As terapias direcionadas, como a fototerapia dinâmica (PDT) e a fototermia (PTT), têm ganhado destaque no tratamento do câncer devido à sua capacidade de destruir células tumorais de forma mais seletiva, minimizando danos aos tecidos saudáveis ao redor. Ambas as abordagens utilizam diferentes mecanismos para atingir e eliminar células cancerígenas. Na PDT, um fotosensibilizador é ativado por uma luz de comprimento de onda específico, geralmente proveniente de lasers ou LEDs. Este fotosensibilizador gera espécies reativas de oxigênio (ROS) que causam danos celulares significativos, levando à morte celular, seja por necrose ou apoptose. Além disso, as ROS podem danificar a vasculatura do tumor, provocando mais morte celular por hipoxia. Um benefício adicional da PDT é que ela pode desencadear uma resposta imune, recrutando células do sistema imunológico para o local tratado, contribuindo para uma resposta anticâncer sistêmica.

Por outro lado, a PTT utiliza nanopartículas que absorvem luz infravermelha próxima (NIR) e a convertem em calor, destruindo as células cancerígenas por meio de hipermia localizada. As nanopartículas, frequentemente compostas por materiais como ouro, sulfeto de cobre ou óxido de ferro, acumulam-se nos tumores devido ao efeito de permeabilidade e retenção aumentada. Quando expostas à luz NIR, essas partículas geram calor especificamente no local do tumor, elevando a temperatura a níveis que podem destruir seletivamente as células cancerígenas sem prejudicar os tecidos saudáveis circundantes. No entanto, essa seletividade exige um controle rigoroso sobre a exposição à luz, para alcançar as temperaturas terapêuticas desejadas e evitar danos aos tecidos normais.

Ambas as terapias, PDT e PTT, enfrentam desafios comuns no que diz respeito à especificidade no direcionamento dos tratamentos às células tumorais. Uma possível solução para esses desafios é a utilização de sistemas baseados em membranas celulares projetadas. Recentemente, Lin et al. (2022) desenvolveram um nanogerador avançado revestido com membranas de células NK, o que oferece uma abordagem inovadora para o tratamento do câncer por meio de terapia termodinâmica-quimodinâmica sinérgica. O nanogerador, composto por um núcleo de sílica mesoporosa com estrutura semelhante a um vírus, é revestido com um complexo de ácido tânico e FeIII, facilitando a produção de radicais hidroxila (•OH) via reações de Fenton. As membranas das células NK proporcionam evasão imunológica e aumento da acumulação no tumor. Quando expostas à irradiação NIR, as membranas das células NK se rompem, expondo a topografia viral do nanogerador, o que melhora significativamente a absorção celular. Em estudos in vitro, o nanogerador demonstrou uma potente citotoxicidade nas células HepG2, reduzindo a viabilidade celular para 28,9% sob irradiação NIR. Além disso, em estudos in vivo com modelos de camundongos com tumor HepG2, foi observada uma inibição do crescimento tumoral de 98,9%, com eliminação completa do tumor em alguns camundongos até o 21º dia.

Wang et al. (2023) propuseram uma abordagem semelhante ao desenvolver nanopartículas modificadas com membranas de células T para direcionar células de glioblastoma (GBM) e células-tronco de glioblastoma (GSCs), que desempenham um papel crucial na recorrência do tumor. Essas nanopartículas demonstraram forte estabilidade e biocompatibilidade, além de alta eficiência de penetração na barreira hematoencefálica, com 17% de eficiência de penetração. Sob irradiação com laser, elas geraram uma conversão fototérmica de 28,7%, elevando a temperatura local para 57,5°C, suficiente para induzir a hipermia. A especificidade de direcionamento foi confirmada pela maior absorção celular nas células U87-MG do glioblastoma e nas GSCs, inibindo significativamente a formação de esferas tumorais e a autorrenovação das GSCs. Em estudos in vivo, as nanopartículas CM@AIE NPs se acumularam na região do glioblastoma, resultando em uma fluorescência quatro vezes maior no local do tumor em comparação aos controles. O tratamento com irradiação a laser levou à ablação completa do tumor e redução da expressão de CD133+ GSCs e SOX2, prevenindo eficazmente a recorrência do GBM por 60 dias.

Além disso, Chi et al. (2023) relataram o desenvolvimento de nanocompósitos biomiméticos camuflados com membranas celulares híbridas de células metastáticas de câncer de mama e células de glioma, conhecidos como HMGINPs. Esses nanocompósitos foram projetados para atravessar a barreira hematoencefálica e se acumular especificamente nos locais de glioma, facilitando o tratamento precoce de gliomas. Carregados com indocianina verde e ácido gambógico, os HMGINPs melhoraram sinergicamente a PTT e a quimioterapia. Estudos in vitro e in vivo demonstraram que os HMGINPs apresentaram uma eficiência de conversão fototérmica de 5,2% sob irradiação a laser de 808 nm, elevando a temperatura do tumor para 48,8°C, o que induziu uma ablação tumoral eficaz. Os resultados in vivo mostraram que os HMGINPs exibiram superioridade no direcionamento do glioma, com maior acúmulo de medicamentos e inibição do crescimento tumoral em comparação com nanocompósitos revestidos com uma única membrana celular.

A utilização de sistemas híbridos de membranas celulares, como os descritos acima, permite um direcionamento preciso das terapias, o que melhora a eficácia dos tratamentos ao mesmo tempo que minimiza os danos aos tecidos saudáveis. O avanço da engenharia de membranas celulares oferece novas perspectivas para o tratamento do câncer, permitindo o desenvolvimento de terapias mais eficazes e específicas, com o potencial de revolucionar o campo da medicina personalizada.

Como a Engenharia de Membranas Celulares Pode Revolucionar o Combate a Infecções Multimicrobianas?

As estratégias baseadas no revestimento de nanopartículas (NPs) com membranas celulares vêm apresentando avanços notáveis no tratamento de infecções causadas por bactérias, vírus, fungos e parasitas. No âmbito das infecções bacterianas, sobretudo aquelas provocadas por bactérias formadoras de biofilme, essas tecnologias biomiméticas mostram grande potencial. Um exemplo recente é o desenvolvimento de um agente indutor de ferroptose baseado em óxido de ferro (Fe3O4), encapsulado em membranas compostas de glóbulos vermelhos (RBCs) e plaquetas, capaz de induzir a morte celular ferroptótica em Staphylococcus aureus resistente à meticilina (MRSA). Essa estratégia atua interrompendo a comunicação bacteriana via quorum sensing, essencial para a formação do biofilme, além de neutralizar fatores de virulência e mecanismos de sobrevivência, proporcionando um tratamento eficaz para pneumonias graves causadas por MRSA.

O revestimento das NPs com membranas celulares possibilita uma abordagem multifacetada para combater infecções bacterianas. Ao incorporar elementos biológicos e químicos diversos, essas nanoplataformas melhoram a especificidade do alvo, neutralizam toxinas e promovem efeitos antibacterianos e anti-inflamatórios potentes, posicionando-se como uma alternativa promissora para uso clínico no manejo de infecções complexas.

No campo das infecções virais, a tecnologia de revestimento de membranas celulares se destaca pela criação de “iscas” que mimetizam membranas naturais, neutralizando vírus ao atraí-los para as nanopartículas biomiméticas em vez das células hospedeiras. Este conceito já mostrou eficácia em vírus como HIV, Zika e Hepatite B. Nanopartículas que reproduzem a superfície de células T CD4+ conseguem capturar o HIV, desviando-o da infecção celular e reduzindo a pressão seletiva que levaria à resistência viral. Da mesma forma, nanodecoys compostos por membranas celulares hospedeiras do mosquito impedem a replicação do Zika vírus, prevenindo a transmissão vertical e as graves consequências fetais. Para a hepatite B, sistemas de entrega baseados em CRISPR/Cas9 revestidos com membranas de hepatócitos ampliam a biocompatibilidade e prolongam o tempo de circulação, aumentando a eficácia do tratamento e minimizando a toxicidade.

No cenário da pandemia de COVID-19, as nanopartículas revestidas com membranas celulares tornaram-se ferramentas essenciais. Elas imitam características biológicas para melhorar a interface com o organismo, neutralizar o SARS-CoV-2 e modular respostas imunes. Essas NPs funcionam como armadilhas que capturam o vírus antes da infecção celular, especialmente quando revestidas com membranas que expressam o receptor ACE2, crucial para a entrada viral. Além disso, essas nanopartículas adsorvem citocinas inflamatórias elevadas na infecção, como IL-6 e GM-CSF, ajudando a reduzir a tempestade inflamatória. Estratégias específicas que utilizam membranas de células epiteliais pulmonares preservam a funcionalidade das NPs, evitando a formação de corona proteica e mantendo sua eficácia. Nanodecoys derivados de células do pulmão demonstram permanência prolongada após inalação, favorecendo a eliminação viral e a proteção do tecido pulmonar. O uso de nanotransportadores biomiméticos de macrófagos ainda possibilita entrega direcionada a áreas inflamadas, otimizando resultados terapêuticos e reduzindo efeitos adversos sistêmicos. Materiais fototérmicos incorporados a essas NPs permitem a destruição viral por irradiamento infravermelho próximo, integrando ação antiviral e anti-inflamatória.

No tratamento de infecções fúngicas resistentes, o revestimento de NPs com membranas celulares também mostra avanços significativos. Plataformas biomiméticas direcionadas a Candida albicans, um patógeno fúngico comum, aumentam a entrega e eficácia dos antifúngicos, protegendo células saudáveis. Nanopartículas carregadas com triclosan e revestidas por membranas bacterianas orais demonstram combate eficiente à candidíase oral. Outras abordagens combinam a entrega de oxigênio dissolvido em perfluorocarbono com fotosensibilizadores envolvidos por membranas epiteliais vaginais para tratar infecções intravaginais. Também se destacam NPs revestidas com membranas de macrófagos para administração de natamicina no tratamento da ceratite fúngica, uma infecção ocular grave. Em todos esses casos, o revestimento com membranas celulares aumenta a concentração local dos agentes antimicrobianos, ao mesmo tempo que minimiza toxicidade tecidual.

Essas tecnologias revelam que a engenharia de membranas celulares vai muito além da simples entrega de drogas; ela atua simultaneamente em múltiplos alvos patogênicos, potencializando a eficácia terapêutica, reduzindo efeitos colaterais e superando barreiras biológicas. A biomimese conferida pelo revestimento membranar cria um novo paradigma de interação entre nanomateriais e o sistema biológico, possibilitando neutralização direta dos agentes infecciosos, modulação das respostas imunes e proteção dos tecidos saudáveis.

É fundamental compreender que a complexidade das interações patógeno-hospedeiro exige soluções que integrem múltiplos mecanismos de ação, e as nanopartículas biomiméticas revestidas com membranas celulares representam uma dessas soluções integradas. Elas transformam a abordagem terapêutica, oferecendo maior seletividade e adaptabilidade frente à diversidade microbiana e viral, inclusive diante de variantes resistentes e mutações emergentes. A capacidade dessas plataformas de prolongar a circulação sistêmica e evitar a eliminação precoce também eleva a eficiência do tratamento, reduzindo a necessidade de doses elevadas e os riscos associados. Ademais, a possibilidade de modular a resposta inflamatória in situ destaca o papel duplo dessas nanoplataformas, atuando como agentes antivirais, antibacterianos, antifúngicos e imunomoduladores.

O avanço contínuo dessas estratégias, aliado ao desenvolvimento tecnológico e à compreensão cada vez mais profunda da biologia celular e molecular, sinaliza um futuro promissor para o combate a infecções complexas, sobretudo diante dos desafios globais impostos pela resistência a antimicrobianos e pela emergência constante de novas ameaças infecciosas.

Como a Engenharia de Membranas Híbridas Pode Revolucionar a Imunoterapia e a Entrega de Medicamentos

A engenharia de membranas híbridas tem se tornado uma ferramenta promissora na imunoterapia, especialmente no combate ao câncer, ao aproveitar a capacidade única das células dendríticas (DCs) para induzir respostas imunológicas robustas. A criação dessas membranas híbridas, que resultam da co-cultivação de células dendríticas com células tumorais irradiadas, possibilita a internalização e exibição de antígenos tumorais, uma abordagem inovadora que visa fortalecer a resposta imune do corpo contra células cancerígenas. A manipulação de células dendríticas para gerar essas membranas é realizada através de dois métodos principais: a fusão física e a indução química, ambos com a finalidade de maximizar a eficácia terapêutica.

A fusão física envolve a combinação das membranas de células dendríticas e tumorais por ultrassom ou através de lise hiposmótica, permitindo a criação de vesículas nanométricas que mantêm a capacidade de apresentar antígenos. Essas membranas, então, são utilizadas para revestir nanopartículas (NPs), que, ao serem injetadas no organismo, garantem uma concentração local de medicamentos nos locais de tumor. Esse processo é crucial para melhorar a biocompatibilidade das nanopartículas e para garantir que elas se direcionem precisamente às células cancerígenas, minimizando danos aos tecidos saudáveis.

Por outro lado, as estratégias químicas para fusão de membranas oferecem um caminho mais direto e eficaz. Utilizando agentes como o PEG (polietilenoglicol), que é de baixo custo e proporciona uma fusão eficiente, é possível induzir a formação dessas membranas híbridas com uma maior taxa de sucesso. A simplicidade e a eficácia dessas técnicas têm sido um avanço significativo, com o uso de quimeras também sendo explorado como uma abordagem emergente. Recentemente, foram desenvolvidos nanovesículos híbridos macrófago-tumor, que ilustram a aplicabilidade dessa tecnologia na modulação da resposta imune para a destruição de células tumorais.

Dentro do campo da modificação de superfícies celulares, a engenharia metabólica de glicanos (MGE) tem se mostrado uma estratégia eficiente para manipular propriedades celulares, introduzindo análogos de monossacarídeos nas vias metabólicas das células. Isso permite a incorporação de grupos funcionais sintéticos e naturais na glicocalix das membranas celulares, possibilitando a modulação da função celular. As células tratadas com análogos de carboidratos são capazes de modificar suas superfícies, podendo ser rastreadas e manipuladas de maneira precisa, o que é fundamental para terapias celulares e para o desenvolvimento de estratégias de entrega de medicamentos.

Entre os vários análogos desenvolvidos, os derivados de mannosamina têm se destacado. Esses compostos podem ser convertidos em ácidos siálicos e, em seguida, apresentados como estruturas terminais nas membranas celulares. O uso de química bioortogonal, como a reação de cicloadição de azida-alquino, tem permitido a conjugação eficiente de terapias direcionadas às membranas celulares. A química bioortogonal facilita a modificação das células sem interferir nas funções naturais da célula, proporcionando um avanço significativo nas técnicas de conjugação química utilizadas em biomedicina.

A combinação de MGE com química click tem sido uma inovação importante, permitindo a conjugação rápida e eficiente de biomoléculas terapêuticas e agentes de imagem em superfícies celulares. Isso é particularmente vantajoso em estudos de mecanismos biológicos, em terapias celulares, em desenvolvimento de biomateriais e na entrega de medicamentos. A utilização de grupos como azidas, que são altamente bioortogonais, tem permitido o avanço de métodos de entrega mais eficazes e com menos efeitos colaterais indesejáveis.

Além dos benefícios evidentes, a engenharia de glicanos metabólica apresenta outras vantagens significativas. Sua estabilidade sob condições fisiológicas, aplicabilidade em todos os tipos celulares e a reversibilidade dos processos tornam-na uma técnica altamente flexível e segura. O uso dessa tecnologia para melhorar a entrega de células e medicamentos, bem como para rastrear células em vivo, abre portas para terapias mais precisas e personalizadas, com maior controle sobre os efeitos terapêuticos.

No entanto, a engenharia de membranas híbridas e a modificação de glicanos não são tecnologias isoladas, mas sim ferramentas que devem ser combinadas com outras estratégias inovadoras, como a nanotecnologia e a biotecnologia. O potencial dessas abordagens só pode ser totalmente realizado se aplicadas de forma integrada e com uma compreensão profunda dos mecanismos biológicos que elas visam manipular.

É essencial que o desenvolvimento dessas tecnologias continue a ser monitorado e aprimorado. A aplicação clínica das terapias baseadas em membranas híbridas e engenharia glicânica, embora promissora, ainda enfrenta desafios significativos, como a produção em larga escala, a garantia de segurança e a minimização de efeitos adversos. Além disso, é crucial entender a complexidade das interações celulares, os sistemas de entrega e as respostas imunológicas para otimizar a eficácia terapêutica.

Como a Engenharia de Membranas Biológicas Pode Potencializar a Terapia Celular e a Medicina Regenerativa

O uso de membranas biológicas no desenvolvimento de plataformas terapêuticas tem se mostrado promissor, especialmente quando combinadas com materiais sintéticos. A fusão de membranas celulares com vesículas de origem bacteriana, como os OMVs (vesículas de membrana externa), para criar nanovesículas híbridas, surge como uma das abordagens mais inovadoras. Tais sistemas conseguem unir as propriedades imunoestimulantes das vesículas com antígenos tumorais específicos, o que é fundamental para estratégias de direcionamento de fármacos e no desenvolvimento de vacinas contra o câncer. Por exemplo, a fusão de membranas de glóbulos vermelhos (RBCs) e plaquetas (PLTs) tem sido aplicada para aumentar o tempo de circulação dessas vesículas no corpo e melhorar sua afinidade com patógenos e tecidos danificados.

Essas tecnologias de membranas híbridas possuem grande potencial, pois podem ser produzidas em grandes quantidades a custos reduzidos, diferentemente das vesículas naturais derivadas de células, que enfrentam limitações de produção. No entanto, a aplicação clínica desses nanomateriais ainda se encontra restrita, sendo necessário o aprimoramento das superfícies dessas vesículas com ligantes exógenos, agentes de rastreamento e compostos terapêuticos, como evidenciado no uso de lipossomos modificados para incorporar propriedades fototérmicas e fármacos.

Além disso, a engenharia de membranas biológicas também abre novas possibilidades para a modulação de interações entre células e biomateriais, fundamentais para a regeneração tecidual. As superfícies celulares podem ser modificadas para facilitar a adesão e a proliferação celular, promovendo uma melhor integração com os biomateriais, o que é essencial para a criação de tecidos funcionais. Estratégias como a conjugação covalente e a bioengenharia gliconal são amplamente utilizadas para a modificação de membranas celulares e para melhorar a funcionalidade dessas superfícies.

Quando se trata de engenharia de tecidos, uma das maiores dificuldades está na construção de arquiteturas tridimensionais estáveis, uma vez que a heterogeneidade dos tecidos humanos torna a replicação das condições fisiológicas complexa. Abordagens como a deposição camada a camada (LbL) de filmes finos de polímeros carregam a promessa de superar essa limitação, promovendo a formação de esferoides celulares densos e facilitando a produção de tecidos multicelulares com propriedades funcionais melhoradas.

Porém, essas técnicas ainda enfrentam desafios relacionados à interação celular precisa e à organização das células dentro de uma estrutura 3D. A utilização de química de "click" bioortogonal tem demonstrado grande potencial na criação de estruturas celulares heterogêneas e no aprimoramento das interações entre células e biomateriais. Por exemplo, lipossomos catiônicos, que entregam grupos "click" bioortogonais, podem ser usados para modificar células com alta precisão, permitindo a formação de agregados celulares e a criação de tecidos cardíacos funcionais.

Uma outra área de destaque no uso de engenharia de membranas biológicas é a interação célula-biomaterial, que é essencial para a regeneração tecidual. Em muitos casos, os biomateriais convencionais possuem superfícies não adesivas, o que limita sua eficácia. A funcionalização de materiais como nanofibras eletrospun e hidrogéis não adesivos com grupos bioortogonais, como o dibenzocicloocteno (DBCO), permite uma captura seletiva de células, promovendo uma melhor adesão celular e evitando comprometimentos na viabilidade das células. Este tipo de modificação oferece resultados superiores em comparação aos scaffolds não funcionais e aos scaffolds decorados com peptídeos RGD, sugerindo que a conjugação bioortogonal é uma estratégia altamente eficaz para a medicina regenerativa.

Essas inovações em engenharia de membranas não apenas oferecem soluções para a engenharia de tecidos, mas também têm um grande potencial em terapias celulares, tornando possível a criação de microambientes biocompatíveis que favorecem a regeneração celular e a formação de tecidos funcionais. O uso de células modificadas superficialmente, juntamente com biomateriais projetados, tem o poder de melhorar a densidade celular e otimizar os resultados das terapias baseadas em células, abrindo caminho para tratamentos mais eficazes na medicina regenerativa.