da infecção podem invadir o nervo facial, resultando em paralisia. O tratamento envolve a administração de antibióticos intravenosos e miringotomia, com ou sem inserção de tubos de ventilação. A recuperação completa ocorre na maioria dos casos, mas pacientes com paralisia total têm um prognóstico mais reservado.

Uma das complicações mais graves da infecção do ouvido médio é a labirintite, que pode ser serosa ou supurativa. A labirintite serosa resulta da inflamação do labirinto, levando à perda parcial da função auditiva. Já a labirintite supurativa é uma condição potencialmente fatal, em que a infecção bacteriana penetra diretamente no labirinto, resultando em perda auditiva irreversível e possível desenvolvimento de meningite. A abordagem clínica para ambas as formas depende da gravidade da infecção e da resposta ao tratamento antibiótico, sendo que a labirintite supurativa exige intervenção rápida para evitar sequelas permanentes.

É essencial que os profissionais de saúde se atentem a todas as possibilidades de complicação ao diagnosticar mastoidite aguda. O manejo eficaz inclui a identificação precoce da infecção, o uso adequado de antibióticos intravenosos e a vigilância contínua para detectar qualquer evolução para complicações graves. A intervenção precoce pode evitar a progressão para formas mais severas de mastoidite, como a necessidade de mastoidectomia ou intervenções para controle de abscessos, paralisia facial ou complicações intracranianas.

Como Diagnosticar e Tratar Distúrbios Vestibulares: Uma Visão Completa do Sistema de Equilíbrio

O sistema de equilíbrio humano depende de informações sensoriais provenientes dos sistemas visual, vestibular periférico, somatossensorial e auditivo. Essas informações sensoriais são processadas para manter o controle postural, estabilização da visão e percepção espacial. A avaliação de pacientes com sintomas vertiginosos exige uma análise clínica geral minuciosa, complementada por testes audiovestibulares e exames de imagem radiológica. Como os sintomas frequentemente estão relacionados a patologias vestibulares periféricas, é fundamental que a avaliação foque principalmente nesse caminho sensorial. A detecção precoce e o tratamento adequado são essenciais para melhorar a qualidade de vida do paciente.

O sistema vestibular periférico é composto por cinco câmaras interconectadas e neuroepitélio presente nos canais semicirculares, que são responsáveis por detectar aceleração angular da cabeça. A membrana otoconial, presente no utrículo e sáculo, é mais densa que o líquido endolinfático circundante e, portanto, os movimentos da cabeça geram uma deflexão das células ciliadas, resultando em despolarização. Esses movimentos são processados para fornecer informações sobre a aceleração linear e o equilíbrio estático da cabeça, sendo a base do reflexo vestibulo-ocular que estabiliza a visão durante os movimentos da cabeça.

Em situações patológicas, como no caso do VPPB (Vértigo Posicional Paroxístico Benigno), o acúmulo de detritos otoconiais pode provocar distúrbios no equilíbrio. Esse tipo de vertigem é caracterizado por episódios breves de vertigem rotatória intensa, geralmente acompanhada de náusea e vômito, sem perda auditiva ou zumbido. O VPPB é a causa mais comum de vertigem, com uma prevalência de 2,4% ao longo da vida. A maioria dos casos está relacionada ao canal semicircular posterior, afetando de 85% a 95% dos pacientes. Esses episódios geralmente são desencadeados por movimentos específicos da cabeça, como ao virar-se na cama, ou ao olhar para cima rapidamente, o que causa uma sensação de "vertigem ao atingir a prateleira mais alta". Esse fenômeno pode ser extremamente assustador para os pacientes, com muitos temendo sofrer um acidente vascular cerebral (AVC).

A manobra de Dix–Hallpike é frequentemente utilizada para confirmar o diagnóstico de VPPB, induzindo nistagmo geotrópico torsional quando o canal posterior é afetado. A nistagmo, um movimento involuntário dos olhos, é um sinal característico do VPPB e pode ser utilizado para diferenciar entre os tipos de vertigem. Se o nistagmo for persistente ou de direção variável, isso pode indicar uma patologia central, que exige investigação adicional com ressonância magnética (RM).

Os distúrbios vestibulares também podem ser causados por perda vestibular periférica aguda (APVL), que resulta em vertigem rotatória contínua e severa, acompanhada de náusea e vômito. A perda vestibular aguda pode ser causada por uma variedade de fatores, incluindo infecções virais ou problemas vasculares, com o nervo vestibular superior frequentemente afetado. A COVID-19 tem sido recentemente associada à perda vestibular periférica aguda, embora a causa exata ainda não esteja completamente esclarecida. O tratamento para o VPPB e outras condições vestibulares periféricas frequentemente envolve a manobra de reposicionamento de partículas, como a manobra de Epley, que visa mover os cristais de cálcio do canal semicircular para o utrículo, onde se acredita que serão reabsorvidos.

Além disso, pacientes com perda vestibular periférica aguda podem se beneficiar de uma avaliação neuro-otológica detalhada, que inclui testes audiométricos puros para descartar a presença de outros distúrbios. Em casos de falha no tratamento conservador ou de recidiva dos sintomas, intervenções cirúrgicas, como a colocação de plugs no canal semicircular posterior, podem ser consideradas. Em alguns casos raros, a ablação com gentamicina ou labirintectomia cirúrgica podem ser necessárias para controlar os sintomas persistentes.

Ainda que as manobras de reposicionamento, como a manobra de Epley, sejam eficazes para a maioria dos pacientes com VPPB, a recorrência dos sintomas dentro do primeiro ano é relativamente comum. Estudos recentes sugerem que a suplementação com vitamina D pode ajudar na prevenção de recidivas, embora os resultados ainda não sejam conclusivos.

É importante que o diagnóstico de distúrbios vestibulares seja abordado de forma abrangente, considerando não apenas os testes clínicos e audiovestibulares, mas também as possíveis causas centrais dos sintomas. O exame físico detalhado, que pode incluir testes como o teste de Fukuda ou o teste de passo de Unterberger, também pode revelar informações importantes sobre a lateralização da vertigem e a presença de nistagmo. A investigação por ressonância magnética é fundamental quando há suspeita de lesão central, como em casos de esclerose múltipla ou outras condições neurológicas que afetam o sistema vestibular.

Ao abordar distúrbios vestibulares, a integração de diferentes métodos diagnósticos e terapêuticos é essencial para fornecer um cuidado eficaz e individualizado. A compreensão profunda do funcionamento do sistema vestibular e as estratégias de manejo adequadas são cruciais para melhorar os resultados dos pacientes. A avaliação contínua do paciente e a adaptação dos tratamentos às suas necessidades específicas devem ser uma prioridade, pois a progressão da doença ou a falha no tratamento pode resultar em complicações sérias e uma qualidade de vida significativamente reduzida.

Quais são as principais características e desafios no diagnóstico e tratamento dos tumores malignos de cabeça e pescoço em crianças?

Tumores malignos na região de cabeça e pescoço em crianças são relativamente raros, mas seu diagnóstico e manejo apresentam complexidades específicas, sobretudo pela variedade de tipos histológicos e pela particularidade do desenvolvimento pediátrico. A maioria dessas neoplasias se manifesta como massas firmes no pescoço, frequentemente assintomáticas no início, o que pode atrasar o reconhecimento clínico. Entretanto, sinais preocupantes, como dor, disfagia, hemoptise, diplopia e proptose, indicam uma apresentação mais avançada ou agressiva da doença.

Um dos principais grupos são os linfomas não-Hodgkin (LNH), que correspondem a cerca de 60% dos linfomas pediátricos. Esses tumores se diferenciam dos que acometem adultos por sua agressividade e complexidade na classificação, abrangendo linfoma linfoblástico de origem predominantemente T, linfoma de pequenas células não cleaved (Burkitt e subtipos não-Burkitt de origem B) e linfoma de grandes células, seja T ou B. A distribuição geográfica influencia sua prevalência e características: em regiões como a África, muitos casos são associados ao vírus Epstein-Barr. Aproximadamente 45% das crianças com linfoma apresentam linfadenopatia cervical ao diagnóstico, e a disseminação frequentemente atinge a região de Waldeyer, incluindo amígdalas e adenóides. A investigação rigorosa envolve exames laboratoriais, biópsia de medula óssea, análise do líquido cefalorraquidiano, além de técnicas de imagem como TC e RM para estadiamento. O tratamento padrão inclui quimioterapia multitarjetada, com a radioterapia exercendo papel restrito. A sobrevida varia conforme o subtipo histológico e a extensão da doença, mas, em geral, as perspectivas são favoráveis.

Outro tumor relevante é o rabdomiossarcoma, que acomete principalmente crianças menores de cinco anos, sendo cerca de 40% localizados na região da cabeça e pescoço, especialmente na órbita, seios paranasais, nariz, nasofaringe e ouvido médio. A apresentação clínica pode incluir proptose, massa nasal ou auricular, muitas vezes acompanhada de dor e secreção sanguinolenta. O comprometimento linfonodal varia entre 3% e 30%. O diagnóstico demanda avaliação minuciosa das estruturas nervosas cranianas, exames de imagem para definição do tumor primário e estadiamento, e a combinação de cirurgia com quimioterapia multitarjetada. A sobrevida em estádios iniciais ultrapassa 90%, refletindo avanços terapêuticos importantes desde a década de 1960, quando a taxa de sobrevida era drasticamente inferior.

O carcinoma de tireoide em pediatria, embora raro, merece atenção especial. Predomina em adolescentes do sexo feminino e a maioria dos casos corresponde a tumores diferenciados (papilífero e folicular). Frequentemente, apresenta-se como massa cervical assintomática ou nódulo tireoidiano, com alta incidência de envolvimento linfonodal (74%) e metástases à distância (25%) no momento do diagnóstico. O carcinoma medular, menos comum, está associado a neoplasias endócrinas múltiplas (MEN) e requer investigação genética para o proto-oncogene RET, incluindo dosagem plasmática de calcitonina. O manejo combina ultrassonografia, punção aspirativa por agulha fina ou biópsia, e abordagem multidisciplinar especializada envolvendo equipes de radiologia, endocrinologia e oncologia pediátrica. A conduta terapêutica inclui tireoidectomia total e ablação por radioiodo, conforme os protocolos adaptados da oncologia adulta.

O neuroblastoma é a neoplasia maligna mais comum em menores de um ano de idade, originando-se de células precursoras do sistema nervoso simpático. A glândula adrenal é o local predominante, mas tumores podem surgir na cadeia simpática cervical, mediastino posterior e região cervical. Os sintomas refletem o local do tumor primário e das metástases, com envolvimento linfonodal presente em até 35% dos casos ao diagnóstico. Na região de cabeça e pescoço, o neuroblastoma apresenta prognóstico relativamente melhor do que em outras localizações, sendo imprescindível o uso de exames complementares como cintilografia com MIBG para avaliação de disseminação metastática.

Carcinoma nasofaríngeo é raro na população pediátrica ocidental, mas prevalente em regiões da África e Extremo Oriente, associado ao vírus Epstein-Barr. Costuma apresentar-se com linfadenopatia cervical, obstrução nasal, epistaxe, otite média com efusão, cefaleia e paralisias de nervos cranianos, com diagnóstico geralmente tardio devido à doença avançada.

A avaliação detalhada da região cervical em crianças deve ser sempre completa, incluindo exame neurológico focado nos nervos cranianos e exames de imagem como ressonância magnética e tomografia computadorizada para caracterização do tumor e avaliação da extensão. A realização de biópsias, preferencialmente por excisão ou punção, é fundamental para o diagnóstico histológico e definição do tratamento, que quase sempre envolve terapias multimodais, combinando cirurgia, quimioterapia e radioterapia conforme o tipo e estágio da doença.

Além da necessidade de diagnóstico precoce, o manejo deve considerar as particularidades do crescimento e desenvolvimento infantil, minimizando efeitos adversos a longo prazo. A presença de sintomas sistêmicos como febre, sudorese noturna e perda de peso deve ser valorizada como indicativa de doença sistêmica avançada ou de pior prognóstico. Síndromes associadas, como a PHACE, que engloba anomalias cardíacas, cerebrais, vasculares e oculares, devem ser consideradas em casos de hemangiomas extensos, especialmente na região cervical.

A coordenação multidisciplinar entre pediatras, oncologistas, cirurgiões, radiologistas e outros especialistas é indispensável para a condução otimizada desses casos, garantindo melhores resultados e qualidade de vida às crianças acometidas. É fundamental compreender que, apesar da agressividade aparente de algumas neoplasias, os avanços recentes em diagnóstico e tratamento vêm elevando significativamente as taxas de sobrevivência, reforçando a importância da atenção especializada e do acompanhamento prolongado.