A indução anestésica de pacientes com dispositivos de assistência ventricular esquerda (LVAD) exige considerações cuidadosas, pois esses pacientes apresentam uma dinâmica hemodinâmica complexa que deve ser mantida durante todo o procedimento. É essencial assegurar que o fluxo do LVAD seja mantido de forma estável, pois qualquer distúrbio nesse fluxo pode prejudicar a perfusão tecidual e, consequentemente, a função de órgãos vitais. A anestesia deve ser cuidadosamente planejada para evitar sobrecarga do ventrículo direito (RV) e para assegurar uma perfusão adequada de todos os sistemas.
Durante a indução, o principal objetivo é manter o fluxo do LVAD e fornecer perfusão tecidual apropriada, evitando complicações como hipóxia, hipercapnia e acidose, que podem aumentar a resistência vascular pulmonar (PVR) e precipitar falência do ventrículo direito. Se o cuff de pressão não for funcional, o monitoramento arterial torna-se essencial para evitar esses distúrbios, pois alterações no PVR podem agravar ainda mais o quadro clínico. Em cirurgias extensas ou com disfunção moderada a grave do ventrículo direito, pode ser necessária a colocação de um cateter venoso central para suporte inotrópico. Se o débito cardíaco for crítico, um cateter de artéria pulmonar também será necessário. A ecocardiografia transesofágica (TEE) é uma ferramenta valiosa para avaliar o estado intravascular e monitorar o posicionamento da cânula, a abertura da válvula aórtica e a posição do septo interventricular.
Com relação ao LVAD, o modelo mais comum implantado atualmente é o HeartMate 3, um dispositivo de fluxo contínuo centrífugo. A vantagem desse dispositivo é a redução da incidência de trombose, uma vez que possui um caminho de fluxo sanguíneo significativamente maior e dinâmica de fluxo aprimorada. A suspensão magnética do rotor impede o contato entre o impulsor e a carcaça da bomba, minimizando a estase sanguínea. A avaliação dos LVADs de fluxo contínuo começa com a análise dos quatro parâmetros básicos do dispositivo: fluxo, velocidade, potência e índice de pulsatilidade (PI). O fluxo do LVAD depende da interação entre o dispositivo e o coração nativo, sendo determinado pela velocidade da bomba, pela pré-carga e pelo volume de sangue na entrada da bomba, além da pós-carga ou pressão na saída da bomba. A velocidade do rotor, parâmetro ajustável, regula diretamente o fluxo do VAD e está diretamente proporcional à taxa de fluxo da bomba.
No contexto da indução anestésica, se a função do ventrículo direito estiver preservada, pode-se realizar uma indução padrão com a adição de vasoconstritores para evitar quedas na pós-carga. Quando o ventrículo direito estiver disfuncional, devem ser usados agentes inotrópicos como epinefrina e milrinona, além de vasodilatadores pulmonares, como o óxido nítrico e o epoprostenol. O controle rigoroso do pré-carregamento e da perfusão coronária do ventrículo direito é crucial, e a análise da hemodinâmica deve ser acompanhada para evitar distúrbios.
Outro fator importante na anestesia de pacientes com LVAD é o controle da função do ventrículo direito, uma vez que qualquer sobrecarga desse ventrículo pode comprometer a estabilidade hemodinâmica do paciente. A ventilação e os parâmetros respiratórios devem ser ajustados para evitar um aumento da pressão intratorácica que prejudique a função do ventrículo direito. Volumes correntes excessivos e pressão expiratória positiva ao final da expiração (PEEP) devem ser evitados para prevenir complicações respiratórias que possam impactar negativamente a perfusão.
No intraoperatório, deve-se monitorar de perto o fluxo do LVAD, utilizando o índice de pulsatilidade (PI) e os parâmetros de potência para avaliar a estabilidade do dispositivo. O fluxo do LVAD pode ser reduzido por várias razões, como velocidade inadequada, obstrução da cânula de entrada, baixa pré-carga ou alta pós-carga. Essas condições podem resultar em fluxos baixos ou ausentes, dificultando a perfusão de órgãos essenciais. Quando o fluxo está diminuído com um PI elevado, pode-se suspeitar de hipertensão, obstrução parcial da cânula de entrada ou uma combinação de ambos. A ecocardiografia transesofágica é útil para diagnosticar eventos de "sucção" que podem ocorrer devido a um fluxo inadequado, e o tratamento consiste em reduzir a velocidade do LVAD e restaurar a pré-carga.
Finalmente, durante a manutenção da anestesia, a anestesia deve ser mantida em um nível adequado, garantindo analgesia suficiente e evitando hipovolemia, o que pode interferir na função do LVAD e no estado hemodinâmico do paciente. O controle rigoroso da ventilação e da pressão intratorácica é essencial para não prejudicar a função do ventrículo direito, e a taxa respiratória deve ser ajustada para evitar hiperóxia ou hipercapnia. A monitorização contínua e a gestão precisa do fluxo do LVAD são essenciais para garantir a segurança do paciente durante procedimentos cirúrgicos que envolvem esse dispositivo.
Como a Disfunção Renal Preexistente Impacta os Resultados Após Implantes de LVAD: Previsores e Desafios Clínicos
O impacto da função renal pré-existente nos resultados pós-implante de dispositivos de assistência ventricular (LVAD) tem sido amplamente discutido na literatura, com a maioria dos estudos concentrando-se na relação entre a taxa de filtração glomerular estimada (eGFR) e a sobrevida dos pacientes. A progressão da insuficiência renal crônica (IRC) até estágios terminais, quando os pacientes necessitam de diálise contínua ou transplante renal, era inicialmente considerada uma contraindicação relativa para a implantação de LVAD, devido ao aumento do risco de complicações e diminuição das chances de sobrevivência. Entretanto, estudos recentes têm demonstrado que, apesar da função renal prejudicada, a implantação do LVAD pode ser vantajosa, especialmente quando o gerenciamento clínico adequado é implementado.
A disfunção renal preexistente, medida principalmente por parâmetros como eGFR e creatinina sérica, tem sido associada a uma redução na sobrevida após o implante de LVAD. De acordo com um estudo de Sandner et al. (2009), a sobrevida dos pacientes com eGFR inferior a 60 ml/min/1,72 m² foi significativamente mais baixa em comparação aos pacientes com função renal preservada, apresentando taxas de sobrevivência de 66,5% e 47,9% nos primeiros três e seis meses após o implante, respectivamente. No entanto, a mortalidade inicial no primeiro mês não foi significativamente diferente entre os dois grupos, o que sugere que outros fatores podem influenciar o prognóstico imediato.
Além disso, a necessidade de substituição renal, como diálise pós-implante, foi observada em uma proporção considerável de pacientes com eGFR inferior a 40 ml/min/1,72 m² (20%) em comparação com apenas 7% dos pacientes com função renal mais preservada. Este dado foi estatisticamente significativo e apontou para a maior vulnerabilidade dos pacientes com função renal comprometida no contexto de um implante de LVAD. Contudo, é importante destacar que a disfunção renal não foi associada a um aumento de outras complicações pós-implante, como infecções, sangramentos e complicações respiratórias, embora a taxa de acidente vascular cerebral hemorrágico tenha sido consideravelmente maior entre os pacientes com função renal pré-existente comprometida.
O benefício potencial de melhorar a função renal após o implante de LVAD é uma área de interesse crescente. Estudos indicam que a função renal dos pacientes que apresentavam disfunção renal antes do implante tende a melhorar ao longo do tempo, chegando a níveis superiores aos valores observados antes do procedimento, o que sugere uma possível reversibilidade parcial dos danos renais induzidos pela insuficiência cardíaca grave. Por outro lado, pacientes com função renal normal antes do implante tendem a retornar a seus valores basais dentro de um ano, o que reforça a ideia de que o prognóstico renal pós-implante está, de fato, intimamente relacionado ao estado renal pré-existente.
Outros estudos têm apontado que a reversibilidade da função renal pós-implante está associada a melhores resultados a longo prazo. Pacientes com função renal recuperada apresentaram uma menor incidência de diabetes e outras complicações, como insuficiência cardíaca grave. A taxa de internação em unidades de terapia intensiva também foi mais baixa nesses pacientes. De acordo com Butler et al. (2006) e Sandner et al. (2009), os pacientes com melhora na função renal mostraram uma menor incidência de complicações cardiovasculares, como índice cardíaco elevado e maior índice de massa corporal, o que também contribui para a redução do risco geral pós-implante.
É importante destacar que a necessidade de um acompanhamento intensivo e cuidadoso no pós-operatório de pacientes com disfunção renal é fundamental para evitar complicações, como o aumento da creatinina sérica e a progressão da insuficiência renal aguda (AKI), que afeta cerca de 25% dos pacientes após o implante de LVAD. A progressão da AKI pode aumentar as chances de mortalidade em até quatro vezes nos primeiros 30 dias, com fatores como a presença de disfunção renal pré-existente, a necessidade de suporte inotrópico e o aumento da pressão venosa central (CVP) como preditores importantes. A introdução precoce de diuréticos e o uso adequado de inotrópicos são intervenções cruciais para prevenir o agravamento da função renal.
Outro fator relevante na gestão de pacientes com disfunção renal é a escolha do tipo de LVAD. Embora os dispositivos de fluxo contínuo (CF-LVAD) sejam preferidos atualmente devido à sua durabilidade e confiabilidade, a ausência de pulsatilidade desses dispositivos pode ter efeitos fisiológicos adversos, como o aumento da ativação do sistema nervoso simpático e a ativação do sistema renina-angiotensina-aldosterona (RAAS). Estes fatores podem exacerbar a inflamação renal e induzir dano tubulointersticial, o que, em última instância, contribui para a piora da função renal ao longo do tempo.
Portanto, a disfunção renal não deve ser considerada uma contraindicação absoluta para a implantação de LVAD, mas sim um fator a ser cuidadosamente analisado, considerando as características clínicas de cada paciente. A decisão de implantar um LVAD em um paciente com insuficiência renal grave deve ser baseada em uma análise cuidadosa do risco, levando em conta fatores como a causa da insuficiência renal, a resposta ao tratamento conservador e as comorbidades associadas. Além disso, o manejo adequado da função renal pós-implante é crucial para melhorar os resultados a longo prazo e minimizar as complicações.
Quais são os desafios e avanços no uso de dispositivos de assistência ventricular esquerda?
O uso de dispositivos de assistência ventricular esquerda (VAD) como terapia de ponte para o transplante tem mostrado avanços notáveis nos últimos anos, particularmente com a introdução de tecnologias como o HeartMate 3, um dispositivo totalmente levitado magneticamente, que melhora a funcionalidade e a segurança dos pacientes com insuficiência cardíaca terminal. Este tipo de dispositivo tem desempenhado um papel essencial no tratamento de pacientes que não são candidatos imediatos para o transplante cardíaco, oferecendo uma forma de suporte circulatório até que um coração saudável esteja disponível.
Desde a aprovação do dispositivo de assistência ventricular esquerda pela FDA em 1994, a tecnologia tem evoluído de forma significativa. A introdução do sistema de assistência total artificial (TAH) em 2004 também contribuiu para um novo cenário no tratamento da insuficiência cardíaca avançada, criando alternativas duráveis para os pacientes enquanto aguardam um transplante. O suporte circulatório mecânico, como ponte para o transplante, se estabeleceu como uma das principais estratégias para pacientes com falência cardíaca avançada.
Em termos de benefícios, os sistemas VAD de fluxo contínuo, como o HeartMate 3, têm se mostrado altamente eficazes na melhora da função cardíaca, permitindo aos pacientes uma recuperação significativa enquanto aguardam o transplante. A precisão no controle da hemodinâmica e a capacidade de reduzir a mortalidade e morbilidade associada a complicações cardíacas têm sido amplamente estudadas e validadas em vários ensaios clínicos.
Porém, os desafios persistem. O gerenciamento de complicações, como a insuficiência renal e a falência ventricular direita (RVF), continua a ser uma área crítica de investigação. A falência do ventrículo direito, em particular, é uma complicação comum que afeta a eficácia do VAD, uma vez que a função do ventrículo direito é crucial para o retorno venoso e a perfusão pulmonar adequada. Portanto, a integração de dispositivos que ofereçam suporte biventricular, como o TAH, pode se tornar uma estratégia ainda mais relevante para pacientes com falência cardíaca de ambos os ventrículos.
Outro aspecto fundamental é o controle das infecções relacionadas ao dispositivo, que permanecem uma das complicações mais graves. A análise das taxas de infecção associadas ao VAD, como evidenciado em ensaios como o MOMENTUM 3, revelou que os dispositivos de assistência magneticamente levitados, apesar de sua eficiência, ainda enfrentam desafios no que se refere à biocompatibilidade e ao risco de infecções locais e sistêmicas.
Além disso, fatores como a idade, o sexo e a gravidade da insuficiência cardíaca impactam significativamente os resultados clínicos a longo prazo dos pacientes que utilizam esses dispositivos. Ensaios como o MOMENTUM 3 demonstraram que, enquanto a tecnologia avançada tem sido eficaz em diversos cenários clínicos, há variabilidade nos resultados com base em características demográficas e na condição pré-existente dos pacientes. A decisão sobre a terapia de assistência ventricular, seja como ponte para transplante ou como terapia de destino, exige uma análise cuidadosa desses fatores para otimizar os resultados.
Outro ponto relevante é o impacto da terapia contínua de assistência ventricular sobre a qualidade de vida dos pacientes. A necessidade de monitoramento constante, o risco de eventos adversos e as exigências de adaptação psicológica não devem ser subestimados. Embora muitos pacientes experimentem melhorias significativas no estado funcional e na sobrevivência, a jornada de adaptação ao uso prolongado de um VAD envolve desafios que vão além dos aspectos médicos, abrangendo o apoio psicológico e social, além da gestão dos efeitos secundários.
Portanto, ao considerar o uso de um sistema de assistência ventricular, é essencial não apenas entender os benefícios clínicos, mas também reconhecer a complexidade do manejo dessas tecnologias e os cuidados multidimensionais necessários para garantir que os pacientes tenham uma jornada de tratamento segura e eficaz. A integração de novos avanços tecnológicos, aliados a um gerenciamento cuidadoso das complicações associadas, promete continuar a melhorar a sobrevida e a qualidade de vida de pacientes com insuficiência cardíaca avançada.

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